quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

CONVERSAS DE CINE ÉDEN. Como foi a exibição simultânea do filme “Scarface” no Cine Teatro Apolo XI e Cine Pax

por Cleudimar Ferreira



A invenção do cinema, desde o feito extraordinário dos irmãos Lumiére até os dias presentes, tem exercido um certo fascino em muita gente e, por certo, continuará fascinando gerações. Parece até que a sua incomum descoberta para o mundo, lá atrás, em 1895, mesmo que tenha acontecido sobre o pretexto do ocaso; da curiosidade dos dois jovens franceses; a sua conquista, acentuou a ideia de que o surgimento do cinema já estava traçado na linha do tempo. Ou seja, programado para acontecer por uma razão não explicável. Por essa singular força e, enigmática forma como surgiu, o cinema passou com todos os brilhos rumo ao futuro, indo por aí a fora, deixando-se cair cheio de graças, nas graças de muitos, sem diferenciar por características essa graça de ninguém.

E essa despretensiosa brincadeira dos Lumiére, experimento, curiosidade ou qualquer coisa como queira classificar esse momento na história do cinema, foi até certo ponto marcante para mim quanto admirador, consumidor e venerador dessa magia substancial na minha vida. Não tenho nenhuma feição tanto quanto alguém que vive diretamente ligada a feitura dessa atividade. Mas o movimento das inventivas imagens criadas pelos dos rapazes de Besançon, me atraiu desde criança, grudou e fez morada também. Afinal, quem não gosta de um bom filme, de uma história bem contada, aditivada através de imagens que encantam nossos olhos.

No presento, tão distante do que foi um dia as salas de ruas no sertão paraibano, vivo apenas das lembranças e das poucas visitas que faço aos cinemas da capital, quando tenho folga das atividades que exerço como professor. O mais, me deito na cama e, antes de dormir, tiro de dentro de mim os momentos que vivi, quanto frequentador dos cinemas na minha sempre terras Cajazeiras. Aí eu me deleito e construo um sono eterno, pleno de lembranças e sonhos de um tempo que ficou eternamente.

Partindo desse pressuposto; dos Lumiére, apenas as lembranças do que dizem os escritos e o que contam os historiadores. Mas dos extintos cinemas de Cajazeiras, tenho comigo a vivência e convívio, o que me dá subsídios para falar, contar o que vi, o que passei e o que presenciei. Um desses instantes marcantes foi quando o filme Scarface foi exibido nos cinemas Apolo XI e Pax - Os cinemas da diocese ou cinemas do bispo, como muitos se referiam a estas duas casas de exibições que já existiu em Cajazeiras.

De um lado, um exibidor apaixonando por cinema, embora conservador e durão; do outro lado um divulgador de rua quase programador, que apenas cumpria ordens, mas recorria as boas relações que havia entre os dois, para dar pitacos, sugestões e até incorrer das decisões referendadas pelo primeiro. Indo diretamente ao ponto, falo de Dom Zacarias Rolim de Moura (bispo diocesano de Cajazeiras) e de Cícero Alves (o Cícero do Bradesco). Um, o patrão e o outro, um empregado.

Dá parte de Dom Zacarias, era quase sagrado todos os meses ia a Recife, Pernambuco, para fazer duas coisas supostamente necessárias também em sua vida. A primeira, era visitar seu médico, que o medicava e orientava o seu tratamento contra um germe de barata que havia adquirido. A segunda, talvez um poco mais prazerosa para o bispo, a de percorrer as distribuidoras de filmes, escolher a seu gosto as melhores películas e fechar com essas empresas de cinema, a programação mensal dos seus dois cinemas.

De responsabilidade das distribuidoras, ficava a garantia dos repasses e envios a Cajazeiras pela Viação Gaivota, no dia e hora marcada, dos filmes programados, bem como, todo material necessário para a divulgação interna e externa dos filmes.

Do outro lado, era atribuição de Cícero Alves, a incumbência de fazer a programação de rua dos cinemas. Para que isso acontecesse, precisava preparar as tabuletas, cobrir primeiramente todas com papel jornal, colar os cartazes ou fotos e fazer os letreiros indicativos com data, hora, além da qualificação e censura - se era proibido para menores de 14 ou 18 anos. Tudo com mandava a tradição e a cultura cinéfila nessa época.

Cícero não tinha habilidade nenhum com a pintura de letreiros e, essa parte, cabia a mim. Usava as milhas habilidades de artista plástico para criar os letreiros estilizados e os outros enfeites. Ou seja, deixar as tabuletas mais atrativas, com condições de convencer o público a ir aos cinemas.

Era também responsabilidade de Cícero Alves, talvez a mais significativa de todas, ir buscar no terminal rodoviário Antônio Ferreira, os filmes, que chegavam a Cajazeiras, vindos da capital pernambucana, via empresa Viação Gaivota, além de uma vez por outra, revisar os rolos de fitas e, principalmente, assumir a portaria dos cinemas quando de uma inesperada falta ou folga do porteiro titular.

Então, duas vezes por semana saíamos do Cine Pax, às 9h00 da manhã, conduzindo uma carrocinha até o guichê da Viação Gaivota. Depois que os filmes eram despachados pela Gaivota, pegávamos esses filmes e nos deslocávamos até a Cúria Diocesana para certificar e mostrar ao bispo o conteúdo que havia chagado do Recife.

Uma vez passado pelo visto do Senhor Bispo, nos deslocávamos desse local em direção do Cine Apolo XI, onde recolhíamos o material de divulgação e, deixávamos sob responsabilidade os operadores - os irmãos Geraldo e Manoel Conrado, as latas com os rolos de fitas. As fitas eram revisadas quadro-a-quadro pelos irmãos Conrado e depois prontificadas para serem exibidas nas sessões à noite.

