por:
Vilma Maciel
Vale do Cariri, por Dihelson Mendonça
O Cariri, que se situa na extremidade Sul do
estado do Ceará, foi povoado no primeiro quartel do século XVIII, por criadores
de gado provenientes da Bahia e de Pernambuco. Região verdejante, deve seu nome
aos índios Kariri, tribo que povoou a serra do Araripe. Segundo Capistrano de
Abreu, os Cariri diziam-se originários de um lago encantado.
Devido a sua riqueza natural, caracterizada por
suas águas perenes jorrantes das faldas do planalto do Araripe, sua vegetação
verde, seus buritis e babaçus de porte elegante, canaviais ao pé-da-serra do
Araripe, dos brejos e fontes, pode ser visto como “ Um presente da Chapada do
Araripe”, formação de arenito com altitude de 900 a 1000 metros, com suas cento
e tantas nascentes de águas cristalinas.
Alguns historiadores afirmam que o Cariri foi
descoberto por Bandeiras da Casa da Torre na Bahia, fundada por Garcia d`Ávila,
que chegou ao Brasil na comitiva de Tomé De Souza. Outras fontes indicam o fato
de que os primeiros invasores do Cariri eram descendentes em linha direta de
Diogo Álvares Correia, famoso Caramuru. Aqui chegaram com o objetivo de lutar
ao lado dos índios Kariri, que lutavam contra os Kariú.
O Vale do Cariri se estende ao Sul do Estado do
Ceará, abrangendo onze cidades, numa área de 9.585 quilômetros quadrados.
Constitui cerca de 60% do território cearense. Clima diferenciado e terra
férteis. Compreende os seguintes municípios: Abaiara, Crato, Barbalha, Juazeiro
do Norte, Missão Velha, Milagres, Mauriti, Brejo Santo, Jardim, Santana do Cariri,
Nova Olinda e Caririaçu.
Embora o algodão tenha sido plantado em algumas
partes do Vale, visando a exportação para o exterior, o cultivo da cana-de-açúcar
e o engenho foram os principais responsáveis pela formação da hierarquia social
do Vale.
O desenvolvimento comercial proporcionou a
arrancada dos recursos econômicos.
No Crato, a chegada de comerciantes de Icó e
outras cidades do Nordeste foi responsável pela abertura das primeiras grandes
lojas e farmácias do Vale. Foram construídos os primeiros sobrados,
desenvolvendo a rede de transportes, serviços públicos, escolas. Foi fundado o
primeiro Jornal da região. ” O Araripe, ” por volta de 1855.
O rápido povoamento da região, decorrente em
parte de sua agricultura, deu lugar ao surgimento de vários municípios.
Atualmente, “O Coração do Cariri” é chamada Microrregião 78: constituída pelos
municípios de Crato-Juazeiro-Barbalha. O conhecido turismo e a cultura regional do vale tomaram
proporções surpreendentes graças a fundação da cidade Juazeiro, e os fatos extraordinários
envolvendo a beata Maria de Araújo e o Padre Cícero Romão Batista, com a
transformação da Hóstia Consagrada em sangue na boca da beata em 1889.
Imagem de Judson Jorge
“Juazeiro é o verdadeiro milagre do Pe. Cícero.
” Os outros fatos “extraordinários” se foram realmente milagrosos, o foram por
Obra de Deus. Para operar esse milagre, Pe. Cícero combateu a violência,
ignorância e o flagelo da seca, enquanto se defendia da perseguição de Dom
Joaquim e das armas de Franco Rabelo. Imposta a ordem e respeito, o povoado
entrou em ritmo de prosperidade. No final do século XVIII, a cidade mais
importante da região do Cariri era o Crato, a chamada “Pérola do Cariri” era o
centro fornecedor de alimentos para o Nordeste central, desenvolvendo
importantes atividade comerciais na região.
Já, para Rui Facó,“ O Cariri era também um
refúgio para levas e levas de miseráveis sem terras e sem trabalho, que aqui
encontravam pelo menos água, multiplicando-se os bandos de cangaceiros ou os
redutos de fanáticos.” A influência do Pe. Cícero cresceu definitivamente. Com
a imigração dos Romeiros, o aumento da mão de obra, o trabalho a fé e a oração
não há dúvida, foi o Pe. Cícero a alavanca do desenvolvimento dos maiores
fatores do progresso da vida econômica sul - cearense.
O rico artesanato, além da produção artística
dos vários municípios da região, O Juazeiro do Norte é um fenômeno fascinante,
uma vasta oficina, ouro cultural, onde tudo se produz, para abastecer os
mercados nordestinos, e dos mais distintos centros de consumo do país. É uma
cidade que transforma seu artesanato em seu principal esteio econômico. Sua
arte e produtos artesanais apresentam grande variedade enriquecida por sua
originalidade.
A Arte manifestada no Centro Mestre Noza de
Juazeiro
Segundo testemunho dos artesãos mais velhos ou
de seus descendentes os romeiros que chegavam a Juazeiro com a intenção de
ficar eram aconselhados pelo Pe. Cícero a dedicarem-se às atividades
artesanais. Quando em 1998 entrevistei Dona Maria das Graças, já em idade
avançada (86 anos), residente à rua do Limoeiro, falou-me de sua arte no
manuseio da Palha. De suas mãos eram produzidos os mais lindos artigos: cestas,
chapéus, esteiras. Enquanto que seu companheiro e os filhos trabalhavam o gesso
com diversas modalidades artesanais em artigos religiosos. A arte brota no
Cariri e explode no Juazeiro: talhas, xilogravuras, cordéis, cerâmica,
ourivesaria, produtos de couro e grande produção literária. Em toda ela o maior
referencial é a venerada figura do “ Padim Ciço e N. Sra. Das Dores”.
O mundo do Cordel. O poeta de Cordel, segundo o
cordelista Expedito Sebastião da Silva é: “ aquele que escreve unicamente
dentro do sistema de convívio do Povo(...) o poeta de bancada, é uma pessoa que
exprime com muitos detalhes o fato, uma ocorrência, (...) tanto para angariar
alguns tostões para manutenção, como para levar o fato ocorrido aos que não o conhecem.
” A importância da Cultura regional deve-se também a essa gente operosa
Simples, determinada e consciente de seu trabalho e potencial artístico.
São muitos os antigos e novos artistas: Entre
os clássicos da Literatura de Cordel que teve grande avanço desde a Tipografia
São Francisco cujo dono o poeta José Bernardo da Silva, o terceiro homem na
linha de sucessão da poesia popular. Leandro Gomes de Barros foi o grande poeta
iniciador, seu legado: conta quase mil títulos de folhetos.
Vejamos alguns nomes de destaque, poetas e
cantadores: João Martins de Athayde, José Bernardo da Silva, Expedito Sebastião
da silva, Manuel Caboclo e Silva, José Cordeiro, João Mendes de Oliveira,
Antônio Caetano de Palhares, João Cristo Rei. Pedro Bandeira, João Bandeira,
Maria do Rosário (cordelista), Esmeralda Batista, e muitos outros: ceramista,
artesãos de couro, Ourivesaria, são importantes colaboradores deste centro de
grande projeção do país.
Vilma Maciel
Escritora, Professora e Artista Plástica.
É natural de Cajazeiras e radicada em Juazeiro do Norte/CE
onde mora a muitos anos,
postagem publicada no blog: https://vilmamaciell.blogspot.com/