por Cleudimar Ferreira
Antigo Cine Teatro Excelsior, Bananeiras. Foto: Google Maps
Os cinemas de rua num passado não muito distante foram sem nenhum
pré-requisito, os principais espaços de entretenimentos; de convergências, onde
por falta de outras opções, as pessoas distantes dos grandes centros, que moravam nas cidades de porte médio ou
até nas pequenas, se encontravam para conversar sobre
filmes, trocar as tais revistinhas em quadrinhos e ficar mais próximo dos
amigos e brotinhos de seus interesses. Comportamento associativo de relevância comum de uma época, que tanto ilustrou as calçadas, os frontões dessas casas de exibições,
espalhadas por aí a fora, hoje quase todas desativadas, em ruinas, apenas espelhando
um tempo que marcou gerações.
O intrigante fator de extinção dessas salas de exibições da
paisagem urbana, são diversas. Mesmo assim, ainda é um compendio não muito entendido e discutido. Até por
que historicamente, a produção de cinema no mundo, não tem passado por crises tão profundas que justificasse ser um dos aditivos nesse contexto, causadores do fechamento dos
cinemas de rua no mundo e, cá entre nós, aqui no Brasil também.
A verdade do
problema que extinguiu nossas salas de rua, até parece coisa inexplicável, já
que em algumas cidades bem menores, de um publico relativamente pequeno, elas resistiram esse surto existencial desfavorável e, permaneceram abertas, enfrentando
todos os momentos adversos que ocorrem até aqui, na indústria do audiovisual, que poderiam ser uma das causas da sua
extinção. Porém, em outras cidades consideradas grandes centros onde os cinemas viviam lotados, esse desmantelamento aconteceu, até prematuramente, em tempo curto, surpreendendo muitos apaixonados pela sétima arte.
Mas apesar de tudo, vivemos outros tempos e novos horizontes
com luzes de esperança, começam a surgir acenando para as possibilidades de
aberturas desses cinemas, cheios de saudosismos, fechados há décadas. Se formos
fazer um levantamento até aqui, em nível de Brasil, muitos deles em escombros foram restaurados,
reabertos e colocados outra vez em atividade. Na Paraíba, tivemos como exemplos a
abertura do Cine São José, em Campina Grande, pelo governo do estado. Uma iniciativa
do ex-governador Ricardo Coutinho que transformou o antigo cinema em um centro
cultural, com uma sala multiuso que é ao mesmo tempo Cinema e Teatro.
Atuais Cinemas de Rua na Paraíba. 1. Cine Garden, em Catolé do Rocha.
2. Cine RT, em Remígio. 3. Cine São José, em Campina Grande
Tivemos também como iniciativa bem sucedida, a instalação na
cidade de Catolé do Rocha do Cine Garden. O Garden, montado no subsolo do Complexo
Mirante da Praça Prefeito José Sérgio Maia, no coração de eventos da cidade, tem uma programação com três sessões diárias de terça a domingo, às 17h15, 19h15 e 21h15, com preço
acessível para o grande público.
Porém, nenhuma outra história de abertura de
cinema de Rua na Paraíba, foi mais fascinante quanto à do Cine RT, na cidade
de Remígio. O Cine RT foi criado em 2012 pelo mecânico e exibidor Regilson
Cavalcante, no prédio onde antigamente funcionou o Cine São José. Fora a programação diária, o cinema já foi
espaço para diversos festivais de cinema. Em 2018, o local foi homenageado na
Expocine, que é considerada a maior convenção da indústria cinematográfica da
América do Sul e segunda maior do gênero no mundo, em número de participantes.
Agora, uma noticia ganhou espaços nos sites e nas redes
sociais, anunciando a provável revitalização do fechado Cine Teatro Excelsior,
de Bananeiras. A iniciativa que abriria o velho cinema viria através de um
projeto criado pelo grupo de escotismo da cidade, chamado Guardiões da Serra, que
concorre a financiamento do Fundo de Direitos Difusos do Ministério Público da
Paraíba.
As expectativas para que essa iniciativa seja concretizada
são carregadas de positividade, não só pela população de Bananeiras, mais por
todos os cinéfilos do estado; saudosistas dessa atividade de rua, que ver
outras possibilidades de salas fechadas serem abertas nas ruas das cidades paraibanas.
E Cajazeiras, conhecida como a terra da cultura; a cidade polo educacional
da Paraíba; centro formador do pensamento sertanejo; das artes cênicas, da música e das artes
visuais; que foi no passado detentora de três cinemas de rua e um cineclube atuante, já devia está colocando no centro das discussões culturais, propostas, ideias de abertura da sua sala de rua ou iniciativas como
estas.
Afinal, somos talvez no nordeste uma das cidades que mais formou atores e atrizes para o cinema nacional e para a TV. Além de termos em nosso curriculum, cineastas, diretores, produtores; pessoas gerenciadoras de grandes festivais de cinemas, sem contar com o festival de cinema que a cidade promove anualmente. Portando, uma das almas dos cines Éden, Apolo ou Pax, já devia ter sido transfigurada ou manifestada se houvesse boa vontade do poder público e daqueles que lidam com a cultural na cidade.
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