sábado, 12 de outubro de 2024

A INVOLUÇÃO CULTURAL

por Rui Leitão

Armorial Ilariave. Arte Cleudimar Ferreira

O processo de involução cultural na sociedade brasileira tem avançado aceleradamente nos anos recentes. Estamos “glamourizando” a pobreza intelectual e valorizando a alienação, a falta de educação e o negacionismo. Não há mais a compreensão de que a cultura é passaporte para a emancipação de um povo. Não se estimula o encontro com a inteligência criativa. É perceptível o interesse em que percamos a consciência de nossa potencialidade. Só há um caminho para a construção de uma nação, o compromisso do Estado com a educação e a cultura. Lamentavelmente são explícitas as manifestações que demonstram falta de entusiasmo com as políticas culturais.

Estamos ingressando na “era da burrice”. Preponderam as discussões inúteis, agressivas, desprovidas de conteúdo lógico. Mas o exemplo, infelizmente, vem de cima, ao vermos lideranças se orgulhando de produzirem asneiras e recebendo o aplauso e a repetição de suas falas por um público que faz opção pelo fanatismo político. Neurônios acomodados não contribuem para aumentar a nossa capacidade cognitiva. Mas é exatamente essa a estratégia que se pretende aplicar, conduzindo-nos a destinos desastrosos.

Já não causam escândalos ou perplexidades, declarações públicas de figuras proeminentes da nossa vida social, com significados preconceituosos, sexistas, homofóbicos, machistas, anticientíficos. Os ultrarreacionários vêm ganhando espaço na grande mídia, num esforço de convencimento de suas teses perante a opinião pública. A apologia da estupidez feita sem o menor constrangimento. A burrice querendo ganhar status de sabedoria. Os que desprezam a cultura têm fé em si mesmos, são ousados e militantes., mesmo que se apresentem muitas vezes com posturas que desconhecem o senso do ridículo.

A ignorância quando se encastela numa só ideia, procura usufruir de suas próprias certezas. A fome do “regressismo” é incentivada pelos poderosos de plantão. A pregação populista da marcha à ré. Luther King dizia que “nada no mundo é mais perigoso do que a ignorância”. Na base da prepotência e da desinformação adotam técnicas de manipulação de audiências massivas, com o propósito de alcançarem seus objetivos políticos. Uma guerra onde se propõe colocar a verdade como vítima.

Razão e consciência não convivem com a involução cultural. Os promotores desse processo são especialistas em propagandear soluções fáceis para problemas complexos. Até porque não se dão ao trabalho de debater argumentos ou conceitos racionais. Desprezam os fatos para se pautarem em crenças. Aí temos que considerar que querem dar praticidade ao que diria o Rei Lear: “são cegos guiados por loucos rumo ao abismo”.

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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

DE ÁRVORES E AMIZADES

por: João Batista de Brito

Pedra da Boca-PB, foto (acervo) Cleudimar Ferreira

Já escrevi sobre ela, e não me canso de fazê-lo. Fica ali nas areias de Manaíra, perto da calçada, de modo que, sentado na muradinha, ela parcialmente me serve de teto. Um segundo teto, posso dizer. Fica naquele trecho onde a rua Eutiquiano Barreto deságua na avenida da praia. Não tem erro.

Debaixo da castanhola de Manaíra me acomodo, toda tardinha, naquele horário em que o sol, lá por trás dos prédios, se esconde. Quem quiser me encontrar, pra um papinho leve, estou ali, inteiramente disponível.

E tenho encontrado muita gente, amigos e amigas, que passam e param pra um alô. E também pessoas que não conheço e que apreciam o recanto.

Ontem mesmo foi assim. Estava sentado na murada, apreciando a paisagem, quando vi chegar uma jovem senhora com sua cadeirinha de praia. Achei que, como muitos fazem, fosse sentar lá longe, à beira das ondas, mas não: abriu sua cadeirinha bem debaixo da castanhola e foi se acomodando. Olhou pra trás, viu que estava me dando as costas, e corrigiu sua posição: puxou a cadeira até onde eu estava, e, rindo, muito simpática, foi logo dizendo que amava aquela castanhola, e sempre que podia, sentava ali.

