quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

AS MODERNAS SALAS DE CINEMA EM CAJAZEIRAS

Cleudimar Ferreira



Como diz as melhores e originais línguas do nosso povo. "Repare essas duas imagens ai acima." Elas dizem um pouco da história das salas de cinema de rua, que outrora, existiram em Cajazeiras. Mas antes que qualquer comentário ou falatório seja dito sobre esse assunto e, especialmente, sobre as imagens em anexo, vale uma rápida volta ao passado para rever como foi à chegada do cinema na cidade.

Conforme escreveu o historiador e critico de cinema Wills Leal (in memoriam) no seu livro Cinema na Paraíba/Cinema da Paraíba, Cajazeiras teve a sua primeira avant-première de cinema, graça a chegada do sírio-libanês João Bichara que instalou o primeiro cinema num imóvel que pertencia a seu cunhado Epifânio Sobreira (1864-1937).

Na medida que a novidade ia atraindo a atenção da população, não só seu Bichara, mas outros empreendedores foram despertando seus interesses pelo cinema e, novas salas com mais estrutura, melhor adaptada para atividade, iam sendo criada na cidade. Depois do “Cinema de seu Bichara”, (grife Deusdedit Leitão), veio anos depois as instalações do Cine Alvorada, em 1922 e do Cine Moderno, em 1923, bem mais confortável e aconchegante para os padrões da época.

Com base na oralidade, no depoimento de Marilda Sobreira (1914-2009), filha de Epifânio Sobreira, o Cine Moderno funcionou em uma das primeiras construções de dois andares da cidade. A sua instalação contava com cabine de projeção, palco, ventiladores e um motor-gerador caso faltasse energia. Contava ainda com novo mobiliário e duas frisas que acompanhava o comprimento do prédio.

Provavelmente, o prédio com dois pavimentos referido por Marilda a Wills Leal, seria o Edifício Ok, construído por José Lira em 1936, espaço que viria abrigar em agosto desse mesmo ano, a estrutura do Cine Moderno, dessa feita bem mais remodelado com a efetivação do cinema falado na cidade. Local também, que depois passou a abrigar as instalações do Cine Teatro Éden até o final dos anos 80, quando esse cinema foi desativado, fechando definitivamente sua sala de exibição.

O Cine Moderno, até a chegada e instalação do Cine Teatro Éden na segunda metade dos anos 30-1936, era a principal sala de exibição que havia em Cajazeiras. Por conta disso, sua administração prestava por um atendimento básico que acolhesse bem seus frequentadores. Com essa visão, Investimentos eram feitos pelo seu proprietário, com propósito de atrair novos visitantes e cativar ainda mais os que já eram assíduos as suas seções noturnas e matinais.

Um registro dessa forma de gerência está no recorte nº 2 que ilustra essa postagem. Diz a nota publicada no Jornal “O Rio do Peixe”, edição do dia 20 de maio de 1926. “Tendo feito melhoramentos consideráveis na sua casa de diversão, resolve estabelecer as seguintes condições para seu perfeito funcionamento, o que espera consultar os seus distintos habitués.”

E segue o texto publicado pelos donos do Cine Moderno especificando as regras de uso do auditório do cinema pelos seus frequentadores durante as exibições: 1- É proibido fumar nas filas de bancos do centro, não só porque este hábito incomoda as Exmas. famílias que sempre preferem estes bancos como porque prejudica a projeção. 2- o cinema não funcionará com uma casa inferior a 20 pessoas.  3- Não haverá orquestra quando a casa for inferior a 50 pessoas. E finaliza o texto divulgado no então jornal “O Rio do Peixe:” Pede todo respeito, em consideração às Exmas. famílias e a boa moral. Pede ainda que ninguém cuspa no chão, em nome da higiene e da boa educação.

O impresso no seu contexto geral mostra que havia uma ligeira preocupação do cinema em acomodar bem os visitantes ilustres da cidade, ou seja, as consideradas excelentíssimas famílias, que até cadeiras mais bem posicionadas que favorecia uma visão melhor das imagens na tela, eram reservadas. Outra parte do texto impresso no jornal que merece destaque é que expõe as regras básicas para que as projeções dos filmes acontecessem.

Os filmes no Cinema Moderno, só aconteciam se o número de presentes na sala fosse superior a 20 pessoas. E como em 1926, as películas produzidas ainda eram sem som, mudo, os filmes no Cinema Moderno de Cajazeiras só era rodado com uma orquestra fazendo a parte sonora, se a sala estivesse com uma lotação acima de 50 pessoas. Era a regra dos seus exibidores. Aqui cabe um registro, as primeiras exibições de filmes sonoros no Brasil, foram realizadas a partir de 1929.

O outro recorte extraído do Jornal “O Estado Novo”, edição do dia 01 de Janeiro de 1941, nos remede aos anos 40. Nessa época a hegemonia operacional do cinema na cidade já não era mais do Cine Moderno. A população de Cajazeiras experimentava uma nova sala com exibição, com projeções de filmes sonoros. Nascia então na principal praça da cidade - a João Pessoa, em 1936, o Cine Teatro Éden, que veria ser no futuro o principal cinema dos cajazeirenses.

Nesse outro recorte, o mesmo mostra um texto produzido pelo editor do jornal, que em nome das constantes reclamações feitas por frequentadores do Cine Éden, faz um apelo a gerência do principal cinema da cidade, para melhorar a higienização das dependências do Éden. Na íntegra diz o texto do na época jornal “O Estado Novo”:

Com o empresário do Cine - Teatro Éden: Numerosas têm sido ultimamente, as queixas que nos fazem os habitués do Cine Éden. Solicitam-nos a defesa de seus interesses. Reclamam asseio e higiene no salão da plateia, cujas cadeiras são tão imundas que as pessoas que se sentam com roupas brancas, saem com as mesmas inutilizadas, tal a sujeira que encontra ali.

