quarta-feira, 27 de dezembro de 2023
CONVERSAS DE CINE ÉDEN. Como foi a exibição simultânea do filme “Scarface” no Cine Teatro Apolo XI e Cine Pax
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
O Casarão do Bispo - Umari, Ceará.
sexta-feira, 3 de novembro de 2023
As mulheres não têm coração
Era final de setembro, começo de primavera, quando o Circo chegou ao seu bairro, Jaguaribe. Foi armado ali no terreno livre que sobrou depois que derrubaram os muros do Clube Cabo Branco.
Por acaso, acompanhou a armação, pois a avenida Primeiro de Maio era o seu caminho para a escola, o Grupo Sto Antônio. Entre idas e vindas, daí a pouco o Circo Parondi já estava de pé, e, no dia seguinte, os cartazes já anunciavam a programação, sem falar no palhaço de pernas de pau, percorrendo as ruas do bairro, divulgando o espetáculo aos gritos, rodeado de crianças.
Naquele fim de semana o Cinema Sto Antônio não o viu. O filme em cartaz não parecia boa coisa e, afinal de contas, o Circo era a grande novidade do momento.
E foi. Mágicos, animais adestrados, malabaristas, palhaços, drama - tudo empolgante, porém, nada mais empolgante que a bailarina.
Ah, a bailarina! Dançando no palco ou girando no trapézio de pernas para o ar, a bailarina era simplesmente maravilhosa, fantástica, luxuriante, a mulher mais linda do mundo. Sua pouca roupa mostrava um corpo perfeito, cintura estreita, seios rijos, coxas roliças, mãos e pés delicados, quadris carnudos, arredondados feito dois balões. Embora delgada, translúcida, vaporosa, também era corpórea, palpável, mais que isso, irresistivelmente sensual, carnal mesmo. O rosto era de uma deusa pagã, e o sorriso aberto, um convite ao amor.
Naquela noite não dormiu bem. Macia, sedosa, sedutora, a figura da bailarina veio para a cama com ele. Inquieto, nervoso, não conseguia conciliar o sono. Até seu cheiro sentia. Virava de um lado para o outro e uma espécie de fogo o queimava por dentro; essa sensação estranha, que nunca sentira, instigava seu espírito e seu corpo e gerava em suas carnes um desejo até então desconhecido, um que cobrava desafogo, fosse como fosse. Foi quando se deu conta de que estava perdidamente apaixonado pela bailarina.
Depois desse dia, o cofre onde escondia suas parcas economias - um porquinho de barro - esvaziou. Espedaçou-o no encalço das últimas moedas, e jogou os cacos no lixo. Inventando mentiras em casa, gastou o dinheiro todo com os ingressos do Circo e, mais grave, passou a gazear as aulas para rondá-lo, brechando sua vida fora das lonas. Fazia isso a manhã toda, na esperança de ter contato com a bailarina.
E teve. Ela terminou notando aquele menino com farda de escola, por ali, espionando, meio disfarçado, e sempre de olho nela. Ao se saber notado por ela, gelou e não teve coragem de falar, mas ela mesma falou: aproximou-se devagar e lhe perguntou o que ele fazia ali, e ele, o coração batendo, suado, trêmulo, gaguejante, disse que queria trabalhar no Circo, fazer qualquer coisa, aprenderia rápido.
“Que idade você tem?” perguntou.
“Treze”, disse, já arrependido de ter dito.
“Seus pais estão sabendo?”
Quis mentir que sim, mas disse “Não”.
“E por que você quer trabalhar no Circo?”
E aí juntou toda a coragem de que dispunha e confessou de uma vez por todas seu sentimento e sua intenção: estava apaixonado e queria estar com ela, queria casar.
Ela respondeu com uma larga risada, o que o deixou tonto e mais perdido que nunca.