Admirado de encontrar uma parceira sentimental, fui falando da minha queda pela castanhola, e dela ouvi a mesma história: que adorava aquela árvore, que sempre a frequentava, e que tinha dezenas de fotos dela. Como prova, sacou o celular e foi logo me mostrando as fotos. E fiz o mesmo. Quando sugeri que seríamos, então, “rivais”, ela se apressou em apaziguar: “somos amigos da castanhola”.

Conversamos até quase o anoitecer, quase sempre sobre a castanhola, ambos admirados de como, neste final de inverno/começo de primavera, ela perde todas as folhas, e renasce como uma fênix. As folhas mortas e amarelecidas ainda no chão, e dos galhos já vão brotando novas folhas, verdinhas e brilhantes. O papo nos estimulou a fazer registros fotográficos, que não veículo por não ter autorização dessa minha nova amiga, cujo nome mal aprendi.

E, como o meu leitor talvez lembre, essa moça simpática de ontem não foi a única amizade que a castanhola me deu. Até jovens leitoras de Proust já descobri debaixo de suas folhas, amarelecidas ou verdes.

Um que numa certa ocasião me intrigou foi um morador local, que, ao me ver feliz da vida sob a castanhola, me contou uma história perturbadora, ocorrida ali, no tempo da pandemia. Residindo num edifício próximo, viu-se incomodado por moradores de rua que se abrigavam justamente debaixo da castanhola. Segundo o meu amigo, famílias inteiras passavam a noite toda ali, e mais uma parte do dia, e, comendo, bebendo e fazendo suas necessidades fisiológicas, deixavam o local uma imundície só, sem que as autoridades tomassem providências.

Pois um dia em que esses “moradores” da castanhola estavam eventualmente ausentes, meu amigo foi em casa, armou-se de um machado afiado e se dirigiu à castanhola, decidido a derrubá-la pelo tronco, achando que estava prestando um grande serviço à vizinhança e a ele mesmo.

De machado na mão, preparou-se para o primeiro golpe, e aí, sem explicação, foi tomado por um sentimento de culpa avassalador que o fez baixar os punhos... e simplesmente desistir da tarefa. Voltou pra casa acabrunhado e aguentou a sujeira dos seus vizinhos até a pandemia passar.

Ao terminar de me contar o seu relato, não resisti e lhe joguei na cara, não sei se uma acusação ou um elogio: “Você é um Raskolnikov que não usou o machado!” Tampouco sei se ele conhecia Dostoievski, mas achou a minha frase bonita, e nos apertamos as mãos, comovidos.

A minha castanhola não é a única em Manaíra, nem na orla pessoense. Mas é a que me cativou o espírito, quase tanto quanto a frondosa árvore que sombreia o jardim de minha modesta residência, e que chamo cinematograficamente de “a árvore da vida”. Mas essa é outra história...

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segunda-feira, 30 de setembro de 2024

FACHADAS DE SOLIDÃO

por Francc Neto. 
POETA, FILÓSOFO, DESIGN E ARTISTA PLÁSTICO

Foto tirada da internet: Crédito: Adobe Cultura Shock

Caminhar. Sempre a pé. Nas cidades grandes, onde o concreto se expande e a alma encolhe, eu busco aquilo que a velocidade dos carros não permite ver. Ruas esquecidas, avenidas longas, becos sem saída onde o tempo parece adormecido. Como se eu estivesse pintando com os olhos, encontro na melancolia das fachadas algo que só a cidade em silêncio pode oferecer.

São Paulo, 87. Eu vagava pelas ruas, como quem busca fragmentos de uma história esquecida. A sensação de abandono não me traz tristeza, mas uma alegria quase tímida, ao ver o que o tempo deixa para trás. A cidade é minha tela, e a fotografia, um ato pictórico. O clique não é pesado, não carrega o peso da realidade que se esvai. Ao contrário, é leve, quase flutuante, como um sopro silencioso que eterniza a beleza do que é deixado de lado.

Entre paredes manchadas e janelas sem alma, encontro a poesia do vazio. Como no filme Paris, Texas, é uma cidade grande, mas não há ninguém por perto. Nem uma alma, nem um som. Mas para mim, é exatamente ali, na ausência, que encontro a verdadeira presença. O abandono também é um ato de criação, uma felicidade quieta, escondida na textura de uma parede envelhecida.

