quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

FESTIVAL DE MÚSICA DA PARAÍBA FARÁ HOMENAGEM A MARINÊS


O governador João Azevêdo lançou a quinta edição do Festival de Música da Paraíba, que homenageará a cantora e compositora Marinês. O evento está na programação de aniversário de 85 anos da Rádio Tabajara, que ainda contará com a inauguração do Museu do Rádio Paraibano, nesta terça-feira (25).

 “É uma longevidade a se comemorar por tudo que a Rádio Tabajara produz, seja no jornalismo, música, esporte e cultura, com extrema competência, e temos certeza de que ela terá vida longa”, frisou o governador.

Na programação alusiva aos 85 anos da Rádio Tabajara, ainda consta o lançamento do primeiro programa da temporada ‘Palco Tabajara Verão’, ao vivo, direto da Usina Energisa, com transmissão pelas ondas da rádio e Facebook. As atrações, vencedores dos dois últimos festivais de Música da Paraíba, João Carlos e Bixarte, celebram o aniversário da emissora.

Na quarta-feira, 26, haverá uma sessão especial do Instituto Histórico Paraibano, com palestra do jornalista e historiador José Otávio de Arruda Mello, participação do historiador Renato Carneiro e do jornalista Abelardo Jurema Filho. Na quinta, 27, a EPC participará do Pôr do Sol Literário, na Academia Paraibana de Letras, com a participação da diretora-presidente da EPC, Naná Garcez.

Na sexta-feira, 27, comemorando também os 50 anos do Jornal Estadual no ar, além de toda a programação celebrativa durante o dia, nos programas, tem o “Transa Reggae” especial, com Dado Belo. E no fim de semana ainda tem o ‘Brega’ especial; e, por fim, no domingo, a Máquina do Tempo e Domingo Sinfônico voltados também a essas comemorações.

Ao longo de toda a semana, a programação da Tabajara trará depoimentos, mensagens de ouvintes, de entrevistados, de pessoas que já passaram pelos microfones e estúdios da rádio, marcando a história desses 85 anos de fundação.


fonte: Secom/PB

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

TRAJETÓRIA CINEMATOGRÁFICA FAMÍLIA LIRA

     Disponível no Youtube. Para saber mais, acesse pelo link abaixo.  



Trajetória Cinematográfica Família Lira é título desse documentário produzido pelo Centro Cultural Banco do Nordeste. O filme mostra como foi até aqui a trajetória cinematográfica dos irmãos lira, protagonizada pelo quarteto: Bertrand Lira, Soia Lira, Nanego Lira e Buda Lira. Natural de Cajazeiras, os lira saíram do sertão da Paraíba para a capital do Estado e conseguiram a façanha inédita de torna-se referência da cultura paraibana, projetando-se no teatro e no audiovisual nacional. Com depoimentos Buda Lira, Soia Lira, Nanego Lira e Bertrand Lira, o doc tem como argumento central, uma conversa franca, reveladora entre eles, conduzido pelo ator Buda Lira, sobre as experiências vivida por cada um. A duração do filme é 29 min e a produção é de 2021. A edição e câmera: Rodrigo Barbosa. Som: Bertrand Lira.




segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

AS AVENTURAS DE PEDRO MANOELZINHO (OU JOÃO MALAZARTE?)

por: Valiomar Rolim (in memoriam) 

João de Manoelzinho. Imagem tratado/modificada por Cleudimar Ferreira


João de Manoelzinho, homem simples, semianalfabeto, provido de toda brutalidade, esperteza, valentia, criatividade e até delicadeza que a universidade da vida pode dotar, marcou presença como um Pedro Malazarte das Cajazeiras dos anos sessenta e setenta. Enfrentando a lâmina tênue da vida como um verdadeiro sobrevivente da pobreza, da fome e da violência, fez de sua vida um verdadeiro desafio, uma provocação ao otimismo, um brinde à perseverança, ocupou-se sempre em “empreendimentos” marcantes, nunca sobrou tempo para lamentações.

Nas proximidades da Praça Camilo de Holanda, onde seria construída a igreja de São João Bosco, aproveitava a saída dos fieis da missa campal que se celebrava nas tardes de Domingo, num circo mambembe, anunciou a sensacional “mulher que vira peixe”, casa lotada. A jovem artista, que nas horas de trabalho fazia ponto na palha, ao ver tamanho público, não teve coragem de apresentar-se e forçou João de pedir a Zefa dos Peitão um sutiã e uma calcinha emprestados para fazer, ele mesmo, a apresentação.

