segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A cidade de Bananeiras poderá reabrir seu antigo cinema de rua. E Cajazeiras?!...

Antigo Cine Teatro Excelsior, Bananeiras. Foto: Google Maps


Os cinemas de rua num passado não muito distante foram sem nenhum pré-requisito, os principais espaços de entretenimentos; de convergências, onde por falta de outras opções, as pessoas distantes dos grandes centros, que moravam nas cidades de porte médio ou até nas pequenas, se encontravam para conversar sobre filmes, trocar as tais revistinhas em quadrinhos e ficar mais próximo dos amigos e brotinhos de seus interesses. Comportamento associativo de relevância comum de uma época, que tanto ilustrou as calçadas, os frontões dessas casas de exibições, espalhadas por aí a fora, hoje quase todas desativadas, em ruinas, apenas espelhando um tempo que marcou gerações.
   
O intrigante fator de extinção dessas salas de exibições da paisagem urbana, são diversas. Mesmo assim, ainda é um compendio não muito entendido e discutido. Até por que historicamente, a produção de cinema no mundo, não tem passado por crises tão profundas que justificasse ser um dos aditivos nesse contexto, causadores do fechamento dos cinemas de rua no mundo e, cá entre nós, aqui no Brasil também. 

A verdade do problema que extinguiu nossas salas de rua, até parece coisa inexplicável, já que em algumas cidades bem menores, de um publico relativamente pequeno, elas resistiram esse surto existencial desfavorável e, permaneceram abertas, enfrentando todos os momentos adversos que ocorrem até aqui, na indústria do audiovisual, que poderiam ser uma das causas da sua extinção. Porém, em outras cidades consideradas grandes centros onde os cinemas viviam lotados, esse desmantelamento aconteceu, até prematuramente, em tempo curto, surpreendendo muitos apaixonados pela sétima arte. 

Mas apesar de tudo, vivemos outros tempos e novos horizontes com luzes de esperança, começam a surgir acenando para as possibilidades de aberturas desses cinemas, cheios de saudosismos, fechados há décadas. Se formos fazer um levantamento até aqui, em nível de Brasil, muitos deles em escombros foram restaurados, reabertos e colocados outra vez em atividade. Na Paraíba, tivemos como exemplos a abertura do Cine São José, em Campina Grande, pelo governo do estado. Uma iniciativa do ex-governador Ricardo Coutinho que transformou o antigo cinema em um centro cultural, com uma sala multiuso que é ao mesmo tempo Cinema e Teatro.


Atuais Cinemas de Rua na Paraíba. 1. Cine Garden, em Catolé do Rocha. 
2. Cine RT, em Remígio. 3. Cine São José, em Campina Grande

Tivemos também como iniciativa bem sucedida, a instalação na cidade de Catolé do Rocha do Cine Garden. O Garden, montado no subsolo do Complexo Mirante da Praça Prefeito José Sérgio Maia, no coração de eventos da cidade, tem uma programação com três sessões diárias de terça a domingo, às 17h15, 19h15 e 21h15, com preço acessível para o grande público. 

Porém, nenhuma outra história de abertura de cinema de Rua na Paraíba, foi mais fascinante quanto à do Cine RT, na cidade de Remígio. O Cine RT foi criado em 2012 pelo mecânico e exibidor Regilson Cavalcante, no prédio onde antigamente funcionou o Cine São José. Fora a programação diária, o cinema já foi espaço para diversos festivais de cinema. Em 2018, o local foi homenageado na Expocine, que é considerada a maior convenção da indústria cinematográfica da América do Sul e segunda maior do gênero no mundo, em número de participantes.
 
Agora, uma noticia ganhou espaços nos sites e nas redes sociais, anunciando a provável revitalização do fechado Cine Teatro Excelsior, de Bananeiras. A iniciativa que abriria o velho cinema viria através de um projeto criado pelo grupo de escotismo da cidade, chamado Guardiões da Serra, que concorre a financiamento do Fundo de Direitos Difusos do Ministério Público da Paraíba.

As expectativas para que essa iniciativa seja concretizada são carregadas de positividade, não só pela população de Bananeiras, mais por todos os cinéfilos do estado; saudosistas dessa atividade de rua, que ver outras possibilidades de salas fechadas serem abertas nas ruas das cidades paraibanas.

E Cajazeiras, conhecida como a terra da cultura; a cidade polo educacional da Paraíba; centro formador do pensamento sertanejo; das artes cênicas, da música e das artes visuais; que foi no passado detentora de três cinemas de rua e um cineclube atuante, já devia está colocando no centro das discussões culturais, propostas, ideias de abertura da sua sala de rua ou iniciativas como estas. 

Afinal, somos talvez no nordeste uma das cidades que mais formou atores e atrizes para o cinema nacional e para a TV. Além de termos em nosso curriculum, cineastas, diretores, produtores; pessoas gerenciadoras de grandes festivais de cinemas, sem contar com o festival de cinema que a cidade promove anualmente. Portando, uma das almas dos cines Éden, Apolo ou Pax, já devia ter sido transfigurada ou manifestada se houvesse boa vontade do poder público e daqueles que lidam com a cultural na cidade.  

Cleudimar Ferreira


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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Vida, uma viagem experimental.

