por: Cleudimar Ferreira
O ato de fotografar talvez não seja compreendido com o fazer artístico, mas a forma como se busca uma imagem e der a ela uma importância maior além do que ela já tem para o fotógrafo, pode sim ser considerado um procedimento de busca de uma estética diferente e aí, pode ser definido como arte. Se buscarmos na história, a sua importância para concepção de outras linguagens da arte, veremos que a fotografia contribui e muito para desenvolvimento das artes visuais, não só as artes plásticas, mas principalmente o cinema que é considerado uma espécie de cria da fotografia.
Vem desse pressuposto, o entendimento da discursão que há, quando se pergunta: A fotografia é arte ou não? Uma resposta que não pode ser dada unicamente por quem a pesquisa ou estuda sua história, mas o fotógrafo como parte desse contexto, merece e pode muito bem responder a tal pergunta e, como propor meios para referendar certos conceitos, que define que o ato de fotografar é um ato de criação e, se é um ato de criação, vem inserido também o direito de ser a fotografia um instante de criação artístico.
Para justificar esse debate, o trabalho do fotógrafo nessa circunstancia é captar a imagem, buscando a melhor qualidade visual e estética possível. Embora seja o momento de fotografar, uma minúscula busca de um recorte do vasto cenário desse mundo em que vivemos, o cuidado na ora de captar uma imagem é que vai resultar se essa imagem gravada é uma obra de arte ou não.
Há muito tempo que a história da fotografia em Cajazeiras, vinha sendo uma atividade remota, difícil de ser revelada. Tudo não passava de um capítulo a ser contado ou complexo demais para ser revelado. Perecia na escuridão dos arquivos mofados, por falta de voluntários ou pessoas que apresentasse algum interesse pelo seu passado, pelo o seu estudo. Mas eis que nesse marasmo de falta de dados, apareceu alguém interessado de conhecer a sua história.
O trabalho do fotógrafo José Cavalcante, que nos últimos anos passou a desenvolver junto com a sua atividade profissional, uma incessante busca e procura de maiores referências dos pioneiros dessa atividade na cidade, merece apoio, destaque por muitos e, ser referenciada por todos cajazeirenses. Por esse viés, se qualquer um que for remexer os anais; os arquivos da história dessa atividade na cidade, facilmente logo descobria que teria muito trabalho pela frente, pois a cidade tem tradição e teve muitos profissionais atuando nesse campo.
Entre estúdios montados, equipados com laboratórios e as atividades de freelances ou aqueles que trabalharam nas ruas, fazendo-se de amador ou aprendiz, a fotografia em Cajazeiras desde as primeiras ações isolados do fotógrafo José Magalhães nos anos vinte, já ultrapassou os cem anos e chegou à modernidade dos Smartphones registrando o perfil do povo cajazeirense.
Até aqui, revelou durantes muitos anos, profissionais pioneiros, que a priori, com suas sedutoras e versáteis Rolleiflex, deixaram um vasto acervo documental da vida social, politica da cidade. Basta ver a quantidade de fotos antigas que tem sido divulgada nas redes sociais até aqui. Entre esses tantos, outros e os lambe-lambes do senhor José Cavalcante (pai), destacaram ainda no século passado os nomes dos estabelecidos: Seu Iraídes do Foto Recife; Elias Paulo do Foto Rápido, Nelson Lira, proprietário do Estúdio Lira de Fotografias e Cícero Batista que chegou a ter um dos bem equipados laboratório em preto e branco do sertão de Cajazeiras.
O Estúdio Lira era especialista em fotografias de noivos. Atuava nas solenidades de casamentos e quando não esta in loco, geralmente os noivos iam até o seu estúdio. “Como foi o caso da minha tia Naninha Ferreira, que no dia do seu casamento, no final dos anos sessenta, quis ser fotografada na igreja, mas preferiu também ir instantes depois do casamento ao Estúdio Lira para ser fotografada com o esposo Paulo Saraiva e a dama de honra”. Lira e seu estúdio chegou a situar nos anos 60, em uma sala comercial que ficava na Rua Padre José Tomás, entre as esquinas das antigas Casas Pernambucanas e o Armazém Nova Aurora de seu Zuza Moreira.