A entrada da figura no picadeiro já provocou uma gargalhada geral, maior ainda quando o baixinho Zé Baleia, o assistente, entrou empurrando um carrinho com os objetos de cena. A plateia estava totalmente entregue à risada quando a “artista” tirou do carrinho uma frigideira com um peixe dentro e balançou-a com movimentos em que o peixe virava de um lado para outro. 

A assistência foi à loucura. Homens, mulheres, meninos e até o padre, que saíra da missa direto para o circo, faziam do ambiente a maior balbúrdia, mas a “mulher” estava virando o peixe e foi o prometido. Restou da história a saída de todos, rindo ou reclamando, e a descrença no circo do J. Manoelzinho.

Não havia de ser nada, o circo foi a Jatobá, cidade a 30 quilômetros de Cajazeiras, lá a atração foi o homem que entrava em quatro garrafas. Casa cheia, depois que João, à hora da atração máxima, disse que só um louco acreditaria naquilo e, para cumprir o prometido, colocou um dedo em cada uma das quatro garrafas, a turba destruiu o circo.

Sem circo e sem dinheiro, João foi a Ipaumirim/CE alugou o cinema local e anunciou o show da noite: o homem que desaparece. Casa cheia e público impaciente, passadas duas ou três horas sem que começasse o espetáculo, alguém da plateia foi à bilheteria informar-se sobre o início da função, soube-se então: o homem desaparecera.

De saco cheio do mundo dos espetáculos, fundou um clube que ficou famoso, pelo episódio de um pai, que perguntando se sua filha moça ali estaria.
-Moça? Aqui não tem, pode até entrar, mas não sai moça.

Voltou-se para o futebol, foi a Juazeiro do Norte - CE e acertou um jogo entre a seleção da cidade e o Botafogo de Cajazeiras, que estava na liderança do campeonato matutão na Paraíba. No acerto, comprometeu-se em levar a filha do prefeito de Cajazeiras para dar o pontapé inicial. Levou seu velho time, o Íbis, como se fora o Botafogo, e uma das meninas da palha para posar de filha do prefeito.

Aos dois minutos do primeiro tempo o “Botafogo” fez um gol, foi só isso. O jogo terminou com o placar de 9x1, para o time da casa. Não deu outra, saiu do estádio debaixo da maior chuva. Copos, garrafas, chupas de laranja, tudo que se podia jogar. Foi preciso proteção policial para a equipe sair do estádio. Ficou barato, João recebera o pagamento antecipado.

Quando Chico Rolim assumiu pela primeira vez a prefeitura da cidade, pressionado pela falta do produto, aumentou o preço da carne e provocou a maior grita na cidade. As difusoras fizeram o maior estardalhaço, a população não falava em outra coisa e a oposição, ainda não refeita da derrota recente, aproveitou a deixa para começar a campanha seguinte. A cidade fervia tudo o que acontecesse era creditado (ou debitado?) ao aumento da carne.

O prefeito, para diminuir o estrago, negociou com os açougueiros, beneficiários da medida, a doação de toda a carne com osso à população carente. Foi uma festa, era pirão com cachaça por tudo que era lugar.

Junto com alegria da pinga veio a ideia de sair com escola de samba fora de época.
João, apesar de não beber nem fumar, assumiu seu papel de líder da escola. A cidade toda, mal saiu a escola, conheceu o “samba enredo” criado para saudar o aumento da carne. Até o prefeito postou-se num lugar onde não podia ser visto para também conhecer o samba.

O chefe da edilidade ainda hoje se lembra com desconforto do estribilho.
A carne quando assa tem um gosto diferente.
O rico fica alegre e o pobre fica contente.
Oi neguinho! O que é que pobre come?
Pobre só rói os ossos.

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fonte: texto publicado no http://fvrolim.blogspot.com/2012/10/as-aventuras-de-pedro-manoelzinho-ou.html

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Saiu a lista dos espetáculos selecionados para o VI CAJAZEIRATO.

 


A Comissão Organizadora do VI CAJAZEIRATO - FESTIVAL ESTADUAL DE TEATRO DE CAJAZEIRAS divulgou a lista com os nomes dos espetáculos selecionados que participarão da programação do festival. São eles:
Travesseiro Branco - Direção de Júlio César Rolim (Campina Grande);
O Pequeno Príncipe - Direção de Letícia Rodrigues (João Pessoa);
De hoje eu não passo - Direção de Girlene Moreira e Thainara Gonçalves (Cajazeiras);
A Revolta dos Bichos - Direção de Vladimir Santiago (João Pessoa);
O Palhaço - Direção de Frank Burity (Cajazeiras);
Eternamente Bibi - Direção de Maria Rita (João Pessoa);
Os demais espetáculos inscritos, não selecionados, que não foram contemplados, ficaram na condição de suplentes, podendo ser chamados pela comissão do evento, caso algum espetáculo selecionado desista da participação no festival.  Lembrando que o VI CAJAZEIRATO, acontecerá entre os dias 28 e 30 deste mês de Janeiro, no Teatro Íracles Brocos Pires (Teatro ICA), com apresentações à tarde e a noite, sendo os horários ainda a ser definidos, quando a programação oficial do evento for elaborada pela comissão organizadora. 