Imagem sem referência de autoria















De repente, me dei conta que o tempo passou rápido demais. Na minha subida degrau por degrau, fui 
longe, e cheguei ao topo... Incansável, quase sempre ofegante pela pressa tropecei e levei muitos tombos. Queria ser sempre a primeira.
Que tolice! Tudo é em seu tempo.
Descobri que o meu tempo agora é muito menos do que eu já vivi ao longo de minha vida. O tempo é efêmero, agora, com cautela tenho que descer a escalada que fiz devagarinho para não tropeçar denovo.
Não preciso mais de tanta pressa, quero viver com mais sabedoria e menos ambição, conhecer melhor as pessoas que são verdadeiras e amigas. Os títulos? Esses, o tenho muitos; sou grata por todos os que me honraram.
Quero embalar a essência de minha alma que é o amor, a paz, aprender ensinando e, sentir a eterna busca do conhecimento.
A beleza da vida encontrarmos nas pequenas coisas úteis que podemos proporcionar aos nossos irmãos.
Nessa sociedade imediatista, quero descartar tudo que é supérfluo.
Posso sonhar de Sonhar, mesmo assim, quero ver mais claro a objetividade de tudo e sentir com mais conforto o sentimento externo da vida.
Se gosto de escrever é porque também gosto de servir. A escrita é serviço do conhecimento ao dispor do leitor. No trabalho literário, sou sua serva. Quem não gosta não me lê. Meu espírito de crítica própria, não me permite falar só do perfeito.
Somos imperfeitos, a vida é vivida beirando os dois polos: O certo e o errado. Portanto, no pouco que escrevo sou imperfeita também. Mas vale apena, porque a obra é mais valiosa do que a ausência de palavras, pois é no silêncio da alma que se reconhece a incapacidade de agir e ajudar.
E nessa caminhada, agora, descendo os degraus, quero caminhar firme, construir sonhos, espalhar e essências para os que vierem depois de mim. Quero deixar amor, deixar escrita, deixar saudades, pois não "Ah saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram".
E o não gostar de ler, é o não gostar do conhecer.
Nessa minha meditação só sei que: somos quem somos e, muitas vezes, somos quem não somos, quando perdemos a nossa essência.
Isso é a vida pronta e misteriosa.

Vilma Maciel 22.12.2021. 


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

BIBLIOTECA CASTRO PINTO

Sede da Biblioteca Castro Pinto depois da reforma


Depois de quase dois anos de ausência por causa da Covid cheguei à minha estimada Cajazeiras. Soube que a Biblioteca Pública Municipal Castro Pinto foi revitalizada e seria, como de praxe, reinaugurada com todas as pompas oficiais. Estive presente nesse evento segunda-feira última, 13/12, pois fui seu usuário assíduo.  Inaugurada em 1974, ir à Biblioteca Castro Pinto era um dos grandes prazeres meus e de amigos adolescentes. À noite era um dos points para deleite de leitura de livros, jornais e pesquisas para tarefas escolares do Colégio Estadual de Cajazeiras.

Agora temos o conforto da climatização em vários ambientes. Naqueles idos, como hoje, o calor era intenso, tanto quanto nossos interesses por livros. Tinha livro de Jorge Amado que chegava e tínhamos que entrar na lista de espera de empréstimo.

As enciclopédias Delta-Larousse e Barsa eram o Google de então como fontes de pesquisas. As orientações dos professores eram para que fizéssemos os trabalhos com nossas interpretações do que pesquisássemos. Não se aceitava nada de copiar textos das enciclopédias. Se fosse feito o Ctrl+C e Ctrl+V de hoje, simplesmente teríamos nota zero!

 A estrutura física básica da biblioteca ficou intacta, o que faz preservar a história. Do acervo de então foram mantidas muitas obras. A novidade é o espaço reservado para criançada e a sala adaptada para os tempos atuais com computadores conectados à internet. O mundo virtual para pesquisa é a modernidade inevitável.

O grande quadro a óleo “Fundação de Cajazeiras”, pintado em 1964 pelo artista plástico e escritor W. J. Solha está no corredor da entrada, como sempre esteve. Foi à primeira obra de arte em tamanho grande que vi em minha vida. Para mim, é uma marca registrada da biblioteca.     

O criador da Castro Pinto foi o prefeito Antônio Quirino de Moura em sua administração 1973-1977. Presente ao evento, Quirino historiou o motivo da criação da biblioteca. Disse ele que no primeiro dia como prefeito chegou ao seu gabinete e viu um bocado de livros largados numa sala dita como “biblioteca”. No mesmo instante disse que iria construir uma biblioteca para cidade. E assim cumpriu sua palavra, registrando um grande feito.

Como se vai à igreja agradecer promessas alcançadas, toda vez que venho a Cajazeiras vou à Castro Pinto reverenciá-la por ser fonte primária de minha simples formação cultural e de estudo.

Eduardo Pereira


fonte: Facebook, Eduardo Pereira / foto: blog Ângelo Lima

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

O MUSEU DO FUTEBOL DE CAJAZEIRAS É COISA NOSSA E DEVE SER PRESERVADO.

Museu do Futebol de Cajazeiras. Sala dos troféus e taças

Cajazeiras é uma cidade com um diferencial em destaque se comparada com as demais do seu entorno. Sendo uma das mais antigas do sertão, logo ela tem importância na história dos desbravamentos que consequentemente contribuíram para a formação dos primeiros conglomerados urbanas do alto sertão paraibano. Com essa vitrine ao seu favor, era para ter nos dias atuais, equipamentos que referendasse essa sua posição de realce. 

No entanto, pouca coisa ou quase nada há para oferecer de atrativo a quem caminha pelas suas ruas. E o que tem, mesmo feito por mãos particulares; por esforço de alguns abnegados; amantes da história e da cultura, não tem recebido com devido aplauso, incentivos que ajudasse a melhorar sua qualificação ou que pudesse a manter em pé o que minguado a cidade ainda tem. 

Em se tratando de museus, os que existem, em numero de dois, o do futebol e o da diocese, mais parecem pequenos memoriais, já que os mesmos apresentam acervos resumidos, ainda em formação, sem muitas novidades em exposição para os visitantes. Mesma assim, já é grande coisa para uma cidade que esqueceu seu passado. E o que tem, precisa ser preservado e apoiado, não só pela população, como também pelas autoridades constituídas do município. 