E então ela curvou-se para fitá-lo mais de perto, e, ainda rindo, agora suavemente, talvez carinhosamente, foi dizendo que tinha três vezes a sua idade ou mais; que seria muito estranho para todo mundo se casassem; disse que ele esquecesse esse negócio de amor, que afinal de contas ele não tinha idade para assumir compromissos; e, com mais firmeza na voz, ordenou que ele fosse para casa, ou para a escola, que seria bem melhor, e acrescentou que vida de circo era coisa de maluco.
E afastou-se, apressada, em direção a uma das tendas do circo, de lá lhe jogando um beijo de mão. E ele nunca mais a viu.
Foi nesse dia triste que tomou consciência da dura verdade: que as mulheres não têm coração.
terça-feira, 31 de outubro de 2023
"Oh! Terrinha Boa" agora é Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba
Um reconhecimento! E merecido! A peça teatral de gênero humor “OH! TERRINHA BOA”, passará a
partir deste ano a fazer parte do seleto grupo de expressões culturais
reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do nosso Estado da Paraíba.
O Projeto de Lei de nº 1.242/2023, de autoria do deputado estadual Chico Mendes, foi apresentado, votado e aprovado na
Assembleia Legislativa da Paraíba e, teve
como subscrevestes, os parlamentares Paula Francinete e Júnior Araújo. Todos da região
de Cajazeiras.
O espetáculo cênico foi montado e vem sendo apresentado a décadas pela Companhia
de Teatro Arco Íris de nossa cidade. O elenco é composto pelos atores Francisco
Jucinério Félix Filho e José Ricardo Lacerda, os quais interpretam os
personagens de “Zé do Vale e Maria Calado”, respectivamente.
Segundo os integrantes do espetáculo, a Cia Teatral Arco Íris nasceu em
1985 e seu surgimento foi fruto do trabalho realizado pelas comunidades
eclesiásticas de base da Igreja Católica (CEB’S).
A peça teatral “Oh! Terrinha Boa” tem como eixo temático a cultura nordestina, com destaque para temas sociais como a luta agrária, o êxodo rural e a religiosidade do nosso povo. Recorre a assuntos palpitantes como a xenofobia e a discriminação. Ou seja, um trabalho de pesquisa sobre o universo da cultural regional nordestina.
Sobre a encenação, o espetáculo apresenta um perfil cômico, caricato,
mostrando o trejeito nordestino de ser. Na peça as personagens “Zé do Vale e
Maria Calado” representa um casal típico do interior sertanejo que
vive uma vida simples, mas que diante dos constantes problemas ocasionados pela seca, são
forçados a deixar sua terra natal para aventurar-se e enfrentar a dura
realidade da cidade grande, com destaque a cidade de São Paulo.
sexta-feira, 20 de outubro de 2023
CONVERSAS DE CINE ÉDEN. Um encontro com o último exibidor cajazeirense
por Cleudimar Ferreira
Quando começou o
declínio dos cinemas em Cajazeiras, ocorrido no final dos anos 80, eu já estava
alçando outros aires na capital paraibana. Mas nem assim, com o fechamento em 1990, do último espaço de exibições que ainda continuava operando, passei a dormir com
outras salas no meu quarto de república estudantil. Não tinha como ser de outro
jeito, pois os fantasmas das três salas de cinema que havia na cidade, estavam
sempre na minha cola. Ao deitar-me para relaxar as emoções de um dia de
convivência no DAC/UFPB, bastava só um cochilo, aí eu os via saírem das telas
dos cinemas Éden, Apolo XIX e Pax e, por um capricho, eles começavam o Ritual Comanche
ao redor da minha cama. Um protocolado momento atemporal que mesmo hoje, na
condição de sexagenário, ainda permanece vivo nos meus sonhos, embora
esporadicamente.
