quarta-feira, 26 de julho de 2023

Em Grande clamor pela despoluição, grito de Buda Lira ecoa no Açude da Redenção

por Buda Lira (ator)

Ator Buda Lira é cajazeirense. Foto: reprodução da internet

A cidade de Cajazeiras teve como berço da sua povoação e civilização um açude e uma escola. A base educacional se manteve por três séculos graças a visão e compromissos humanitários do Padre Rolim e as gerações que se seguiram. Em 1829, ele dava início as atividades da escolinha Serraria, os primeiros passos para uma longa jornada na área educacional que marcaria para sempre a história da “cidade que ensinou a Paraíba a ler”.

Em 17 de janeiro de 1970, é criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FAFIC, seguidas de instalação do Campus da UFPB e UFCG, posteriormente, e a criação de diversas faculdades que contribuem para que a cidade polo do sertão recuperasse a sua expressiva presença sociocultural e econômica na região.

E o Açude Grande? Bom, esse vive uma longa agonia, após a chegada de água encanada na cidade, na década de 1960, abastecida pelas águas do açude de Engenheiro Ávidos, o popular Boqueirão. Com isso, viu-se o crescente despejo de dejetos de residências e imóveis comerciais que marca a degradação desse reservatório que tem importância ambiental, histórica e cultural para Cajazeiras.

Por volta do ano de 2010, uma geração de cajazeirenses, residentes em Fortaleza, toma a iniciativa de promover o reencontro de pessoas que viveram a adolescência e início da juventude na segunda metade da década de 1960 e na primeira metade da década de 1970 na cidade. Nesse período, puderam desfrutar da movimentada vida sociocultural e política da cidade – seus bailes, o movimento do teatro, a efervescência da artes, enfim, quase tudo o que cidade da educação (e cultura) poderia oferecer num período marcado por censura, asfixia das liberdades versus luta por mais liberdade. Foi essa geração que tomou a iniciativa de despertar a cidade para a agonia que ainda vive o Açude Grande.

Pois bem, como diria o velho Major Chiquinho, foi dessa ideia de que Açude Grande é o maior tesouro da velha Cajazeiras que em uma das primeiras edições do chamado “Bailes do Reencontro” promovido pela Associação dos Cajazeirenses e Cajazeirados de Fortaleza-CE, o projeto de Revitalização do Açude Grande foi destaque e ponta pé inicial para campanha em torno do projeto. Os bailes, realizados 2010 e 2018, aproximadamente, buscavam reviver os antigos bailes da cidade, reaproximar uma geração que marcou as décadas de 1960/1970.

Um longo e extraordinário trajeto foi percorrido por cajazeirenses capitaneado por Josias Farias, Ricardo Bandeira, Helder Moura, dentre outros, buscando mobilizar as forças políticas partidárias, sociais e econômicas da cidade, na perspectiva de fazerem enxergar o imenso potencial econômico, ambiental, cultural e turístico em torno da proposta de recuperação do Açude de Grande.

Recentemente, a Cagepa anunciou o investimento de quase 40 milhões de reais no projeto de esgotamento sanitário de toda a área que incide sobre o açude, além da revitalização do seu entorno. Os recursos são frutos de um contrato firmado entre a Cagepa e a Agência Francesa de Desenvolvimento.

O fato é que o momento hoje é mais do que propício para que esse sonho se torne realidade palpável. O respeito ao meio ambiente retorna com a força e a responsabilidade necessárias na agenda política da Paraíba e do Brasil.

O momento é de se manter acessa a chama por um Açude Grande Vivo. Para tanto, é necessário a despoluição de suas águas, o diálogo com os proprietários que se apresentam como “donos” das áreas do entorno do açude e, por último, o trabalho para a recomposição da sua mata nativa e da restauração do seu espaço urbano. E vivas ao Açude Grande!







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fonte: Blog do José Dias Neto (Diário do Sertão) 

quarta-feira, 12 de julho de 2023

O Pavão Misterioso

por: Benedito Antonio Luciano

Ilustração: Valdécio Costa (nordestino radicado em Brasília)


Os apreciadores da denominada Literatura de Cordel haverão de lembrar do “folheto” intitulado “O Pavão Misterioso”, obra escrita em sextilhas de versos de sete sílabas, cuja primeira estrofe é a seguinte: “Eu vou contar a história/ Dum pavão misterioso, / Que levantou voo da Grécia, / Com um rapaz corajoso, / Raptando uma condessa, / Filha dum conde orgulhoso”.