O filme Scarface, uma produção de Brian De Palma, era sempre incluído nas programações mensais que Dom Zacarias fazia juntos as distribuídos no Recife. Porém, nem o bispo e muito menos Cícero Alves, sabia os verdadeiros motivos dessas distribuidoras não enviar esse filme a Cajazeiras. Muitas vezes quando era convidado por Cícero para ir com ele no gabinete do Bispo, vi Dom Zacarias contrariado, chateado e, em certos momentos, até estressado, por conta do entrave protagonizado pelo não envio do filme. Dava a entender que havia um problema com a distribuição de Scarfece.

Se havia problema ou não falha, as tentativas de correção desse embrolho eram feitas quase todos os meses por Dom Zacarias, através das reclamações constantes via telefonemas a Recife. Mas Scarface não chegava nos cinemas do bispo e, no seu lugar, eram enviadas outras produções menos destacadas, que chegavam como uma surpresa para todos, que tampouco haviam sido incluídas nas programações dos Cines Apolo XI e Pax.

Nos intervalos do tempo, quando o filme de Brian De Palma já estava entrando para um estágio de olvidamento, sendo considerado pelo bispo exibidor, uma carta foro do maço do baralho ou tinha entrado subitamente na rota do esquecimento, tanto por Cícero quanto por Dom Zacarias, eis que um certo sábado eu fui com Cícero ao guichê da Gaivota, receber os filmes que havia chegado.


Depois dos tramites e despachos do pacotão feito por essa empresa de transporte interestadual, colocamos a encomenda na carrocinha e antes da sair do local, abrimos a estopa para ver que filme havia chagado. Tal foi a inesperada surpresa para nós dois, ao ver os cartazes e algumas fotografias, bem como, as latas com rolo de fitas, estampado a palavra Scarface.

Nos alegramos e apresamos o passo em direção ao Palácio do Bispo, para anunciar a Dom Zacarias a grata surpresa da chegada do filme tão aguardado por ele. Quando chegamos ao local, eu fiqueI na calçada, sentado na carrocinha cuidando do filme e Cícero se dirigiu ao recinto onde Dom Zacarias estava. Fiquei no aguardo por quase 15 minutos e ouvindo, mesmo um pouco distante, múrmuros da conversa entre os dois.

Esperei por um certo tempo a volta de Cícero. Quando de repente ele apareceu, descendo as escadarias da capela anexa ao Palácio Episcopal. Ao chegar junto a mim, ele chega simplesmente calado, sem dizer nada, pegou o condutor da carricinha e saiu deslisando as duas rodas em direção ao Cine Apolo XI. O silêncio era total até eu falar: - e aí, Dom Zacarias gostou da chegada de Scarfase? Com a aura fechada, meio embirrado, de forma inaudível ele respondeu: - home, não fale não!

Ao se aproximar da esquina da Catedral Nossa Senhora da Piedade, ele abriu a boca e começa a jogar para fora as primeiras palavras grosseiras, consequência da conversa estressante que teve com o bispo exibidor. E chutando tudo que via pela frente; Cícero, contrariando o bom sentido como manda a etiqueta, começou a berrar: - Cara, o home é cruel demais! Um sujeito mau, ruim e duro com a gente. Quer porque quer fazer a estreia simultânea do filme nos dois cinemas. Está vendo que isso não vai dar certo.

Confesso que fiquei preocupado e sem entender a ideia encomendada por Dom Zacarias. Afinal só havia uma cópia de Scarface. Como exibir ao mesmo tempo o filme nos dois cinemas. O Cine Apolo XI, ficava na zona Norte e o Cine Pax, na zona sul da cidade.

Em se tratando de cidade do interior, o percurso entre os dois cinemas não era lá tão longe assim. Dava para ser percorrido em 15 minutos. O problema era a logísticas. Já que o bispo havia estabelecido que a exibição do filme seria feita dessa forma, então ficou estabelecido na conversa entre os dois, que a sessão no Cine Apolo iria iniciar as 19h00 e no Cine Pax, às 20h00. Uma diferença de uma hora de cinema para cinema, com objetivo não haver problemas na exibição simultânea.

Uma vez feito a programação de rua, com a colocação das tabuletas contendo os cartazes do filme em lugares estratégicos da cidade, anunciando a exibição paralela e os novos horários de exibição, a expectativa dos operadores dos projetores, era aguardar e ver na prática se tudo ia dar certo.

Chegou à noite, o Cine Teatro Apolo XI começou rodar a primeira parte do filme no horário programado. Quando terminou a exibição da primeira parte, Geraldo Galvão, um voluntário com presença marcada todos os dias no Cine Teatro Apolo XI, pegou sem perder muito tempo a fita, subiu em uma bicicleta e foi deixar no Cine Paz.

Na hora que Geraldo chegou no Cine Paz com a primeira parte de Scarfece, Zezinho, o operador de projetor, já estava esperando na portaria do cinema para levar a fita até a cabine de projeção. Aquele funcionário pegou o rolo de fita, se dirigiu rapidamente até o seu espaço de trabalho, rebobinou a fita e, em seguida, deu início a exibição.

Tudo ia correndo muito bem, mesmo sabendo que para satisfazer o ego do bispo Dom Zacarias Rolim de Moura, o esforço do voluntário Geraldo Galvão, estava sendo grande. Ele aceitou a tarefa, simplesmente por ter cultuado uma boa amizade com funcionários do cinema, por gostar de cinema e vivenciar como era de praxe em alguns jovens de Cajazeiras desse tempo, o dia a dia das atividades que antecedia as exibições dos filmes nos cinemas da sua terra.