Em se tratando
de sonhos, sonhos são relativos! Há aqueles que você gosta de sonhar e aqueles
que você foge da cama; perde uma noite de sono só para não arriscar sonhar. Os
meus, com relação as salas de cinema da minha terra, sempre foram bem-vindos e, até hoje, uma vez por outra, recorro a alguns goles de suco de maracujá para melhor
relaxar, dormir bem e sonhar eternamente com os bons momentos vividos nesses
cinemas.
Mesmos não
existindo mais, as suas memorias foram até aqui, os melhores meios que tive, que tem me prendido
a história desses cinemas e a relação que eles tiveram com a minha infância, bem
como, ao acesso psicossomático as últimas imagens que vi serem exibidas nas salas dos nossos três cinemas. Principalmente o mais tradicional de todos, o Cine Éden. Para ser bem claro, as recordações desses locais onde nos divertíamos em Cajazeiras, tem sido uma forma de manter viva no tempo, a minha remota convivência com esses cinemas, deixar a chama do passado, presente e, da esperança, acessa. Quem sabe
um dia veremos os três voltando a operar como era antes, embora no agora
agônico, vivêssemos momentos adversos que pouca ação relevante iria contribuir para esse feito
acontecer.
Todavia, enquanto até aqui esse sonho, de fato, não havia se materializado - com sua inesperada concretude, o que me contentava, eram os poucos mais de um mês de feras que eu passava no início de cada ano e, que me fazia voltar a Cajazeiras, para rever meus familiares; os amigos e como praxe, visitar as velhas salas de exibições em crise dos cinemas da cidade, que sempre capengaram com dificuldades, "as duras penas", graças as benevolências dos últimos frequentadores, que por paixão a sétima arte, insistiam em está presente nas noites de exibições de algumas dessas salas, mesmo vendo seus declínios acentuando e no meio dessa problemática, ouvindo também as agruras e os chororôs dos seus exibidores.
E foi em uma
dessas férias, há de 1991, quando voltava a Cajazeiras como sempre fazia, que
tive a grata satisfação de ter conversado sobre o Cine Eden, com um dos mais
destacados exibidores. Ao pisar em solo
cajazeirense, era sagrado o primeiro tour que eu fazia pela cidade, ser o de visitar os frontões desses
espaços de entretenimento. Ver se ainda estavam em pé e, se possível fosse, bater
aquele papo com as pessoas próximas a estes locais, procurar saber como iam os
cinemas. No caso do tour desse ano, comecei pala Praça Nossa Senhora de Fátima - a
famosa Praça da Cultura. Passei por ela, atravessei toda sua extensão e me desloquei em direção a Avenida Presidente João Pessoa, pela Rua Joaquim de Souza, até chegar à esquina do Edifício Ok.
Nesse momento as
emoções começaram cair como aquelas velhas fichas de telefone e, para completar
esse sentimento, ouvi vindo de uma residência ou de um local próxima de onde eu estava, o som embora distante da música “Treme From a Summer Place” de Max Steiner, que foi a trilha sonora original do filme "A Summer Place", de 1959. Esse momento pareceu coisa do acaso,
ou mesmo uma coincidência coisa de cinema. Tocado por esse inesquecível instrumental que marcou
entre os grandes hits sonoros da época de ouro das produções hollywoodianas da história do
cinema, foi me aproximando do Cine Éden. Quando cheguei na lacrada portaria
sanfonada que ainda estava lá, vi que havia dentro, no hall, muito entulho no chão,
restos de tabuletas, pó, cartazes empoeirados, alguns ainda nas paredes, outros jogados no piso e, os sinais ali a minha frente de abandono e
envelhecimento do local.
Não deu nem para
discernir a tristeza, pois nesse momento a sombra de uma pessoa veio até a mim e
convincente disse: - aí não tem mais nada não, amigo! Faz uns quatro meses, acho,
que fechou! Eduardo, o dono, já vendeu até um dos dois projetores para um homem
de Juazeiro. Eu olhei um pouco de lado para aquele desconhecido e simplesmente respondi: - foi? E
ele me replicou: - Foi! Depois, esqueci aquela inesperada sombra e sai de fininho.