E segue: Com franqueza, somos constrangidos a dizer isto de público; mas o interesse do bem coletivo e o bom nome de nossa civilização, falam mais alto do que o comodismo inconfessável dos responsáveis pelo asseio e higiene de uma casa de diversões públicas. E finaliza: Confiamos no zelo e no critério do digno empresário do Cinema único de nossa cidade, certo de que ele tomará as providencias que o caso exige.

Concluindo, se formos percorrer do principio até aqui, a história vai revelar que as salas de exibições em Cajazeiras sempre foram com exceção de uma ou duas, espaços improvisados, adaptados, sem pouca adequação para exibição de filmes. Com decorrer do tempo, os melhoramentos das salas foram ocorrendo de acordo com crescimento do número de simpatizantes com cadeira cativa nos dias de exibição e, obviamente, com faturamento do cinema. Antes disso, eram salões alugados; muitos desses salões serviam antes como depósitos e oficinas afins.

Dos primórdios com o libanês João Bichara até a construção do Edifício OK, que incluiu no seu complexo a instalação também de uma sala de exibição, a pisada do bumbo era essa. Essa realidade começou a mudar com a construção pela diocese do Cine Teatro Apolo XI. Uma sala moderna com amplo auditório; cadeiras padronizadas bem melhores; pavimento térreo e um superior com camarotes, além de uma cabine instalada com equipamentos de projeção modernos, de ultima geração para os padrões da época.

Bilheteria do Cine Éden - Provavelmente na década de 70



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terça-feira, 27 de dezembro de 2022

REMA concede título de Mestres das Artes para Dona Lourdinha



O Registro de Mestres e Mestras das Artes da Paraíba (Rema) ganhou seis novos nomes. Nessas indicações aprovadas pela Comissão Executiva do programa e ratificadas pelo Conselho de Política Cultural do Estado (Consecult), está o nome da artesã Maria de Lourdes Souza Mariano - Dona Lourdinha, tradicional louceira de Cajazeiras. Dona Lourdinha é uma remanescente das vinte e uma louceiras de barro, que produzia e vendia suas peças (ou ainda vende) todos os sábados, no meio da rua, na feira livre de Cajazeiras, mantendo uma tradição de muitas décadas na cidade.  

O (Rema) Registro de Mestres e Mestras das Artes da Paraíba é um projeto do Governo do Estado, coordenado pela Secult/PB, criado com Lei de nº 7.694 - A chamada Lei Canhoto da Paraíba. O objetivo é proteger e valorizar os conhecimentos, fazeres e expressões das culturas tradicionais paraibana. Através do Registro no Livro, pessoas que contribuam há mais de 20 anos com atividades culturais no Estado, mais especificamente nas áreas de dança, brincadeiras, músicas, folguedos, artes visuais e outras atividades que por tradição oral, recebem e repassam para as novas gerações, são agraciadas com o título de “Mestres e Mestras” ao terem suas artes reconhecidas pelo Conselho de Política Cultural do Estado.

Particularmente, esse espaço, em nome dos setores produtivos da cultura cajazeirense, parabeniza a artesã Maria de Lourdes Souza Mariano - Dona Lourdinha, nossa principal referência, hoje, na produção desse tipo de cerâmica na cidade e na região, por tão importante conquista. Portanto, uma vez Mestre das Artes na Paraíba, agora seria a vez do município, através da sua Câmara Municipal, outorgar a Dona Lourdinha, comendas locais, como forma de referendar esse título. Ou seja, da mesma forma como foi feito para os nossos talentosos artistas das artes cênicas. 

Cleudimar Ferreira.




quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

ASCENSÃO E QUEDA: Saiba mais sobre a morte dos Cinemas de Rua da Paraíba

por: Fabricia Oliveira 


Entretenimento, acesso à cultura e lazer são elementos essenciais para o engrandecimento da forma de levar a vida e a associação deste item está diretamente ligada ao bem estar social inerente ao ser humano. Os antigos cinemas de bairro, espaços cheios de vida, existiam com esse propósito, mas foram engolidos substituídos pela TV, VHS, internet e shopping centers nas metrópoles. Conheça um pouco sobre como estas ricas e vastas opções de lazer foram desaparecendo com o passar dos anos na Paraíba.

Cajazeiras

O Cine Éden teve a presença marcante do gênero pornochanchada na exibição de filmes nacionais. Com o passar dos anos várias mudanças ocorreram na estrutura física e mesmo com as medidas que foram implementadas e estratégias utilizadas para se conseguir manter o cinema em funcionamento veio o declínio e processo de fechamento.

O Cine Teatro Apolo XI era parte do complexo de comunicação, instalado pela diocese de Cajazeiras. O complexo era formado por uma emissora de rádio – a Radio Alto Piranhas, ainda em atividade; um cinema teatro – o Cine Teatro Apolo XI. O espaço destinado ao cinema era moderno para os padrões da época, formado pelo hall, pequenas rampas que davam acesso ao auditório térreo e uma escada que dava acesso ao pavimento superior, onde ficavam os camarotes e a cabine de projeção.

Patos

No ano de 1934, o Cine Eldorado foi incorporado ao cotidiano de Patos. Funcionou de 1934 a 1946 no prédio que se localizava na rua Grande. Com o Eldorado, o imaginário do mundo moderno, foi cada vez mais penetrando no cenário tradicional da cidade. O Cine Eldorado foi ponto de encontro da juventude patoense, onde foram exibidos filmes como O ébrio, E o vento levou, Casablanca, entre outros clássicos. Os jovens sempre arranjavam um jeitinho de ir ao cinema e lá assistiam os romances cinematográficos, mas também viviam os seus.