Apesar do calor sudorífico e grudento das cabines de projeções dos dois cinemas, principalmente a do Cine Pax - apertada, quente e sufocante demais para os seus projetistas, Zezinho e seu filho - que fazia a função de auxiliar de operador, até a terceira parte do filme, tudo ia transcorrendo sem nenhum problema ou se dando muito bem.

Porém fatores abstratos no Cine Teatro Apolo XI, muito mais ligados a uma energia externa ou quem sabe do além, interferiu na perfeição da projeção feitas pelos irmãos Geraldo e Manoel Corado, quebrando a fita da quarta parte de Scarface. E assim, induzindo o público que assistia o filme, a produzir ligeiros assovios, gritos e suportar quase 10 minutos de paralização da projeção.

Passado esse momento, o filme continuou sendo rodado e quando a quarta parte de Scarface foi consumida pelas garras das bobinas do projetor do Apolo XI, Geraldo Galvão, imediatamente pegou o rolo de fita e seguiu em disparada para o Cine Pax. Quando chegou na portaria do cinema, o filho de Zezinho já o aguardava.

Sem mais delongas, o rapaz recebeu a quarta parte das mãos de Geraldo e, as pressas, subiu a escada caracol do Cine Paz, até a cabine onde o pai esperava. O rapaz entrou feito a luz de um relâmpago naquele espaço apertado, rebobinou a o rolo de fita contando os minutos e segundo, pois a terceira parte já estava acabando. Só deu tempo de colocar no segundo projetor. Quando terminou, já foi acionando a máquina, dando prosseguimento a projeção do filme, sem provocar brecha ou espaço branco na passagem da terceira parte para quarta parte.

No Cine Teatro Apolo XI, com sua cabine mais moderna, ampla, com ar condiciono, seguia a projeção da quinta e última parte do filme de Brian De Palma e lá no Cine Paz, a quarta parte ainda estava em andamento. Parecia que tudo aí acabar com um final feliz. Menos para Geraldo Galvão que já estava com as baterias arriadas e vencidas de tanto “pra lá e pra cá” entre os dois cinemas. Quando de repente da escuridão do céu desceu sobre Cajazeiras as primeiras gotas cristalinas de uma chuva forte de 20 minutos. Tempo suficiente para o “The End” anunciar o final do filme.

Em questão de pouco minutos, o operador Geraldo Conrado, apareceu com quinta e última parte no hall do cinema para entregar a o outro Geraldo, o Galvão. Ficaram olhando uma para cara do outro, até Geraldo Galvão sussurrar: - E agora, o que faremos com essa chuva?

O Segurança de alcunha Didi, responsável pela ordenação das filas na portaria e na bilheteria, que estava bem próximo dos dois Geraldo, respondeu para Geraldo Galvão: - E agora! Agora enfrente a chuva. Vá logo! pois a quarta parte do filme no Cine Pax, se não estiver terminando, está faltando pouco tempo. Sem dizer nada para o segurança, ele pegou do operador de projeto do Cine Apolo XI, a lata com rolo de fita, colocou debaixo da camisa, subiu na bicicleta e começou a pedalar em direção ao cinema da zonal sul da cidade.

Ao se aproximar do Grande Hotel, onde hoje é o canal da Travessa Joaquim Costa, a chuva de um toró como estava, passou a diminuir moderadamente o seu volume. Entretanto, as águas escorriam forte, encobrindo o calçamento. Geraldo com toda pressa do mundo, se jogou com bicicleta, rolo de fita e tudo, no meio do aguaceiro.

Nesse momento, com todo esforço feito para vencer as águas, ele sentiu um estralo na corrente da Bike. Percebeu que a corrente havia saído da coroa. Preocupado com o tempo e com a chuva que ainda caia naquela noite, encostou a bicicleta no meio fio do calçamento e depois de certo tempo, colocou de volta a corrente no seu lugar.

Quando chegou no Cine Pax com a última parte do filme, visivelmente cansado, todo exarcado, a projeção estava parada, com a plateia apreensiva, impaciente no auditório do cinema, esperando para assistir o desfecho final de Scarface. Se Al Pacino sobreviveria ou se seria morto. Logo em seguida, chegaram também os dois operadores do Cine Teatro Apolo XI e o porteiro, para ajudar Zezinho e seu filho na logística, na conclusão da exibição do filme, nessa sala que era considerada o tradicional cinema da zonal sul de Cajazeiras. 

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Créditos das imagens:
Imagem 1. (da Internet) Cícero Alves (in memoriam) e Dom Zacarias Rolim de Moura(in memoriam) Bispo Diocesano de Cajazeiras.
Imagem 2. (de um fotograma) O ator Al Pacino em Scarface
Imagem 3. (1. Foto: Borracha) Cine Teatro Apolo XI (2. do Google Map) Prédio onde funcionou o Cine Pax




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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O Casarão do Bispo - Umari, Ceará.

por Roberto Júnior
POSTAGEM PUBLICADA EM 26 DE JULHO DE 2018 NO BLOG CARIRI DAS ANTIGAS

Imponente Casarão de beira de estrada, onde nasceu e morreu Dom Zacarias Rolim de Moura 


No sítio Malhada das Pombas, em Umari, a vegetação é ampla e os baixios e morrotes encantam a vista de qualquer um, tal paisagem é completada por uma enorme construção, provavelmente do Séc. XIX, que nas margens de uma das vias rurais da cidade impõe presença, é o Casarão do Bispo.

O bispo a quem o nome faz referência é Dom Zacarias Rolim de Moura, Bispo de Cajazeiras, que aí nasceu em 1914, e seguindo os passos do pai, Bonifácio Gonçalves de Moura, que morreu na casa em 12 de março de 1941, aí também faleceu em 05 de Abril de 1992.