Na segunda estrofe, o autor situa a Turquia como sendo o local onde se desenrola o enredo da história e introduz os nomes dos primeiros personagens: os irmãos João Batista e Evangelista, filhos de um viúvo dono de uma fábrica de tecido, cujo nome não é citado.

Creuza, a personagem chave do romance, é apresentada na estrofe treze. Ela era a filha única de um conde que, devido a beleza espetacular da jovem a mantinha escondida em um quarto do sobrado onde residia na Grécia, só permitindo a sua aparição pública na janela, uma vez por ano, por apenas uma hora.

O outro protagonista do romance que desempenhou papel relevante é o engenheiro Edmundo, inventor do Pavão Misterioso, um aeroplano híbrido de pequena dimensão, movido a motor elétrico e a gasolina: “Tinha a cauda como leque, / As asas como um pavão/ Pescoço, cabeça e bico, / Alavanca, chave e botão. / Voava igual ao vento/Para qualquer direção.”.

Foi com esse invento em formato de pavão, concebido pelo gênio criativo do engenheiro Edmundo, que Evangelista raptou Creuza e com ela casou na Turquia.

Sobre a autoria de “O Pavão Misterioso” há controvérsia. Pelas minhas mãos já passaram dois exemplares: um cuja autoria é atribuída a João Melchíades da Silva, e outro, lançado pela Luzeiro Editora, no qual a autoria é atribuída a José Camelo de Melo Rezende, destacado no acróstico da estrofe final como JOSECAMELO: “Justiça, só a de Deus, / O juiz que já não erra/ Senhor que, do Céu pra Terra/ Estende os poderes seus!/ Como somos pigmeus,/ A Ele não enxergamos, / Mas, contudo, precisamos/ Enaltecer Sua luz/ Lembrados que, com Jesus, / O Satanás afastamos! ”.

Neste sentido, de acordo com Átila Almeida e José Alves Sobrinho, autores do Dicionário Biobibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada, o verdadeiro autor de “O Pavão Misterioso” seria mesmo José Camelo de Melo Rezende.

De fato, o problema da veracidade da autoria dos folhetos é antigo. Nos primórdios, quase sempre os autores vendiam os direitos de publicação de suas obras a outros poetas e editores que, por sua vez, passavam a assumir a autoria.

A este respeito, Leandro Gomes de Barros (1865-1918), criador do folheto impresso, preocupado com os direitos autorais, publicou o seguinte texto: “Com o fim de evitar os abusos constantes, resolvi d’ora em diante estampar em todas as minhas obras o meu retrato em um clichê, sem lugar determinado”.

Oportuno ressaltar que, além de “O Pavão Misterioso”, José Camelo foi autor de vários romances que se tornaram conhecidos, dentre eles: “Pedrinho e Julinha”; “História do Bom Pai e o Mau Filho ou Juvenal e Lilia”; “Coco-Verde e Melancia”; “Entre o Amor e a Espada”; e “Encontro de Dois Poetas: José Camelo de Melo com Manoel Camilo dos Santos”.


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fonte: https://paraibaonline.com.br/blogs-e-colunas/o-pavao-misterioso/

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Festival 'Rock Cordel' celebra 15 anos no Alto Sertão Paraibano

Evento objetiva dar visibilidade às bandas de rock do estado e este ano a programação ocorre em cinco cidades do Sertão. 


por: Polyanna Gomes

Neste final de semana, a cidade de Sousa, através do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), realiza a 15ª edição do Festival Rock Cordel. O evento deste ano é uma edição especial que celebra os 15 anos de trabalho cultural para o desenvolvimento das potencialidades artísticas da região, misturando o gênero Rock com a Cultura Sertaneja. Este ano, buscando reforçar a valorização e identidade dos territórios, a programação ocorre em cinco cidades do Sertão Paraibano: Uiraúna, Catolé do Rocha, Patos, Cajazeiras e Sousa.

