segunda-feira, 9 de setembro de 2024

CAIXA DE SENTIMENTOS

 por Belarmino Mariano

Imagem meramente ilustrativa retirada da internet (das redes sociais)


Juro que não sei o que dizer, mas sinto que a vida não é um parque temático e, nem sempre temos as escolhas que pensamos ter. Não são culpas, apenas incertezas e inseguranças.

Não sou romântico, sou até meio grosso e insensível, mas amo o amor e, como na montanha Russa, sinto um puta frio na barriga.

Às vezes saltamos no desconhecido mundo dos cristais, enquanto espumas rodopiam no ar. Na beira do precipício, vejo um Canyon profundo e mergulhar é preciso.

A vida não é o que você vê, não são os lugares e nem as coisas com as quais você consegue interagir. São as pessoas e o que você sente nas relações, emoções ou sentimentos. A vida é imprevisível e não estamos no controle de nada.

As palavras não são nada, diante da jornada imprevisível em que tudo se transforma, uma atmosfera invisível e utópica. As palavras escondem verdades, encobrem comportamentos e criam couraças do ser.

As palavras magoam e chateiam a gente. Nossos corpos aprendem com a dor, pois nem tudo é sensação de amor incondicional. Esse é o incrível mundo das incertezas e não vivemos em nenhum outro lugar.

Às vezes a gente até imagina como seria a nossa vida se não fosse como é. A vida é bizarra e estranha, mas é a nossa vida.

Amor e drama, conexões astrais, abstrações e entregas. Paz, calma e parceria de cumplicidades. Às vezes nos sentimos personagens de histórias incríveis, mas nunca realizáveis.

Às vezes nos sentimos em um paraíso perfeito, apenas aproveitando as grandes paisagens paradisíacas como em um sonho perfeito.

Às vezes são emoções demais, em um turbilhão de possibilidades. Neuroses múltiplas, corações mutilados e profundas estranhezas impactadas pela escuridão do fundo do poço.

Padrões em construção, estalos de ondas se quebrando contra os penhascos, lodo e lama se espalham em todas as direções. O fino material do fundo das águas como a pele se desfazendo em camadas invisíveis.

A solidão não é uma coisa sólida, a realidade é uma utopia espetacular, a morte é um momento solitário e único, mas a energia flui constantemente.

A questão é, a realidade parece uma fogueira de pedras, alimentada por troncos e galhos de matéria seca. São nossos maiores medos, o que não se explica, as nossas inseguranças da morte não descobrimos nada.

Não sei se existe uma lei da vida, mas sou apaixonado pelo caos e pela incerteza, por isso gosto de ideias livres e leves, mesmo que a leveza pese, pois a felicidade implica em cumplicidade.

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fonte: Rede Social (Facebook) do autor Belarmino Mariano. https://www.facebook.com/photo?fbid=8731303356881306&set=a.854962007848853

sábado, 3 de agosto de 2024

Hildebrando Assis: A cultura, a arte e o teatro em Cajazeiras.

por Cleudimar Ferreira

Retrato de Hildebrando Assis. Arte Cleudimar Ferreira


O fazer teatral em Cajazeiras, tem dado o que falar depois da efêmera e transitória ascensão da atividade amadora para o profissionalismo. Isso não é fake, mas um fato que vem ocorrendo com o tempo e com os últimos impulsos positivos dessa atividade em nossa cidade, o qual projetou partes de seus atores para o estrelato nacional. Porém, é imperativo lembrar, que a latente pulsação provocativa desse bom momento, sempre foi uma constante nos seus segmentos artísticos, sejam eles com visibilidade no presente ou passado.
 
Por conta disso, a cidade viu surgir nomes que a partir dos seus esforços, se transformaram em verdadeiras emblemas representativas da arte cajazeirense. Faça-se em que atividade artística fosse, esses nomes estiveram à frente, desenvolvendo suas práticas sensitivas ligadas as artes, principalmente a de maior popularidade e volume produtivo, a linguagem cênica.
 
O gosto do nosso povo por cultura; a sensibilidade que trazemos por convicção; a atração que provocamos naqueles que nos visitam e, por afinidade, ficaram em nosso espaço de convivência, tem transformado Cajazeiras num celeiro cultural, com destaque na produção artística e suas linguagens, com ênfase as artes cênicas e seus múltiplos gêneros.
 
Nessa afeição atemporal, evidenciaram em momentos remotos, nomes históricos como os de Íracles Brocos Pires, Lacy Nogueira, Eliezer Rolim e Hildebrando Assis. Todos in memoriam, mas que deixaram um legado de positividade, ao lançarem na dramaturgia cajazeirense, uma transitoriedade que tem se confirmado na passagem do teatro clássico de Hildebrando Assis e Íracles, para o moderno de Ubiratan di Assis ou o contemporâneo de Eliezer Rolim. 

Por esse intervalo, o nome de Hildebrando Assis, embora não muito percussivo, aparece com mais força, e não é uma surpresa. Não apenas pelo modelo de encenação que abraçou e colocou em prática no seu tempo, mas por sua história de envolvimento com as artes e pelo comprometimento com a política cultural em Cajazeiras. 
 
