quarta-feira, 12 de julho de 2023

O Pavão Misterioso

por: Benedito Antonio Luciano

Ilustração: Valdécio Costa (nordestino radicado em Brasília)


Os apreciadores da denominada Literatura de Cordel haverão de lembrar do “folheto” intitulado “O Pavão Misterioso”, obra escrita em sextilhas de versos de sete sílabas, cuja primeira estrofe é a seguinte: “Eu vou contar a história/ Dum pavão misterioso, / Que levantou voo da Grécia, / Com um rapaz corajoso, / Raptando uma condessa, / Filha dum conde orgulhoso”.

Na segunda estrofe, o autor situa a Turquia como sendo o local onde se desenrola o enredo da história e introduz os nomes dos primeiros personagens: os irmãos João Batista e Evangelista, filhos de um viúvo dono de uma fábrica de tecido, cujo nome não é citado.

Creuza, a personagem chave do romance, é apresentada na estrofe treze. Ela era a filha única de um conde que, devido a beleza espetacular da jovem a mantinha escondida em um quarto do sobrado onde residia na Grécia, só permitindo a sua aparição pública na janela, uma vez por ano, por apenas uma hora.

O outro protagonista do romance que desempenhou papel relevante é o engenheiro Edmundo, inventor do Pavão Misterioso, um aeroplano híbrido de pequena dimensão, movido a motor elétrico e a gasolina: “Tinha a cauda como leque, / As asas como um pavão/ Pescoço, cabeça e bico, / Alavanca, chave e botão. / Voava igual ao vento/Para qualquer direção.”.

Foi com esse invento em formato de pavão, concebido pelo gênio criativo do engenheiro Edmundo, que Evangelista raptou Creuza e com ela casou na Turquia.

Sobre a autoria de “O Pavão Misterioso” há controvérsia. Pelas minhas mãos já passaram dois exemplares: um cuja autoria é atribuída a João Melchíades da Silva, e outro, lançado pela Luzeiro Editora, no qual a autoria é atribuída a José Camelo de Melo Rezende, destacado no acróstico da estrofe final como JOSECAMELO: “Justiça, só a de Deus, / O juiz que já não erra/ Senhor que, do Céu pra Terra/ Estende os poderes seus!/ Como somos pigmeus,/ A Ele não enxergamos, / Mas, contudo, precisamos/ Enaltecer Sua luz/ Lembrados que, com Jesus, / O Satanás afastamos! ”.

Neste sentido, de acordo com Átila Almeida e José Alves Sobrinho, autores do Dicionário Biobibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada, o verdadeiro autor de “O Pavão Misterioso” seria mesmo José Camelo de Melo Rezende.

De fato, o problema da veracidade da autoria dos folhetos é antigo. Nos primórdios, quase sempre os autores vendiam os direitos de publicação de suas obras a outros poetas e editores que, por sua vez, passavam a assumir a autoria.

A este respeito, Leandro Gomes de Barros (1865-1918), criador do folheto impresso, preocupado com os direitos autorais, publicou o seguinte texto: “Com o fim de evitar os abusos constantes, resolvi d’ora em diante estampar em todas as minhas obras o meu retrato em um clichê, sem lugar determinado”.

Oportuno ressaltar que, além de “O Pavão Misterioso”, José Camelo foi autor de vários romances que se tornaram conhecidos, dentre eles: “Pedrinho e Julinha”; “História do Bom Pai e o Mau Filho ou Juvenal e Lilia”; “Coco-Verde e Melancia”; “Entre o Amor e a Espada”; e “Encontro de Dois Poetas: José Camelo de Melo com Manoel Camilo dos Santos”.


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fonte: https://paraibaonline.com.br/blogs-e-colunas/o-pavao-misterioso/

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