João Pessoa

Fundados em sua maioria nos anos 1930, tendo seu apogeu entre as décadas de 1950 e 1960 e entrando num período de decadência a partir dos anos 1980, os cinemas do bairro de João Pessoa eram pequenos espaços com lotação que variava entre 250 e 300 lugares.

O primeiro cinema de rua funcionou no Ponto de Cem Réis e chamava-se Pathe. À época, João Pessoa era uma cidade com apenas 30 mil habitantes, concentrada praticamente na parte baixa do Centro.

Em 1911 os italianos Rattacazzo e Cozza instalaram o Cine Rio Branco, no Ponto de Cem Réis. O Cine Jaguaribe pertenceu a Svendsen e depois a Cia Exibidora de Filmes SA, de Luciano Wanderley, foi a primeira sala de cinema de bairro da cidade, fundada em 16 de dezembro de 1932. O Cine Felipéia, inaugurado em 1935, funcionou na Rua da República. Pertencia à Cia exibidora de Filmes SA. Fechou na década de 1960.

Em 1962, a cidade contou com a maior quantidade de cinemas em funcionamento: 14. Havia, então, dois tipos de cinemas: os chamados lançadores, na parte central da cidade, e os dos bairros. O bairro que teve a maior concentração de cinemas foi Jaguaribe, com quatro, e a Rua da República, com três.

Ainda existiram os cinemas Glória, Astória, Brasil, Metrópole, Rex, Santa Catarina, Santo Antonio, São José, Plaza, São Pedro e São Luiz. Os filmes que mais atraíram público nas décadas de 1960/70 foram O Exorcista, Candelabro Italiano, Tubarão, Lagoa Azul, Os Dez Mandamentos e Bem-Hur, todos exibidos em cinemas do centro, como o REX, Municipal e Plaza.

Os cinemas Plaza, Rex e Municipal foram referências no que diz respeito ao cinema de rua em João Pessoa. O Plaza foi o cinema que durou mais tempo na cidade. Foram quase 70 anos de história e exibições. Por sua vez, o Rex e o Municipal são os que conseguiram manter a arquitetura praticamente intacta. Para o escritor Wills Leal o fechamento das casas de exibição foi decorrente da chegada da televisão, reforçado pelo surgimento da internet e shopping centers.

Campina Grande

O cinema em Campina Grande surgiu com a inauguração do Cine Brazil, em 1909 no bairro das Boninas. Em sequência, surge em 1910 o Cine Popular, e por aí foram surgindo mais salas como o Cine Apollo e o Cine Fox, em 1912 e 1918, respectivamente. E mais a frente surgem o Cine São José, o Capitólio e o Cine Babilônia, fazendo a cidade ser parte das principais rotas de exibição de grandes filmes nacionais e internacionais.

Em 1934 o Cine-Theatro Capitólio abriu como portas para espectadores da elite de Campina Grande encerrando com os experimentos dos cines Apollo e Fox. Pouco depois, viria o concorrente Cine Babilônia, inaugurado em 1939 e o Cine São José, em 1949, que ganharia fama por seus preços mais baratos.

O Cine São José encerrou suas atividades no final da década de 1970. O pomposo Cine-Theatro Capitólio sucumbiu em 1999, igualmente exibindo pornô em seus últimos anos.

A falência do Babilônia veio logo depois, em 2000, transformado anos depois em shopping center. Dentre os prédios, apenas o Cine São José mantém a fachada original, apesar de abandonado durante mais de três décadas.


Guarabira

A sétima arte chegou ao município no final da década de 20, a partir da instalação do “Cinema Independência” por Sindô Trigueiro. Naquela época eram exibidas sessões de cinema mudo, pois o progresso ainda não havia chegado à região.

Somente na década de 30 é que o cinema em Guarabira ganha maior intensidade. Na mesma época, o diretor do cinema decidiu mudar o nome da casa para “Cinema João Pessoa”, em homenagem ao mártir da ‘Revolução de 30’. Posteriormente, em 1933, houve a compra de todo maquinário que até então era alugado pela viúva de Sindô Trigueiro, precursor do cinema em Guarabira.

Novamente, o proprietário do cinema resolve mudar o nome do local para “Cinema Guarany”, onde ocorreu a primeira exibição de um filme nacional, ainda em 1933. Como ainda não havia rádio no município, a propaganda dos filmes era feita por meio de cartazes e anúncios públicos.

Já bastante prestigiado em Guarabira, em 16 de agosto de 1935 o cinema teve uma ascensão ainda maior com a chegada do cinema falado. O primeiro filme falado exibido foi “Sombra da Noite”.

Ainda nos tempos passados, a cidade de Guarabira teve mais alguns cinemas, três deles fez muito sucesso. O Cine São Luiz foi inaugurado na década de 50. Atualmente o prédio ainda existe. Depois dele, foi a vez do Cine São José, inaugurado por volta dos anos 60. Hoje o prédio continua bastante preservado. Por fim, o último cinema a ser inaugurado na cidade foi o Cine Moderno, por volta dos anos 70. O prédio continua de pé.

Informações dão conta de que a falta de incentivos por parte do poder público fez com que esses equipamentos culturais fossem fechados. Atualmente para ter acesso à sétima arte, os guarabirenses viajam para a capital do Estado, onde é possível assistir às grandes produções cinematográficas.

A Queda

A decadência começou na década de 70, por diversos motivos: a chegada da televisão, do VHS e, principalmente, o crescimento das cidades.

A especulação imobiliária começou a ocupar os espaços dos cinemas, muitos privilegiados por serem de grande porte e localizados em grandes centros, além de já serem pontos conhecidos pela população. Na mesma época houve o crescimento das igrejas evangélicas, que começaram a ver nas grandes salas espaços ideais. A maioria dos cinemas de rua se transformou em igrejas, mas alguns se tornaram sacolões, estacionamentos e outros tipos de estabelecimentos. 