Cada passo é uma pincelada no invisível. E cada foto é um traço, um fragmento de poesia que não se explica, apenas existe, por si só, como um eco perdido no tempo.

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domingo, 29 de setembro de 2024

Pax, Apollo XI e Éden: era uma vez uma cidade com três cinemas

por Lenilson Oliveira 
FONTE CZ. POSTAGEM PUBLICADA EM 24 DE JULHO DE 2024 
 

Antiga instalação do Cine Éden, hoje, o local é um supermercado. Foto: Bosco Pinto

Quem hoje tem 30 e poucos anos, talvez nem saiba que Cajazeiras já teve três salas de cinema, que disputavam a preferência dos que não tinham outro programa cultural, sobretudo nos fins de semana.

Os cines Pax e Apollo XI, da Diocese de Cajazeiras, e o Éden, privado, eram as atrações da cidade, trazendo para a terra do Padre Rolim, as “fitas” de Tarzan, o mais famoso da época, e de outros heróis menores, os faroestes de Django e companhia, os melodramas de “Marcelino Pão e Vinho”, “Christiane F., Drogada e Prostituída” e afins, as comédias de “Os Trapalhões”, sem esquecer as pornochanchadas nacionais e os filmes de sexo explícito de Cicciolina e outras beldades que enfeitavam os cartazes do Cine Éden na Praça João Pessoa. Mas o que mais tocava os cajazeirenses era “A Paixão de Cristo”, certeza de casas cheias na Semana Santa.

Tudo isso ficou apenas na memória dos que viveram esse tempo áureo da sétima arte na “terra da cultura”, já que os três cinemas sucumbiram ante a falta de sensibilidade de uma cidade que pouco se importa com perdas tão significativas para a arte, a cultura e o lazer de seu povo.

A história do cinema em Cajazeiras remonta, entretanto, há anos muito antes das suas três grandes salas, quando abnegados improvisavam pequenos projetores e atraiam a meninada.

O desaparecimento dos cinemas em Cajazeiras deixou um vazio que precisa ser preenchido, muito mais agora que a cidade está num crescente desenvolvimento em todos os aspectos. Se não nos mesmos lugares - já que somente o prédio do Cine Pax foi preservado -, em outros espaços.

O Cineteatro Apollo XI, imponente, teve sua estrutura comprometida desde o episódio da bomba, nos anos plenos da Ditadura Militar, terminando por ser desativado e reformado, ao passo que o Cine Éden, no então coração da cidade, a Praça João Pessoa, deixou de vender magia e ilusões para vender arroz e farinha.

Talvez, esta fosse a hora de se pensar no resgate de, pelo menos, uma sala de cinema para uma cidade que já tem inúmeros trabalhos registrados na sétima arte, seja com cajazeirenses no elenco, na direção ou na produção.

Sonhar é preciso.

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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O Festival Regional da Canção no Sertão e as lembranças de Luizinho Barbosa

 por Cleudimar Ferreira

O Festival Regional da Canção no Sertão, que era realizado em Cajazeiras, com maior regularidade, nos idos anos 70 e 80, foi um evento musical que atraia para nossa cidade jovens músicos-compositores de todo interior do Nordeste, representados pela suprema participação dos vizinhos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. Um festival que já tinha se popularizado; por força da sua trajetória, havia se tornado em um acontecimento fundamental, imprescindível no calendário cultura de Cajazeiras.  

Mas como tudo nessa vida é efêmero e, quando se trata de um acontecimento cultural, mais passageiro acaba sendo, já que cultura nunca foi para as instituições públicas, o prato principal da mesa do povo; o festival aos poucos foi apagando a sua luz e, hoje sua existência, se resume as poucas lembranças registradas na memória dos que de certa forma, estiveram envolvidos com a euforia que o esse encontro musical proporcionava a todos.

Infelizmente, uma pena para todos nós, amantes da cultura e da arte. Para cidade de Cajazeiras, uma perca irreparável; inconcebível, quando abrimos as nossas bocas e cheias de orgulho dizemos que Cajazeiras é a terra da cultura. De fato, ainda é! Mas aos poucos, as suas mais autênticas manifestações culturais, protagonizadas por seguidos eventos artísticos como foi o festival da canção, estão caminhando para supressão.