Pouco consegui apurar sobre o passado do imóvel antes de ser adquirido por Bonifácio, a cidade é servida basicamente pela oralidade e algo mais palpável me chegou através de memorialistas de Cajazeiras, onde a família exercia plenamente seu poder econômico e político, tendo sido o patriarca eleito deputado em mais de uma legislatura.

Na falta de documentação cartorial que me desse mais subsídios para falar sobre o imóvel em si, levei em consideração as características arquitetônicas da construção, que tem a cumeeira contando mais de 9 metros de altura, a fachada composta por 4 janelas e 3 portas, todas com arco abaulado, mas que não seguem uniformidade e não chegam a configurar uma fenestração perfeita.

Os elementos construtivos são típicos das arquiteturas vernaculares, e a estrutura do imóvel foi relativamente pouco alterada ao longo dos anos, algo necessário, uma vez que o imóvel ainda é habitado, por “Seu Miguelino”, um senhorzinho simpático que nos recebeu e nos encantou com as histórias do local, algumas fantásticas e que envolvem até causos de botijas.

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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

As mulheres não têm coração

por João Batista de Brito

Atriz e Modelo Dita Von Teese. Imagem da internet


Tinha, então, treze anos de idade.
Era final de setembro, começo de primavera, quando o Circo chegou ao seu bairro, Jaguaribe. Foi armado ali no terreno livre que sobrou depois que derrubaram os muros do Clube Cabo Branco.
Por acaso, acompanhou a armação, pois a avenida Primeiro de Maio era o seu caminho para a escola, o Grupo Sto Antônio. Entre idas e vindas, daí a pouco o Circo Parondi já estava de pé, e, no dia seguinte, os cartazes já anunciavam a programação, sem falar no palhaço de pernas de pau, percorrendo as ruas do bairro, divulgando o espetáculo aos gritos, rodeado de crianças.
Naquele fim de semana o Cinema Sto Antônio não o viu. O filme em cartaz não parecia boa coisa e, afinal de contas, o Circo era a grande novidade do momento.
E foi. Mágicos, animais adestrados, malabaristas, palhaços, drama - tudo empolgante, porém, nada mais empolgante que a bailarina.
Ah, a bailarina! Dançando no palco ou girando no trapézio de pernas para o ar, a bailarina era simplesmente maravilhosa, fantástica, luxuriante, a mulher mais linda do mundo. Sua pouca roupa mostrava um corpo perfeito, cintura estreita, seios rijos, coxas roliças, mãos e pés delicados, quadris carnudos, arredondados feito dois balões. Embora delgada, translúcida, vaporosa, também era corpórea, palpável, mais que isso, irresistivelmente sensual, carnal mesmo. O rosto era de uma deusa pagã, e o sorriso aberto, um convite ao amor.
Naquela noite não dormiu bem. Macia, sedosa, sedutora, a figura da bailarina veio para a cama com ele. Inquieto, nervoso, não conseguia conciliar o sono. Até seu cheiro sentia. Virava de um lado para o outro e uma espécie de fogo o queimava por dentro; essa sensação estranha, que nunca sentira, instigava seu espírito e seu corpo e gerava em suas carnes um desejo até então desconhecido, um que cobrava desafogo, fosse como fosse. Foi quando se deu conta de que estava perdidamente apaixonado pela bailarina.
Depois desse dia, o cofre onde escondia suas parcas economias - um porquinho de barro - esvaziou. Espedaçou-o no encalço das últimas moedas, e jogou os cacos no lixo. Inventando mentiras em casa, gastou o dinheiro todo com os ingressos do Circo e, mais grave, passou a gazear as aulas para rondá-lo, brechando sua vida fora das lonas. Fazia isso a manhã toda, na esperança de ter contato com a bailarina.
E teve. Ela terminou notando aquele menino com farda de escola, por ali, espionando, meio disfarçado, e sempre de olho nela. Ao se saber notado por ela, gelou e não teve coragem de falar, mas ela mesma falou: aproximou-se devagar e lhe perguntou o que ele fazia ali, e ele, o coração batendo, suado, trêmulo, gaguejante, disse que queria trabalhar no Circo, fazer qualquer coisa, aprenderia rápido.
“Que idade você tem?” perguntou.
“Treze”, disse, já arrependido de ter dito.
“Seus pais estão sabendo?”
Quis mentir que sim, mas disse “Não”.
“E por que você quer trabalhar no Circo?”
E aí juntou toda a coragem de que dispunha e confessou de uma vez por todas seu sentimento e sua intenção: estava apaixonado e queria estar com ela, queria casar.
Ela respondeu com uma larga risada, o que o deixou tonto e mais perdido que nunca.
E então ela curvou-se para fitá-lo mais de perto, e, ainda rindo, agora suavemente, talvez carinhosamente, foi dizendo que tinha três vezes a sua idade ou mais; que seria muito estranho para todo mundo se casassem; disse que ele esquecesse esse negócio de amor, que afinal de contas ele não tinha idade para assumir compromissos; e, com mais firmeza na voz, ordenou que ele fosse para casa, ou para a escola, que seria bem melhor, e acrescentou que vida de circo era coisa de maluco.
E afastou-se, apressada, em direção a uma das tendas do circo, de lá lhe jogando um beijo de mão. E ele nunca mais a viu.
Foi nesse dia triste que tomou consciência da dura verdade: que as mulheres não têm coração.

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Referência da Imagem: Dita Von Teese - Atriz e Modelo. Produção da imagen: Revista Plastic Deeans

terça-feira, 31 de outubro de 2023

"Oh! Terrinha Boa" agora é Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba

Imagem da Internet - foto para divulgação

Um reconhecimento! E merecido! A peça teatral de gênero humor “OH! TERRINHA BOA”, passará a partir deste ano a fazer parte do seleto grupo de expressões culturais reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do nosso Estado da Paraíba. 