A falta de intervenção do poder público também é um dos principais fatores com a virada da década de 70 para a de 80 em que os cinemas começaram a migrar para os shoppings centers e ofereciam a segurança e conforto que os cinemas de rua já não estavam mais sendo capazes de oferecer. Os shoppings se tornaram um grande centro de convívio e de consumo.



fonte: polêmicaparaíba. postagem publicada em 23.05.21

sábado, 3 de dezembro de 2022

Professora Carmelita Gonçalves

















   Crônica   
por: Francisco Cartaxo

Carmelita Gonçalves (1924-2022) nos deixou, em outubro, com a avançada idade de 98 anos. Viveu quase tanto quanto o padre Inácio de Sousa Rolim (1800-1899), nosso insuperável mestre, que atravessou por inteiro o século XIX. Ela presenciou odientas turbulências de um mundo louco. Dedicação e amor ao ensino unem os dois. A lembrança de um completa-se com a imagem da outra. Meu pai, atendendo minha curiosidade de criança, mais de uma vez, descreveu a figura magrinha de seu tio bisavô, que ele via andar, em seu passo miúdo, nas ruas de Cajazeiras do final daquele século. Essas lembranças de narrativas de meu pai, só fazem aproximar em mim os dois baluartes de nossa história educacional.

Quando comecei a frequentar, menino de calça curta, a escolinha de Carmelita funcionava em sua própria casa, em frente à estação ferroviária. Ela já era minha conhecida de tanto vê-la me abraçar e me pegar em seus braços. Como assim? Carmelita era muito amiga de minhas irmãs Ilina e Nanza. Esta quase da mesma idade. Eu a via como uma pessoa de casa. Além disso, Nanza foi sua colega de turma no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, como agora confiro no livro de João Rolim da Cunha. Entre as 22 normalistas que colaram grau, em 1943, constam os nomes de Ana Sales Cartaxo e Carmelita Gonçalves da Silva. Nanza era apelido herdado de nossa avó paterna, Mãe Nanzinha – Ana Antônia do Couto Cartaxo.

Carmelita Gonçalves concluiu o curso de professora, cem anos depois que o padre Rolim teve, em 1843, seu colégio considerado instalado. Mera coincidência, eu bem sei, mas de qualquer sorte é uma curiosidade na história das duas vidas dedicadas à missão de transmitir com amor saber aos outros, cada uma a seu modo, em seu tempo. Sem fazer comparações subalternas, padre Rolim e Carmelita são inigualáveis tendo em vista a enorme contribuição dada ao processo educacional da juventude do sertão.

Guardo nítidas recordações da escola de Carmelita, em sua primeira fase. Da paciência, do afeto com que, na década de 1940, tratava os meninos, mal saídos da alfabetização. Lembro também do caminho que eu percorria, todos os dias, de minha casa perto do balde do Açude Grande até a Praça da Estação, onde me encantavam a visão da máquina gigantesca e cantante - café-com-pão bolacha-não, café-com-pão bolacha-não-e o apito do trem. Que saudade!

P S - Nanza ainda tem vista para ler, mas talvez lhe falte lucidez para sentir esta crônica.


fonte e imagem: Diário do Sertão

sábado, 26 de novembro de 2022

FUTEBOL NO TEMPO DE SHAKESPEARE



por   João Batista de Brito  

Nessa época de Copa do Mundo, lembro uma cena engraçada num filme butanês - sim, daquele país asiático miudinho, chamado Butão. Intitulado “A copa”, o filme contava a história de como os monges budistas tentam convencer o Dalai Lama a alugar um aparelho de televisão para assistirem aos jogos da copa de 1998.
O Santo Homem pergunta: “E o que é futebol?” E ouve dos monges que é uma luta entre dois países por causa de uma bola. Admirado, o Santo Homem indaga se há sexo no futebol, e ouve que não; indaga então se há violência, e ouve que eventualmente, mas quando acontece é punida. Convencido, o Dalai Lama consente e, pela primeira vez na história do país, os monges podem assistir a um jogo de futebol.
Deixando o improvável tópico do sexo pra lá, lembrei da cena por causa da referência à violência. Lembrança que me conduziu a minhas leituras shakespearianas. Foi assim:
Meados dos anos setenta eu estava, pela primeira vez, lendo o “Rei Lear” (1605) de Shakespeare quando me deparei com o que menos esperava: futebol.
Futebol no século XVI? Como podia? Li e reli o trecho para me certificar. Não havia dúvidas, até porque a versão da peça que eu lia era no original, e o termo era aquele mesmo: football.
O trecho que eu lia era uma daquelas cenas violentas da peça em que o personagem de Kent insultava Oswald, o empregado de Goneril, uma das filhas do rei. E o fazia com uma série de palavras grosseiras - uma longa lista de termos baixos, ofensivos, e no fim da linha, o mais ofensivo de todos era: “seu jogador de futebol!”.
Com o mesmo sentido de jogo sujo e baixo, mais tarde achei uma outra referência ao futebol em Shakespeare, agora em “A comédia dos erros”, quando o servente Drômio reclama de seus patrões por estar sendo tratado com desdém e maus tratos, inferiorizado como se fosse ele “um vil jogador de futebol”.
Como todo mundo, eu achava que o futebol fosse uma distinta e sofisticada invenção inglesa do século XIX.
Fui pesquisar e descobri que, de fato, os ingleses haviam inventado as regras do futebol no século XIX, mas só as regras, pois o jogo mesmo existia de muito tempo – praticamente desde a Idade Média - e sem regra nenhuma.
No tempo de Shakespeare era um jogo grosseiro, baixo, extremamente violento e mesmo letal.
Era disputado entre as aldeias e a prática era derrubar, ou se fosse o caso, aniquilar os adversários a todo custo. A bola era feita da bexiga do porco e para metê-la na trave do adversário valia tudo, soco, puxão, empurrão, pontapé, tapa, espancamento, o que desse e viesse. Como não havia limite para o número de jogadores, podiam participar grupos enormes de pessoas, em alguns casos, multidões que se digladiavam, e era comum que tudo terminasse em muito sangue e até mortes.
Segundo registros da época, o futebol matava mais que os duelos, ou as lutas livres, ou a prática do arco e flecha. Sua grosseria, baixeza e sanguinolência só eram comparadas ao “bear bating”, aquele esporte horrendo em que, em praça pública, uma multidão munida de ferrões pontiagudos, se divertia, às gargalhadas, espetando um urso até a morte.
Ao longo dos séculos houve, no Reino Unido, várias sugestões parlamentares para a extinção desse jogo infame que era o futebol. Até que lá pelos meados de século XIX, as autoridades britânicas encontraram uma solução para a questão: criaram e aprovaram por lei as rigorosas regras do jogo que conhecemos até hoje, jogo que, ironicamente, se tornou, como se sabe, o mais belo, o mais elegante e o mais amado dos esportes.
Tudo bem, às vezes, em campo e/ou fora de campo, ocorrem pancadarias e agressões, mas nada que se compare à sanguinolência que Shakespeare conheceu.
De modo que até o Dalai Lama poderia hoje, se quisesse, assistir, sem perder sua pureza de espírito, a uma boa partida de futebol.




