por: José Antônio de Albuquerque
Antiga foto do Cemitério Coração de Maria - Cajazeiras, inaugurado em 1866.
Cemitério “Coração de Maria” em
Cajazeiras (PB), no centro da cidade, abriga os túmulos das mais proeminentes e
tracionais famílias de Cajazeiras. Quando do início do seu funcionamento, após
a demolição do cemitério primitivo - que era localizado onde hoje é a Praça dos
Carros - os mais abastados fizeram o translado dos despojos dos seus entes
queridos para o novo local.
“És pó, e ao pó retornarás”.
Genesis 3.1
Meus pais estão sepultados no Cemitério Coração de Maria e constantemente vou “conversar”, me aconselhar, ouvi-los, pedir opinião sobre os meus negócios e fazer comunicações.
Meus pais estão sepultados no Cemitério Coração de Maria e constantemente vou “conversar”, me aconselhar, ouvi-los, pedir opinião sobre os meus negócios e fazer comunicações.
Sempre vou ao Cemitério Coração
de Maria, faço outras visitas, com o olhar sobre o passado dos homens e das
mulheres que ajudaram a construir esta cidade.
Diante do túmulo de Cristiano
Cartaxo li o que está gravado em mármore a sua “ascensão”, belo soneto, que
expressa toda a sua grandeza como poeta:
“– Atravessaste o vale, a
planície florida
Absorto na visão dos encantos da estrada.
Eis agora ao sopé da montanha da vida,
Que irás subir a fim de alcançar a chapada.
Coragem moço! Eu sei que é íngreme a subida.
Que importa? Vencerás, passada por passada,
Para a glória de o sol beijar-te a fronte erguida.
- E depois? - é a descida, é a morte, é a volta ao nada…
Mas, tanto que atingi o cimo da montanha,
A fronte em suor, os pés em sangue, as mãos em brasa,
Senti que mergulhara em claridade estranha.
E a verdade esplendeu em toda a intensidade:
É uma ascensão a vida! Eu necessito de asa
Para me erguer mais alto em rumo à Eternidade!”.
B
Absorto na visão dos encantos da estrada.
Eis agora ao sopé da montanha da vida,
Que irás subir a fim de alcançar a chapada.
Coragem moço! Eu sei que é íngreme a subida.
Que importa? Vencerás, passada por passada,
Para a glória de o sol beijar-te a fronte erguida.
- E depois? - é a descida, é a morte, é a volta ao nada…
Mas, tanto que atingi o cimo da montanha,
A fronte em suor, os pés em sangue, as mãos em brasa,
Senti que mergulhara em claridade estranha.
E a verdade esplendeu em toda a intensidade:
É uma ascensão a vida! Eu necessito de asa
Para me erguer mais alto em rumo à Eternidade!”.
B
em próximo do túmulo do poeta
está sepultado Justino Bezerra símbolo da força do coronelismo que o fez
prefeito de Cajazeiras. No interior da capela, na nave central, jaz Monsenhor
Constantino Vieira, educador emérito de gerações e guia espiritual de muitos
cajazeirenses.
A direita de quem entra estão sepultados: Monsenhor Sabino
Coelho, sacerdote responsável pela reabertura do Colégio Diocesano Padre Rolim,
em 1903 e da criação do patrimônio, após andar 400 léguas a cavalo, para
instalação da Diocese de Cajazeiras, homem que segundo Monsenhor Vicente
Freitas, tinha sido o maior entre todos os sacerdotes que contribuíram com o
crescimento de Cajazeiras e vizinho está Bosco Barreto, que prefiro relembrar
da sua fase revolucionária, subversiva, de “inflamador” e condutor de multidões
em busca de justiça social, do homem perseguido pela “Revolução” de 1964, o
conspirador e político de oposição.
É neste cemitério que está
sepultado o americano John Hanififlin, morto em um duelo, em 1923, quando
participava da construção do açude de Boqueirão, por um mestre de obra, cuja
mulher o americano queria conquistar.
Vou ainda ao túmulo de seu Chiquinho
Oliveira, o homem mais inteligente que esta cidade já teve, autodidata e mestre
dos mestres diante de um torno mecânico. No túmulo majestático da família Matos
está sepultada uma das mulheres que mais projetou esta cidade: Ica Pires - a
atriz, a diretora de teatro, a extraordinária declamadora, a radialista e
contestadora que sempre esteve à frente de seu tempo e que não tinha medo de
“topar” os donos do poder para defender Cajazeiras.
Caminhando pelas alamedas
tortuosas do Cemitério Coração de Maria, inaugurado em 1866, para substituir o
cemitério Coração de Jesus, fundado por Padre Rolim em 1838, se constituindo no
mais antigo cemitério da Paraíba, lendo o que está escrito nas lápides dos
túmulos relembramos muitos fatos, misturados e entremeados de saudades da
história de nossa cidade.
Parece meio estranho, mas todas
as vezes que visito o Cemitério Coração de Maria, sinto como se estivesse
andando pelas ruas de Cajazeiras, vivendo a sua história, muito embora “é a
descida, é a morte, é a volta ao nada…” ou é o “rumo à eternidade”, como canta
Cristiano em sua “Ascensão”.
Nas alamedas da eternidade, os
rastros da saudade e das eternas lembranças dos nossos entes queridos, na
certeza de que no amanhã seremos nós os habitantes destas alamedas!
Neste dia 02 de novembro, as saudades dos muitos amigos que já se encontram no céu e a certeza do nosso reencontro nas vielas da eternidade.
Neste dia 02 de novembro, as saudades dos muitos amigos que já se encontram no céu e a certeza do nosso reencontro nas vielas da eternidade.
A todos os meus familiares que
estão sepultados nos Cemitérios de Cajazeiras, a minha eterna lembrança e uma
imorredoura saudade e em especial a minha nora, Maria do Socorro Abrantes de
Albuquerque, que faleceu muito jovem, no último dia 28 de junho, noite de São
Pedro, e que nele está sepultada.
fonte: José Antônio de Albuquerque (do Grupo de Comunicação Alto Piranhas)
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