O Projeto de Lei de nº 1.242/2023, de autoria do deputado estadual Chico Mendes, foi apresentado, votado e aprovado na Assembleia Legislativa da Paraíba e, teve como subscrevestes, os parlamentares Paula Francinete e Júnior Araújo. Todos da região de Cajazeiras.

O espetáculo cênico foi montado e vem sendo apresentado a décadas pela Companhia de Teatro Arco Íris de nossa cidade. O elenco é composto pelos atores Francisco Jucinério Félix Filho e José Ricardo Lacerda, os quais interpretam os personagens de “Zé do Vale e Maria Calado”, respectivamente.

Segundo os integrantes do espetáculo, a Cia Teatral Arco Íris nasceu em 1985 e seu surgimento foi fruto do trabalho realizado pelas comunidades eclesiásticas de base da Igreja Católica (CEB’S).

A peça teatral “Oh! Terrinha Boa” tem como eixo temático a cultura nordestina, com destaque para temas sociais como a luta agrária, o êxodo rural e a religiosidade do nosso povo. Recorre a assuntos palpitantes como a xenofobia e a discriminação. Ou seja, um trabalho de pesquisa sobre o universo da cultural regional nordestina.

Sobre a encenação, o espetáculo apresenta um perfil cômico, caricato, mostrando o trejeito nordestino de ser. Na peça as personagens “Zé do Vale e Maria Calado” representa um casal típico do interior sertanejo que vive uma vida simples, mas que diante dos constantes problemas ocasionados pela seca, são forçados a deixar sua terra natal para aventurar-se e enfrentar a dura realidade da cidade grande, com destaque a cidade de São Paulo.


Cleudimar Ferreira

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sexta-feira, 20 de outubro de 2023

CONVERSAS DE CINE ÉDEN. Um encontro com o último exibidor cajazeirense

por Cleudimar Ferreira


Foto do Edificio OK. Ao lado direito, na parte de cima (na marquise), os cartazes do Cine Éden


Quando começou o declínio dos cinemas em Cajazeiras, ocorrido no final dos anos 80, eu já estava alçando outros aires na capital paraibana. Mas nem assim, com o fechamento em 1990, do último espaço de exibições que ainda continuava operando, passei a dormir com outras salas no meu quarto de república estudantil. Não tinha como ser de outro jeito, pois os fantasmas das três salas de cinema que havia na cidade, estavam sempre na minha cola. Ao deitar-me para relaxar as emoções de um dia de convivência no DAC/UFPB, bastava só um cochilo, aí eu os via saírem das telas dos cinemas Éden, Apolo XIX e Pax e, por um capricho, eles começavam o Ritual Comanche ao redor da minha cama. Um protocolado momento atemporal que mesmo hoje, na condição de sexagenário, ainda permanece vivo nos meus sonhos, embora esporadicamente.

Em se tratando de sonhos, sonhos são relativos! Há aqueles que você gosta de sonhar e aqueles que você foge da cama; perde uma noite de sono só para não arriscar sonhar. Os meus, com relação as salas de cinema da minha terra, sempre foram bem-vindos e, até hoje, uma vez por outra, recorro a alguns goles de suco de maracujá para melhor relaxar, dormir bem e sonhar eternamente com os bons momentos vividos nesses cinemas.

Mesmos não existindo mais, as suas memorias foram até aqui, os melhores meios que tive, que tem me prendido a história desses cinemas e a relação que eles tiveram com a minha infância, bem como, ao acesso psicossomático as últimas imagens que vi serem exibidas nas salas dos nossos três cinemas. Principalmente o mais tradicional de todos, o Cine Éden. Para ser bem claro, as recordações desses locais onde nos divertíamos em Cajazeiras, tem sido uma forma de manter viva no tempo, a minha remota convivência com esses cinemas, deixar a chama do passado, presente e, da esperança, acessa. Quem sabe um dia veremos os três voltando a operar como era antes, embora no agora agônico, vivêssemos momentos adversos que pouca ação relevante iria contribuir para esse feito acontecer.

Todavia, enquanto até aqui esse sonho, de fato, não havia se materializado - com sua inesperada concretude, o que me contentava, eram os poucos mais de um mês de feras que eu passava no início de cada ano e, que me fazia voltar a Cajazeiras, para rever meus familiares; os amigos e como praxe, visitar as velhas salas de exibições em crise dos cinemas da cidade, que sempre capengaram com dificuldades, "as duras penas", graças as benevolências dos últimos frequentadores, que por paixão a sétima arte, insistiam em está presente nas noites de exibições de algumas dessas salas, mesmo vendo seus declínios acentuando e no meio dessa problemática, ouvindo também as agruras e os chororôs dos seus exibidores.

E foi em uma dessas férias, há de 1991, quando voltava a Cajazeiras como sempre fazia, que tive a grata satisfação de ter conversado sobre o Cine Eden, com um dos mais destacados exibidores. Ao pisar em solo cajazeirense, era sagrado o primeiro tour que eu fazia pela cidade, ser o de visitar os frontões desses espaços de entretenimento. Ver se ainda estavam em pé e, se possível fosse, bater aquele papo com as pessoas próximas a estes locais, procurar saber como iam os cinemas. No caso do tour desse ano, comecei pala Praça Nossa Senhora de Fátima - a famosa Praça da Cultura. Passei por ela, atravessei toda sua extensão e me desloquei em direção a Avenida Presidente João Pessoa, pela Rua Joaquim de Souza, até chegar à esquina do Edifício Ok.

