por Cleudimar Ferreira
A história dos festivais de poesias em
Cajazeiras, talvez não seja um capítulo aparte a ser escrito. Isso por que a
sua abrangência, ou seja, aonde chegou os rumores da sua existência quanto
evento incentivador e produtor de poesia, já não era algo a ser descoberto, e a
sua existência, já havia sido propagada e atingido a unanimidade da jovem classe
intelectual e artística da cidade, principalmente, a envolvida com literatura e
cultura, através das expressões artísticas, como por exemplo, o teatro e a
música.
Além disso, as condicionantes que impulsionaram a realização do evento
durante cinco anos, entre os anos de 1973 e 1977, estão sociologicamente
relacionadas ao próprio contexto do festival, bem como, as estruturas politicas
que os estudantes da época estavam ligados, e que de uma forma ou de outra,
provocaram a união de todos, entorno da proposta da realização do festival.
Para que se possa entender melhor; situando
as circunstâncias da época aos fatores determinantes em que suas versões do
festival foram realizadas, fica bem claro o porquê dos jovens estudantes
cajazeirenses estarem à frente do seu tempo. Uma juventude encantadora e
inexorável, que se engajou ao momento político-ideológico que tomava conta de
seguimentos da classe estudantil brasileira; numa conjuntura em que a ação da
censura à produção cultural no país era quem determinava a qualidade e o tipo
de peça artística que interessava - não ao público, mas ao governo e os seus
censores.
Um aparelho destruidor da liberdade de expressão e da criatividade,
que não ficou restrito somente ao eixo Rio - São Paulo, mas que atingiu outros
pontos da federação, como foi o caso da repressão ao GRUTAC e a peça
"Aí" num festival de teatro em Campina Grande e a prisão do suplente
de senador Bosco Barreto, por agentes da Polícia Federal, no centro comercial
de Cajazeiras.
Os festivais de poesia, diante do rolo compressor
que limitava a liberdade criadora, passaram a ser um instrumento de
conscientização, preocupado em levar uma mensagem libertadora à sociedade estudantil;
e a poesia, uma forma de reflexão, de despertar e de denúncia da realidade
política e social vivida pela população sertaneja, principalmente, os que não
tinham acesso a informação. Mas os objetivos dos festivais iam muito além da
lapidação de alguns estudantes sonhadores com os ideais de liberdade, foi
também uma forma de promoção e de descoberta de novos valores no meio cultural
e artístico de uma cidade, que sedo aprendeu a prestigiar e incentivar a
produção de eventos culturais em Cajazeiras.
A realização do primeiro festival em setembro
de 1973 - uma iniciativa dos grupos de jovens GINC e GRUJUCA ficou visível a
sua finalidade e os caminhos que o mesmo deveria percorrer; e que pela ótica
dos que estavam por traz daquele acontecimento literário; era que o evento
deveria dá segmento nos anos subsequentes, tal como o Festival da Canção no
Sertão, que era realizado todo ano com participação maciça de compositores,
músicos e poetas da cidade e da região.
Entretanto por falta de apoio dos órgãos
oficiais, os seus promotores não tiveram estrutura para dá continuidade no ano
seguinte, em 1974. O festival tardou, mas ressurgiu um ano depois, em outubro
de 1975. Desta feita, numa versão que teve a cara o do seu idealizador - o
poeta Irismar de Lyra, porém de forma limitada, restrito apenas aos alunos do
Colégio Estadual Crispim Coelho, já que o mesmo era uma iniciativa do Centro Cívico
Olavo Bilac daquela unidade escolar. Em meios a descontentamentos dos
estudantes de outras unidades escolar, impedidos de participar em 75, o
festival voltou a ser realizado mais uma vez, em agosto de 1976, com mais de 22
poesias inscritas, sob a direção de José Alves Neto, então presidente do Centro
Cívico do Colégio Estadual.
No ano seguinte, em 1977, o festival ressurgiu
das cinzas da limitação e adotou um caráter mais democrático, quando depois de
seguidas reuniões entre os principais presidentes dos Centros Cívicos dos
colégios da cidade, juntamente com membros do Diretório Acadêmico da FAFIC,
ficou determinada a participação de todos os estudantes das unidades de ensino
- secundaristas e acadêmicos da cidade no festival. Foi criado um grupo gestor
para o evento e em seguida, várias comissões também foram formadas nas unidades
escolares, objetivando fazer a divulgação e o trabalho de inscrições dos alunos
interessados.
Os festivais de
poesia em Cajazeiras marcaram uma época onde a produção desse gênero literário
havia virado febre na cidade, cujo calor, incinerou corações um tanto
dilacerados pela repressão. Mas fez nascer o ideal libertário numa terra
distante dos grandes centros urbanos, porém presente na vida e na alma do
sertanejo.
REITURAS DAS IMAGENS EM ANEXO:
1. Capa do livro "Raízes" contendo textos, propostas e poemas dos participantes dos Festivais de Poesias. Acervo: Cleudimar Ferreira.
2. O jovem poeta Irismar di Lyra - um dos idealizadores do festival. Acervo: Irismar di Lyra
3. Cerimônia de transmissão do cargo de presidente do Centro Cívico Olavo
Bilac, do Colégio Estadual de Cajazeiras, onde o então presidente, o estudante João Bosco
Amaro da Silva (à direita), passa para o presidente eleito José Irismar di
Lira (à esquerda), a direção da entidade estudantil em 25 de maio de 1975. Acervo: Irismar di Lyra.
4. Mesa com a comissão julgadora do III Festival de Poesia Estudantil de Cajazeiras.
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