Diz a oralidade cajazeirense e os escritos publicados sobre Hildebrando Assis, que ele veio antes de Íracles Pires e, foi o responsável pela formação do TAC - Teatro de Amadores de Cajazeiras. Diz também as bocas mais remota evolvidas com a prática teatral na cidade, que Hildebrando, passou a marca TAC para Íracles. Que conduziu a direção do movimento cênica no município, numa época - a década de 50, onde tudo era mais difícil nessa área.
 
Provavelmente os costumes sociais desse tempo eram desfavoráveis a prática teatral. Preconceitos, faltas de espaços e palcos adequados; carência de recursos financeiros e o fator amadorismo, que influenciava bastante no resultado da performance técnico das montagens das peças, se constituía como os principais entraves a produção das artes cênicas.
 
Mesmo não sendo um cajazeirense da gema - mas natural de São José de Piranhas, Hildebrando Assis foi acima de tudo, um defensor obstinado das demandas culturais de Cajazeiras e da região sertaneja paraibana. Sua paixão, especificamente por essa linguagem da arte, o fez se tornar na sua época um dos maiores teatrólogos em evidência, tanto quanto foi Íracles Pires e os que vieram depois, como foi os casos de Geraldo Ludgero, 
Ubiratan di Assis e Tarcísio Siqueira.
 
Nessa seara ele adaptou e escreveu textos, dirigiu e produziu espetáculos e, como ator, protagonizou e atuou com desenvoltura em montagens produzidas pelo TAC. Esse protagonismo o credenciou a se tornar nos anos 60 e 70, em uma das principais vozes da luta em prol da construção de um teatro na cidade. Defendia que as artes cênicas, precisava ter seu espaço próprio, para que os artistas dessa linguagem, não dependesse das cidades circunvizinhas para fazer ou expor suas atividades dramáticas. Uma demanda reivindicada em seguida, nos anos 80, por elencos de grupos isolados, com destaque os grupos Grutac, Terra e Boiada.       
 
Pelo que fez, não é cesurado dizer que Hildebrando foi uma amante da linguagem e dos sinais. Tinha uma vocação por natureza, a de atuar nesse universo das letras e artes. Por essas demandas ele percorreu com inteligência e colheu considerada bagagem intelectual e cultural. Com a construção do Cine Teatro Éden em 1953, viu surgir, mesmo com limitações, a primeira sala para apresentações teatrais 
em Cajazeiras, onde no pequeno e estreito palco desse cinema, apresentou e inaugurou o novo espaço com a peça “O Homem Que Fica” de sua autoria e direção. Para ele, um sonho realizado.  
 
Na sua biografia, consta ainda os feitos de ter sido prefeito de Cajazeiras, deputado estadual na Assembleia Legislativa da Paraíba, diretor do setor de arte da Universidade Federal da Paraíba, diretor de área jurídica da extinta SAELPA e presidente da antiga Fundação Cultural da Paraíba - FUNCEP. Hildebrando Assis, nasceu em 1920 e faleceu em 22 de outubro de 2003.

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quinta-feira, 18 de julho de 2024

Cine Açude Grande - Festival de Cinema de Cajazeiras. Filmes Selecionados


Alô, Alô, Cinéfilos do mormaço. Preparem suas visionárias ilusões para uma experiência única no sertão. Está em movimento, chegando para colorir do inverno em Cajazeiras o V Cine Açude Grande - Festival de Cinema. O evento, acontecerá entre os dias 20 e 21 de agosto e 05 e 07 de setembro e, terá como grande homenageada, a atriz paraibana de teatro e cinema Zezita Matos.
Esse ano, junto com a programação de agosto, será desenvolvida a primeira edição do Lab Açude Grande de Roteiro, uma oficina onde os participantes terão a chance de explorar o processo criativo que envolve a construção de um roteiro. Uma oportunidade para aqueles que tem uma boa história para contar e experimentar a prática de ser um roteirista. 
Segundo os organizadores do festival, mais 400 filmes foram inscritos. Por conseguinte, segue a programação visual com filmes cuidadosamente analisados e selecionados, que irão brilhar nas telas das mostras competitivas. Portando, não perca a oportunidade de viver a sétima arte e, também, a de celebrar o cinema paraibano.  


OFICINAS
- laboratório açude grande de roteiro (Bruno Soares e Edmilson Junior) 
- oficina atuação para audiovisual (Daniel Porpino)

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sábado, 13 de julho de 2024

O ATOR BUDA LIRA SERÁ HOMENAGEADO NO VI FESTISSAURO, EM SOUSA

por Cleudimar Ferreira


Nesse ano de 2024 o VI FESTISSAURO - Festival de Cinema do Vale dos Dinossauros, importante evento do audiovisual sertanejo, realizado anualmente na cidade de Sousa, prestará homenagem a Ronaldo Lira, ou simplesmente Buda Lira - como é conhecido. O ator e produtor cultural Buda Lira é natural do município de Uiraúna, no Sertão paraibano e foi um dos fundadores do Projeto Folia de Rua em João Pessoa.

Buda Lira viveu sua infância e adolescência em Cajazeiras. Em nossa cidade, ainda muito jovem, nos anos 70, começou a ingressar nas atividades das artes cênicas. Engajado no intensivo movimento que a cidade apresentava na atividade teatral, ele teve a oportunidade de trabalhar com grupos amadores, mantendo uma forte atuação na vida cultural da cidade. 

