segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Vladimir de Carvalho, Cajazeiras e o espírito da cultura

porJosival Pereira


Cajazeiras fez com Vladimir de Carvalho o que deveria ser regra para o reconhecimento de grandes talentos ou seres humanos excepcionais: a homenagem em vida. Na década de 1970, um bando de jovens ousados e sonhadores fundou o Cine Clube Vladimir de Carvalho, então presidido pelo jornalista Nonato Guedes, com o objetivo de discutir cinema e ser mais trincheira de combate à ditadura militar.

Certa noite, estava na Toca, barzinho na Tenente Sabino montado pelo ator Sávio Rolim e família, numa tentativa de volta às origens, quando apareceu alguém da Fafic (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras) informando que havia dois homens procurando por pessoas do Cine Clube de Vladimir de Carvalho. Fui lá e, para surpresa, era o próprio, acompanhado pelo irmão Walter Carvalho, fotógrafo e posteriormente diretor de cinema.

Vladimir queria conhecer as pessoas que faziam o cine clube com seu nome, mas também fazer tomadas para o documentário O Homem de Areia, que à época tinha o nome provisório de sem me rir, sem chorar.

Naquela noite, Vladimir quis voltar ao Barraco do Teteu, barzinho de madeira sem porta, que não fechava nunca, para onde os boêmios e beberrões de cidade acorriam durante a madrugada para saborear o famoso caldo de mocotó de Joaquim, e cenário usado por ele para filmagens de cenas com violeiros cantando para o País de São Saruê, que estava sob censura e impedido de exibição.

No dia seguinte, Vladimir e Walter captaram imagens de árvores secas, pássaros, agricultores arando a terra e um homem montado a cavalo, vestido de azul, passando distante, representando Zé Américo (O homem de Areia), indo para a cidade Sousa tomar posse no cargo de Promotor de Justiça.

Depois, Vladimir de Carvalho voltou a Cajazeiras, em 2000, a convite do deputado Edme Tavares, para realizar documentário e ministrar seminário por ocasião das comemorações do bicentenário do padre Rolim (Inácio de Souza Rolim), que deu forma e asas à cidade, fundando uma escola na primeira metade do século XIX.

Sempre solícito, consciente do fantástico potencial do interior do Nordeste e especificamente do Sertão da Paraíba, cenário e ambiente cultural de muitos de seus documentários, Vladimir Carvalho propagava, sorrindo, a extraordinária grandeza da humildade.

As entrevistas vieram depois, em João Pessoa, mas nada se compara com aquelas cenas em torno do cine clube e das passagens de Vladimir de Carvalho e outros expoentes da cultura por Cajazeiras, certamente, o que ajudou a dar combustível ao movimento cultural lá do Sertão, que projetou e ainda projeta grandes talentos cajazeirenses para brilho no teatro, cinema nacional e na televisão (Eliezer Rolim, Marcélia Cartaxo, Soia, Nanego, Buda e Bertrand Lira, Tardelli Lima, Suzy Lopes, entre muitos outros nomes), sem deixar de mencionar o nome do professor Lúcio Vilar, que foi presidente do Cine Clube Vladimir de Carvalho e que sustenta anualmente a realização do Fest Aruanda (festival de cinema da Paraíba).

Essa ligação de Cajazeiras com Vladimir de Carvalho e vice-versa não se deu por acaso. Era movida pela força da história e do espírito da cultura. Não se encerrará.

P.S: Vale lembrar que o Cine Clube Vladimir de Carvalho também atraiu para Cajazeiras, para ministração de curso sobre cinema, o grande crítico e professor Jean-Claude Bernardet.


