sexta-feira, 3 de abril de 2020

MICRO CONTO - O Visitante

Cleudimar Ferreira
cleudimar.f.l@gmail.com 




A cigarra do “apê” tocou já nervosa. Intuitivamente, sabia ela que os dedos das mãos que provocou aquele ato sonoro, era dele. O marido ensimesmado, mas bem intencionado, fez um movimento voluntário até a porta, tentando antecipadamente atender o ocaso. Um ato já previamente reivindicado pela esposa, que do fundo da despensa havia gritado: - deixa... Que eu atendo! O marido a um pé da porta cortou a cena daquele instante. E estático, esperou a mulher chegar para abrir aquela voluntária entrada. Quando a mesma chegou, olhou pelo visor e se alumbrou na dúvida da imagem que viu lá fora. Para sua segurança e de todos que ali moravam, baixou a cabeça e rodou a chave, deixando a sua dúvida a mercê do “Pega Ladrão”. Devagarinho posicionou a face no pequeno espaço permitido pelo “Pega Ladrão”, aberto entre a porta e a maçaneta, revelando para se, a imagem da inusitada visita. Rapidamente tentou fechar, pois achou que não era o momento. Em vão, já que não suportava mais aquele furor masculino confrontando com sua fragilidade de mulher. Viu que não havia força para segurar ou impedir o acesso daquele homem no seu apartamento. Abriu ligeiramente a porta e o visitante sem pedir licença, entrou bruscamente nervoso disparando a pergunta: - cadê o meu dinheiro? Me pague o que você mim deve? O marido da mulher irresoluto descarregou em cima do estranho o seu vil reação e falou: - qual é o problema cara, isso é jeito de entrar na casa dos outros. Invadindo com violência o recinto alheio. O estranho respondeu: - olha, você fique na sua. Meu negócio é com ela. Voltou para mulher, olhou profundamente nos olhos dela e ela no dele, e com mais calma ele repetiu a pergunta: - quando é que tu vai pagar o que me deve? Ela naquele instante elevou a mão até o umbigo do corpo malhado do rapaz e singelamente falou: - eu já te paguei até demais e você sabe disse. E ainda com a mão no umbigo daquele abdome exposto por uma pequena blusa, olhou mais uma vez nos olhos do rapaz e pediu calma. Calma, calma... E foi conduzindo-o até a porta.

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