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foto: http://www.memorialhqpb.org/autores/luzardoalves/luzardoalves.html |
O PONTO DOS CEM RÉIS NUNCA MAIS SERÁ O MESMO SEM A PRESENÇA DE LUZARDO ALVES.
por Fernando Carvalho. (Texto publicado no Facebook do autor em dezembro/2016)
Eis que o grande chargista e amigo
LUZARDO ALVES, sai de cena, deixando um grande vazio no Humor Gráfico
Paraibano.
LUZARDO, não apenas era um grande
Chargista, mas também era fiel depositário da arte de fazer amigos. Bem que
poderia ter sido ele o autor do livro: COMO FAZER AMIGOS E INFLUENCIAR PESSOA,
o clássico de Dale Carnegie.
Nascido no bairro de Jaguaribe, João Pessoa
em 1932, começou a demonstrar seu dom, aos oitos anos de idade, desenhando com
pedaços de tijolos e carvão nas calçadas das casas do referido bairro, cenas
que via em filmes.
O que poucos sabem, é que era também
apaixonado por cinema. Por falar nisso, fiquei devendo-lhe o filme: SALUTE TO
THE MARINES, com o ator Wallace Beery. Mas confesso que fiz um esforço
sobre-humano para conseguir uma cópia desse clássico do cinema americano,
produzido em 1943, para presenteá-lo, sem lograr êxito. Luzardo gostara tanto
deste filme, que ainda guardava em sua mente, mais de quarenta anos depois,
cenas do mesmo, em quase toda plenitude.
Aos doze anos de idade foi convidado
a trabalhar no Jornal A UNIÃO, onde permaneceu por um período significativo de
tempo.
Em 1960, o rei da imprensa
brasileira, o criador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, inaugura a
TV Tupi do Recife, canal 6, onde foi desenvolvido um dos períodos mais
produtivos da TV brasileira com programas jornalísticos, humorísticos,
programas de auditórios e infantis.
Foi num desses programas de auditório
que o jovem chargista, com 28 anos de idade, começou a fazer sucesso. O quadro
consistia no seguinte: Uma pessoa da plateia era convidada a fazer qualquer
rabisco, em um quadro negro, e a partir deste rabisco Luzardo realizava um
belíssimo desenho.
Numa dessas performances, o todo
poderoso, Assis Chateaubriand, encontrava-se na plateia e encantou-se com o
traço e a criatividade de Luzardo, procurando-o logo após o término do
programa, que era ao vivo. Assis Chateaubriand apresentou para Luzardo um
desenho do inesquecível personagem AMIGO DA ONÇA, criado pelo fabuloso
cartunista pernambucano, Péricles, e perguntou se ele era capaz de
reproduzi-lo, coisa que Luzardo realizou, em questões de segundos.
Na realidade, Assis Chateaubriand,
estrategista que era já estava prevendo a morte de Péricles, devido ao alto
grau de alcoolismo de que o mesmo era detentor, e queria um chargista para
continuar com o mesmo personagem (amigo da onça ), devido ao grande sucesso que
ele fazia, na revista O CRUZEIRO e contratou o conterrâneo Luzardo, de
imediato.
Já contratado, pelo visionário, Assis
Chateaubriand, Luzardo deixa a Paraíba para radicar-se no Rio de Janeiro, onde
foi trabalhar na revista O Cruzeiro, na época a mais importante do país.
A aventura no Rio de Janeiro era o
que faltava para a lapidação do artista, pois trabalhara com a nata do humor
gráfico à época, a exemplo de Henfil, Millôr Fernandes, Péricles, Carlos
Estevão, Juarez Machado, Nilson, Redi, Ciça, Daniel Azulay, Ziraldo, Zélio,
Jaguar, Fortuna, enfim, o sumo do humor gráfico brasileiro. Além de publicar em
O Cruzeiro, participou da Revista do Rádio e dos jornais Correio da Manhã e O
Dia. Também confeccionou arte para capas de revistas em quadrinhos destinadas
ao público infantil, como Bolinha, Luluzinha, entre outras.
Em 1970 Luzardo retorna a João
Pessoa, onde em parceria com alguns jornalistas cria o Jornal Edição Extra,
seguindo a linha irreverente e escrachada do PASQUIM.
Neste Jornal, ao lado de Anco Márcio,
criou uma das mais irreverentes personagens dos quadrinhos paraibanos:
Bat-Madame, que fazia uma sátira pervertida de Batman e dos costumes da região.
Durante, praticamente toda a década
de 70, publica Charges e Cartuns em quase todos os jornais paraibanos, além de
editar a Charge da Semana, um folheto patrocinado pelo comércio local e com
distribuição gratuita, onde o personagem Pataconho ironizava a política e a
banalidade de nossa vida quotidiana.
Em parceria com o escritor,
jornalista, pesquisador, biógrafo, historiador, tradutor, editor técnico e
literário, contista e poeta bissexto, Evandro da Nóbrega, publicou "A vida
de Assis Chateaubriand em quadrinhos", publicada serializadamente pela
Fundação Assis Chateaubriand, com sede em Brasília (DF), nos jornais dos
Diários Associados, durante praticamente todo o ano de 2001, sob a batuta do
Jornalista Marcondes Brito, à época , Diretor-Geral das então sete empresas dos
Diários Associados.
Sobre este trabalho, Luzardo Alves,
falava com muito orgulho, sempre elogiando o colaborador, Evandro da Nóbrega.
Falava que este trabalho era uma espécie de gratidão à Assis Chateuabriand, por
tudo que tinha feito por ele.
Detentor de uma das características
dos grandes homens, a humildade, sempre marcava presença no “Ponto dos Cem
Réis”, coração de João Pessoa, a observar os seres arquetipados que por lá
transitam, ou residem, na busca frenética do viver. Dizia que lá era a sua
fonte de inspiração.
O cronista do traço e precursor do
Cartunismo na Paraíba trabalhou, com amor e afinco, até o último dia de sua
existência, fato ocorrido em 18 de dezembro de 2016, aos 84 anos de idade, de
infarto fulminante, deixando o humor gráfico paraibano mais pobre e, sobretudo
uma atmosfera triste e melancólica no “Ponto dos Cem Réis”.
Quem sabe a colocação, de
uma estátua sua, ao lado da já existente do seu irmão Livardo Alves, mesmo
sendo de bronze, material inânime, desprovido de vivacidade e animação, possa
suavizar um pouco o estado mórbido de tristeza que de lá se apoderou.