Nesse momento as emoções começaram cair como aquelas velhas fichas de telefone e, para completar esse sentimento, ouvi vindo de uma residência ou de um local próxima de onde eu estava, o som embora distante da música “Treme From a Summer Place” de Max Steiner, que foi a trilha sonora original do filme "A Summer Place", de 1959. Esse momento pareceu coisa do acaso, ou mesmo uma coincidência coisa de cinema. Tocado por esse inesquecível instrumental que marcou entre os grandes hits sonoros da época de ouro das produções hollywoodianas da história do cinema, foi me aproximando do Cine Éden. Quando cheguei na lacrada portaria sanfonada que ainda estava lá, vi que havia dentro, no hall, muito entulho no chão, restos de tabuletas, pó, cartazes empoeirados, alguns ainda nas paredes, outros jogados no piso e, os sinais ali a minha frente de abandono e envelhecimento do local.

Não deu nem para discernir a tristeza, pois nesse momento a sombra de uma pessoa veio até a mim e convincente disse: - aí não tem mais nada não, amigo! Faz uns quatro meses, acho, que fechou! Eduardo, o dono, já vendeu até um dos dois projetores para um homem de Juazeiro. Eu olhei um pouco de lado para aquele desconhecido e simplesmente respondi: - foi? E ele me replicou: - Foi! Depois, esqueci aquela inesperada sombra e sai de fininho. Deixei aquele mortificado local, onde o Cine Éden havia vivido com glamour seu papel de um dos grandes cinemas de sua época. Cruzei a Avenida Presidente João Pessoa em direção a continuidade da Rua Joaquim de Souza, rumando em direção à Rua Epifânio Sobreira.

No traçado irregular do percurso da Rua Epifânio Sobreira; envolvidos com as fachadas e placas das lojas daquela arteria comercial; no vai-e-vem dos transeuntes; os passos me conduziram até a Praça Coração de Jesus, próximo as cerâmicas populares de dona Lourdes Louceira, estiradas a céu abertos no calçamento escaldante da esquina da Danielle Boutique.

Admirado com a beleza daquela arte popular, ali exposta ao chão, a ferro e brasa, porém ainda em mente, tocado com as palavras da sombra inesperada que apareceu do nada na calçada do Cine Éden, desliguei-me de toda movimentação daquele sábado de feira livre e, voltei a si. Passado a zonzeira, percebi que estava quase na entrada da Farmácia Coração de Jesus. Dei mais uns passos, olhei para o interior do estabelecimento farmacêutico e me dirigi até o balcão. Prontamente um dos balconistas me atendeu e perguntou o que eu queria. Então eu respondi a ele: - falar com Eduardo Jorge! O rapaz olhou para o final do balcão e foi logo dizendo: Pois não, ele está ali no escritório, pode entrar.

Ao aproximar-me de forma inesperada do aposento empresarial daquele último exibidor cajazeirense, ele foi logo percebendo a minha chegada, acompanhando com olhar surpreso a minha entrada no seu local de trabalho. Com a mão na maçaneta, foi abrindo a porta e ao mesmo tempo, pedindo licença para entrar. Dei bom dia e ele respondeu: - Bom dia, pode sentar-se, o que deseja? Então eu disse para ele:  Falar sobre cinema! Aí nesse momento, o homem respeitosamente replicou dizendo: Pois não, pode falar. É sobre o que? Indaguei mais vez indo logo ao assunto: - É sobre o fechamento do Cine Éden. Você lacrou mesmo o cinema, rapaz? Ele olhou para mim e disparou a sua lábia: - Rapaz, sabe de uma coisa, você não é a primeira pessoa que me pergunta sobre o fechamento do Cine Éden. E acrescentou: Não dava mais para mantê-lo aberto. E continuou:

- Eu vinha fazendo de tudo para manter o cinema aberto. Não havia mais público. Abati o valor da entrada, mas não resolvi a crise! Até filmes pornôs fui obrigado a exibir tentando trazer o público de volta ao cinema, mas foi pior. No início até que deu um pouquinho de gente, mas o tempo foi passando... Você sabe, a Praça João Pessoa é um local bastante popular, muito frequentada. Há ainda ali, muitas residênciais onde os moradores mantêm a tradição de colocar as cadeiras na calçada para conversar com o vizinho e olhar quem vem e quem passa. Muitos que tem suas casas em frente ao cinema, ficavam sabendo quem entrava e saía do cinema para ver esse tipo de filme. Por conta disso, o público, na sua maioria do sexo masculino, foi diminuindo. Ninguém queria arriscar passar uma vergonha, pois se fosse visto na porta do Cine Éden para assistir um filme assim, no outro dia a cidade inteira ficava sabendo. Assim relatou o último proprietário do Cine Éden.

A nossa conversa não prosperou muito e, nesse instante, tentei fazer uma reflexão a partir do que ele acabara relatar sobre a história da crise do mais tradicional cinema de Cajazeiras, antes do seu fechamento. Lamentei toda problemática levantada e perguntei por que não buscou socorro da UFPB. E até adiantei que poderia ter feito um tipo de parceria com os professores universitários, até mesmo com a Prefeitura, para não ter que fechar o cinema. Aparentando um certo stress, antes mesmo que eu terminasse o meu raciocínio, ele cortou a minha fala e disse: - Tudo isso eu fiz, mas não deu certo, foi pior ainda. Não tive outro jeito, outra saída. E acrescentou: - Você queria que fizesse mais o que? Teve dias que abri o cinema e tive que fechar por não aparecer uma só pessoa para ver o filme que seria exibido.

Nossa breve conversa parou por aqui. Levantei-me da cadeira, ofereci a mão direita como despedida e disse a ele: - Está certo! Muito obrigado pela sua atenção. Depois saí de fininho em direção à Rua Padre José Tomaz, entre as tarimbas e as barracas daquele dia de feira. Semanas depois, voltei a capital paraibano levando comigo na cadeira do ônibus, todas as memórias e lembranças possíveis do Cine Éden; bem como dos grandes clássicos exibidos na sua tela panorâmica e das Cajazeiras do meu tempo de cinéfilo.