Tempos depois, mudou-se para a capital João Pessoa, onde continuou trabalhando no teatro amador, participando dos eventos de organização do setor cultural, tanto no município de João Pessoa quanto a nível estadual, tendo como referência desse momento a sua atuação no NTU - Núcleo de Teatro Universitário, órgão ligado a UFPB, onde chegou a ser presidente da Federação Paraibana de Teatro Amador (FPTA), indo mais além, sagrando-se membro da Confederação Nacional de Teatro Amador (CONFENATA).

Em 1989, tornou-se um dos criadores do CAFUÇU - Bloco Carnavalesco, que adotou como emblema do carnaval popular de rua, a irreverência dos figurinos bregas e acessórios exagerados, extravagantes, para levar a animação ao pré-carnaval pessoense. Depois, participou da fundação do projeto Folia de Rua, iniciativa que veio reunir os blocos pré-carnavalescos da capital paraibana.

Como ator, teve atuação marcante em grandes montagens do teatro paraibano. A título de exemplo, foi a sua presença no elenco da peça teatral "Papa Rabo", espetáculo dirigido por Fernando Teixera, em 1982, além da sua participação em destacados filmes do cinema nacional, como os filmes Aquarius (que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2016) e, mais recentemente, Bacurau (que conquistou o Prêmio do Júri em Cannes, em 2019, tornando-se o segundo filme brasileiro da história a ser premiado no certame geral, depois de O Pagador de Promessas). 

Com todo esse perfil, a homenagem que o FESTISSAURO agraciará ao ator Buda Lira, ficará pequena, dado a grandiosidade do seu legado até aqui na dramaturgia da Paraíba, bem como, a sua genialidade e talento. Atributos desse ator, que é mais cajazeirense do que cajazeirado; que tanto vem contribuído para o enriquecimento do nosso cinema paraibano, nordestino e brasileiro.

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segunda-feira, 8 de julho de 2024

TEATRO ICA: um espaço livre e democrático para a arte e cultura de Cajazeiras.

por Francisco Ernandes



Quero iniciar este comentário, fazendo uma citação ao Filósofo, crítico e autor teatral, Jean-Poul Sartre, que no ano de 1945, apresentou para o mundo uma das suas mais importantes frases:

"O inferno são os outros", por coincidência ou por obra das divindades, a informação consta em uma peça de teatro assinada pelo escritor francês, intitulada "entre quatro paredes", em que três personagens eram condenados a passar a eternidade no inferno, fazendo companhia uns aos outros.

O que tem isso haver com a nossa querida casa de espetáculos, o Teatro Ica?

Então vejamos, a poucos dias atrás, houve uma mudança de direção naquele espaço, promovida pela FUNESC/Governo do Estado da Paraíba, a quem o teatro Ica pertence, onde foi empossada, a produtora cultural Isabel Nonato, esposa do artista Raimundo Nonato, proprietário do Rancho Sem Portas, no Sítio Xique-Xique, município de Cajazeiras, onde desenvolve importantes eventos artísticos e culturais.

Eu venho acompanhando através das redes sociais e rádios de Cajazeiras, uma polêmica desnecessária e estéril protagonizada pelo coreógrafo e coordenador do Grupo de Danças de Rua, Joel Santana, meu amigo-pessoal, mas entendo que a sua reivindicação não tem menor sentido, por se tratar de querer ensaiar no hall do teatro Ica, sendo ali uma área destinada a exposições de artes, recepção, entrada e saída de pessoas, entre outras finalidades.

Sei também que existe no Teatro Ica uma sala de dança, dotada de espelhos, climatizada com capacidade para até 30 pessoas praticarem os seus ensaios.

Li o documento encaminhado pela nova diretora, explicando para Joel Santana, toda essa situação, inclusive com o aval da FUNESC, em respeito ao regulamento do funcionamento do Teatro Ica.

Voltando ao início do comentário, sobre a célebre frase do filósofo, "o inferno são os outros", devo dizer, pela longa vida dedicada ao teatro, que já fui pedra e vitrine, hoje penso muito antes de falar ou fazer alguma coisa, por mais simples que ela seja, pra depois não ter que engolir no seco...

Hoje quem dirige o nosso Teatro Ica é a produtora cultural Isabel Nonato, ontem foram tantos outros, a exemplo de Ubiratan de Assis, Jocélio Amaro, Rivelino Martins, Eu, Junior Terra, Beethoven Dantas, Orlando Maia, Osvaldo Moésia e amanhã poderá ser você Joel Santana, portanto o que precisamos nesse momento crucial, onde tudo se leva para o campo politiqueiro, é receber a nossa nova Diretora, ou Gerente Operacional do Teatro Ica e dar as boas-vindas, construir com ela novos caminhos e propostas para um bom fomento naquele espaço de todas as artes e de todos, todas e todos nós. Tenho dito!

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fonte: postagem publicada no facebook de Francisco Ernandes. https://www.facebook.com/Hernandezteatro

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Mais uma vez, o pão de Saóra é lembrado em postagem na internet

por Cleudimar Ferreira

As imagens (remotas), autênticas, mostra como tudo começou

As fotos que ilustra esse texto, revela como foram os primórdios; o antes e o depois, da panificação em Cajazeiras. O que marcou o pioneirismo dessa atividade na cidade, a importância da destacada chegada, em 1947, de Severino Cabral dos Santos (1918-2004) - seu Saóra, como era chamado, como era conhecido por todos do seu convívio social.