H I S T Ó R I A

O CAJAZEIRATO foi criado em 2002, pelo teatrólogo Francisco Hernandez e é realizado pela Associação Cajazeirense de Teatro (ACATE). A primeira edição do evento homenageou ao grande autor e diretor paraibano, Leonardo Nobrega (in memoriam). Na sua segunda edição, em 2007, prestou uma justa homenagem ao ativista multicultural, Joao Balula. No ano seguinte, 2008, durante sua terceira edição, foi à vez de homenagear o maior articulador e colaborador do teatro no sertão paraibano, o autor, o diretor, advogado e jornalista, Chico Cardoso. Já em 2009, o homenageado foi o ator Fernando Mercês, um grande baluarte apaixonado pela arte de representar. Na sua ultima realização no ano de 2019, antes da crise sanitária, o escolhido para ser homenageado foi o dramaturgo, ator, diretor e escritor, Tarcísio Pereira. Um incansável guerreiro da escrita e da cena teatral paraibana. 

Agora em 2021, depois de dois anos paralisado, apostando na recuperação e no retorno das atividades culturais, mesmo com as incertezas ainda nos rondando, os promotores do festival, imbuídos de sentimento e de esperança, acreditando na resistência cultural, escolheu um ícone das artes sertanejas para ser o homenageado nesta sexta edição do CAJAZEIRATO. Trata-se de Laercio Ferreira - ator, cineasta, roteirista, articulador cultural, consultor, exímio elaborador de projetos, esperançoso e amante das artes paraibana e de um modo geral. 



informações colhidas no facebook de Francisco Hernandes. https://www.facebook.com/Hernandezteatro

EU VIVI!

   Aconteceu em uma escola 
   no bairro dos Bancários, em João Pessoa.   

Imagem: Reprodução da obra de Salvador Dalí. "Livro se transformando em mulher nua", 
Óleo sobre tela de 1940. Acervo: Fundação Gala-Salvador Dalí.


Ultimamente tenho dormido com o improvável. Nesse estado de incerteza e até ambíguo que me tem roubado o sono, as noites sempre tem sido moribundas. E aí o pouco de sono que me é permitido pelo olhos profundo da insônia, as avalanches de sonhos inesperados, muitos irregulares, abstratos, surreais e psicossomáticos das minhas trevas, têm revelado imagens que eu não precisei sentir e nem tão pouco imaginei viver ou ter como referência para o meu convívio material ou espiritual.

Esse tal comportamento dimensionado e ilógico, foi quebrado nesta noite de quinta-feira passada para a sexta-feira seguinte, quando embora não tinha tido um sono normal, como deveria ter, pelo menos os sonhos que insistia em povoar meu sono, não tiveram no final um desfecho fantasmagórico com dantes. Eles vieram! Mas vieram com luz; com cores; coisas só do bem. Coisas de um Espirito Santo com todos os Arcanjos do céu. De Deus mesmo.

Amanheci com o sol bonito da manhã iluminando o mundo e, com disposição para enfrentar a mesmice do dia-a-dia. Então eu me preparei com todo gás possível, para desenhar a minha passagem por aquela sexta. É que eu tinha um trabalho para começar numa escola pública e assim, saí de casa a pé, por que na real, professor pobre que não teve oportunidade ainda, vive um incômodo cotidiano a margem da vida, andando muitas vezes a pé mesmo, oferecendo a cara, de graça, aos ardentes raios solares do dia-a-dia.

E foi para esta escola... Chegando lá, foi até a biblioteca aonde ia me encontrar com os alunos, em número de doze, inscritos na atividade previamente programada. Entretanto tal foi a minha surpresa, só compareceu uma aluna. Dei uma volta pela escola, procurando mais alunos para compor um número maior que possibilitasse dar início a essa atividade. Toda minha procura foi em vão, nada encontrei. Porém quando voltei à biblioteca, já havia três alunas na mesa a minha espera. Tirei o notebook da bolsa e comecei mostrar um vídeo para eles.