Segundo se comenta entre as bocas e bastidores do futebol e, agora ganhou destaque também na imprensa local, o Museu do Futebol - fruto do esforço quase particular do seu fundador, o professor Reudismam Lopes, está sendo ameaçado de despejo da sede onde hoje está instalado - a Rua Epifânio Sobreira, 263, centro. Para uma cidade que quase não tem, o pouco que temos era para ser conservado, melhorado e apoiado e não desalojado como falam as línguas ou quer os que ameaçam as suas instalações. 

Cleudimar Ferreira.



quarta-feira, 24 de novembro de 2021

MEU RECORTE IV

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MEU RECORTE (Boletim Informativo do Instituto Nacional de Artes Cênicas - INACEN, nº 5). Em 15 de Junho de 1984, há 37 anos, o movimento teatral amador de Cajazeiras ganhava destaque nas páginas no Boletim Informativo do Inacen e se tornava notícia a nível nacional, sendo motivos comentários e elogios por parte de integrantes do teatro brasileiro e dos principais nomes da dramaturgia nacional. Em evidencia neste ano de 84, o feito do Grupo de Teatro Terra com a participação no Festival Nacional de São José do Rio Preto, encenando a peça “Beiço de Estrada”. Nesse ano, o grupo trouxe para Paraíba, particularmente Cajazeiras, experiências, Encómios e aplausos da crítica nacional presente no festival.

Entre nós por aqui, também em 1984, nas bocas Brighellas dos amadores sertanejos, os murmúrios que se ouvia eram sobre os preparativos para a realização em Cajazeiras do VI Sertanejo de Artes Cênicas e o rescaldo do encontro dos atores amadores da cidade, na sede do Núcleo de Extensão Cultural da UFPB. Encontro esse que determinou e fundou a ATAC - Associação de Teatro Amador de Cajazeiras, primeira entidade classista representativa da classe teatral de Cajazeiras. O recorte histórico acima detalha com mais abrangência esse momento que eu tive o prazer de fazer parte.



terça-feira, 23 de novembro de 2021

Carta aberta à dama do teatro cajazeirense

 por Wanderley Figueiredo de Sousa



 Correspondência   
 pelos 41 anos sem Íracles Brocos Pires,  
 cajazeirense, artista  
 que revolucionou uma época. 

É com muita alegria, honra e responsabilidade que eu, artista desta tua terra da cultura, chamada Cajazeiras, ponho-me a te informar como está a situação artística e cultural desta formosa e graciosa terra, de muitos bons ares, à qual a 09 de março de 1979 vós partistes.

Pelo trabalho cultural feito por ti, percebe-se que muita coisa mudou nestes 41 anos. Se voltasse hoje aqui, talvez não mais visse: Romeiros do Futuro, Teatro de Amadores de Cajazeiras (TAC), Moderna Equipe de Teatro de Cajazeiras (Metac), Grupo Boiada, Grupo de Teatro Amador de Cajazeiras (Grutac) e Grupo Terra, mas a vasta cidade educacional com talentos artísticos está altiva e pujante.

Encontraria Íracles, cinco faculdades, entre elas duas de Medicina - onde uma de suas netas formou-se e hoje é médica.

Encontraria também alguns oportunistas de plantão e outros acomodados.

Mas ficaria feliz em saber que Cajazeiras ficou conhecida como Terra da Cultura, ou a Cidade que Ensinou a Paraíba a ler, em função da sua vocação para as artes e a educação, frutos estes do seu trabalho e empenho à arte da cidade. Somos formados de uma verdadeira mistura étnica e cultural, daí o motivo de ser uma das cidades mais felizes do Brasil.

Tivemos a construção de um teatro que leva o seu nome, houve reforma e ampliação do mesmo, entregues em março de 2018 e reforçou essa vocação, com apresentações de espetáculos produzidos por artistas da terra, seja na área cênica, dança ou música. Afora isso, eventos culturais se multiplicam pela cidade, seja no cinema, seja na literatura, no artesanato, na música, no teatro e na dança.

Senão, vejamos: a cidade tem hoje uma produtora cultural que está no nível de qualquer produtora de qualquer parte do país. A CZ Produtora tem se notabilizado pela produção de grandes espetáculos da Paraíba e de outros estados do país, como Rio de Janeiro e Tocantins, colocando a cidade na rota dos bons espetáculos nacionais, tendo realizado e colocado uma Mostra de Teatro no calendário de aniversário da cidade.

A cidade conta hoje, também, com uma editora também de nível nacional. A Arribaçã Editora foi instalada no segundo semestre de 2018 e já tem muitos livros publicados, e continua produzindo outros.

A cidade tem um festival de cinema que já realizou a terceira edição. O Cine Açude Grande reúne todo mês de agosto o melhor da produção cinematográfica nacional, com premiações e reconhecimento dos que fazem a sétima arte.

Nas telas, Cajazeiras exporta talentos. Os filmes: Bacurau, Beiço de Estrada e Pacarrete, lançados recentemente com atores e diretor cajazeirense, ganharam prêmios na França, Itália e em Gramado. Destaques para Thardelly Lima, Buda Lira, Suzy Lopes, Eliezer Rolim, Marcélia Cartaxo, Soya Lira e Ubiratan di Assis.

Não para por ai, Dona ICA. Temos artesanato de qualidade e a criatividade das louçeiras. Na dança, grupos da cidade foram premiados em festival nacional realizado em Fortaleza (Dança de Rua da Paraíba), enquanto um Balé localizado na periferia da cidade investe na formação de futuras dançarinas (Balé Irmã Fernanda).