Outro destaque no contexto para o estudo da fotografia em Cajazeiras foi à atuação do senhor Cícero Batista. Estabelecido no ramo com a fachada Foto Recife, que ficava na Rua Padre José Tomaz, perto da esquina da Rua Padre Rolim, Cícero além da loja, possuía um estúdio bem equipado que garantia nitidez e bom contraste das fotos que produzia, oferecendo aos seus clientes fotos de qualidade e durabilidade das revelações. Seu filho Manoel Arsênio Batista, reservava com Cícero os trabalhos tanto no laboratório, como o atendimento no balcão do Foto Recife e até a atividade de fotografo, quando tinha que substituir numa cobertura fotográfica a pedido de um cliente.
Usando os recursos do laboratório do pai Cícero Batista, Arsênio brincava com a imagem, fazendo fotomontagem, usando a fotografia como expressão artística e não simplesmente uma imagem, se tornando uma dos pioneiros da fotomontagem em Cajazeiras. Como admirador da sétima arte, costumava brincar com os fotogramas descartados das revisões dos filmes que eram exibidos nos cinemas de Cajazeiras, transformando as pequenas imagens desses, em fotografias ou retratos em preto e branco. Ou seja, para o seu bel prazer transformava a ilusão do cinema em uma imagem fixa no papel.
Por esse caminho, voltando pelas vias do passado, numa época remota quando a demanda maior da atividade fotográfica ainda concentrava-se nas mãos dos homens, Cajazeiras dava um salto maior, mostrando ser cosmopolita avançado no tempo, apresentado para a sociedade o nome de Chiquitinha Elias, talvez a primeira mulher na cidade a se aventurar na atividade fotográfica em Cajazeiras. Sempre nos grandes eventos, sejam eles, festas de debutantes, colação de grau, batizados e casamentos, Chiquitinha sempre se fazia presente, com sua simpatia, profissionalismo e seriedade no trabalho que fazia. Lembro muito bem da sua imagem nas festas e sou testemunha do seu profissionalismo a presteza como conduzia o seu trabalho.
Numa cidade onde nos ano oitenta, a ascensão da imprensa escrita se mostrava crescente com as instalações das sucursais dos jornais impressos da capital, a atividade de fotógrafo ganhava mais uma opção de trabalho, com possibilidades de qualificação da mão de obra e de formação de outra especialidade - a do fotojornalismo. Conceito em que a matéria escrita é atrelada a uma apresentação de fotos ou que a produção de uma narrativa em imagens, poderia ser por vias de conjugação de fotografias e textos, és que surge a figura eminente e simpática do fotografo Bosco Pinto. Bosco era aquele que circulavam pelos clichês dessas sucursais fazendo o que ele sabia fazer - fotografar. Só que dessa vez para esses jornais. Em pouco tempo, já familiarizado com a nova atividade, se tornava mais tarde o nosso primeiro fotojornalista da cidade.
Portanto, foram muitos os nossos
fotógrafos que congelaram durante esses cem anos um pedacinho das Cajazeiras
que eu vi, que você viu, que todos viram passar. Nogueirinha, João Luiz,
Adonias Alexandre, o Moco, Almir, todos que já passaram ou estão passando,
levando consigo, mas deixando para cidade um legado de grande valor, que
precisa ser revelado, mostrado, exibido e fixado nas lembranças de cada cidadão cajazeirense. Que o trabalho do fotografo
Zé Cavalcante seja continuo e que outras pessoas apaixonado por fotografia,
venham está com ele nessa fileira, contando para nós a história dessa atividade
na cidade de Cajazeiras.