Saóra era natural do município de Teixeira, região sul da Paraíba e, havia começado a trabalhar como padeiro, aos 9 anos, nas padeiras da cidade de Patos, no sertão paraibano. E foi em Patos, de padaria em padaria, que Saóra adquiriu experiência, até chegar a desenvolver uma forma diferente de preparar a massa para fabricação do pão, que mais tarde se tornaria famoso em Cajazeiras.

Isso mesmo! Com sua migração para Cajazeiras, em 1947, talvez nem imaginasse que o seu preparo, se tornasse um sucesso no paladar dos habitantes cajazeirenses, a ponto de atravessar o tempo, passando de gerações em gerações, até chegar à mesa dos consumidores atuais.

A família conta que seu Saóra, ao chegar em Cajazeiras, passou a compartilhar com os padeiros da cidade, dicas e sua experiência na fabricação do pão. “Ele foi ensinar aos padeiros como fazia a fermentação; a trabalhar a massa. Ele levou todo um conhecimento consigo e disseminou, menos a receita do pão dele, risos... Em um mês, ele já conseguiu montar a padaria dele, que chamava de gangorra - nome dado as padarias pequenas no bairro nas Capoeiras”.

A receita que fez com que o pão de Saóra se tornasse uma iguaria preferida no café dos cajazeirenses e cajazeirados, foi a simplicidade de como ele trabalhava a massa. O pão que até hoje agrada seus consumidores, é semelhante ao pão francês, porém com uma ressalva: a massa é mais densa, mais leve, livre de produtos químicos e, processo de fabricação é totalmente manual, ainda assado em forno de lenha, sem nenhum tipo de conservantes, aditivos químicos ou antimofos e outros utilizados na panificação industrial.

“Utilizamos fermento biológico em baixíssima quantidade e a massa passa por aproximadamente cinco horas de descanso para a fermentação” explicou Jana Barbosa, neta do padeiro e gerente da padaria que a família tem em João Pessoa.

Com a sua ascensão e conquista popular do paladar dos cajazeirenses, o pãozinho de Saóra, rompeu fronteiras, o que fez se tornou, em 2021, Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba. Agora bem mais conhecido e famoso, a marca Saóra cativou a família do padeiro a expandir a fabricação do pão em outras paragens, passando a ser fabricado também na capital do Estado - João Pessoa.

Justificando a tradição ou entendendo que a história de seu Saóra e o pão é cultural e, que cultura precisa ser preservada, em Cajazeiras, a padaria ficou sob os cuidados de José de Arimatéia Cabral - Beré e do seu filho Joab, respectivamente, filho e neto de seu Saóra; e a padaria de João Pessoa, sob a responsabilidade de Jana Cabral, também neta do padeiro e filha de José de Arimatéia Cabral - Beré.

Imagens dos dias hoje. Qualidade e sabor do pão de Saóra mantidos

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Fonte: Jana Cabral, filha de Beré e neta de Saóra

sábado, 15 de junho de 2024

O que diz o texto: 'A Arte e o Artista' nesta página do Jornal O Observador.

por Cleudimar Ferreira

imagem do acervo de Eduardo Pereira

Quando começou a ser publicadas na internet as primeiras informações sobre a vida social em Cajazeiras, no passado, vieram com elas um baú de imagens desfiguradas, amareladas, envelhecidas, porém significativas, carregadas de história e de fatos marcantes sobre diversos assuntos ligados à nossa cidade e as pessoas que nela vive e viveu.

Nesta imagem acima, de um periódico bimestral - “O Observador”que por sinal é de uma página inteira, em breve circulação em Cajazeiras entre os anos 1955-56, podemos ver que os conteúdos impressos nas suas folhas desse informativo, pareceu ser revessado entre as informações políticas, passando por notas sociais, assuntos sobre a educação, terminando com generosas referências a arte e seus produtores - no caso mais específico os artistas. tal como a folha em anexo mostra.

Particularmente nessa página de “O Observador” - jornal criado por José Pereira de Souza, revela que o comunicativo, que embora tenha circulado na década de 50, numa cidade de interior; apresentava uma boa diagramação e obviamente, um visual bem-organizado. Ou seja, de boa aparência gráfica, para uma época em que as gráficas do interior, nesse caso as de Cajazeiras, os recursos de impressão mais modernos que havia era os tipos gráficos e, em se tratando de recursos mais avançados, por exemplo o offset, apenas as gráficas dos grandes centros, com restrições, era possível ter.

A página de “O Observador”, ocreada pelo tempo, doado por Francisco Sales Cartaxo a Eduardo Pereira - filho do editor desse antigo jornal cajazeirense, consta uma matéria (em destaque) com o título “A Arte e o Artista”, cujo texto ofuscado pelos anos de arquivo, é de difícil leitura. Escrito que venho tentando decifrar o seu teor há um bom tempo, mas sem sucesso. Entretanto, depois de várias tentativas de traduzir o que nela está escrito, essa semana, finalmente, consegui ler com maior contundência e reescrever mais de 90% do seu conteúdo.

Pode parecer ingenuidade minha, mas o meu interesse em saber o que a autor do texto na década de 50, escreveu sobre a atividade artística e a arte; está interligado com o meu interesse e preferência por assuntos ligados a arte e cultura. Nesse caso aqui, sobretudo o artigo “A Arte e o Artista” (destacado na imagem que ilustra essa postagem), a curiosidade era ler o que o jornalista, em janeiro de 1956, argumentou sobre a produção artística em Cajazeiras.

