No livro, “Cajazeiras, uma aldeia poética”, O poeta Irismar di Lyra faz
um passeio nostálgico, sobre o universo cultural, geográfico e social de sua
cidade. Ele percorre, como se fosse uma câmera documental, que se desloca com
liberdade, mostrando de forma sutil, até com riquezas de detalhes, os tipos, as
paisagens, os costumes, os pontos pitorescos de sua aldeia, sem meramente se
ater no saudosismo, mas buscando nas lembranças, subsídios fundamentais para
escrever um conteúdo atual, esteticamente identificado com as novas linguagens
que norteiam a poesia moderna contemporânea. Abaixo, apresento dois poemas que caracteriza o momento do autor, quando
escreveu o livro.
Coração Transeunte
O meu coração se parte
e reparte
qual paralelepípedo
da Samuel Duarte.
Rever, por onde se passou,
é lírico;
Juntar pedra por pedra,
por onde se pisou é arte.
Siqueira Campos, Bonifácio Moura,
Coração de Jesus, Padre José Tomáz,
Travessa São Vicente...
Revê-las? ao meu coração satisfaz.!
Aqui, morou seu fulano;
Alí, dona sicrana.
Acolá, ficava a bodeg de seu beltrano...
Alegria, pelo que se pode rever;
E pelo que não, desengano.
Padre Rolim, Barão do Rio Branco,
artérias por onde a vida resvala,
Carlos Pires de Sá, 205,
a porta da rua, que dá para a sala.
Açude Grande, tempo de cheia,
águas desabam em comportas.
Meu coração afoito tibunga,
nadando em divagações mortas.
Pureza das águas
Do humor de Telma à irreverência de Ica
a um salão de pura arte nos anos 70;
da sutileza das cores, em Luíza Moisés
à pureza das águas que correm
no Alto Sertão de Piranhas.
Eita! mundo, mundão!...
se visto pela ótica do coração.
Das loucuras de Noventa e nove ao amor exacerbado
pelo doutor Waldemar;
Das peripécias de Pedro Revoltoso,
(pelos erres e esses de Simpatia)
às proezas do velho Chiquinho.
Eita, mundo mundão!
Eita, mundo, mundinho!
Das formas esculturais,
na Expressão de Modesto
(pela essência do picolé de Walmor)
à ressonância do moderno em Flor de Liz.
Eita, tempinho bom!
Eita, tempo feliz.