Na música, a cena roqueira é uma das mais fortes do Brasil, a ponto de ter um espaço só para o rock dentro da programação do carnaval. Também na música, Cajazeiras tem banda tradicional e uma fanfarra que trabalha a inserção social de crianças e adolescentes. O Prima, programa do governo do estado, também mostra sua pujança em Cajazeiras, com um polo que já tem se tornado referência.

No Teatro, não faltam espetáculos locais, participando de festivais estaduais. Além da produção individual, Cajazeiras têm, ainda, um Museu em construção, que conta a história dos fundadores da cidade e de seus escritores e artistas, onde lá, se encontra a história do nosso futebol.

Ah, não te conto! Foi criada e instalada, oficialmente, a Academia Cajazeirense de Artes e Letras, com a posse de 38 imortais e homenagem a 40 patronos que construíram a história de Cajazeiras. Você tem acento lá e seu filho Saulo Péricles (Pepé), é quem a representa, na condição de imortal.

Temos um jornal impresso que vai na contramão dos fatos e se mantém em circulação. O Gazeta do Alto Piranhas é o que chamamos de resistência e ousadia. Já ultrapassando a edição de número mil, levando informação a cidade a região e ao país todas as sextas-feiras.

Através do município, existe um Fundo de Incentivo à Cultura que gera, todos os anos, dezenas de projetos voltados para o segmento artístico nas mais diversas áreas.

Tudo isso referendado por um polo educacional, que inclui cinco instituições de ensino superior: Universidade Federal de Campina Grande, Instituto Federal de Cajazeiras, Faculdade de Filosofia e Letras, Faculdade Santa Maria e Faculdade São Francisco.

O secretario de Cultura da cidade é um de seus discípulos, Ubiratan di Assis, poeta, ator, advogado e que nos representa politicamente numa secretaria que se tornou de primeiro escalão.

​Tudo isso aqui elencado, tem comprovado a vocação natural de Cajazeiras para o segmento cultural. A terra de Íracles Pires e tantos outros talentos artísticos tem sua vocação fundada em sua própria história e no talento de seus habitantes.

Isso é o mínimo que posso dizer desta nossa cidade que ensinou a Paraíba a ler. Convido, portanto, Vossa Senhoria para uma visita a esta majestosa terra, que muita honra terá em receber tão ilustre visitante.

Saudosos abraços. Hoje, segunda-feira, nono dia de março do ano de 2020.

(Artigo de Wanderley Figueiredo, intitulado “Carta aberta à dama do teatro cajazeirense”, publicado no primeiro número da Revista da ACAL - Arribaçã Editora, 2020)



fonte: https://www.facebook.com/Wanderleydesign

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A GRANDE SECA DE 1877


O meu avô Antônio Ferreira de Lira - Seu Tiantonio Ferreira (como era chamado), que nasceu no Sítio Catolé, em Cajazeiras, no ano de 1901, viveu e morreu nessa mesma localidade. Portanto, já falecido. Ele me contava com detalhes quando eu era criança, dos momentos difíceis dos períodos de secas que passou, principalmente, as secas das primeiras décadas do século XX. Lendo esse texto de Joel Paviotti, transformado em postagem e divulgada pelo nosso querido professor José Maria Gurgel, em seu Facebook, lembrei muito das histórias que meu avô contava sobre esse problema climático tão presente na vida de todo nordestino. Veja na íntegra o texto de Paviotti, que é uma espécie de comentário que o mesmo faz sobre a fotografia acima.

Fotografia que circulou o mundo durante a maior seca da história da região nordeste, ocorrida em 1877 e 1878, mostra de pai e filho cearenses.

Conhecido como "A Grande Seca", o evento trágico guardou na memória dos brasileiros,  muita morte, dor e resistência do povo do Nordeste.

Na época, o fenômeno climático matou cerca de 400 mil nordestinos, quase metade da população do Ceará naquele período. Essa seca marcou a história da região e também foi responsável pela primeira grande diáspora nordestina. Cerca de 200 mil pessoas se refugiaram em outros estados.

José do Patrocínio, jornalista negro e ativista, fez com que as imagens, captadas pelo fotojornalismo fossem transformadas em uma espécie de encarte e publicadas em jornais de todo o Brasil e o mundo.

Houve comoção geral e até o Papa da época enviou mensagens de solidariedade. Após comoção, campos de concentração foram construídos e passaram a abrigar quem já estava para morrer de fome. Corpos eram abandonados diariamente nas portas das casas. Apodrecendo ao sol de 40° apenas os urubus mantinham a dieta sem fome, ao saborearem os corpos dos desvalidos.

As imagens foram feitas pelo fotojornalista

J A Corrêa. Dizem seus biógrafos que, após as captações, o jornalista nunca mais foi o mesmo.

"A Grande Seca" foi retratada em quadros, livros, filmes e séries, mas sua maior presença está nas vozes e memórias de homens e mulheres que passaram aos seus filhos e netos as dificuldades vividas durante a desgraça de 1877.

Joel Paviotti 


fonte: (Facebook) GURGEL, José Maria.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

MEU RECORTE III

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MEU RECORTE (Jornal A União). Novembro de 1981. Há 40 anos, o Atelier Cajazeirense de Artes, seguimento das artes visuais que era ligado ao antigo Núcleo de Extensão Cultural do Instinto Campus V da UFPB, apresentava a Paraíba, através do programa de intercâmbio firmado entre Cajazeiras e Campina Grande, sua melhor produção dessa linguagem da arte. Nessa época a cidade vivia um dos seus melhores momentos no setor cultural e o atelier surgiu com força e com a proposta de impulsionar a produção das artes plásticas, até então esquecida, depois da realização entre os dias 12 e 30 de agosto de 1978, do 1º Salão Oficial de Arte Contemporânea de Cajazeiras. Evento que marcou as artes no alto sertão paraibano.