Publicado em 

DEIXE O SEU COMENTÁRIO 





domingo, 22 de dezembro de 2024

CONVERSAS DE CINE ÉDEN: No Natal sempre um grande filme

porCleudimar Ferreira

A única e principal imagem do Cine Éden com letreiro do Cajazeiras Ideal Clube acima.
foto (provavelmente) de autoria de Bosco Pinto


Como conciliar o encantamento do cinema com a mágica noite de Natal. Bom, com relação ao cinema, aparentemente essa união não parece um tanto quanto distante, se não fosse as inúmeras produções sobre a cultura natalina, realizadas pela sétima arte, desde a sua invenção, até os dias atuais com o advento da era digital. Em função disso, é de se pensar que de fato há uma certa convergência entre ambos. Portanto, não resta dúvida que o tema Natal, sempre cativou a imaginação de diretores e produtores, mesmo não sendo uma totalidade. Além do mais, o cinema como um meio de entreternimento, pode ser para uns, uma opção de lazer nessa noite especial.  

No passado, em Cajazeiras, essa aproximação pareceu ser possível e, veio se tornar bastante regular, a partir da iniciativa do proprietário do Cine Teatro Éden, o senhor Carlos Paulino, em manter a tradição de sempre exibir com exclusividade na noite natalina de 24 de dezembro, um grande filme na sua extensiva tela de exibição. "Um grande filme". Intencional ou não, era assim que Paulino se referia a película desse dia e, era dessa forma que o cinema anunciava o filme da noite de Natal. A atitude do dono do Cine Éden, era atrair a maior quantidade de gente; aumentar o fluxo na bilheteria e, evidentemente, promover uma busca lucrativa com essas exibições. Para público, a expectativa em torno dessas exibições, se transformava em uma grande festa no Natal. 

Nesse dia, véspera do nascimento do menino Jesus, a noite na Rua Padre José Tomaz, destacadamente o trecho que corresponde a Praça Coração de Jesus, (antigamente Praça dos Carros) era o point dos transeuntes, cuja maioria, eram pais de famílias com seus filhos pequenos, que circulavam por toda extensão da praça, por entre as inúmeras barracas que no local eram instaladas, estocadas de brinquedos diversificados e atrativos natalinos, que encantava os olhos de todos. Principalmente das crianças ansiosas, agarradas nas pernas das calças dos pais ou puxando a saia das mães; atraídas pelas ofertas de brinquedos, temerosas em se perder dos pais entre esses pontos comerciais e ambulantes persuadidos a vender. 

A iluminação dessa parte da Rua Padre José Tomaz, fora a já existente dos postes, era acrescida também por gambiarras com lâmpadas comuns e coloridas, tornando o espaço mais iluminado e alegre. Dando uma sensação de prazer e cores para todos que passeava pelo trecho. Era assim o único local de divertimento da meninada na noite de Natal em Cajazeiras. Não havia outro lugar na cidade que pudéssemos hermanar nossas felicidades no dia da chegada do menino Jesus, pois no passado, a cultura do tal chester com a ceia em família, nem sonhava existia ainda no Natal das décadas de 60 e 70. 

Para os mais crescidinhos, já desapegados dos pais, o percurso da Praça Coração de Jesus era só uma passagem. Um corredor apertado de gente que empurrava todos e levava acidentalmente até a porta do cinema - o Cine Teatro Éden. A intenção; o interesse dessa pubescência na festa natalina, não era as luzes coloridas, a barulheira dos apitos e cornetas das crianças, nem as músicas natalinas nas difusoras de José Adegildes penduradas nos postes da Praça. Por certo, as cores e as músicas que tocava e ajudava a atraia milhares de pessoas no local, também não era a principal dimensão desses adolescentes. O desejo era ver o grande filme que ia passar no Éden. Costumeiramente, o filme era programado uma semana antes, porém com o merchan disponível pelo cinema de Carlos Paulino, somente às dezessete horas desse dia 24. 