Registros indicam que entre as décadas de 1950 e 1960, a efervescência cultural da cidade, polarizava no intensivo movimento das artes cênicas, com surgimentos de fato, dos primeiros grupos de teatro amador, guiados pelo TAC - Teatro de Amadores de Cajazeiras, fundado em 1953, por Hildebrando Assis e seguido por Íracles Brocos Pires. Mas e as artes visuais, a dança e a músicas, como se comportou a produção dessas outras linguagens da arte nessas décadas?  

Portanto, será que o artigo “A Arte e o Artista”, em anexo na página acima do jornal “O Observador” dizia alguma coisa?  Quem tem interesse por arte, como eu, acho que queria saber. Sendo assim, veja a seguir o que como muito esforço eu consegui transcrever, do ilegível texto que a imagem digitalizada, desfocada, que esse arquivo de “O Observador” apresenta.

A  ARTE E O ARTISTA

Em sua concepção, sensu latos, dir-se-ia que a arte é aquela (...) (...) é o próprio homem, sabendo-se, que a produz a faculdade de manifestação do espírito.
O certo é que, expressão peculiar e espontânea das tendências, deixaria de ser arte o que se poderia definir de transversal das vocações em si.
Ademais, restringir o sentido realmente da arte ao simples conceito do belo, seria o mesmo que limitar o homem a uma (...) de absurda alternativa (...) com efeito, sem o uso da razão, obstem não seria homem e a arte não existiria. Logo, “to be, or not to be” não tem no caso uma aplicação aceita ou nem faz sentido de base com o conceito de homem-arte.
Não usar (...) por a suprema criatura da natureza transformista: a sua propriedade, a sua qualidade, o uso direito, o seu dever e predicado mais que por si só possui (...), não apenas como fator estrutural, mas como faculdade (...) em limites de plena ou de função
O convencionalismo da arte, convenhamos, não em (...) brasileiras, as inclinações específicas do artista estão a esbarrar em (...) tão (...) quando as ramificações esquemáticas de toda sorte e ordem dá atividade do homem.
Daí por que, onde quer que se encontre um colo humano, seja entre as azas de um Douglas a cortar o .... momento, seja na superfície das águas e da terra, ou do fundo dos oceanos: onde quer que se dê o encontro, aí haverá sempre a palpitar a alma enigmática de um artista, a esculpir ou a bordar a natureza em toda a sua extensão.
Ignorantes os peritos, rudes ou delicados, os artistas são sempre iguais na essência da própria desigualdade. Como nas fácies que se esboça na imaginativa do cinzelador da natureza - o homem semideus.
O conceito de homem-arte, em suma, universalizar se, em obstáculos de discrepância na ação individual por isto que, muitas vezes influências estranhas adulterara facilmente as variedades concepções do artista, dando lugar a incoerências concorrentes: deformação da tela, claudicação do seu criador. O medíocre, neste particular, chega mesmo a perder a independência de ação e sua concepção, transformando-se em típico fantoche, (em paralelo ao quadro real da vida) quando servil a intrusões useiras e vezeira.
Simples aplicação inexperiente e prejudicial (e até preventiva) da tinta errada, mas a fórmula, fica com o tempo que sempre se encarrega da devida colocação dos pontos nos “is”. E recomposição da verdadeira tela.

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quarta-feira, 12 de junho de 2024

Fogueiras acesas, apagadas e até proibidas

Damião Ramos Cavalcanti



Sonhei festas juninas da minha infância, era-nos festa de criança, tal qual como acontecia. Na verdade, o sonho é um regresso às circunstâncias vividas e desejadas. Se muito desejada, torna-se quase realizada, processa-se uma espécie de litíase que até em sonhos provoca tropeços. Não tenho certeza de que gente, que perdeu a memória, sonhe. Acho que depende da pedra que se formou nos passados idos. Pois, o sonho é um regresso aos caminhos, também aos apenas intencionalmente caminhados. Tal sonho, embora materialmente curto, era longo, nada excluía, tinha de tudo: fogo, fogos, fogueiras acesas, apagadas e até proibidas.

Repito: era-nos uma festa de criança, dona da simplicidade, tudo mais simples do que simples, contudo, com muitas cores e alegria. O santo da festa era um menino, dificilmente visto nas igrejas. Junto ao seu carneirinho, representando o primo Jesus; e ele vestido de pele de camelo, que, nos tempos de adulto, teria profetizado: “Eis o cordeiro de Deus”; disse outras verdades e, por isso, teve a cabeça cortada por Herodes, naqueles mundos, onde atualmente Netanyahu bombardeia crianças palestinas... Tudo de criança, do primo de Jesus, com roupa da simplicidade, mãe das virtudes. E é por isso que Luiz Gonzaga canta: “Ai, São João, São João do Carneirinho (...) Fale com São José (...) Peça pro meu mio dar/ Vinte espiga em cada pé”.  Também pintam o santo, enrolado de espigas, o que é a reza por maior fecundidade da safra que, além de gostosas pamonhas e canjicas, dá lagartas, sabugos para currais, cabelos e palhas para bonecas de milho.