Quando dei início às explicações das etapas do trabalho que ia fazer com os mesmos, uma das alunas em condição social bastante carente - pois morava em uma comunidade próxima a escola desprovida da ação do poder público, começou falar da sua situação, onde morava e, das dificuldades de se deslocar até aquela unidade escola, já que cuidava dos seus irmãos menores na ausência da mãe. Disse também que apesar de todo, fazia um esforço para participar do programa "Mais Educação", além de frequentar as aulas de violão, cuja atividade já havia proporcionado a ela, tocar o instrumento e, que já estava tocando muito bem.

Fiquei contente com seu esforço e dedicação da aluna as aulas de violão. E aí eu perguntei: Você não tem violão não? Ela respondeu: Não! Aprendi com os da escola. Senti uma seriedade extrema na fala naquela aluna. Seu modo de vestir; de falar; das dificuldades da sua condição de ser carente humilde e, da vontade em ser gente, mas gente decente. De ter um futuro melhor.

Parei a conversa e em um instante olhei nos seus olhos e vi que nos seus relatos, havia verdades. De repente veio uma contração no coração e uma quase voz martelando a cabeça, os ouvidos, pedindo que eu desse um violão aquela garotinha. Aí eu disse: vou te dar um violão e quando terminar a aula você já vai pegar.

A menina foi no céu e voltou de tanta alegria. A nossa interação foi interrompida com barulhos e quebra-quebra produzidos dentro daquela unidade de ensino e, em seguida, crianças desesperadas gritando, vindo em direção à biblioteca onde estávamos. Corri para fora, para ver o que estava acontecendo. Ninguém dizia nada, professores corriam para todos os lados. Funcionários desesperados fechavam as salas de aulas.

Procurei me fixar em algum ponto da escola, onde poderia vim aquela barulheira toda. Uma criança corre em minha direção e grita: Professor é naquela classe, não entra lá não, por favor. Eu, mesmo ouvindo o pedido daquela criança, corri em direção a sala e me deparei com uma professora em desespero tentando proteger duas alunas que ainda se encontrava naquela sala de aula.

Quando entrei, vi uma desordem e uma desarrumação na sala e um menino em desespero gritando, derrubando, quebrando tudo: cadeiras, mesas, materiais escolares pelo chão. A professora correu e eu tentei acalmar aquele garoto, que aparentemente estava com uma força sobrenatural.

Agarrei-me com ele e segurei forte. Ele começa a me morder e, quando se soltava jogar cadeiras e que estivesse próximo dele, em minha direção. A força do garoto era algo incomum que senti dificuldades de conter a sua fúria. E assim tentando, dá uma de exorcista, tirei com toda dificuldade o garoto da sala para o corredor com ele gritando "eu não sou doido", "eu não sou doido". Segurei e pedi que trouxesse água. Como! Os funcionários da escola não tiveram coragem de se aproximar do garoto.

Como socorro nenhum chagava para me ajudar, com todo esforço que tive naquele momento, levei garoto até o bebedor e aí, ele foi se acalmando, se acalmando. Depois de estar com ele praticamente no colo, um pouco mais calmo, a professora do garoto apareceu e levou o mesmo para uma sala reservada.

Senti que naquela sexta-feira, fiz duas boas ações: A de ter dado um dos dois violões novinho que tinha em casa - o que estava autografado por Zé Ramalho e que eu não estava usando, a uma aluna que necessitava de um. Doei pesando no futuro daquela aluna. Quem sabe a mesma não se tornaria uma grade musicista. E a outra a ação, foi a de ter contido, não sei como, aquele aluno enfurecido, descontrolado, que estava quebrando tudo dentro da sala de aula.

Em casa, quando cheguei, lembrei-me dos sonhos positivos que havia sonhado na noite anterior. Ou seja, depois de uma sequência de sonhos inspirados nas telas de Salvador Dalí e outros experimentados nas práticas freudianas, acabei colocando em xeque-mate naquela sexta-feira, o que a razão determinou como deveria ser o meu dia, para aquele sexta-feira.