Esse recorte do jornal A União, com mais de quatro décadas, conta um pouco como foi e, mostra também como aconteceu a abertura da coletiva dos artistas de Cajazeiras no Museu de Arte Assis Chateaubriand. Que tipo de produto artístico o atelier expusera para os campinenses e para a Paraíba – já que a rainha da Borborema nesse tempo, era detentora de uma das maiores produções de cultura no Estado. Como eu era um dos integrantes do Atelier, fui um dos participantes da mostra expondo dois trabalhos de temática regional com técnica em desenho à nanquim.

Ao todo foram expostos 70 trabalhos em técnicas e temáticas diferenciadas, de autoria de 31 artistas do município de Cajazeiras. Uma produção de causar inveja se for comparada ao que se produz hoje nessa linguagem da arte na cidade. Quer saber mais sobre esse evento, clique na imagem acima e leia o seu conteúdo.   


     

ROMANCES

por: João Batista de Brito


Contam que a história aconteceu na João Pessoa dos anos 1950. Mas não garanto.

Benício estava preocupado com a esposa. E não era de agora. Já fazia tempo que Diana andava estranha, aérea, desconcentrada, alheia às coisas da casa. E alheia a ele também.

Até na cama estava distante, sem corresponder aos seus agrados, na maior parte das vezes, recusando fazer amor. Ele bem que tentava ser compreensivo, paciente, mas nem sempre era fácil. Um homem com seu vigor físico precisava de uma mulher sempre disponível. E ele não era aquele tipo de homem de ir procurar fêmeas lá fora.

Aparentemente, o problema surgira depois que Diana passou a frequentar a Biblioteca da cidade, e a tomar livros emprestados. Só vivia agarrada com um livro e praticamente não fazia mais nada na vida...

O que aqueles livros tinham de tão atraente, ele não sabia, pois, homem sem instrução, Benício nunca fora afeito a leituras, a não ser a dos papéis necessários aos seus negócios, que eram muitos.

O primeiro livro que viu em casa, posto em cima de uma cômoda depois de lido, trazia um título estranho, “Dom Casmurro”, e ele não tinha a menor ideia do que tratava. Afinal, Casmurro nem nome de gente era.

Em uma de suas idas a Recife pra tratar de negócios, Benício, encontrou, um dia, por acaso, um velho amigo, Xavier, com quem cursara o curso primário. Depois dos abraços saudosos, foram tomar um café numa casa de lanches próxima. Residente em Recife havia anos, Xavier era jornalista e escritor nas horas vagas. Pois, no meio da conversa, Benício lembrou-se de aproveitar a oportunidade pra perguntar sobre Dom Casmurro – um livro que, com certeza, o amigo conhecia muito bem. De que tratava?

De bom grado, o amigo fez pra ele um breve resumo do enredo e, com uma pitada de ironia, perguntou se Benício estava agora interessado em literatura. Benício desconversou, mas, mesmo assim, quis saber se a tal Capitu do livro, afinal, tinha mesmo sido infiel ao Bentinho. A resposta - “ninguém sabe”- foi insatisfatória, mas, de todo jeito, aquilo deixou Benício com uma pulga atrás da orelha: então era um livro sobre traição conjugal que a sua Diana lia.

Um segundo livro aparecido em casa, “O primo Basílio”, manteve a pulga na orelha de Benício. Na próxima viagem a Recife, não fez outra: procurou o amigo Xavier e lhe perguntou se ele conhecia o tal livro. Claro que conhecia, e adorava. E pagou um jantar pra Xavier só pra ouvir a história de “O primo Basílio”. E não deu outra: era traição conjugal na batata.

Como Benício sabia que Xavier vivia em situação financeira difícil, ofereceu para lhe dar a ajuda  que ele quisesse - contanto que o amigo, vez ou outra, lhe orientasse nessas coisas literárias, isto sem ter que saber de seus motivos. Xavier achou estranho, mas - fazer o quê? - precisava da grana, e, afinal, era até divertido ser pago para relembrar o enredo de obras que amava.

Em seguida, veio outro livro chamado “Ana Karenina”, que deixou Benício cada vez mais intrigado, pois, pelo depoimento de Xavier, seguia a mesma linha da mulher adúltera. Depois foi “A letra escarlate”, que deixou Benício pasmo, pois a mulher traidora ganhava uma rubrica no peito, para a cidade toda saber da sua falta de caráter. Mas, o pior foi o próximo, “Madame Bovary”, história de uma mulher que não teve só um, mas vários amantes, um atrás do outro. Como é que Diana, a sua Diana, podia gostar de livros assim?

Benício estava horrorizado. Não admira que Diana estivesse tão perturbada. A questão era: por que ela lia aquele lixo? E outra questão mais geral: por que a Biblioteca do Estado adquiria e mantinha toda aquela imoralidade? Bem que sua avó dizia: o mundo está perdido, e olhe que sua avó, que era analfabeta, se referia ao cinema, e só por causa dos beijos na tela – imagine se ela tivesse acesso à literatura.

Outra coisa que Benício não entendia. Não eram romances novos, modernos, de agora. Eram livros do Século passado, e outra coisa intrigante, todos escritos por homens. Que homens eram esses que adoravam escrever sobre traições femininas?

Não adiantava Xavier lhe explicar que as heroínas daqueles romances não eram doidivanas, mas, figuras trágicas, por contingências da vida, “mulheres apaixonadas fora do casamento”, e os romances constituíam mergulhos profundos na alma feminina.

Com essa, Benício deixou de procurar Xavier. Não adiantava ficar se atormentando assim. O que tinha que fazer, tinha que ser feito em casa. E ia, sim, dar um basta naquela história toda.

