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Quando
a tarde findou-se e, o acender das luzes, prenunciava o inicio da noite de 2 de
julho de 1975, na minha querida cidade de cajazeiras, encetei peregrinar por
suas bucólicas e deleitáveis avenidas. O
ritual, era o de sempre, passara pelo baldo do açude grande, local em que até
hoje, misteriosamente, me ocasiona estado de poesia, roubando aqui, a frase do
brilhante Chico César.
Ocorria
a época grandiosa do cinema, e para mim, um adolescente que acabara de se
apaixonar, perdidamente, pela “sétima arte”, era um verdadeiro deleite, a existência
de 3 cinemas (era assim que se chamava na época), na cidade berço da cultura
paraibana.
Sortudamente,
tive a oportunidade de assistir a grandes épicos do cinema mundial a exemplo
de: Ben-Hur (1960); Cleópatra (1963); Lawrence das Arábias (1962); Spartacus
(1960) e Os Dez Mandamentos (1956), apenas, para não ser prolixo. Os referidos
cinemas eram: Cine Éden; Cine Teatro Apolo XI e Cine Pax.
Todos
eles exibiam, semanalmente, uma película diferente, o que me proporcionou a
oportunidade de, ao longo de 10 anos, ter assistido a um gigantesco número de
longas metragens, dos mais variados gêneros, que eu, metodicamente, registrados
em meu diário. Determinava e cumpria, meticulosamente, o dia da semana a ir a
cada um dos 3 cinemas, fato que não ocorreu (para minha sorte), na noite de 2
de julho de 1975.
Era a
vez de ir assistir a película a ser exibido no Cine Teatro Apolo XI, o drama
“sublime renúncia” com Romy Schinider no papel principal. Uma forte intuição me
fez mudar de ideia, e ir assistir a sessão do Cine Éden, sem saber que este
fato marcaria para sempre a minha existência. Só vim a me dar conta da
importância da minha decisão, naquela noite, só no dia seguinte, quando as
manchetes dos jornais do Brasil inteiro, estampava em suas páginas principais,
a seguinte manchete: “bomba explode em cinema da cidade de
cajazeiras, tendo como alvo o Bispo Dom Zacarias Rolim de Moura.”
O atentado
a bomba, que até os dias de hoje não foram encontrados os autores, matou duas
pessoas, mutilou outras duas e destruiu o Cine Teatro Apolo 11. O alvo, Dom
Zacarias Rolim de Moura, bispo conservador da diocese de cajazeiras, escapou
porque tinha viajado ao Recife.
A bomba
relógio encontrava-se dentro de uma pasta tipo 007, e tinha sido colocada
embaixo da cadeira em que Dom Zacarias, costumeiramente, sentava-se, para
assistir as películas. A tragédia só não foi maior por conta da fita de má
qualidade que partira-se inúmeras vezes, fazendo com que o tempo de exibição se
encurtar-se em 15 minutos, permitindo que a bomba relógio explodir-se quando
encontravam-se no cinema, apenas os funcionários, que já se preparavam para
fechar o recinto.
O fato
é que toda a pacata cidade de cajazeiras, naquela fatídica noite ouvira uma
explosão de grande magnitude. Já a repercussão, foi muito mais longe. o fato de
um atentado a bomba contra um bispo da igreja católica, quando a ala
progressista da igreja católica tomava forma, e no auge do regime militar,
ecoou pelos quatro cantos do mundo.
- Ah,
o filme que assistira no Cine Éden, naquela fatídica noite? “Viver” de Akira Kurosawa.
FERNANDO CARVALHO
É natural de Cajazeiras; graduado em Engenharia Mecânica e tem pós graduação em Engenharia de Produção (UFPB). É artista plástico e como hobby, exerce a atividade de mágico.