Uma ironia! Logo agora que temos em moda todo tipo de incentivo à produção cultural. É lei essa, é lei dessa, daquela, daquilo e, diferente do que foi no passado, que não tínhamos nada; desse nada tirávamos toda a energia e força necessária para realizar grandes projetos, como por exemplo, Festival de Teatro Rápido; Sertanejo de Artes Cênicas; Festival de Poesia de Cajazeiras; Salão Oficial da Arte Contemporânea do Sertão e o destacado de todos, o nosso inesquecível Festival da Canção, que foi referência para a Paraíba e o resto do Nordeste.

Portanto, nada desses eventos temos mais. O certo é, que o nosso festival de música ficou e, parece que não voltará jamais, pois o contexto em que vivemos, apresenta um cenário desfavorável a sua submersão e, mesmo que volte, o ambiente presente desqualificará as suas cores e trará outro brilho, já que a musicalidade do tempo em que vivemos, os ritmos em moda com seus aparatos eletrônicos, não abriria espaços para o romantismo questionador e poético que tanto enriqueceu a produção musical dos anos 60, 70 e 80.

Com tudo, o que restou e ficou do Festival Regional da Canção no Sertão, se resumo em sonhos, lembranças, saudades e experiências vividas, como essa contada em carta aos integrantes do Núcleo de Extensão Cultural de Cajazeiras (NEC), por Luizinho Barbosa, cantor, músico, compositor e ativista cultural de Pombal, que sempre era umas das cadeiras cativas do festival.


CARTA - CONVITE A CAJAZEIRAS
SHOW MUSICAL
LUIZINHO BARBOSA - PRIMAZIA
DIA 21 DE JUNHO DE 2012, 21:00H, NÚCLEO DE EXTENSÃO CULTURAL UFCG - CAMPUS V - CAJAZEIRAS - PB.

Caríssimos Companheiros,

No ano de 1979 tive a oportunidade de participar da Caravana Piollin, nas cidades de Pombal, Sousa e Cajazeiras; neste período acontecia a Semana Universitária, promovida pela Associação Universitária de Cajazeiras (AUC). Na oportunidade consegui fazer a minha inscrição no Festival de Música o que muito significou para a minha vida artística. Naquele momento, interpretei a música “Viola Serena Voz”, ao lado de Fuba (violão) e Teinha Formiga (Clarinete), sendo o apresentador, Zeilto Trajano.

O referido Festival foi bastante concorrido, com a participação de nomes influentes na região, a exemplo de Otacílio Trajano, Luís Alves, Joaquim Alencar, Grupo Ferradura (Catolé do Rocha), Raízes Novas (Sousa), o Grupo Nó - Cego (Pombal) e Circuito Universitário (Pombal). Classificado para a final daquele evento; na manhã seguinte fui comemorar com os meninos e amigos da Rua Higino Pires Rolim e, logo uma boa notícia foi veiculada em uma das rádios de Cajazeiras, a divulgação dos aprovados no vestibular.

Ouvimos o resultado em um radinho de pilha na residência de Eliezer a citação do meu nome para o curso de letras, gerou muita alegria, a vibração dos meninos do Grupo de Teatro Terra, formado por Eliezer, Marcélia Cartaxo, Naldinho, Nanego, Lincoln, Pitoco, Doda, Suely, entre outros e outras, movimentou aquela Rua que hoje guardo bem dentro do coração. Assim, começou o meu vínculo artístico e educacional com a cidade de Cajazeiras, que muito admiro e tenho carinho pelo ciclo de amizade e companheirismo.

Na sequência das minhas ações, participei de muitos outros Festivais na terra de Pe. Rolim; já universitário e fundador do RCT de Pombal, plantei a primeira semente, quando me dirigi ao Rotary de Cajazeiras e propus a fundação do Rotaract de Cajazeiras.

Caríssimos companheiros e amigos, no próximo dia 21 de junho, às 21:00 horas estaremos juntos no Teatro do NEC para o meu show musical denominado Luizinho Barbosa - Primazia e lançamento do CD. Confiante na importância do meu reencontro artístico com a cidade que proporcionou grandes momentos para a minha carreira profissional, antecipo os meus sinceros agradecimentos, contando com a presença dos artistas, amigos e companheiros.