Comprar fogos era o presente dos pais aos filhos, com o insistente aviso: cuidado para não se queimar. Lembranças tenho da vizinha Célia, noiva de João, que acendeu a pistola e segurou na mão, ao inverso, a saída da explosão. Mão sangrando, tudo parou, até o dia seguinte. Mesmo no sonho, a meninada corria pouco perigo: traque, estrelinha, chuveiro e bomba chilena. Também as casas ostentavam seu status pelo preço e diferenças dos busca-pés, bombas estrondosas, foguetões e fogos de artifício, daqueles inventados pela China, mas já fabricados pelos fogueteiros de Pilar.

Menino buliçoso gostava de mexer com fogo, pulando fogueira, cutucando as brasas ou jogando nas labaredas o resto de papel e papelão dos fogos usados. Meu pai, que não gostava de gastar, repetia que “comprar fogos é como queimar dinheiro”. Ou “solta foguetões quem pode”. A quadrilha se reservava ao fim, como se fosse divertimento de adulto. Os filhos de quem não podia ficavam de braços cruzados, admirando essas brincadeiras.

No outro dia, Alice, colega no Grupo Escolar, filha de uma das lavadeiras da cidade, no rio Paraíba, levantava-se logo cedo, ainda com o vestido sujo pela “tirna” das fogueiras para catar, pelas calçadas, ainda com sinais da noite anterior, traques ou chumbinhos que não tinham estourado, e assim guardava-os numa caixinha para modestamente festejar o seu São João. O nosso festejo continuava com os poucos fogos que sobravam do primeiro dia. Acordado, lembro-me dessas coisas recordadas pelo sonho e pela vida e suas noites de festa, de cada uma delas. Vale reviver essas noites, somente à noite o São João é festa. Atribui-se ao poeta Petrarca que La vita el fin, e ‘l dì loda la sera ou “o fim louva a vida; e a noite, o dia” ...  

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conteúdo original divulgado em: https://www.recantodasletras.com.br/

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Filme ‘Cajazeiras Sitiada’, do diretor Janduy Acendino, é lançado; equipe técnica e artística é composta de pessoas da cidade sertaneja

O Grupo Tropa e Danças Regionais da cidade de Joca Claudino, participa do filme.

“Cajazeiras Sitiada” é o novo filme produzido inteiramente na cidade conhecida pela efervescência cultural no alto sertão paraibano com a equipe técnica e artística composta de pessoas da cidade. O filme foi rodado em três dias, durante o mês de maio, sob a direção do cineasta Janduy Acedino, e recupera um importante fato histórico que ocorreu na cidade.

Filme de curta-metragem narra um fato ocorrido em 28 de setembro de 1926 na cidade de Cajazeiras no alto sertão paraibano, onde o cangaceiro Sabino Gomes (braço direito de Lampião) e um grupo de cangaceiros sanguinários, invadiram a cidade, sitiando-a por mais de 6 horas. O terror e o medo se espalharam entre os moradores nesse episódio que marcou a história da cidade.

Devido a negativa de um ex-cangaceiro que não aceitou se juntar a Sabino Gomes, e a alerta dos moradores da cidade e um tenente da época, que juntaram poucos homens de coragem, foi possível montar uma tocaia que impediram os roubos e mais mortes na cidade. 

Mesmo tendo pesquisado, assistidos vídeos de pesquisadores como pesquisador e professor Francisco Pereira Lima, de ter lido o Carcará de Ivan Bichara e mais diversas matérias de blogs, o diretor afirma que: este curta não é uma aula de história, mas uma ficção, inspiradas em fatos e acontecimentos, adaptados para esse enredo do filme.

O curta metragem tem no elenco a maioria de atores cajazeirense que assumem o papel de protagonistas e coadjuvantes, como forma de valorizar e incentivar os artistas locais. Nas filmagens, estão Willame Loureço, Beethoven Dantas, Carrazera das Candinhas José Francilino, Rivelino Martins, Fernando Inácio, Pablo Diêgo, Deilson dos Santos, Aguinaldo Cardoso e a criança Vitor Benicio Rolim de Abreu, Kaka Venceslau e José Claudenor Venceslau. E a participação especial do Grupo Tropa e Danças Regionais da cidade de Joca Claudino.

Na área técnica, participam Janduy Acendino, roteiro e direção, Junior Imigrante na fotografia, Getúlio Salvíano no som direto, Crysmênia Rodrigues na Produção, Wellington Oliveira como assistente de direção, Jociana Cristina na Maquiagem, Mateus David no Gaffer e Haldemy Lima na Still.

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fonte: Conteúdo original do site: https://fonte83.com.br/

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Desabafo do sanfoneiro, ou como as bandas deturparam o que se conhecia como forró

por José Teles

Sanfoneiro Genaro ex - integrante do Trio Nordestino

Em 2002, nos 90 anos de Luiz Gonzaga, fui cobrir a festa no Exu. Teve shows na praça no Centro da cidade. A atração principal era Dominguinhos. Ele começou a cantar e, do outro lado da praça, uns agroboys, com as portas da camioneta abertas, tocavam bandas de fuleiragem a todo o volume. Foi a primeira vez que vi Dominguinhos irado. Ele interrompeu a apresentação, deu um esporro. Alguma autoridade local, não me lembro se a polícia, conseguiu o silencio, e o respeito, que Luiz Gonzaga e Dominguinhos mereciam.