Fora isso, para esse público, o que complementava a tradicional noite de Natal na cidade, era o vai-e-vem das pernas dos mocinhos e das mocinhas, que circulavam ansiosamente da Karlos Center até a esquina da Rua Cel. Matos, esperado o momento para ver o filme do Éden e, depois, a hora de entrar, ou na Boate Chapéu de Couro ou no Cajazeiras Ideal Clube do edifício Ok. Para os menos avançadinho, o filme do Éden já era o bastante. Muitos garotos apaixonados por cinema, sonhava o ano todo com esse dia e com esse momento. Não tenho vergonha de dizer, que eu era um desses. 

As películas exibidas na noite de 24, especial de Natal, quase por unanimidade e aclamação popular, era os filmes do gênero faroeste. Nos natais dos anos sessenta, os grandes filmes exibidos nesses dias, na sua maioria, eram os protagonizados pelos lendários atores John Wayne, Audie Murphy, James Garner e Gary Cooper. Já nos anos setenta, as estrelas dessa categoria de filme, variavam entre Clint Eastwood, Franco Nero, George Hilton, Terence Hill e o ítalo brasileiro Anthony Steffen. Não havia espaço para outra espécie de filme na programação do Éden nesse momento do ano. Era esse o gosto popular que satisfazia a vontade da maioria. 

Esse enredo natalino só era mudado, quando vez por outra, um acordo do Cine Éden com um exibidor independente, provocava um aparecimento de uma veraneio pelas ruas de Cajazeiras, abarrotada de difusoras no seu teto, cartazes e fotografias nas laterais, anunciando no finalzinho da tarde desse dia, um filme surpresa que provavelmente seria melhor do que o programado pela direção do principal cinema da cidade. Mas isso era uma raridade acontecer. Fora isso, era mantido o tradicional presente de Natal do Cine Éden para o público frequentadores da sua sala de exibição.

Certamente, com as circunstâncias do tempo na estrutura urbana da cidade, assim também, na vida social de sua população, vieram as modificações que não permitiram hoje a existência de momentos assim no Natal da cidade. As ações do tempo; as mudanças que ocorreram, não deram espaços para o romantismo dos natais de antigamente. Ou seja, tudo foi passando, ficando para trás, não emergiu mais e hoje não faz parte do brilho natalino de Cajazeiras. Quanto ao Cine Teatro Éden, as icônicas sessões de cinema dessas noites de Natal, ficaram nas lembranças dos seus fiéis frequentadores ou daqueles que aguardavam o ano todo, só para ver aquele, que na cabeça do exibidor Carlos Paulino, era considerado um grande filme.

DEIXE O SEU COMENTÁRIO




AVISO: Esse texto é único e tem registro. Plagiar ou copiar sem breve autorização do autor, poderá acarretar em pedido de reparos perante a lei.

sábado, 21 de dezembro de 2024

Por que Cajazeiras perdeu sua ferrovia?

porAlexandre Costa


Ponte sob Rio do Peixe. Trecho do ramal ligando São João do Rio do Peixe a Cajazeiras. Foto: Cleudimar Ferreira


O ano era 1922, na tarde ensolarada do dia 15 novembro, os cajazeirenses comemoravam exultantes, a chegada do trem na cidade, mesmo depois de ter ficado de fora do traçado original da Rede de Viação Cearense (RVC). A rota original, partindo de Lavras da Mangabeira (CE), prévia contemplar Cajazeiras seguindo para SousaPombal e Patos, mas foi alterada deliberadamente para atender e beneficiar diretamente a cidade de Antenor Navarro, hoje São João do Rio do Peixe, terra natal do então deputado estadual Padre Joaquim Cirilo de Sá.

Os cajazeirenses não tinham muito a comemorar naquele dia, pois, na verdade, tratava-se apenas da inauguração de um ramal ferroviário, no fundo, aquilo era mero cala boca para a cidade e uma tremenda passada de pano do Presidente Epitácio Pessoa no imobilismo e falta de prestígio dos líderes políticos da época, os Coronéis Sabino Rolim, Joaquim Matos e Juvêncio Carneiro que depois de sofrerem uma humilhante rasteira do Padre Sá tiveram que correr atrás do prejuízo.