sábado, 12 de novembro de 2022

Peça de Eliézer Rolim "Trinca, Mas Não Quebra" será apresentada no Teatro Paulo Pontes, dia 27 deste mês de novembro

imagens do arquivo da ACATE - Associação Cajazeirense de Teatro



A produção do espetáculo cajazeirense “Trinca, Mas Não Quebra”, que tem texto de autoria do dramaturgo Eliézer Rolim e direção de Francisco Hernandez; espetáculo esse que carrega mais de 25 anos de palco nas costas - mais do que isso, acho, só “Vau da Sarapalha”, está intensificando os ensaios, se preparando para participação do espetáculo na II Mostra Sertaneja de Teatro, que acontecerá no Teatro Paulo Pontos, na FUNESC, em João Pessoa. A apresentação da peça será dia 27 desse mês de Novembro, a partir das 20 horas.          

O texto “Trinca, Mas Não Quebra” conta a história de uma festa de casamento na noite de Santo Antônio, no interior nordestino. Festa mesclada de superstições e recordações lúcidas dos estouros dos fogos de artifícios nas amarras de uma desesperada paixão entre dois adolescentes. O texto recorre ao gênero drama, para simbolizar aspectos do período junino na localidade rural de Umburanas, quando a personagem Terezinha, uma noiva de 15 anos, descobre morrer de amor por seu ex-namorado que se faz penetra para resgatar publicamente o sentimento que o sufoca.

Por esse viés, o texto sai mesclando e criando uma colagem que mistura danças folclóricas com elementos dos folguedos populares. Com esse perfil “Trinca, Mas Não Quebra” é antes de tudo uma festa com dosagem de tragédia na sua essência, daquelas contadas nos versos de literatura de cordel. Influenciado por essa riqueza popular, o espetáculo é um conto de São João com cheiro de milho assado. Onde tudo pode acontecer desde o corriqueiro incêndio de balão ao absurdo dos motes de cordel.

A II Mostra Sertaneja de Teatro é promovida pela FUNESC/Governo do Estado da Paraíba.





conteúdo produzido a partir das informações contidas na rede social de Francisco Hernandez:

domingo, 6 de novembro de 2022

Em casa da minha mãe

por Adalberto dos Santos


imagem meramente ilustrativa. fonte: internet

Escrevo na cozinha da minha mãe, em Cajazeiras, na Paraíba. Aqui deste lado dos trópicos, durante o dia, não corre vento, sequer um raio de brisa depura as noite altaneiras do luar das caatingas. Parece um sonho, cenário de sonho. Há tempos desfigurou-se a face colorida do ambiente sertanejo após a queda das águas celestes. Se o ar se atreve a bolinar as poucas folhas das árvores, surge também um mormaço indiscreto que mortifica os ossos. O cristão não aguenta sem reclamar. Deita no chão de cimento, vai ao pote mil vezes durante a tarde, procura a melhor sombra entre o oitão dos largos e altos casarões mais antigos do lugar. É a luta desigual entre o sertanejo e as condições naturais. Aquele, um adepto das acomodações, um insurgente das variações climáticas que o assola sem piedade a cada quadra anual. É a luta pela sobrevivência e o estigma de morar na porta de entrada do inferno. O sertão em tempos sem chuva é a morada do diabo.

Mas estou em casa de minha mãe e aguardo a resolução de problemas pessoais. Enquanto as coisas não acontecem, vou numa rotina que pouco me agrada. Desde quinta-feira, acordo cedo, e logo faço pequenos passeios pelas ruas sujas e sem graça da cidade. Visito ali um amigo, aqui um conhecido distante. Lembro (e não faz tanto tempo) do tempo em que todo dia passava esse mesmo caminho. Tenho o sentimento que deprimia o caminheiro. Detestava passar entre as casas de comércio, dobrar essas esquinas nos primeiros raios da manhã. Enquanto caminhava, testemunhar ninguém dizer bom dia, como vai, tenha um ótimo trabalho. Depois, passe cá mais tarde para trocarmos um dedo de prosa.