Cleudimar Ferreira



Texto publicado no Facebook, em 23.Ago.2015

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022



Não vou ser prolixo. 1971 mudamos para este local. Em cima, duas casas coladas. Quase interligadas. Abaixo, uma casa maior. Até 1979 ficamos na casa de cima, à direita (abaixo da casa maior). Na foto preto e branco, estou com minha mãe. Dá para ver que o muro era baixo, a escada, com falhas e difícil de subir. Aqui, tinha que ter ajuda. Se quebrasse o fêmur, ficava atrás. Na última sala, onde tinha única televisão. Para subir com gesso até abdômen, era tortura. O radinho de pilha era companhia.
Em 1973, voltando do Rio para grande cirurgia, passei um ano de cadeira de rodas. Para descer a escada e subir, quatro amigos. E, eu imaginando queda fatal.
Para subir... Pior. Mas, não ficava trancado. A turma de amigos e amigas era sensacional. Citaria cada pessoa. Mas, com constância, Carlinhos, Coriolano, Raquel, Patrícia, Alexandre e "o gordo". Grande Tuca que já se foi em acidente de carro. A turma da rua era muito unida. Carlinhos assoviava e; todos sabiam. Não me sentia só. E, era parte do todo. Tinha ainda Maurício... João Celso, Flaviano, meu primo.
Dr. Genival Veloso já morou na casa de baixo.
O dinheiro era curto. Éramos felizes com kitute Wilson e pão. Tinha música , dança , bagunça... E, minha mãe trabalhando de 7 as 19 h. Ficava uma "República de crianças e adolescentes". Luiza não estava mais conosco. Mas, o coletivo ajudava. Não era "o senhor das moscas". Rolava afeto e, quase nenhuma hierarquia. Sem assaltos, roubos e violência.
Comprávamos na bodega do seu Salvador. Fiado.
Foi nesse local que vimos, pela TV, o terrível desastre na lagoa. Quem é da época lembra. Um barco virou e matou muitas pessoas na nossa querida lagoa. Tive pesadelos.
A morte em acidente da jovem Cristina, aos 15 anos. Jovem bela e cheia de vida. Cortejada pelo meu irmão e, os meninos da rua. Fizemos um assustado (lembram como era?), para homenagear Cristina.
A morte dela mexeu com finitude. Volta Shakespeare na minha vida. Hamlet atormentando pelo fantasma do pai morto... A morte assassinou Cristina muito cedo. Era a quase Julieta de muitos Romeus. Inclusive meu irmão.
O luto era coletivo. A morte trazia luto. Nunca banalidade. Como o acidente da lagoa. A morte cruel da Ana Limeira e Pedro... Essas mortes traziam tristeza, amargura e comoção para o coletivo...
Passávamos dias calados.
São muitas estórias. Dá um livro. As mortes do Elvis, Leila Diniz, John Lennon...
Eu, com fratura, ficava no fundo da casa. Dormia, brincava de boneco, lia gibis... Via TV. A paisagem da rua era utopia. Só imaginava. Nem ao quarto tinha acesso.
Mas, amigos e amigas vinham ver Tv comigo. Só dois canais. Sem controle remoto.
Hoje me sinto muito mais solitário. Nas gaiolas chamadas edifício, reina a incomunicabilidade. Antonioni e seus filmes... Bergman. Godart.
Sim. Eu assistia quando raramente passava filmes desses diretores.
Pouco entendia, mas, sentia.
O "Desprezo”, do Godart com Brigitte Bardot, me marcou muito. Vi que estávamos caminhando para uma sociedade do "desprezo", inclusive nas redes sociais...
Uma vitrola velha fazia a festa. Rod Stuart em início de carreira, a fase boa do Roberto Carlos... Rita Lee... Barry White... Caetano, Gal, Chico e Gil...
A discoteca. Crise do petróleo... Regime militar.
Eu escrevia muito sobre atualidades. Com olhar crítico. Sim. Ou, Quixotesco? Tanto faz.
Meu avô morreu nessa fase. Outra bomba H no meu coração. E as fraturas não davam trégua. Via o marquês de Sade me visitar com constância. Sem Justine...
Mas, a turma era unida. Um pão com doce de goiaba e, música, era a norma de um comunismo primitivo e sem jogos de poder. Uma salsicha dividida para 10 era a redenção.
Ontem (02/01/2022), ao tirar fotos do local, senti o “Deserto vermelho” do Antonioni... A solidão mórbida do velho ex-professor em “Morte em Veneza“...
A rua não existe mais. Só bares e lanchonetes...
Não vou repetir o que já coloquei.
A nova fase da revolução industrial vai além da anomia do Durkheim... Zumbis perambulando no nada guiado por mercadorias e; virando mercadorias.
O capitalismo venceu? Talvez. Até em Cuba...
Prefiro comer kitute Wilson com grapette ouvindo um disco arranhado de Rita Lee...
Ovelha negra? Melhor do que ser branca servil e guiada por pastores...
Como sinto falta da "falta" que desejava o "nirvana” de gente comendo um chocolate baton dividido para dez pessoas...
E, brincando de "adedonha"...
Hoje, dígito a mercadoria que sou... Selfie do desejo sem fim... "Machuca"!

Hermano Almeida