Trailer com a trilha sonora do filme A Summer Place, de 1959.


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sábado, 7 de outubro de 2023

Divulgada a Programação da 12ª Mostra Acauã do Audiovisial Paraibano

 



Acontecerá entre os dias 22 e 25 do mês de novembro deste ano de 2023, na Fazenda Acauã em Aparecida, Paraíba, a 12ª Mostra Acauã do Audiovisual Paraibano. O evento de cinema tem como uma de suas principais missões a de promover a produção local e fornecer visibilidade aos cineastas paraibanos, reconhecendo e estimulando o cinema produzido no estado, com o objetivo de fortalecer a identidade cultural da Paraíba. Além disso, a mostra este ano, homenageará Dediu Ferreira, artista aparecidense que possui um histórico de atuações nas artes visuais e no cinema da localidade, ou seja, no cinema sertanejo.

Nessa edição de 2023 da Mostra Acauã, a programação antecipadamente já divulgada nas redes sociais pela produção da mostra, incluirá exibições de curtas e longas metragens, documentários e filmes experimentais. As exibições ocorrerão através das mostras Longa Paraíba; Paraíba Afora e Sertão na Tela, além da mostra Chuva de Cinema, que acontecerá todas as noites, com a exibição dos filmes que não foram exibidos em 2022 por conta da chuva. Além dessa novidade, a Mostra Acauã permanecerá com parte da sua programação para o público infantil/infanto-juvenil, este ano com duas versões da Mostra Moleque.

A mostra de cinema é um projeto que acontece todo ano e é uma realização da Acauã Produções Culturais, com patrocínio do Banco do Nordeste, Prefeitura de Aparecida - através da secretaria de cultura do município, Lei Paulo Gustavo e Governo Federal, através do Ministério da Cultura. A arte do evento é Lasmin Ferreira. Fiquem ligados, pois em breve traremos mais atualizações, mais informaões.



Confira abaixo os filmes selecionados 
para a 12° edição da Mostra Acauã do Audiovisual Paraibano!

Click nas imagens abaixo para ver melhor a programação
      


QUÉM É O HOMANGEADO?



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segunda-feira, 11 de setembro de 2023

PORTFOLIO DO IBGE MOSTRA FOTOS RARAS DE CAJAZEIRAS DO INÍCIO DOS ANOS 60

   BÔNUS ]          



Uma equipe do IBGE, parece que desembarcou em Cajazeiras no início dos anos 60. Em provável inspeção na cidade, visitaram ruas, logradouros e pontos destacados de Cajazeiras. Na estadia da terre de Padre Rolim, é o que parece, fotografaram esses trechos e outras vias. Porém não se sabe ainda, se as imagens abaixo foram produzidas pela equipe dessa instituição federal ou se foram cedidas pela Prefeitura de Cajazeiras ao IBGE. O certo mesmo é que elas pertencem ao acervo do IBGE. São datadas de 1962, portanto, produzidas há 61 anos atrás e, são de importante valia para a história do nosso município, pois mostra parte do aspecto urbanos da cidade ainda em desenvolvimento, com ruas que começavam da periferia em terra batida e termina com calçamento no centro. Mostram também, que nos anos 60, ainda era possível usar a água do Açude Grande para cozinhar, beber, lavar roupa e outras necessidades domésticas. Ou seja, nosso açudo parece que ainda não era poluído, com esgotos, dejetos e lixos, como é a realidade do Açude Grande que conhecemos hoje. Click nas imagens para ampliá-las. 

Exposition das Fotos:  



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domingo, 10 de setembro de 2023

Lei Paulo Gustavo destina mais de 1 milhão para 9ª Regional de Cultura em Cajazeiras




O Estado da Paraíba divulgou os editais regionais de cultura referentes à Lei Paulo Gustavo. A 9ª Regional de Cultura, suíte que compõe Cajazeiras e os municípios circunvizinhos, terá mais de R$ 1 milhão de reais em recursos no setor cultural. Como a 9ª Regional engloba 15 municípios e, em alguns deles o volume de produções artísticas e culturais é mais intenso, só como exemplo, temos nesse rol os municípios de Cajazeiras, Poço de Zé de Moura, Monte Horebe e Uiraúna; esperava eu, que para essa região sertaneja de polarizada por Cajazeiras, o valor destinado seria bem maior do que esse percentual anunciado pela gestão estadual. 

Porém, como passamos um jejum de mais de 4 anos com quase nada de investimentos na área cultural, os valores expressos na LPG, já são um bom começo. Os editais são os referentes à Lei Complementar nº 195, Lei Paulo Gustavo (LPG), de 8 de julho de 2022. O propósito dos editais é selecionar e fomentar projetos culturais enquadrados nos artigos 6º e 8º da LPG, submetidos por proponentes residentes no estado paraibano.

Os editais estão divididos por região. Para Regional de Cajazeiras, que corresponde aos municípios de Bernardino Batista, Bom Jesus, Bonito de Santa Fé, Cachoeira dos Índios, Cajazeiras, Carrapateira, Joca Claudino, Monte Horebe, Poço Dantas, Poço de José de Moura, Santa Helena, São João do Rio do Peixe, São José de Piranhas, Triunfo e Uiraúna, está previsto um investimento de R$ 1.666.332,30 em recursos para promoção de atividades culturais nesses municípios.

Cada edital irá abranger projetos nas áreas de produção de seriado, curta-metragem, videoclipe, produção de games, roteiro, instalação, ampliação ou manutenção de cinemas de rua ou cinemas itinerantes, realização de festivais, circulação artística de bandas, grupos, agremiações e coletivos, manutenção ou ocupação de equipamentos culturais, projeto sociocultural, dentre outros.