Agora vejo cá no perfil @gonzagaonline o desabafo de Gennaro, um dos mais importantes forrozeiros vivos, ex-Trio Nordestino, que gravou com praticamente todos os grandes de gênero. Gennaro queixa-se de que não está tendo vez nos arraiais juninos, em que predominam bandas e intérpretes de lambada estilizada, que se dizem de forró, sertanejos, axezeiros e afins.

As bandas, surgidas no Ceará nos anos 80, foram formatadas pra copiar o Kaoma, armação de gringos, que estourou mundo afora, em 1988, com Lambada (Chorando se Foi). Morei alguns meses em fortaleza exatamente nesse tempo. As bandas nem tinham a ver com São João. Animavam bailes tocando lambada. 

Os vocalistas não tinham rosto. O empresário juntava dez doze músicos, que se revezavam no palco durante seis, cinco horas ininterruptas. Tinham carteira assinada. Ganhavam salários. Muitas vezes uma banda usava dois ou três nomes diferentes.

Entraram em cena quando Caruaru, Campina Grande, e outras cidades conhecidas pelos festejos juninos, resolveram fazer o “maior São João do mundo”. As bandas só tinham de forró, a sanfona (que fazia parte do instrumental da Kaoma), mas seus empresários descolaram um artifício para se inserir nesse novo cenário. Acrescentaram um “forró” antes do nome do grupo. O empresário mais empreendedor deles, fundou uma gravadora, uma rede de rádio, formou mais bandas. 

As rádios passaram a tocá-las nas suas programações. E logo, em pipocaram bandas em todos os estados nordestinos. A princípio foram rotulados de “oxente music”. Mas acabou pegando o “forró estilizado”, ou “eletrônico”, como se fossem o desenvolvimento do forró tradicional.

Ora, bem antes das bandas, no final dos anos 70, começo dos 80, Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro, já usavam metais em seus discos e shows. Em 1972, Luiz Gonzaga passou a tocar com guitarra e baixo elétricos e bateria. Mas empresários de muita grana investiram pesado nas bandas. 

Nos anos 2000 a Som Livre, a gravadora da Globo, contratou algumas bandas A partir de então, no Centro-Sul forró é a música das bandas. Ignoram os forrozeiros autênticos, uma geração talentosa que começou também no final dos anos 80.

Chamar estas bandas de forró seria o mesmo que chamar a axé de frevo. Felizmente isto não aconteceu, senão teríamos o “frevo raiz”, pra distingui-lo do frevo eletrônico baiano.

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sábado, 1 de junho de 2024

A Arte Descartável em Cajazeiras

por Cleudimar Ferreira

Capa/catálogo da exposição em agosto/1984. Acervo: Cleudimar Ferreira

No início dos anos oitenta, a arte brasileira, ainda saindo do estado de anestesia, procurava novos rumos. Um efeito provocado pela perseguição de uma estética, onde a expressão "inartístico" do carimbo, dos postais, heliógrafos, vídeo e fax, formaram quase na sua totalidade os elementos mais vistos nas galerias de artes dos subsequentes anos setenta.

Um impacto visual que começou a perder força para o pós-modernismo, que avançou rápido sobre as massas, inaugurando um novo estilo de vida permeado basicamente, pelo espírito consumista, hedonista e narcisista, de característica extremamente individualista.

Com essa apoteótica febre do pós-moderno, na Paraíba, o NAC - Núcleo de Arte Contemporânea, ligado a UFPB, despontava nos primórdios anos oitenta, como promotor de grandes exposições e oficinas de artes desse gênero em João Pessoa e estendidas também para o interior do Estado, nos centros com maior engajamento artístico, como foi o caso de Campina Grande e a cidade de Areia, através da realização do seu Festival de Arte.

Foi também nesse período que a Paraíba viu nascer, em 1983, a Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego, que passaria a ser o principal órgão realizador de intensivos eventos culturais de proporções maiores - como referência; o Workshop Brasil-Alemanha, em 1991 e a gigantesca mostra de arte expressionista alemã, em 1992.

Em Cajazeiras, nos indecisos primeiros anos oitenta, foi instalado no campus V da UFPB, o Núcleo de Extensão Cultural - NEC, que passou a ter um caráter respondível na direção de quase todos os acontecimentos culturais de nossa cidade. Sob sua tutela, a sociedade cajazeirense viu surgimento em 1981, do primeiro intercâmbio de arte entre duas cidades - Cajazeiras e Campina Grande; viu também entre os anos de 1980 a 1983, a realização de sucessivas coletivas de artes plásticas na Biblioteca Pública Municipal.

Se os acontecimentos acima, reforça a tese dos antecedentes da pintura, que remontaram ao dadaísmo e ao pensamento de Marcel Duchamp, por serem ambos referência discriminatória a pintura, por ela representar o “bom gosto” da burguesia, O pós-moderno também sofreu suas modificações e passou a ter características marcantes, trazendo consigo traços de desmobilização e despolitização, se valendo de uso de materiais até então não convencionais a arte, como os descartáveis - no agora, protagonizados de recicláveis e passivos de serem aproveitados como objeto para a criação artística.

“Isso, porque já não se concebe uma limitação de só se expor obras em óleo, quando a arte brasileira anda cheia de alternativas e novas tendências de impacto visual e temático, que só evidenciam o seu potencial” afirmou, em 1984, a Artistas Plástica Telma Cartaxo, para justificar a realização da primeira exposição de Artes Descartáveis de Cajazeiras.