Naquele dia voltou pra casa decidido a pôr fim às leituras de Diana. Entrou em casa com passos firmes, porém, antes de se aproximar da esposa, viu mais um livro sobre a sua mesa de leitura que, ao contrário dos outros, trazia nome de mulher na capa e o título era: “Perto do coração selvagem”.

E foi onde Benício sentiu que estava, ao chegar perto da esposa.



fonte: (face do autor) https://www.facebook.com/photo/?fbid=10217360044992915&set=a.4826176152100

domingo, 7 de novembro de 2021

PRIMEIRO FESTIVAL DE ARTE E CULTURA "BENDITA SEJA" TEATRO ICA, DE 19 A 21 DE NOVEMBRO.


P R O G R A M A Ç Ã O

   Dia 19/11/21 (abertura)    
17h30: (Praça do Teatro) Feira Multicultural e exposição no hall com a Galeria Liberté; por Regina Pereira (até às 19h00)
19h00: (Palco do Teatro) Inauguração. Breve abertura, considerações e declamação poética dramática com Regina Pereira.
19h30: Música. Voz e Violão com Vanessa Meireles.
20h00: Retorno da feira com intervenções poéticas por Roberto Ferreira e Jamylli Ferreira (até as 21h00).

   Dia 20/11/21 (seguimento)   
17h30: (Praça do Teatro) Feira Multicultural e exposição no hall com a Galeria Liberté; por Regina Pereira (até às 19h00)
19h00: (Palco do Teatro) Espetáculo Senhora Moon - As 4 Fases da Mulher com Girlene Ferreira.
19h40: Balé com performance dramática com Vanúbia Duarte sobre a música Triste, Louca ou Má.
20h00: Retorno da feira com intervenções poéticas por Roberto Ferreira e Jamylli Ferreira e o Poeta popular Fernando Inácio (até as 21h00).

   Dia 21/11/21 (seguimento e encerramento)   
17h30: (Praça do Teatro) Feira Multicultural e exposição no hall com a Galeria Liberté; por Regina Pereira (até às 19h00)
19h00: (Palco do Teatro): Espetáculo Cá entre Vó com a atriz Alhandra Campos 
19h40: Homenagem a três artistas mulheres que são exemplo de resistência na cena cajazeirense: Regina Pereira, Joyce Montinelly e Veruza Guedes.
20h00 Retorno da feira com intervenções poéticas por Roberto Ferreira e Jamylli Ferreira e o Poeta popular Fernando Inácio (até as 21h00).



fonte: Orlando Maia

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

MEU RECORTE II

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MEU RECORTE: (Jornal da Paraíba). Em 01 maio de 1984, há 37 anos, um sonho de décadas da classe teatral cajazeirense tornava-se real. Era concreto e, definitivamente os atores ganhava um verdadeiro espaço para apresentações cênicas. Nada mais do que justo! Pois a luta em busca dessa luz, havia atravessado períodos; envolveu grupos de teatro, diretores e atores que finalmente se libertavam dos incômodos palcos improvisados do Círculo Operário; do arcaico Auditório do Diocesano e da apertada Sala de Leitura da Biblioteca Pública Municipal.

Todos viviam nesse ano, uma cartasse que nos levava ao um alumbramento de alegria e perspectivas futuras no itinerário do teatro amador sertanejo. Nesse momento, era o momento do Grupo Terra, das conquistas de outros palcos e, eu atônico, estava a troco de caixa como presidente da ATAC - Associação de Teatro Amador de Cajazeiras - cargo arrodeado de mais de sete grupos de teatro, sedentos, atuantes na região do alto sertão. Eram as bases sendo plantadas para o que colhemos hoje.

Viajantes no tempo, olhávamos as muitas luzes das ribaltas refletir sobre nós, já anunciando a programação de inauguração da tão esperada casa de espetáculo. Nesse intento de euforia, eu cheio de confetes e serpentina, era procurado na cidade por (um) tal jornalista chamado Ribamar Rodrigues, para dar um “furo” de como ia ocorrer à programação de inauguração do teatro. O "furo" era para um novo jornal que nesse intervalo, havia aparecido na Paraíba, chamado “Jornal da Paraíba”.

Tudo registrado nesse recorte abaixo. Certamente o jornal fiel ao seu tempo, patinava nos tipos gráficos. Essas Letrinhas de metais, mesmo não promovendo uma impressão perfeita, já era o suficiente para escrever e iniciar a contação de uma história, que vinha marcando o teatro em Cajazeiras até ali. O que importa é que tudo passou tão rápido que pareceu um daqueles sonhos até difíceis de ser sonhado e depois lembrado, mas foi realizado e, a história desse sonho, está aí para comprovar o registro nesse velocíssimo instante.



segunda-feira, 25 de outubro de 2021

MEU RECORTE I

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MEU RECORTE: (Jornal A União) Em 1979, há 42 anos, o Cineclube Wladimir Carvalho, fundado  em Cajazeiras, em 1976, por Marcus Luiz, Nonato Guedes, Ubiratan di Assis e outros; estava com suas atividades completamente paralisadas. Até esse ano, quase que desativado, sem patrimônio nenhum, o talvez primeiro cineclube fundado na Paraíba, vivia de reuniões e encontros dos seus membros-integrantes, para debater conteúdos de filmes considerados de artes que vez por outra era inserido na programação comercial dos cinemas da cidade. Pois bem! Nesse ano de1979, Eugenio Alencar, Eu e Petrus Alencar (irmão de Eugenio), reativamos o mesmo e partimos para dar ao Cineclube Wladimir Carvalho, um caráter mais social e politico no material que era exibido. 