O investimento total da Lei Paulo Gustavo na Paraíba deverá ser de R$ 48.677.436,90. As inscrições para cada edital, teve início neste sábado (9) às 8h e o encerramento está previsto para o dia 9 de outubro às 18h. Todas as informações para as inscrições estão contidas em cada edital, no site da Secretaria de Cultura, no cultura.pb.gov.br.

Portanto, você que produtor cultural, artista ou brincante, não deve perder as horas e nem o tempo. Tire o seu projeto da gaveta, faça já a sua inscrição e garanta a produção dele. Caso tenha algumas dificuldades no entendimento e na juntada da documentação, procure uma pessoa como mais experiência em lidar com as inscrições nessas leis ou forme grupos de discussão para melhorar o seu entendimento do edital. 

Para facilitar o seu acesse ao edital e os procedimentos, bem como, os documentos necessários para sua inscrição, disponibilizamos os links abaixo:

Acesso ao edital: 
 https://paraiba.pb.gov.br/diretas/secretaria-da-cultura/lpg/9a-regional
Acesso aos ducumentos necessarios: 
Acesso ao procedimento para inscrição: 

NÃO PERCA AS HORAS E NEM O TEMPO. FAÇA JÁ A SUA INSCRIÇÃO!

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domingo, 3 de setembro de 2023

UM POUCO SOBRE "PAGU"

por Karolina Monte

A jornalista e escritora Pagu. (Reprodução/Wikimedia Commons) 


Quem foi Pagu, ícone modernista e homenageada da Flip 2023
Patrícia Galvão atuou como poeta, escritora, desenhista, tradutora e ativista comunista - presa 23 vezes. Não à toa, chocou o Brasil no começo do século XX.

Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, vai além do que o senso comum pensa dela. Para além de mera esposa de Oswald de Andrade, Pagu também foi escritora, jornalista, poeta, militante política e feminista, o que a levou vinte e três vezes para a prisão - e, de quebra, um dos maiores nomes do movimento modernista no Brasil.

Nascida em 9 de junho de 1910, na cidade de São João da Boa Vista, Pagu mudou-se com os pais para a cidade de São Paulo quando ainda tinha dois anos de idade. Seguindo os passos do pai jornalista, Zazá (seu apelido de infância) conseguiu seu primeiro emprego aos quinze anos, como redatora de críticas ao governo e às injustiças sociais para o Brás Jornal, sob o pseudônimo de Patsy.

Pagu também foi um símbolo da irreverência e do afrontamento feminino: fumava e bebia sem pudor, relacionava-se com homens sem se casar com nenhum, era ativa nas lutas sociais da época.

Em 1928, aos 18 anos de idade, completou os estudos na Escola Normal e logo em seguida se juntou ao Movimento Antropofágico, idealizado principalmente pelo casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral Ainda no mesmo ano, ganhou seu apelido mais conhecido, “Pagu”. O nome apareceu por causa de um erro do poeta Raul Bopp, que escreveu um poema pensando que o nome da escritora fosse Patrícia Goulart, e inventando, assim, essa abreviação.


Coco de Pagu 
Raul Bopp


Pagu tem os olhos moles
uns olhos de fazer doer.
Bate-côco quando passa.
Coração pega a bater.


Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.


Passa e me puxa com os olhos
provocantissimamente.
Mexe-mexe bamboleia
pra mexer com toda a gente.


Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.


Toda a gente fica olhando
o seu corpinho de vai-e-vem
umbilical e molengo
de não-sei-o-que-é-que-tem.


Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.


Quero porque te quero
Nas formas do bem-querer.
Querzinho de ficar junto
que é bom de fazer doer.


Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

Publicado em diversos jornais e revistas, o poema tornou Pagu famosa nos meios artísticos, políticos e sociais e acabou até virando canção. Produzida pela cantora Laura Sanchez, a música de 1929 também se tornou um sucesso, graças à radiodifusão da época.

Ainda no mesmo ano, Pagu começou a publicar seus desenhos na Revista de Antropofagia, publicação que existiu entre 1928 e 1929, ligada ao movimento modernista.

VINTE E TRÊS PRISÕES 

No ano de 1929, o escritor Oswald de Andrade anunciou sua separação de Tarsila do Amaral, e logo em seguida apareceu em público com Pagu. A troca chocou a população, mas principalmente a comunidade artística.

Pagu e Oswald tornaram-se, juntos, militantes do partido comunista, o PCB (Partido Comunista do Brasil, na época). A escritora era combativa e destemida: em 1930 participou de um incêndio no bairro do Cambuci, na cidade de São Paulo, em um protesto contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas e foi a primeira presa política feminina do Brasil, ao ser detida na cidade de Santos depois de participar de uma greve de estivadores da região. Ao longo de sua vida, Pagu seria presa vinte e três vezes por causa de suas participações em atos políticos.

Em 1935, Pagu foi presa em Paris com documentos falsificados e enviada de volta para o Brasil

PAGU E A LITERATURA 

Desde os quinze anos de idade, Pagu já publicava protestos e artigos de opinião e logo cedo também aprendeu a utilizar pseudônimos para suas publicações, a fim de escapar da censura ditatorial da época.

Em 1933, publicou o livro “Parque Industrial “, sob o pseudônimo de Mara Lobo, um romance proletário que entrou para os radares da censura da época. Pagu também foi responsável por traduzir autores estrangeiros de grande renome, como James Joyce e Octavio Paz. Além disso, escreveu contos policiais sob o pseudônimo de King Shelter.

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Leia a postagem original em: 
https://guiadoestudante.abril.com.br/dica-cultural/quem-foi-pagu-icone-modernista-e-homenageada-da-flip-2023/