por Cleudimar Ferreira
Entre as antigas profissões que no passado atendia no comércio de
estivas e cereais das cidades do interior do Nordeste, a de Chapeado, talvez fosse
a mais identificada com a cultura popular. O chapeado, carregador ou carreteiro
- como era chamado popularmente, eram aqueles homens fortes que trabalhavam nos
armazéns ou que ficavam nas ruas do centro de Cajazeiras, principalmente em dia
de feira livre na espera de serem contratados por alguns comerciantes donos de
bodegas para conduzir pesados sacos de arroz, farinha, açúcar ou feijão até o
local previamente determinado.
Os chapeados pegavam no pesado e suava muito para suportar os
sessenta quilos de um saco de açúcar, por exemplo. Necessitavam ter massa
muscular e bastante força. Ficavam na porta ou dentro do estoque de cereais dos
armazéns localizados nas principais ruas da cidade, como: a Rua Padre Manoel
Mariano, Rua das Tamarinas e Padre José Tomaz; muitos sem camisas, ao sol e
chuva, com chapéus arredondados na cabeça, artesanalmente feitos de couros, ou
seja, com metades de uma bola de futebol, reforçado por dentro com espuma, cujo
objetivo era amortecer o peso das mercadorias sobre a cabeça.
Para transportar as encomendas do centro para um local mais
distante, usavam possantes carrinhos de mão, caracterizados por quatros rodas
de madeiras revestidas com tiras de borrachas de pneus; dois feixes de molas de
automóveis; um volante também de automóvel com uma barra de ferro ligada a uma
trava embaixo, que conduzia dois cabos até o eixo dianteiro, fazendo girar as
rodas da frente para direita ou para esquerda. Os carrinhos tinham capacidade
para suportar até cento e vinte quilos ou mais.
Mas a atividade de chapeado em Cajazeiras não se restringia tão
somente ao centro comercial, onde existiam os grandes armazéns como, Rio
Piranhas, de Francisco Arcanjo; o da família Roberto e o Armazém Figueiredo. Havia
o exercício dessa atividade em outros setores da economia da cidade naquela
época, distantes do centro, como os chapeados que trabalhavam carregando
pesados fardos de algodão na SAMBRA ou na Algodoeira do Major Galdino Pires,
além das firmas Abrantes S.A. e J. Matos Cia de beneficiamento de algodão.
Com o passar do tempo, a modernização da indústria e do comércio
abriu espaços para novos meios de transportes de mercadorias nesses setores. Criaram-se
as centrais de distribuições que substituíram os antigos armazéns. Vieram às
empilhadeiras, os carrinhos de supermercados e a pronto entrega, sufocando essa
popular atividade que hoje não existe mais ou passa por processos de extinção;
que no passado foi na cidade tão bem exercida por pessoas humildes, como Pedão, Seu Belchior, Tião
do Bairro de Capoeiras e Zezinho que morava na tradicional Rua do Emboque.
Essa atividade, entrou para imaginário popular do nosso folclore, e com certeza, passou a ser uma teia de lembranças em muitos cajazeirenses. E os chapeados, personagens simples que ficou,
se comparado a outros que exerce serviços similares no comércio de Cajazeiras hoje, são apenas imagens guardadas no subconsciente
de alguns velhos feirantes, que resiste o tempo mantendo suas atividades ambulantes
nos dias de sábados de feiras livres na cidade. Lembranças guardadas de um passado,
destacadas pelas imagens anônimas de um extinto profissional que tão bem serviu a nossa economia e a nossa sociedade.
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