Para esclarecer melhor, que o mesmo não fosse só um espaço de discussão de cinema, mas que também fosse uma entidade que promovesse de forma democrática, o debate de temas de real interesse do público trabalhador em geral. Para tanto, através da boa amizade de Eugenio com dois professores da FAFIC, de nacionalidade alemã, conseguimos como doação no Instituto Goethe Alemã, dois projetores de 16 mm e várias curtas metragens produzidos pelo cinema alemão. Além disso, foi doada pelo Sindicato dos trabalhadores Rurais de Campina Grande ao cineclube, uma cópia do documentário “O que eu conto do Sertão é isso”. 

Todo esse material educativo e esclarecedor do debate politica social do final dos anos 70 e primeira metade dos anos 80, foram exibidos em seções noturnas nas associações comunitárias e classistas, bem como em sindicatos de trabalhadores rurais de Cajazeiras e cidade circunvizinhas. Para mim, foi melhor período desse primeiro clube de cinema fundado no Sertão paraibano. Em 1985, tive que deixar Cajazeiras, me desligando da cidade e do cineclube - que anos depois, teve seus projetores e outros materiais anexados a UFCG. Hoje o mesmo está desativado. O RECORTE de A União registra a reabertura do Cineclube com a exibição do filme: "O estranho caminho de São Tiago" do diretor espanhol Luis Buñuel. 


sábado, 16 de outubro de 2021

Bom texto escrito por Fernando Carvalho sobre a relação do Cartunista Luzardo Alves (in memoriam) com Assis Chateaubriand

foto: http://www.memorialhqpb.org/autores/luzardoalves/luzardoalves.html


O PONTO DOS CEM RÉIS NUNCA MAIS SERÁ O MESMO SEM A PRESENÇA DE LUZARDO ALVES.

por Fernando Carvalho. (Texto publicado no Facebook do autor em dezembro/2016)


Eis que o grande chargista e amigo LUZARDO ALVES, sai de cena, deixando um grande vazio no Humor Gráfico Paraibano.

LUZARDO, não apenas era um grande Chargista, mas também era fiel depositário da arte de fazer amigos. Bem que poderia ter sido ele o autor do livro: COMO FAZER AMIGOS E INFLUENCIAR PESSOA, o clássico de Dale Carnegie.

Nascido no bairro de Jaguaribe, João Pessoa em 1932, começou a demonstrar seu dom, aos oitos anos de idade, desenhando com pedaços de tijolos e carvão nas calçadas das casas do referido bairro, cenas que via em filmes.

O que poucos sabem, é que era também apaixonado por cinema. Por falar nisso, fiquei devendo-lhe o filme: SALUTE TO THE MARINES, com o ator Wallace Beery. Mas confesso que fiz um esforço sobre-humano para conseguir uma cópia desse clássico do cinema americano, produzido em 1943, para presenteá-lo, sem lograr êxito. Luzardo gostara tanto deste filme, que ainda guardava em sua mente, mais de quarenta anos depois, cenas do mesmo, em quase toda plenitude.

Aos doze anos de idade foi convidado a trabalhar no Jornal A UNIÃO, onde permaneceu por um período significativo de tempo.

Em 1960, o rei da imprensa brasileira, o criador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, inaugura a TV Tupi do Recife, canal 6, onde foi desenvolvido um dos períodos mais produtivos da TV brasileira com programas jornalísticos, humorísticos, programas de auditórios e infantis.

Foi num desses programas de auditório que o jovem chargista, com 28 anos de idade, começou a fazer sucesso. O quadro consistia no seguinte: Uma pessoa da plateia era convidada a fazer qualquer rabisco, em um quadro negro, e a partir deste rabisco Luzardo realizava um belíssimo desenho.

Numa dessas performances, o todo poderoso, Assis Chateaubriand, encontrava-se na plateia e encantou-se com o traço e a criatividade de Luzardo, procurando-o logo após o término do programa, que era ao vivo. Assis Chateaubriand apresentou para Luzardo um desenho do inesquecível personagem AMIGO DA ONÇA, criado pelo fabuloso cartunista pernambucano, Péricles, e perguntou se ele era capaz de reproduzi-lo, coisa que Luzardo realizou, em questões de segundos.

Na realidade, Assis Chateaubriand, estrategista que era já estava prevendo a morte de Péricles, devido ao alto grau de alcoolismo de que o mesmo era detentor, e queria um chargista para continuar com o mesmo personagem (amigo da onça ), devido ao grande sucesso que ele fazia, na revista O CRUZEIRO e contratou o conterrâneo Luzardo, de imediato.

Já contratado, pelo visionário, Assis Chateaubriand, Luzardo deixa a Paraíba para radicar-se no Rio de Janeiro, onde foi trabalhar na revista O Cruzeiro, na época a mais importante do país.

A aventura no Rio de Janeiro era o que faltava para a lapidação do artista, pois trabalhara com a nata do humor gráfico à época, a exemplo de Henfil, Millôr Fernandes, Péricles, Carlos Estevão, Juarez Machado, Nilson, Redi, Ciça, Daniel Azulay, Ziraldo, Zélio, Jaguar, Fortuna, enfim, o sumo do humor gráfico brasileiro. Além de publicar em O Cruzeiro, participou da Revista do Rádio e dos jornais Correio da Manhã e O Dia. Também confeccionou arte para capas de revistas em quadrinhos destinadas ao público infantil, como Bolinha, Luluzinha, entre outras.

Em 1970 Luzardo retorna a João Pessoa, onde em parceria com alguns jornalistas cria o Jornal Edição Extra, seguindo a linha irreverente e escrachada do PASQUIM.

Neste Jornal, ao lado de Anco Márcio, criou uma das mais irreverentes personagens dos quadrinhos paraibanos: Bat-Madame, que fazia uma sátira pervertida de Batman e dos costumes da região.