Está feia a cidade, como jamais esteve. Seu Açude Grande, a imensa roda de água que liga a urbe ao passado de glória dos primeiros habitantes, não mais comove o coração. Perderam nele a magia e a ternura de um símbolo histórico importante que dizia coisas sobre lazer e memória para todo o sempre. O açude, a água dele que se bebia para o eterno feitiço de amar a cidade, é como se não existisse. Nele se afogaram a devoção e amor pela terra. Nele está enlameado qualquer sentimento. Tudo, a partir dele, não faz sentido. É um submundo de esgotos e mágoas. Ainda que faça a decência de resfriar o clima que estressa o solitário neurastênico, aos meus olhos perdeu a beleza. Esse seu ar de titã assevera a toda hora que esta cidade jamais me amou.

Ao fim da tarde, recordo o conversar nas calçadas; um dos dados mais vivos dessas bandas sertanejas. Pena que a feiúra da cidade não deixa que os versos de Vinicius atravessem a conversa. Hoje, as casas não são tão lindas. São feias, assim como são feios os políticos e as polacas, os bares e as praças, os que vão à missa e os que rezam no templo. São feios os homens e as mulheres, as plantas e os animais. Por fim, tudo está pouco atraente. Nada agrada. Aqui, parece que ninguém mais deseja que nada preste. Deram fim a tudo. Adeus àquela cidade que pintei muitas vezes com tintas bonitas e que não borravam.

À noite, ao menos, as crianças correm vivamente. Como em todo lugar elas acendem a esperança e dão à alma uma riqueza de mistérios que ninguém explica. Enquanto uns tantos veem as novelas, elas expressam com gritos de alegria que apesar de tudo talvez nem tudo esteja perdido. Conseguem tirar essa sisudez grosseira. Arrancam um pouco essa tristeza de não se amar mais a quem tanto se amou. Essa tristeza que só não é maior porque estou em casa de minha mãe, e aqui me sinto protegido do restante da cidade.

Crônica publicada em 15.fev.2016.



fonte:  https://cronicascariocas.com/colunas/cronicas/em-casa-da-minha-mae/

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Histórias de Lua e Sol. Espetáculo Infantil de Guarabira no Palco do Ica, dias 11 e 12 de Novembro




Nos dias 11 e 12 desse mês de novembro, o Teatro Íracles Pires-Ica, estará recebendo no seu palco, a partir das 19 horas, o espetáculo infantil “Histórias de Lua e Sol”. A produção teatral que por onde passa está sendo sucesso de público e críticas é um monólogo voltado ao público infante juvenil, mas segunda a produção local, promete agradar a todas as idades, pois conforme a direção da peça, o texto aborda o respeito à ancestralidade e a valorização do tempo na vida das pessoas. Temas como bullyng e respeito ao meio ambiente também fazem parte da narrativa.

Vinda diretamente da cidade de Guarabira, cidade do brejo paraibano, hoje considerada entre as quatro cidades do estado da Paraíba que mais produzem cultura, a peça “Histórias de Lua e Sol”, trás para Cajazeiras um espetáculo eclético onde o universo infantil é tema central da encanação, “Nossa meta é fazer o público se divertir e refletir com temas importantes para crianças, jovens e adultos. É também uma forma de incentivar a volta do público ao teatro e marcar nosso retorno aos palcos, depois de anos perdidos e sofridos da pandemia”, resume o ator do monologo.

Tanto a direção quanto à atuação na peça teatral é do ator paraibano Vando Farias, que interpreta o Senhor Tick, personagem que se mete em diversas aventuras ao tentar diminuir o tamanho da lua. Ingressos, informações e as escolas que quiserem fazer parceria, já devem entrar em contato com a produção do espetáculo em Cajazeiras, pelo o telefone: (83) 99412 - 5226.



domingo, 16 de outubro de 2022

POLÍTICA e RELIGIÃO, mistura impossível (III)




por: Luiz Carlos Nascimento Sousa 

Para encerrar o assunto da mistura, para mim impossível, de política e religião, aqui vai mais um exercício sobre os resultados que essa união defendida por muitos, inclusive pastores que se autoproclamam ungidos por Deus e são capazes de, em vez de conduzir o rebanho para o Reino, indicar aos fiéis uma candidatura política em quem votar.

O mundo está repleto de exemplos onde à mistura deu resultados terríveis, com a eclosão de guerras, cuja duração uma delas atravessa séculos de História (o caso dos judeus com os palestinos é um deles) ou outros fatos recentes, embora todos inspirados em situações idênticas, nas quais lideranças políticas buscaram na religião argumentos para convencer o povo de que eram escolhidos por desígnios de Deus.

Como é que a fé pode ser usada para defender uma cor partidária? Deus não pode ser refutado, não é uma teoria científica, que exige avaliação dos pares, sistema e método para ser reconhecida e lançada nos compêndios e almanaques, com a edição de livros. Não dá para se opor a Deus com a Evolução das Espécies de Charles Darwin, ou com o Big Bang.

Por mais oposição que se possa fazer a Deus, o máximo é a incredulidade ou ser agnóstico. Tentar raciocinar cientificamente sobre a existência de Deus é quase um delírio.

Imagine, então, tentar conciliar algo que exige a verdade como premissa, o amor ao próximo como mandamento com a arte de tentar apaziguar conflitos, de alternar sistemas econômicos (capitalismo x comunismo).

Dá para defender algo usando a mentira para maquiar a verdade que é dura e pode prejudicar uma candidatura, por exemplo, com a obrigatoriedade de dizer a verdade a qualquer custo.

O mundo está aí com seus povos, seus sistemas, suas opções políticas e religiosas para mostrar que levar o messianismo religioso à política só acaba em confusão, guerras, indignidade, repressão e esmagamento, principalmente dos direitos da mulher e das minorias. Tem que cobrir o rosto, não tem participação política, não pode dirigir, só para citar algumas restrições graves à liberdade das mulheres que são impostas onde a religião se mete na política de forma mais presente. O Oriente Médio está aí.