Deixei aquele mortificado local, onde o Cine Éden havia vivido com glamour seu
papel de um dos grandes cinemas de sua época. Cruzei a Avenida Presidente João
Pessoa em direção a continuidade da Rua Joaquim de Souza, rumando em direção à
Rua Epifânio Sobreira.
No traçado irregular
do percurso da Rua Epifânio Sobreira; envolvidos com as fachadas e placas das
lojas daquela arteria comercial; no vai-e-vem dos transeuntes; os passos me conduziram até a Praça
Coração de Jesus, próximo as cerâmicas populares de dona Lourdes Louceira,
estiradas a céu abertos no calçamento escaldante da esquina da Danielle
Boutique.
Admirado com a beleza
daquela arte popular, ali exposta ao chão, a ferro e brasa, porém ainda em
mente, tocado com as palavras da sombra inesperada que apareceu do nada na
calçada do Cine Éden, desliguei-me de toda movimentação daquele sábado de feira
livre e, voltei a si. Passado a zonzeira, percebi que estava quase na entrada da Farmácia Coração
de Jesus. Dei mais uns passos, olhei para o interior do estabelecimento farmacêutico
e me dirigi até o balcão. Prontamente um dos balconistas me atendeu e perguntou
o que eu queria. Então eu respondi a ele: - falar com Eduardo Jorge! O rapaz olhou
para o final do balcão e foi logo dizendo: Pois não, ele está ali no escritório,
pode entrar.
Ao aproximar-me de
forma inesperada do aposento empresarial daquele último exibidor cajazeirense, ele
foi logo percebendo a minha chegada, acompanhando com olhar surpreso a minha
entrada no seu local de trabalho. Com a mão na maçaneta, foi abrindo a porta e
ao mesmo tempo, pedindo licença para entrar. Dei bom dia e ele respondeu: - Bom
dia, pode sentar-se, o que deseja? Então eu disse para ele: Falar sobre cinema! Aí nesse momento, o homem
respeitosamente replicou dizendo: Pois não, pode falar. É sobre o que? Indaguei
mais vez indo logo ao assunto: - É sobre o fechamento do Cine Éden. Você lacrou
mesmo o cinema, rapaz? Ele olhou para mim e disparou a sua lábia: - Rapaz, sabe
de uma coisa, você não é a primeira pessoa que me pergunta sobre o fechamento
do Cine Éden. E acrescentou: Não dava mais para mantê-lo aberto. E continuou:
- Eu vinha fazendo
de tudo para manter o cinema aberto. Não havia mais público. Abati o valor da
entrada, mas não resolvi a crise! Até filmes pornôs fui obrigado a exibir
tentando trazer o público de volta ao cinema, mas foi pior. No início até que deu
um pouquinho de gente, mas o tempo foi passando... Você sabe, a Praça João
Pessoa é um local bastante popular, muito frequentada. Há ainda ali, muitas
residênciais onde os moradores mantêm a tradição de colocar as cadeiras na
calçada para conversar com o vizinho e olhar quem vem e quem passa. Muitos que
tem suas casas em frente ao cinema, ficavam sabendo quem entrava e saía do
cinema para ver esse tipo de filme. Por conta disso, o público, na sua maioria do
sexo masculino, foi diminuindo. Ninguém queria arriscar passar uma vergonha,
pois se fosse visto na porta do Cine Éden para assistir um filme assim, no outro
dia a cidade inteira ficava sabendo. Assim relatou o último proprietário do
Cine Éden.