"O evento é realizado no mês de julho em alusão às comemorações do Dia Mundial do Rock, sem perder de vista a apreciação de misturas do rock e suas vertentes com a cultura popular do Nordeste, valorizando a diversidade cultural da região através de programações gratuitas e democráticas", explica a organização.

O Festival Rock Cordel já é uma referência na Paraíba, movimentando o cenário musical do estado e divulgando artistas e bandas independentes do rock paraibano. Maycon Carvalho é produtor audiovisual do CCBNB de Sousa e reforça que o evento foi criado com o intuito de divulgar bandas e artistas locais.

As bandas paraibanas Gatunas e Cabruêra durante apresentação na edição 2022 no Rock Cordel. 
Fotos: Divulgação - CCBNB / Sousa


"O objetivo sempre foi difundir os artistas independentes do rock brasileiro/paraibano e principalmente formar plateia; além de trazer um profissionalismo, um espaço para que as bandas que estão se formando construíssem um currículo, tivessem um evento para mostrar e aprimorar seu som. O Rock é um estilo internacional, né, mas aí nós buscamos trazer essa nordestinidade ao evento, essa brasilidade, então a presença do Cordel misturado com esse gênero estrangeiro, o Rock, é o que torna interessante. Essa mistura do universo sertanejo, da cultura popular, essas formas de musicalidade, misturando a cultura local, o rock regional...", explicou o produtor.

HISTÓRIA
O Festival Rock Cordel surgiu no ano de 2007, na unidade do Centro Cultural Banco do Nordeste de Fortaleza (CE). Em seguida, em ele foi sendo implementado em outras unidades. O Rock Cordel chegou na Paraíba, no CCBNB de Sousa, em 2008, sempre com o objetivo de difundir a produção independente de artistas locais e regionais através do gênero rock e estilos alternativos.

PROGRAMAÇÃO
A programação deste ano conta com 19 apresentações e busca destacar as bandas sertanejas - que expressam do rock clássico aos riffs curtos e sincopados do groove metal - mostrando as próprias influências em suas sonoridades e realizando uma ligação Nordeste - Rock. Os destaques da programação 2023 são o show da paraibana Laura Freire, que faz uma homenagem à rainha do rock brasileiro, Rita Lee; e o show de Vannick Belchior, filha caçula do cantor cearense, Belchior.

Cearense Vannick Belchior (à esquerda) e a paraibana Laura Freire (à direita) 
Fotos: Divulgação - CCBNB / Sousa

CONFIRA AS DATAS E SHOWS

ROCK CORDEL - UIRAÚNA, PB
Dia 08/07/2023, sábado
Local: Praça Padre França, Uiraúna 
20h Conspiração Apocalipse (PB)
21h15 - Folha de Zinco (PB)

ROCK CORDEL - CATOLÉ DO ROCHA, PB

Dia 15/07/2023, sábado
Local: Praça José Sérgio Maia - Catolé do Rocha
20h BackRoad (PB)
21h15 - Arlequim (PB)

ROCK CORDEL - PATOS, PB

Dia 15/07/2023, sábado
Local: Concha Acústica de Patos
20h Anarquia Organizada (PB)
21h15 Inimigos (PB)
22h20 Dona Iracema (BA)

ROCK CORDEL - CAJAZEIRAS, PB

Dia 21/07/2023, sexta-feira
Local: NEC (Núcleo de Extensão Cultural - UFCG)
20h - Danos Morais (PB)
21h10 - Profana Inquisição (PB)
22h15 - Lothbrok (PB)

Dia 22/07/2023, sábado
Local: NEC (Núcleo de Extensão Cultural - UFCG)
21h10 A Peleja (PB)
22h15 Marcos Fernandes (PB)
23h20 - Banda Baião D'doido (PB)

ROCK CORDEL - SOUSA, PB

Dia 28/07/2023, sexta-feira
Local: Calçadão Mundinho Teodoro
19h Vinil Vagabundo (PB)
20h - Hamurabii - Rock in Sousa (PB)
21h15 Conexão Retrô (PB)