O pior é que ficam evocando o nome de Deus para massacrar, oprimir e impor pela força física, se necessário com a morte de quem discorda.

Podem pesquisar. De acordo com a Bíblia, o que Deus determina tem que ser cumprido, não dá para recorrer. E não há como existir oposição.

A política dos homens é diferente. Ela separou a Índia, por causa da oposição política que fez nascer o Paquistão muçulmano, revelou ao mundo às monstruosidades da guerra na Bósnia, Croácia e outras ex-repúblicas iugoslavas e a Albânia, sem falar nos anos de terror envolvendo a Irlanda com o terrorismo matando inocentes, dividindo uma nação.

E ainda há o exemplo a que me referi de passagem no início desse texto ao lembrar da guerra entre os judeus e os palestinos, cujo número de mortos chega aos milhares, e a política dos homens não consegue

um acordo de paz, porque o que inspira cada um a tentar destruir o outro é a religião, querer impor seu Deus ao próximo.

E vejam que toda religião prega a paz.  Como entender, então, a guerra suja que a política faz? Guerra na qual o homem atribui a Deus a determinação de matar o inimigo em vez de dar a outra face.

Quando política e religião se misturam só há um resultado: radicalização!



fonte: Jornal A União

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Mostra Acauã do Audiovisual Paraibano, já tem programação definida. Veja!

 



Está chegando o dia da realização da Mostra Acauã do Audiovisual Paraibano - um grande evento de cinema no alto sertão do estado da Paraíba. A mostra acontecerá entre os dias 09 a 12 do próximo mês novembro de 2022, no Conjunto Histórico da Fazenda Acauã, no município de Aparecida. Esse ano, a festa do cinema sertanejo vai homenagear o produtor cultural e cineasta, J. França. O evento será realizado pela Acauã Produções Culturais e contará com o visual do desenhista, animador e cineasta André Dias Araújo.

 V EJA A PROGRAMAÇÃO ABAIXO

 🎬Clique nas imagens para melhor ver o conteúdo     

Conjunto Histórico Fazenda Acauã, em Aparecida/PB - Palco onde será realizado a mostra




quinta-feira, 22 de setembro de 2022

FOTOGRAFIAS e FOTÓGRAFOS - Tópicos para um possível estudo em Cajazeiras.

por: Cleudimar Ferreira


José Cavalcante (no meio), um pioneiro desde o tempo dos lambe-lambes

 

O ato de fotografar talvez não seja compreendido com o fazer artístico, mas a forma como se busca uma imagem e der a ela uma importância maior além do que ela já tem para o fotógrafo, pode sim ser considerado um procedimento de busca de uma estética diferente e aí, pode ser definido como arte. Se buscarmos na história, a sua importância para concepção de outras linguagens da arte, veremos que a fotografia contribui e muito para desenvolvimento das artes visuais, não só as artes plásticas, mas principalmente o cinema que é considerado uma espécie de cria da fotografia.

Vem desse pressuposto, o entendimento da discursão que há, quando se pergunta: A fotografia é arte ou não?  Uma resposta que não pode ser dada unicamente por quem a pesquisa ou estuda sua história, mas o fotógrafo como parte desse contexto, merece e pode muito bem responder a tal pergunta e, como propor meios para referendar certos conceitos, que define que o ato de fotografar é um ato de criação e, se é um ato de criação, vem inserido também o direito de ser a fotografia um instante de criação artístico.

Para justificar esse debate, o trabalho do fotógrafo nessa circunstancia é captar a imagem, buscando a melhor qualidade visual e estética possível. Embora seja o momento de fotografar, uma minúscula busca de um recorte do vasto cenário desse mundo em que vivemos, o cuidado na ora de captar uma imagem é que vai resultar se essa imagem gravada é uma obra de arte ou não. 

Há muito tempo que a história da fotografia em Cajazeiras, vinha sendo uma atividade remota, difícil de ser revelada. Tudo não passava de um capítulo a ser contado ou complexo demais para ser revelado. Perecia na escuridão dos arquivos mofados, por falta de voluntários ou pessoas que apresentasse algum interesse pelo seu passado, pelo o seu estudo. Mas eis que nesse marasmo de falta de dados, apareceu alguém interessado de conhecer a sua história.    

O trabalho do fotógrafo José Cavalcante, que nos últimos anos passou a desenvolver junto com a sua atividade profissional, uma incessante busca e procura de maiores referências dos pioneiros dessa atividade na cidade, merece apoio, destaque por muitos e, ser referenciada por todos cajazeirenses. Por esse viés, se qualquer um que for remexer os anais; os arquivos da história dessa atividade na cidade, facilmente logo descobria que teria muito trabalho pela frente, pois a cidade tem tradição e teve muitos profissionais atuando nesse campo.

Entre estúdios montados, equipados com laboratórios e as atividades de freelances ou aqueles que trabalharam nas ruas, fazendo-se de amador ou aprendiz, a fotografia em Cajazeiras desde as primeiras ações isolados do fotógrafo José Magalhães nos anos vinte, já ultrapassou os cem anos e chegou à modernidade dos Smartphones registrando o perfil do povo cajazeirense.

Até aqui, revelou durantes muitos anos, profissionais pioneiros, que a priori, com suas sedutoras e versáteis Rolleiflex, deixaram um vasto acervo documental da vida social, politica da cidade. Basta ver a quantidade de fotos antigas que tem sido divulgada nas redes sociais até aqui. Entre esses tantos, outros e os lambe-lambes do senhor José Cavalcante (pai), destacaram ainda no século passado os nomes dos estabelecidos: Seu Iraídes do Foto Recife; Elias Paulo do Foto Rápido, Nelson Lira, proprietário do Estúdio Lira de Fotografias e Cícero Batista que chegou a ter um dos bem equipados laboratório em preto e branco do sertão de Cajazeiras.   

