Certa vez, em sua página na internet, o competente colunista Sebastião Nery, que muito bem conhece a memória folclórica da história política nacional, escreveu assim sobre Bosco Barreto: “Rio - Às 20 horas de 13 de dezembro de 1968, em Recife, no auditório da Universidade Católica, o estudante de Direito Bosco Barreto (João Bosco Braga Barreto), paraibano, orador da turma, começava o discurso de formatura fazendo comovida e entusiástica saudação ao “grande comandante revolucionário Ernesto Che Guevara”, que morrera um ano antes”.
E segue o colunista narrando os desdobramentos do discurso de Bosco: “Muito azar. Naquele exato momento, em todas as rádios e TVs, Costa e Silva apavorava o país, lançando o AI-5 (Ato Institucional nº 5), jogando a nação no mais fundo porão da ditadura. De manhã cedo, o Exército mandou buscar em casa “o Bosco da PUC”. Erraram de Bosco. Em vez do Bosco Barreto, o orador da turma de Direito, levaram o Bosco Tenório, também “Bosco da PUC”, aluno da PUC, jovem vereador recém-eleito de Recife”.
Segundo conta Sebastião Nery, Bosco Tenório foi recebido, no quartel, pelo major Raimundo Sá Peixoto, que com o discurso feito por Bosco Barreto na mão, lia uma frase e em seguida interrogava o outro Bosco: “- Senhor Bosco, o senhor confirma este elogio desbragado a Che Guevara que o senhor fez ontem no seu discurso?” Respondeu Bosco Tenório ao major “- Não confirmo não, major”. “- Como não confirma?” indaga o major Raimundo Sá Peixoto. E segue o interrogatório: “- O senhor está louco? O senhor falou ontem à noite e hoje de manhã já não confirma? E este trecho aqui, o senhor confirma?”.
Segundo Nery, o major Peixoto leu mais um longo pedaço do discurso e perguntou: “- E isso, confirma ou não confirma? Não sustenta o que disse ontem? Acuado e sem ter como convencer o interrogante, Bosco Tenório responde: “- Major, eu até concordo com o discurso que o senhor está lendo. Mas não confirmo nem sustento, porque não fui eu que disse isso. Quem falou foi o orador da formatura. Como é que eu podia ser orador de formatura, se não me formei e ainda sou estudante? Esse Bosco aí é outro Bosco, major.” E assim termina Sebastião Nery: “O major quase esganou o Bosco número 2”.