Rotarianamente, até mais e um abraço a todos.

Luizinho Barbosa

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imagens: LUIZINHO BARBOSA (acervo/Facebook) https://www.facebook.com/luiz.barbosaneto.1
destaque: A foto principal que ilustra essa postagem, foi destaque da capa do Compacto Duplo gravado por Luizinho, em 1995.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

CAIXA DE SENTIMENTOS

 por Belarmino Mariano

Imagem meramente ilustrativa retirada da internet (das redes sociais)


Juro que não sei o que dizer, mas sinto que a vida não é um parque temático e, nem sempre temos as escolhas que pensamos ter. Não são culpas, apenas incertezas e inseguranças.

Não sou romântico, sou até meio grosso e insensível, mas amo o amor e, como na montanha Russa, sinto um puta frio na barriga.

Às vezes saltamos no desconhecido mundo dos cristais, enquanto espumas rodopiam no ar. Na beira do precipício, vejo um Canyon profundo e mergulhar é preciso.

A vida não é o que você vê, não são os lugares e nem as coisas com as quais você consegue interagir. São as pessoas e o que você sente nas relações, emoções ou sentimentos. A vida é imprevisível e não estamos no controle de nada.

As palavras não são nada, diante da jornada imprevisível em que tudo se transforma, uma atmosfera invisível e utópica. As palavras escondem verdades, encobrem comportamentos e criam couraças do ser.

As palavras magoam e chateiam a gente. Nossos corpos aprendem com a dor, pois nem tudo é sensação de amor incondicional. Esse é o incrível mundo das incertezas e não vivemos em nenhum outro lugar.

Às vezes a gente até imagina como seria a nossa vida se não fosse como é. A vida é bizarra e estranha, mas é a nossa vida.

Amor e drama, conexões astrais, abstrações e entregas. Paz, calma e parceria de cumplicidades. Às vezes nos sentimos personagens de histórias incríveis, mas nunca realizáveis.

Às vezes nos sentimos em um paraíso perfeito, apenas aproveitando as grandes paisagens paradisíacas como em um sonho perfeito.

Às vezes são emoções demais, em um turbilhão de possibilidades. Neuroses múltiplas, corações mutilados e profundas estranhezas impactadas pela escuridão do fundo do poço.

Padrões em construção, estalos de ondas se quebrando contra os penhascos, lodo e lama se espalham em todas as direções. O fino material do fundo das águas como a pele se desfazendo em camadas invisíveis.

A solidão não é uma coisa sólida, a realidade é uma utopia espetacular, a morte é um momento solitário e único, mas a energia flui constantemente.

A questão é, a realidade parece uma fogueira de pedras, alimentada por troncos e galhos de matéria seca. São nossos maiores medos, o que não se explica, as nossas inseguranças da morte não descobrimos nada.

Não sei se existe uma lei da vida, mas sou apaixonado pelo caos e pela incerteza, por isso gosto de ideias livres e leves, mesmo que a leveza pese, pois a felicidade implica em cumplicidade.

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fonte: Rede Social (Facebook) do autor Belarmino Mariano. https://www.facebook.com/photo?fbid=8731303356881306&set=a.854962007848853

sábado, 3 de agosto de 2024

Hildebrando Assis: A cultura, a arte e o teatro em Cajazeiras.

por Cleudimar Ferreira

Retrato de Hildebrando Assis. Arte Cleudimar Ferreira


O fazer teatral em Cajazeiras, tem dado o que falar depois da efêmera e transitória ascensão da atividade amadora para o profissionalismo. Isso não é fake, mas um fato que vem ocorrendo com o tempo e com os últimos impulsos positivos dessa atividade em nossa cidade, o qual projetou partes de seus atores para o estrelato nacional. Porém, é imperativo lembrar, que a latente pulsação provocativa desse bom momento, sempre foi uma constante nos seus segmentos artísticos, sejam eles com visibilidade no presente ou passado.
 
Por conta disso, a cidade viu surgir nomes que a partir dos seus esforços, se transformaram em verdadeiras emblemas representativas da arte cajazeirense. Faça-se em que atividade artística fosse, esses nomes estiveram à frente, desenvolvendo suas práticas sensitivas ligadas as artes, principalmente a de maior popularidade e volume produtivo, a linguagem cênica.
 
