Os atores paraibanos seguem em alta, firmes, atuando no cinema nacional. São tantos que não se tem ideia de quem está na
berlinda escalado para as próximas produções. Muito melhor ainda, é saber que
alguns estão atuando com diretores do cinema latino. Só o ator Fernando Teixeira,
tem em média uns três filmes para fazer nesse segundo semestre de 2017. Mas à
tona do momento, em termos de cinema e de produções com atores da Paraíba, tem nome e estará poucos dias inserido na
programação das salas de exibições espalhadas nos grandes centros culturais deste país afora. Chama-se LAMPARINA DA AURORA, do cineasta maranhense Frederico
Machado. Segundo Cleber Eduardo, Frederico Machado transita por uma estrada
rara do cinema brasileiro recente, um campo estilístico do qual não fazem parte
muitos outros no longa-metragem (Julio Bessane, Edgar Navarro, Luiz Rosemberg
Filho e mais alguns), em que a imagem e as palavras, longe de serem veículos de
comunicação, são esculturas sonoras, sensíveis e semânticas, são manuseadas a
partir de ideias em jogo e não apenas cargas informativas. O filme traz no
elenco a experiência do ator cajazeirense Buda Lira, que antes já havia trabalhado
em “Aquárius”, grande sucesso do cinema pernambucano, que protagonizou a volva
da atriz Sonia Braga ao cinema nacional. LAMPARINA DA AURORA, recentemente recebeu
o prêmio máximo de melhor filme na Mostra Olhos Livres 2017, em Tiradentes/MG. O
filme faz estreia essa semana no Cine Sesc, em São Paulo.
Filho
de mãe costureira e pai carpinteiro. Cursou
Técnico em Enfermagem; Cursou Técnico em Escultura na Escola de Pozza de
Fassa em Trento na Itália; Entre os anos de 1978 até 1980, foi voluntário da
Cruz Vermelha; Ao lado do padre italiano Albino Donati, fundou a Escola de
Artes Sacra na cidade de Senador Pompeu no Ceará; Em Cajazeiras mantém a sua
loja Eskultura na Avenida Francisco
Matias Rolim, onde continua suas atividades de escultura, restauração e
diversos trabalhos de um grande artesão. Veja em vídeo um pouco da História de
um artista cajazeirense, que vive com muita honra, através do seu trabalho na
Terra que se intitula da Cultura. Será que é?
Atelier do Artista
Reportagem: fotos e vídeo/Beto Cézar - DRT/PB
3.563 desde de 2006
Ator, natural de Cajazeiras/PB, nascido em 1952,
Sávio Max Sobreira Rolim foi um prodígio nas artes visuais. Com apenas 12 anos,
atingiu o estrelato, ele interpretou Carlinhos, o protagonista do romance
homônimo Menino de Engenho (1965), dirigido por Walter Lima, baseado no livro
do escritor paraibano José Lins do Rego, no qual, com carisma distinto,
contracenou com Geraldo Del Rey, Anecy Rocha, Maria Lúcia Dahl, Antônio Pitanga
e Rodolfo Arena; entusiasmando a crítica e o público.
Segundo relatos do diretor, Sávio queria a
todo instante ensaiar mais uma vez o beijo, enquanto a mãe de Maria de Fátima
Almeida tentava evitar… Como ele sempre abria os olhos, a cena tinha que ser
ensaiada mais uma vez.
O artista obteve
reconhecimento nacional, mas não conseguiu emplacar na profissão, e acabou
mergulhando de forma descontrolada no álcool, nas drogas pesadas e no
isolamento, o que lhe acarretou diversos problemas psicológicos, e foi
diagnosticado como portador de esquizofrenia paranoide.
Sávio Rolim também fez
teatro, e atuou como repórter dos jornais paraibanos, “A União”, “Correio da
Paraíba”, e o “Norte”. E ainda aventurou-se numa temporada em Serra Pelada,
embalado pelo sonho do então “El Dorado” tupiniquim. Quando retornou a Paraíba,
ele trabalhou como dedetizador para sobreviver. Com sérios problemas de saúde,
sem amigos de verdade e, principalmente, faltou o afago materno, imerso em
dificuldades emocionais e financeiras, tentou pedir socorro diversas vezes,
sequer foi recebido na fazenda de sua família em Cajazeiras.
Ele viveu durante
décadas de forma precária na periferia de João Pessoa, pelas esquinas e becos,
encontrando sempre nas madrugadas quem lhe pagasse uma cachaça, ou lhe
agredisse fisicamente após irritar-se com seus questionamentos filosóficos, mas
nunca chegou a se envolver em crimes. Seus irmãos (com exceção de uma
irmã que mora no interior de Minas Gerais e já tentou ajuda-lo) morreram todos
ainda na meia idade, enquanto sua mãe veio a falecer, em 2009.
Em 2004, a vida de Sávio
foi retratada através do documentário “O Menino e a Bagaceira”, dirigido pelo
professor Lúcio Vilar, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O
documentário foi exibido no Festival de Cinema de Pernambuco, e foi o grande
vencedor, premiado na categoria Vídeo Nordestino, considerado a melhor obra
tanto pelo júri quanto pela crítica.