O Estúdio Lira era especialista em fotografias de noivos. Atuava nas solenidades de casamentos e quando não esta in loco, geralmente os noivos iam até o seu estúdio. “Como foi o caso da minha tia Naninha Ferreira, que no dia do seu casamento, no final dos anos sessenta, quis ser fotografada na igreja, mas preferiu também ir instantes depois do casamento ao Estúdio Lira para ser fotografada com o esposo Paulo Saraiva e a dama de honra”. Lira e seu estúdio chegou a situar nos anos 60, em uma sala comercial que ficava na Rua Padre José Tomás, entre as esquinas das antigas Casas Pernambucanas e o Armazém Nova Aurora de seu Zuza Moreira.

Outro destaque no contexto para o estudo da fotografia em Cajazeiras foi à atuação do senhor Cícero Batista. Estabelecido no ramo com a fachada Foto Recife, que ficava na Rua Padre José Tomaz, perto da esquina da Rua Padre Rolim, Cícero além da loja, possuía um estúdio bem equipado que garantia nitidez e bom contraste das fotos que produzia, oferecendo aos seus clientes fotos de qualidade e durabilidade das revelações. Seu filho Manoel Arsênio Batista, reservava com Cícero os trabalhos tanto no laboratório, como o atendimento no balcão do Foto Recife e até a atividade de fotografo, quando tinha que substituir numa cobertura fotográfica a pedido de um cliente.

Usando os recursos do laboratório do pai Cícero Batista, Arsênio brincava com a imagem, fazendo fotomontagem, usando a fotografia como expressão artística e não simplesmente uma imagem, se tornando uma dos pioneiros da fotomontagem em Cajazeiras. Como admirador da sétima arte, costumava brincar com os fotogramas descartados das revisões dos filmes que eram exibidos nos cinemas de Cajazeiras, transformando as pequenas imagens desses, em fotografias ou retratos em preto e branco. Ou seja, para o seu bel prazer transformava a ilusão do cinema em uma imagem fixa no papel.

Por esse caminho, voltando pelas vias do passado, numa época remota quando a demanda maior da atividade fotográfica ainda concentrava-se nas mãos dos homens, Cajazeiras dava um salto maior, mostrando ser cosmopolita avançado no tempo, apresentado para a sociedade o nome de Chiquitinha Elias, talvez a primeira mulher na cidade a se aventurar na atividade fotográfica em Cajazeiras. Sempre nos grandes eventos, sejam eles, festas de debutantes, colação de grau, batizados e casamentos, Chiquitinha sempre se fazia presente, com sua simpatia, profissionalismo e seriedade no trabalho que fazia. Lembro muito bem da sua imagem nas festas e sou testemunha do seu profissionalismo a presteza como conduzia o seu trabalho.          

Numa cidade onde nos ano oitenta, a ascensão da imprensa escrita se mostrava crescente com as instalações das sucursais dos jornais impressos da capital, a atividade de fotógrafo ganhava mais uma opção de trabalho, com possibilidades de qualificação da mão de obra e de formação de outra especialidade - a do fotojornalismo. Conceito em que a matéria escrita é atrelada a uma apresentação de fotos ou que a produção de uma narrativa em imagens, poderia ser por vias de conjugação de fotografias e textos, és que surge a figura eminente e simpática do fotografo Bosco Pinto. Bosco era aquele que circulavam pelos clichês dessas sucursais fazendo o que ele sabia fazer - fotografar. Só que dessa vez para esses jornais. Em pouco tempo, já familiarizado com a nova atividade, se tornava mais tarde o nosso primeiro fotojornalista da cidade.

Portanto, foram muitos os nossos fotógrafos que congelaram durante esses cem anos um pedacinho das Cajazeiras que eu vi, que você viu, que todos viram passar. Nogueirinha, João Luiz, Adonias Alexandre, o Moco, Almir, todos que já passaram ou estão passando, levando consigo, mas deixando para cidade um legado de grande valor, que precisa ser revelado, mostrado, exibido e fixado nas lembranças de cada cidadão cajazeirense. Que o trabalho do fotografo Zé Cavalcante seja continuo e que outras pessoas apaixonado por fotografia, venham está com ele nessa fileira, contando para nós a história dessa atividade na cidade de Cajazeiras.














LEGENDA DAS FOTOS
01. Retrato do fotógrafo Cícero Batista
02. O fotógrafo Cicero Batista em seu Laboratório
03. O jovem fotógrafo Nelson Lira do Estúdio Lira de Fotografias
04. A melhor pose do fotógrafo Francisco Aprígio Nogueira (Nogueirinha)
05. Fotógrafo freelance Bosco Pinto - Também o fotógrafo das sucursais.
06. Chiquitinha - A primeira mulher na atividade de fotógrafa na cidade (com o Governador João Agripino Maia)   
07. O fotógrafo Iraides no interior de sua loja Foto Recife
08. O fotógrafo Elias Paulo do Foto Rápido no seu laboratório
09. Porta Retrato para 3x4 Foto Estudio Silvanere Rocha
10. Os Freelances. Da direita para a esquerda os fotógrafos Djalma, Bosco Pinto e João Luiz
11. Cartão de Natal da Loja J.L. Braga, Criação do Foto Lira. Com imagens da loja e de Terezinha Morango-Miss Brasil e vice Miss Universo/1957.
12. Retrato do fotógrafo Zé Cavalcante
13. O fotógrafo Leopoldo Ferreira - Borracha, no canteiro central da Av. Presidente João Pessoa. Ao fundo, vê-se o Foto Lira. Década de 1950

CRÉDITOS
01. Todas as fotos dessa postagem pertence ao acervo do fotógrafo Zé Cavalcante

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