A exposição, como bem frisou Telma Cartaxo, se tornou naquele ano, em 1984, em um dos maiores eventos culturais do sertão e em especial de Cajazeiras, facultando a população a oportunidade de ver não os elementos da pintura propriamente dita, como a tela, as cores, os traços e linhas, mas observar um conteúdo composto de objetos e instalações, confeccionados a partir de papelão, linhas, madeiras, estopas e outros materiais geralmente descartáveis pelo comércio e a população cajazeirense. Foi algo inusitado para uma sociedade acostumada com a visão acadêmica que a pintura ainda revelava nas exposições anteriores, patrocinadas pelo setor de artes visuais do NEC.

Participaram da Exposição os artistas Gregório Guimarães, Marcos Túlio, Francisco Oliveira, Ricardo Figueiredo, Cleudimar Ferreira, Aldacira Pereira, Telma Rolim Cartaxo e Marcus Pê. A referida exposição foi realizada entre os dias 04 e 22 de agosto, na Biblioteca Pública Castro Pinto e teve o apoio da AUC - Associação Universitária de Cajazeiras, Funarte e Secretaria de Educação e Cultura do Estado.

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sábado, 11 de maio de 2024

XAMEGÃO SEM O MEGÃO VIROU XAMEGO, APENAS.

por Cleudimar Ferreira




A frase “tudo como dantes, no quartel Abrantes” parece fazer sentido quando assunto em discussão é o Xamegão de Cajazeiras. Criado para ser o principal evento cultural e turístico da cidade, o Xamegão - festa popular de São João aberta ao público em geral, era programado para ser realizado durante todo mês de junho. Portanto, acontecia durante os trinta dias junino. Assim como são o Maior São João do Mundo, em Campina Grande e São João de Caruaru, Pernambuco.

As primeiras versões, foram verdadeiras apoteoses no alto sertão paraibano. Lembro que o espaço construído pela prefeitura para a realização do evento, cada ano foi ficando pequeno e, até questionamentos, passaram a ser feitos pela imprensa da cidade, onde os comentários mais calorosos era a urgência sobre possíveis transferências da praça de eventos, para outro local maior que pudesse alojar a grande massa humana e a festa com toda sua estrutura logística.  

De lá para cá, o poder público municipal, responsável direto pela realização do evento, foi aos poucos lapidando, encolhendo, tirando o brilho da festa, ou seja, afastando o público do Xamegão e com isso enfraquecendo a economia da cidade durante o período junino. Para uma cidade onde população alvissareira e festiva, não dispensa, por hipótese nenhuma, as festividades do mês junino, a desconstrução do Xamegão, marcado seguidamente por gestões inoperantes no campo cultural e turístico no município de Cajazeiras, é como se um breu ilutado maculasse avulso, a sua cultura e as suas tradições populares.

Para se ter uma ideia, as últimas edições, antes e depois da pandemia, sob a tutela do administrador municipal José Aldemir, praticamente não existiram ou não existiu. O ofuscamento do Xamegão até aqui, foi reconhecido tanto pela diminuição dos dias, como também pela qualidade das atrações nos shows, bem como pela logística no espaço da festa, seguido pela ornamentação e atrações secundárias ligadas ao período junina, que geralmente dava um colorido especial ao Xamegão.

Nesse ano de 2024, o Xamegão permanecerá sendo subtraido como dantes esteve nos quarteis dos coronéis quadrilheiros desse período. Basta ver a programação, para se ter uma ideia. Tirando a prata de casa, formada por talentosos artistas e forrozeiros, que sem saída submete a tocar por um cachê inferior aos artistas de fora; prata de casa essa, que realmente dão um show de interpretações e musicalidades; as atrações regionais e nacionais anunciadas, apresenta artistas quase em fim de carreira, de cachê baixo e brilho difuso patrocinado pela indústria cultural, muitos distantes dos holofotes, esquecidos pela mídia, como é coso dos cantores José Orlando, Beto Barbosa e o lendário forrozeiro pernambucano, Assisão. Anunciados na programação da festa.

Se esse ano 2024 não fosse um ano político, talvez o Xamegão fosso riscado do mapa junino mais uma vez, como foi em 2023. Mas é!.. E o jogo de interesses apresenta um xadrez disputado com unhas e dentes pelo atual prefeito, que quer a todo custo continuar trafegando pelos corredores fantasmas da prefeitura, como se o cargo de prefeito fosse um cargo eterno, e o Xamegão, uma festazinha qualquer que pode ser ou não realizado; que pode ser mudado ou não de período e, os seus dias de festividades, encolhidos; pois cultura popular só dá votos em época de eleição.

Entendimento assim precisa ser revisto, pois na concepção do cantor Gilberto Gil, cultura não é uma coisa extraordinária. Cultura é ordinária, cultura é igual a feijão com arroz, é necessidade básica, tem que estar na mesa, tem que estar na cesta básica de todo mundo. Portanto, o Xamegão como festa popular que congrega cultura popular, não pode ser usado como moeda de troca em ano de eleição. Carece de mais respeito, de maior atenção do poder público a cada ano. Precisa crescer cada vez mais e não diminuído e desprestigiado, como pensam aqueles que acha que cultura é um negócio qualquer.

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