No dia 12 de abril de
2010, o Conselho de Cultura do Estado da Paraíba, por unanimidade, acolheu
indicação da Associação Paraibana de Imprensa, na pessoa da sua presidente
Marcela Suetônio, para que o ator Savio Rolim recebesse os benefícios da Lei
Canhoto da Paraíba. O projeto foi defendido em plenário pelo conselheiro,
jornalista Biu Ramos.
No ano de 2014, ao
comentar sobre o filme, que foi rodado na Paraíba no ano de 1965, pelo diretor
Walter Lima Júnior, o crítico de cinema Lúcio Vilar, salientou que as peças
originais do filme estavam em processo de deterioração e foram recuperadas. “Já
houve uma exibição, em Brasília, da cópia restaurada, e há alguns eventos
programados para marcar os 40 anos desse filme, a história de menino de engenho
que virou um bagaço humano”.
De acordo com Lúcio
Vilar, o documentário surge num momento importante em que o filme está sendo
resgatado. “Vamos aproveitar para resgatar também o ator que fez o Menino de
Engenho, que fez o personagem Carlinhos, o cajazeirense Sávio Rolim, e que está
numa situação de ostracismo artístico, de isolamento, de esquecimento”,
afirmou.
Nós achávamos que o
filme provocaria uma reação da sociedade e do poder público para ajudá-lo, mas
não houve sensibilização. O Estado na época ofereceu tratamento, que em minha
opinião era inadequado. Por tudo isso que ele passou, e merecia ter a sua
história contada. Vilar, diz não saber mais do paradeiro de Saulo Rolim. “Fui a
uma clínica que ele estava internado, mas ele já tinha saído para um abrigo”.
Segundo informações da
imprensa da capital paraibana (26/06/2008), uma enfermeira e uma recepcionista
de Casa de Saúde São Pedro, um hospital psiquiátrico localizado na Avenida
Epitácio Pessoa, disseram que Sávio Rolim está de alta desde o mês de abril,
mas a família se recusa a recebê-lo. Ele deu entrada naquela casa desde o
mês de janeiro, estando lá há exatos seis meses. E foi internado pelo SUS e
durante esse tempo todo nunca recebeu visita de familiares, nem mesmo da filha.
” A gente é que ajuda
ele aqui, dando um cigarro, um lanchinho, pois ele vive totalmente abandonado”,
disse a enfermeira, afirmando que ele está totalmente lúcido depois do
tratamento de desintoxicação que foi feito para cuidar do vício do álcool e das
drogas. “A gente sabe até que a filha recebe uma pensão dele, mas ela nunca
apareceu por aqui com um pacote de biscoito… A gente sabe também que ele tem um
irmão aqui que vive bem e que a família dele é rica em Cajazeiras, mas ninguém
quer saber dele”, prossegue a enfermeira. Ainda segundo a enfermeira,
Sávio sente muita falta dos parentes e amigos. A direção do Hospital vai
entregar o caso ao Ministério Público.
O crítico de cinema
Lúcio Vilar, comentou sobre a situação triste, e o desenrolar da história de
vida do ex-menino de engenho, ator mirim. “Sávio não conseguiu desenvolver sua
carreira com o mesmo brilho de sua estreia e foi condenado ao esquecimento e a
precárias condições de subsistência”. Diz ainda, “Um retrato do ocaso de um
ator precoce que participou de um dos títulos mais importantes da
cinematografia brasileira”.
Vilar ressalta “Ele
passa por tamanhas dificuldades, que, muitas vezes, chega a ser confundido com
um mendigo (ou sem-teto) que perambulam pelas ruas das grandes cidades,
anônimo, deletado da memória nacional, como se dela não fizesse parte”.
Para resgatar o ator
Sávio Rolim do esquecimento, Lúcio Vilar pretende mostrar o documentário em
festivais, universidades e redes de TV. “É claro que não conseguiremos devolver
a ele os aplausos de outrora, mas pelo menos lhe ofereceremos um mínimo de
reconhecimento e cidadania.” Afinal, segundo o diretor, Rolim ajudou, “com sua
delicada interpretação, a tornar o filme Menino de Engenho mais lírico e
próximo do aroma e atmosfera literários do escritor José Lins do Rego”.
Em Cajazeiras (2014), o
ator Sávio Sobreira Rolim falou com a imprensa local, sobre o documentário do
jornalista Lúcio Vilar. “O trabalho é uma extensão da obra de José Lins do
Rego, porque faz uma análise literária, histórica e política das questões
ideológicas, sem esquecer as preocupações básicas do ciclo da cana-de-açúcar,
que foram colocadas pelo diretor Walter Lima Júnior”.
Afirmando que estreou no
filme, aos 12 anos de idade, o ator cajazeirense disse que o Menino de Engenho
foi um trabalho que lhe proporcionou muitas emoções, porque teve a participação
direta de um grande público. “Foi um filme que teve uma aceitação muito grande,
durante muitos anos, sendo até hoje, visto, estudado e questionado nas
universidades. Continua vivo e palpitando nos corações do povo brasileiro”,
completou.
“Sávio Rolim não culpa o mundo por suas dores ou descaminhos, nem
tampouco reclama a piedade de ninguém. Deseja apenas respeito, dignidade e o
que lhe é de direito - Seu lugar na história do cinema brasileiro e na memória
do povo paraibano”.(Palavras Finais/ Transcritas do Documentário - O
Menino e a Bagaceira, Direção de Lúcio Vilar).