Dia 29/07/2023, sábado
Local: Calçadão Mundinho Teodoro
20h Vannick Belchior (CE)
21h10 - Laura Freire canta Rita Lee - Laura Freire (PB)
22h15 Urbanoids Rock Band (PB)
 
Edição: Cida Alves



fonte: conteúdo publicado no site Brasil de Fato. Acesso: https://www.brasildefatopb.com.br/

sábado, 1 de julho de 2023

Uma história contada em São João do Rio do Peixe


Sítio Cambito (Triunfo). Vizinho ao povoado de Pilões onde esse fato ocorreu. 
foto: Cleudimar Ferreira


NO TEMPO DE LAMPIÃO 
por: Antônio Nogueira da Nóbrega.

 

Numa manhã de outono, quando a “folhinha” assinalava 14/05/1927, João Nóbrega da Silva, garoto de uns 16 anos, pouco mais ou menos, conhecido como Joãozinho, descia a ladeira na direção de Pilões, feliz da vida assobiando uma modinha de sua predileção. 

Ao chegar à cabeceira da parede do “açudinho”, sobre a qual teria de passar, depara com um cangaceiro do bando de Lampião, armado até os dentes, que lhe pergunta, logo de cara, o que havia na vasilha que conduzia debaixo do braço. 

O garoto, muito assustado, de olhos arregalados, responde-lhe, com a voz trêmula, que eram ovos de galinha que fora comprar para o almoço. O cangaceiro aproximou-se de Joãozinho e apontou-lhe um fuzil engatilhado, barrando-lhe a passagem.

- Menino, você gosta de ovo cru ou estralado? - pergunta-lhe o bandido com ar ameaçador.
- Nem cru nem estralado! Eu não gosto de ovos, não, meu senhor! – responde-lhe o pirralho, tremendo da cabeça aos pés.
- Ah! Entendi! Mas, prepare-se, porque você vai engolir esses ovos tudinho, já-já! - sentenciou o bandoleiro. Com uma das mãos, o cangaceiro foi tirando os ovos da vasilha, um a um, e quebrando-lhe uma das extremidades no cano da arma e dando ao menino para ingerir.
A cuia já estava se esvaziando quando, de repente, surge outro cangaceiro de dentro
do mato e grita:
- Não faça isso com a criança, rapaz!
Deixe-o passa em paz, no que foi obedecido.
Joãozinho era de baixa estatura; por isso, o cangaceiro chamou-o de criança.

Logo que se desvencilhou das mãos do cangaceiro, Joãozinho tirou de uma carreira até a entrada do povoado onde morava. Quando entrou em casa, encontrou todo mundo em polvorosa, arrumando as trouxas para fugir para um serrote que fica bem próximo do lugar. Assim que os pilõesenses viram-se livres daquela presença ameaçadora, juntaram o que puderam de seus pertences e fugiram para o sopé do serrote, onde, durante 18 dias, ficaram refugiados (sem fazer qualquer barulho para não chamar a atenção dos cangaceiros), deixando para trás o lugarejo abandonado, deserto, como uma cidade fantasma.

Essa era, portanto, a segunda vez que Lampião passava por São João do Rio do Peixe, surrando, assaltando e incendiando, além de matar diversas pessoas, entre as quais: Cícero Rafael e Antônio Belizário, residentes no sítio Formigueiro; Manuel Francisco de Assis, conhecido como Manuel Chiquinho, no Vaquejador; Antônio Quaresmas, em Santa Helena e Joaquim Gabriel, nos Cabaços, entre outros. 

A primeira passagem ocorreu no ano anterior, 1926, tendo sido marcada pelo assalto à casa comercial de João Marinho localizada no então distrito de Pilões, onde o comerciante residia. Além do prejuízo material que lhe causaram, os cangaceiros tiveram a ousadia de danças com suas filhas, causando-lhe grande constrangimento. Envergonhado e revoltado, com tamanha ofensa moral, João Marinho vendeu todos os seus bens e foi embora para bem longe daqui e nunca mais deu notícia.

Essa história me foi contada pelo próprio João Nóbrega da Silva e sua irmã, Ana Nóbrega da Silva, filhos de Francisco Nóbrega da Silva e Joaquina Nóbrega da Silva.


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