A nossa conversa
não prosperou muito e, nesse instante, tentei fazer uma reflexão a partir do
que ele acabara relatar sobre a história da crise do mais tradicional cinema de
Cajazeiras, antes do seu fechamento. Lamentei toda problemática levantada e perguntei
por que não buscou socorro da UFPB. E até adiantei que poderia ter feito um tipo
de parceria com os professores universitários, até mesmo com a Prefeitura, para
não ter que fechar o cinema. Aparentando um certo stress, antes mesmo que eu
terminasse o meu raciocínio, ele cortou a minha fala e disse: - Tudo isso eu
fiz, mas não deu certo, foi pior ainda. Não tive outro jeito, outra saída. E
acrescentou: - Você queria que fizesse mais o que? Teve dias que abri o cinema
e tive que fechar por não aparecer uma só pessoa para ver o filme que seria
exibido.
Nossa breve conversa
parou por aqui. Levantei-me da cadeira, ofereci a mão direita como despedida e
disse a ele: - Está certo! Muito obrigado pela sua atenção. Depois saí de fininho
em direção à Rua Padre José Tomaz, entre as tarimbas e as barracas daquele dia de feira. Semanas depois, voltei a capital paraibano levando comigo na cadeira do ônibus, todas as memórias e lembranças possíveis do Cine Éden; bem como dos grandes clássicos exibidos na
sua tela panorâmica e das Cajazeiras do meu tempo de cinéfilo.
sábado, 7 de outubro de 2023
Divulgada a Programação da 12ª Mostra Acauã do Audiovisial Paraibano
Acontecerá entre os dias 22 e 25 do mês de novembro deste ano de 2023, na Fazenda Acauã em Aparecida, Paraíba, a 12ª Mostra Acauã do Audiovisual Paraibano. O evento de cinema tem como uma de suas principais missões a de promover a produção local e fornecer visibilidade aos cineastas paraibanos, reconhecendo e estimulando o cinema produzido no estado, com o objetivo de fortalecer a identidade cultural da Paraíba. Além disso, a mostra este ano, homenageará Dediu Ferreira, artista aparecidense que possui um histórico de atuações nas artes visuais e no cinema da localidade, ou seja, no cinema sertanejo.
Nessa edição de 2023 da Mostra Acauã, a programação antecipadamente já divulgada nas redes sociais pela produção da mostra, incluirá exibições de curtas e longas metragens, documentários e filmes experimentais. As exibições ocorrerão através das mostras Longa Paraíba; Paraíba Afora e Sertão na Tela, além da mostra Chuva de Cinema, que acontecerá todas as noites, com a exibição dos filmes que não foram exibidos em 2022 por conta da chuva. Além dessa novidade, a Mostra Acauã permanecerá com parte da sua programação para o público infantil/infanto-juvenil, este ano com duas versões da Mostra Moleque.
A mostra de cinema é um projeto que acontece todo ano e é uma realização da Acauã Produções Culturais, com patrocínio do Banco do Nordeste, Prefeitura de Aparecida - através da secretaria de cultura do município, Lei Paulo Gustavo e Governo Federal, através do Ministério da Cultura. A arte do evento é Lasmin Ferreira. Fiquem ligados, pois em breve traremos mais atualizações, mais informaões.
segunda-feira, 11 de setembro de 2023
PORTFOLIO DO IBGE MOSTRA FOTOS RARAS DE CAJAZEIRAS DO INÍCIO DOS ANOS 60
[ BÔNUS ]
domingo, 10 de setembro de 2023
Lei Paulo Gustavo destina mais de 1 milhão para 9ª Regional de Cultura em Cajazeiras
https://paraiba.pb.gov.br/diretas/secretaria-da-cultura/lpg/9a-regional
Acesso aos ducumentos necessarios:
NÃO PERCA AS HORAS E NEM O TEMPO. FAÇA JÁ A SUA INSCRIÇÃO!
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domingo, 3 de setembro de 2023
UM POUCO SOBRE "PAGU"
Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, vai além do que o senso comum pensa dela. Para além de mera esposa de Oswald de Andrade, Pagu também foi escritora, jornalista, poeta, militante política e feminista, o que a levou vinte e três vezes para a prisão - e, de quebra, um dos maiores nomes do movimento modernista no Brasil.