O gosto do nosso povo por cultura; a sensibilidade que trazemos por convicção; a atração que provocamos naqueles que nos visitam e, por afinidade, ficaram em nosso espaço de convivência, tem transformado Cajazeiras num celeiro cultural, com destaque na produção artística e suas linguagens, com ênfase as artes cênicas e seus múltiplos gêneros.
 
Nessa afeição atemporal, evidenciaram em momentos remotos, nomes históricos como os de Íracles Brocos Pires, Lacy Nogueira, Eliezer Rolim e Hildebrando Assis. Todos in memoriam, mas que deixaram um legado de positividade, ao lançarem na dramaturgia cajazeirense, uma transitoriedade que tem se confirmado na passagem do teatro clássico de Hildebrando Assis e Íracles, para o moderno de Ubiratan di Assis ou o contemporâneo de Eliezer Rolim. 

Por esse intervalo, o nome de Hildebrando Assis, embora não muito percussivo, aparece com mais força, e não é uma surpresa. Não apenas pelo modelo de encenação que abraçou e colocou em prática no seu tempo, mas por sua história de envolvimento com as artes e pelo comprometimento com a política cultural em Cajazeiras. 
 
Diz a oralidade cajazeirense e os escritos publicados sobre Hildebrando Assis, que ele veio antes de Íracles Pires e, foi o responsável pela formação do TAC - Teatro de Amadores de Cajazeiras. Diz também as bocas mais remota evolvidas com a prática teatral na cidade, que Hildebrando, passou a marca TAC para Íracles. Que conduziu a direção do movimento cênica no município, numa época - a década de 50, onde tudo era mais difícil nessa área.
 
Provavelmente os costumes sociais desse tempo eram desfavoráveis a prática teatral. Preconceitos, faltas de espaços e palcos adequados; carência de recursos financeiros e o fator amadorismo, que influenciava bastante no resultado da performance técnico das montagens das peças, se constituía como os principais entraves a produção das artes cênicas.
 
Mesmo não sendo um cajazeirense da gema - mas natural de São José de Piranhas, Hildebrando Assis foi acima de tudo, um defensor obstinado das demandas culturais de Cajazeiras e da região sertaneja paraibana. Sua paixão, especificamente por essa linguagem da arte, o fez se tornar na sua época um dos maiores teatrólogos em evidência, tanto quanto foi Íracles Pires e os que vieram depois, como foi os casos de Geraldo Ludgero, 
Ubiratan di Assis e Tarcísio Siqueira.
 
Nessa seara ele adaptou e escreveu textos, dirigiu e produziu espetáculos e, como ator, protagonizou e atuou com desenvoltura em montagens produzidas pelo TAC. Esse protagonismo o credenciou a se tornar nos anos 60 e 70, em uma das principais vozes da luta em prol da construção de um teatro na cidade. Defendia que as artes cênicas, precisava ter seu espaço próprio, para que os artistas dessa linguagem, não dependesse das cidades circunvizinhas para fazer ou expor suas atividades dramáticas. Uma demanda reivindicada em seguida, nos anos 80, por elencos de grupos isolados, com destaque os grupos Grutac, Terra e Boiada.       
 
Pelo que fez, não é cesurado dizer que Hildebrando foi uma amante da linguagem e dos sinais. Tinha uma vocação por natureza, a de atuar nesse universo das letras e artes. Por essas demandas ele percorreu com inteligência e colheu considerada bagagem intelectual e cultural. Com a construção do Cine Teatro Éden em 1953, viu surgir, mesmo com limitações, a primeira sala para apresentações teatrais 
em Cajazeiras, onde no pequeno e estreito palco desse cinema, apresentou e inaugurou o novo espaço com a peça “O Homem Que Fica” de sua autoria e direção. Para ele, um sonho realizado.  
 
Na sua biografia, consta ainda os feitos de ter sido prefeito de Cajazeiras, deputado estadual na Assembleia Legislativa da Paraíba, diretor do setor de arte da Universidade Federal da Paraíba, diretor de área jurídica da extinta SAELPA e presidente da antiga Fundação Cultural da Paraíba - FUNCEP. Hildebrando Assis, nasceu em 1920 e faleceu em 22 de outubro de 2003.

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