Durante, praticamente toda a década de 70, publica Charges e Cartuns em quase todos os jornais paraibanos, além de editar a Charge da Semana, um folheto patrocinado pelo comércio local e com distribuição gratuita, onde o personagem Pataconho ironizava a política e a banalidade de nossa vida quotidiana.

Em parceria com o escritor, jornalista, pesquisador, biógrafo, historiador, tradutor, editor técnico e literário, contista e poeta bissexto, Evandro da Nóbrega, publicou "A vida de Assis Chateaubriand em quadrinhos", publicada serializadamente pela Fundação Assis Chateaubriand, com sede em Brasília (DF), nos jornais dos Diários Associados, durante praticamente todo o ano de 2001, sob a batuta do Jornalista Marcondes Brito, à época , Diretor-Geral das então sete empresas dos Diários Associados.

Sobre este trabalho, Luzardo Alves, falava com muito orgulho, sempre elogiando o colaborador, Evandro da Nóbrega. Falava que este trabalho era uma espécie de gratidão à Assis Chateuabriand, por tudo que tinha feito por ele.

Detentor de uma das características dos grandes homens, a humildade, sempre marcava presença no “Ponto dos Cem Réis”, coração de João Pessoa, a observar os seres arquetipados que por lá transitam, ou residem, na busca frenética do viver. Dizia que lá era a sua fonte de inspiração.

O cronista do traço e precursor do Cartunismo na Paraíba trabalhou, com amor e afinco, até o último dia de sua existência, fato ocorrido em 18 de dezembro de 2016, aos 84 anos de idade, de infarto fulminante, deixando o humor gráfico paraibano mais pobre e, sobretudo uma atmosfera triste e melancólica no “Ponto dos Cem Réis”.

Quem sabe a colocação, de uma estátua sua, ao lado da já existente do seu irmão Livardo Alves, mesmo sendo de bronze, material inânime, desprovido de vivacidade e animação, possa suavizar um pouco o estado mórbido de tristeza que de lá se apoderou.



terça-feira, 5 de outubro de 2021

Dona Ica, uma das precursoras do teatro paraibano.

foto (ainda jovem) da teatróloga Íracles Pires (in memoriam)

escreveu Bosco Maciel:

Dona Ica - Íracles Pires, foi uma das primeiras referências em teatro de minha vida. Eu ainda criança em Cajazeiras/PB. Ouvia que a esposa de Dr. Valdemar - médico que cuidou de mamãe até finalzinho da vida dela, lidava com teatro. E, todos reconheciam nessa Senhora uma lutadora. Dedicou sua vida à arte e a cultura. Todos os cajazeirenses que hoje lidam com arte, de alguma forma devem um pouco a Dona Ica. O antigo teatro de nossa cidade, hoje não existe mais com seu nome foi uma homenagem de valia. Mas é pouco, diante do que esta grande mulher fez pela arte e pela cultura de nossa cidade de Cajazeiras, e do estado da Paraíba. Todos os filhos de Cajazeiras devem saber que se nossa cidade tem nomes de expressão nacional, como Marcélia Cartaxo - Cinema, deve-se ao trabalho pioneiro, corajoso, e destemido de uma mulher cajazeirense chamada Dona Ica. E por Dona Ica - uma das precursoras do teatro paraibano, eu brado: “viva a cultura nordestina” “viva a cultura popular do Brasil. ” E como bradou Darci Ribeiro ... viva o povo brasileiro!



MACIEL, BOSCO. É poeta, escritor - autor dos livros: "Romanceiro" e "As Narinas do Dragão", folclorista, cantador, fundador da Casa dos Cordéis de Guarulhos/SP, membro efetivo da Academia Guarulhense de Letras (AGL) e também da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (ACAL)

domingo, 3 de outubro de 2021

MICRO CRÔNICA


A CANÇÃO DAS ILUSÕES

Uma canção que gosto demais. Ela me faz calar, ensina-me a amor e ser mais apaixonado pelo mundo ou por tudo que é maravilhoso nele. Traz inspiração para um montão de coisas que preciso fazer e viver. Até para sonhar o que ainda não sonhei. Certa vez eu dormi ouvindo "Preciso aprender a só ser" e, nas alucinações das noites, numa dessas me vi num espaço de alegria, felicidade, onde nada era real. Um lugar imaginário de cores, luzes e vida.

Aproveitei o máximo esse momento. Quando acordei, senti que minha cama era a mesma que me fez adormecer no fechamento do dia e, sonhar com aquilo que eu queria para o meu coração. Algo que estava ali, no mesmo espaço que eu vinha ocupando nas últimas horas. O problema é que no criado mudo, o meu copo ainda úmido absintado, permanecia lá, junto com as minhas lembranças. Com as lembranças de você, desfeitas com aquele cheiro visceral e inquietante da sua ausência.

Não me dei conta da minha condição quase letárgica e, muito menos em que local estava os ponteiros do despertador. Apenas ouvi no canto eternizado das melódicas notas que entoava, os chacoalhes dos lençóis embriagados, embebecidos dos incensos passados, me convidando a escutar os primeiros cantos dos frientos pássaros, dando boas vinda a aurora que despontava pelas flechas da janela. Não tinha como calar meus instintivos pensamentos! Pois a música continuava tocando, mesmo a bateria do celular anunciando que a sua energia estava por um fio. 

Nesse caso, esqueci a melodia e encarei a solidão como uma companhia, que embora ausente, se mostrava mais presente nos momentos de ebriedade. E percebi que a ilusão de tudo que sonhamos se completa, quando você descobre sua capacidade de sonhar. Mesmo quando você perceber que é capaz de mudar as coisas que pareciam distantes do seu mundo. Do mundo que você projetou e quer para si. 

Cleudimar Ferreira



referencias da imagem acima: Menina na Janela. pintura de Salvador Dalí