Nascida em 9 de junho de 1910, na cidade de São João da Boa Vista, Pagu mudou-se com os pais para a cidade de São Paulo quando ainda tinha dois anos de idade. Seguindo os passos do pai jornalista, Zazá (seu apelido de infância) conseguiu seu primeiro emprego aos quinze anos, como redatora de críticas ao governo e às injustiças sociais para o Brás Jornal, sob o pseudônimo de Patsy.
Pagu
também foi um símbolo da irreverência e do afrontamento feminino: fumava e
bebia sem pudor, relacionava-se com homens sem se casar com nenhum, era ativa
nas lutas sociais da época.
Em
1928, aos 18 anos de idade, completou os estudos na Escola Normal e logo em
seguida se juntou ao Movimento Antropofágico, idealizado principalmente pelo
casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral Ainda no mesmo ano, ganhou seu
apelido mais conhecido, “Pagu”. O nome apareceu por causa de um erro do poeta
Raul Bopp, que escreveu um poema pensando que o nome da escritora fosse
Patrícia Goulart, e inventando, assim, essa abreviação.
Raul Bopp
Pagu
tem os olhos moles
uns
olhos de fazer doer.
Bate-côco
quando passa.
Coração
pega a bater.
Eh
Pagu eh!
Dói
porque é bom de fazer doer.
Passa
e me puxa com os olhos
provocantissimamente.
Mexe-mexe
bamboleia
pra
mexer com toda a gente.
Eh
Pagu eh!
Dói
porque é bom de fazer doer.
Toda a
gente fica olhando
o seu
corpinho de vai-e-vem
umbilical
e molengo
de
não-sei-o-que-é-que-tem.
Eh
Pagu eh!
Dói
porque é bom de fazer doer.
Quero
porque te quero
Nas
formas do bem-querer.
Querzinho
de ficar junto
que é
bom de fazer doer.
Eh
Pagu eh!
Dói
porque é bom de fazer doer.
Publicado
em diversos jornais e revistas, o poema tornou Pagu famosa nos meios
artísticos, políticos e sociais e acabou até virando canção. Produzida pela
cantora Laura Sanchez, a música de 1929 também se tornou um sucesso, graças à
radiodifusão da época.
Ainda
no mesmo ano, Pagu começou a publicar seus desenhos na Revista de Antropofagia,
publicação que existiu entre 1928 e 1929, ligada ao movimento modernista.
VINTE E TRÊS PRISÕES
No ano
de 1929, o escritor Oswald de Andrade anunciou sua separação de Tarsila do
Amaral, e logo em seguida apareceu em público com Pagu. A troca chocou a
população, mas principalmente a comunidade artística.
Pagu e Oswald tornaram-se, juntos, militantes do partido comunista, o PCB (Partido Comunista do Brasil, na época). A escritora era combativa e destemida: em 1930 participou de um incêndio no bairro do Cambuci, na cidade de São Paulo, em um protesto contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas e foi a primeira presa política feminina do Brasil, ao ser detida na cidade de Santos depois de participar de uma greve de estivadores da região. Ao longo de sua vida, Pagu seria presa vinte e três vezes por causa de suas participações em atos políticos.
Em
1935, Pagu foi presa em Paris com documentos falsificados e enviada de volta para
o Brasil
PAGU E A LITERATURA
Desde
os quinze anos de idade, Pagu já publicava protestos e artigos de opinião e
logo cedo também aprendeu a utilizar pseudônimos para suas publicações, a fim
de escapar da censura ditatorial da época.
Em
1933, publicou o livro “Parque Industrial “, sob o pseudônimo de Mara Lobo, um
romance proletário que entrou para os radares da censura da época. Pagu também
foi responsável por traduzir autores estrangeiros de grande renome, como James
Joyce e Octavio Paz. Além disso, escreveu contos policiais sob o pseudônimo de
King Shelter.
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