José Antonio da Albuquerque
Além do título de cidade que ensinou a Paraíba
a ler, Cajazeiras é tida e havida também como terra da cultura. Que cultura?
Cajazeiras continua, e não se sabe até quando, vivendo do passado, depois de
criar slogans, dentre eles, até sem fundamentação, a exemplo de “terra da
cultura”.
A única lógica para este slogan encontraria
razão nas encenações teatrais vividas pelos áureos tempos do TAC – Teatro
Amador de Cajazeiras, tendo como principal líder Hildebrando Assis e
posteriormente com Ica Pires e mais recentemente com Eliezer e seu grupo, além
de Ubiratan Assis, dentre outros nomes.
As manifestações históricas da nossa cultura
popular se perderam na poeira do tempo. Desconheço algum trabalho de pesquisa
neste sentido, até mesmo entre as dezenas de trabalho realizadas pelos
concluintes do Curso de História da UFCG, Campus de Cajazeiras.
O que construímos em termos de políticas culturais,
no real sentido de uma política pública e da cultura como cidadania? Nunca
despertamos para a nossa diversidade cultural e nunca conseguimos entender, do
ponto de visto antropológico, que cultura é tudo que o ser humano elabora e
produz, simbólica e materialmente falando.
Carnaval, Xamegão, Auto de Natal, Paixão de
Cristo, Festival de Poesias, Encontro de Violeiros, Vaquejadas, Desfiles
Cívicos com temas culturais e históricos, que são realizados anualmente, talvez
não representem a essência da cultura de nosso povo.
Um dos grandes gargalos do “despertar” para a
cultura é a questão do financiamento. Quem se debruça sobre o orçamento da
prefeitura de Cajazeiras, nos últimos tempos, vai se deparar com uma triste e
insólita realidade: os recursos são de uma pobreza franciscana. Como sustentar
o slogan de “terra da cultura” quando as cifras destinadas a este setor são
miseravelmente mixurucas.
Para se fazer parte da construção de um novo
tempo, de um novo rumo necessário se faz ter pessoas com qualificação técnica e
política e que se cerquem de outras com ideais e ideias para sedimentar e
transformar com pujança os valores culturais em suas raízes mais profundas de
nosso povo e de nossa gente. Existe um enorme campo a se pesquisar e explorar.
Não tenho informações se Cajazeiras já aderiu
ao Sistema Nacional de Cultura, que antes tem que aderir ao Sistema Estadual. O
mais belo programa de inclusão social do governo de Ricardo Coutinho é o PRIMA,
todo ele financiado pelo Ministério da Cultura e é neste ministério que existe
uma infinidade de alternativas de se buscar recursos para uma simples fanfarra
até um complexo museu/espaço cultural.
Um dos sonhos de Edme Tavares, idealizado a
partir do bicentenário de nascimento de Padre Rolim, em 1999, foi o de
construir um grandioso espaço cultural em Cajazeiras com a finalidade de
abrigar o museu, o arquivo público, o arquivo histórico, a Academia
Cajazeirense de Letras, o Instituto Histórico, um auditório com mil lugares, um
espaço para ensaio de dança e teatro e um para exposição de artes plásticas.
E o local? Houve quem sugerisse que deveria
ficar às margens do Açude Grande, após o Leblon, com as características
arquitetônicas iguais ao que foi construído em Campina Grande, em homenagem a
Jackson do Pandeiro, dentro do Açude Velho.
Há mais de vinte anos um doutorando, em
Antropologia Cultural, da Universidade Federal de Pernambuco, passou um longo
período em Cajazeiras fazendo uma pesquisa sobre as nossas bodegas, como
tradição ainda hoje bem viva no nosso meio e outra oriunda dos Estados Unidos,
sobre Conflito Religioso e Poder Político e mais recentemente sobre engenhos de
rapadura. Poderia citar dezenas de exemplos de pesquisadores, que chegam a
Cajazeiras, mas não possuímos um Arquivo Público e de longe o Histórico.
Cajazeiras, muito embora possua uma riqueza
histórica imensurável e maior ainda sob aspecto cultural, suas autoridades
precisam despertar para estes setores, iniciando por uma política pública
importantíssima: a de colocar na Secretaria de Cultura pessoas altamente qualificadas
e de grande conhecimento antropológico e sociológico de nossa cidade.
Cajazeiras merece!
Texto publicado
no Jornal Gazeta do Alto Piranhas, edição 938ª, dia 25/11/2016