Ingerências políticas para alterar traçados de ferrovias e rodovias eram práticas recorrentes na época. Padre Cicero priorizou Juazeiro do Norte no traçado principal da ferrovia deixando a cidade de Barbalha assistida com um simples ramal. Idêntico caso aconteceu com Iguatu quando o poderoso líder político e intendente do município coronel Belizário Cícero Alexandrino desrespeitando critérios de viabilidade técnica e econômica conseguiu alterar a rota original da ferrovia Baturité-Icó para Baturité-Iguatu, uma intervenção ousada e determinante que catapultou aquela cidade assumir a hegemonia econômica na região do centro-sul cearense.

Esses e outros fatos semelhantes mostrando os impactos socioeconômicos da implantação de ferrovias no Nordeste são narrados com precisão e riquezas de detalhes no livro, Ferrovias do Ceará de autoria do empresário e professor universitário Rubismar Marques Galvão que pela sua importância tornou-se uma referência e uma fonte segura, para pesquisadores, estudantes e apaixonados pela história das ferrovias no Brasil.

Mesmo assistida com um simples ramal ferroviário, Cajazeiras comemorava com orgulho a sua inclusão na malha ferroviária nordestina vislumbrando que ali estava o passaporte rumo à hegemonia econômica no Alto Sertão da Paraíba. Ledo engano. Depois de 42 anos em operação, o ramal ferroviário São João do Rio Peixe-Cajazeiras foi sumariamente extinto numa canetada do Governo Militar em 04 de junho de 1964 sob alegação de operação deficitária. A partir deste malogrado fato, a cidade passaria a conviver uma máxima perversa que nos ronda até os dias de hoje: Cajazeiras a cidade do “Já teve”.

A reação veio rápida com um manifesto de protesto articulado pelo historiador cajazeirense Otacílio Cartaxo e o vereador Abdiel Rolim. Cartaxo propunha além de reativar o ramal implantar o trecho de Cajazeiras ao entroncamento ferroviário de Serra Talhada (PE), mas os altos custos para implantação desse novo trecho serviram de pretexto para também sepultar a reativação do ramal. Otacílio pode ter sido estratégico, mas não foi tático, esse foi o seu grande erro.

Hoje, há exatos sessenta anos de isolamento ferroviário estamos inertes diante de uma oportunidade única de nos reintegramos na nova malha ferroviária em implantação no Nordeste: a ferrovia Transnordestina. Um megaprojeto com 1750 km de trilhos interligando o Piauí aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE). O Rio Grande do Norte saiu na frente ao anunciar estudos à reativação do antigo trecho ferroviário Mossoró (RN)-Sousa (PB) interligando com a Transnordestina no entroncamento de Missão Velha (CE).

E a Paraíba? Desconheço qualquer projeto ferroviário consistente para interligação com a Transnordestina. Não vejo saída, a Paraíba continua condenada a permanecer literalmente fora dos trilhos.

DEIXE O SEU COMENTÁRIO




Postagem publicada em 06/04/2024, no portal Diário do Sertão / https://www.diariodosertao.com.br/coluna/por-que-cajazeiras-perdeu-sua-ferrovia

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

SOBRE O SENTIDO DE ESTARMOS AQUI

porFrancc Neto




O sentido de estarmos aqui é uma questão que escapa a qualquer resposta definitiva. "Aqui" não é apenas um lugar; é uma condição. É o fato de sermos lançados ao mundo, existindo no tempo e no espaço, atravessando experiências compartilhadas e individuais. É o estar no mundo junto com o outro, com a natureza, com o desconhecido. Viver é construir sentido, mesmo que esse sentido seja transitório e frágil, algo que criamos no encontro entre as perguntas e os gestos do cotidiano.

Para mim, aniversariar, seja no dia do nascimento ou no renascimento, é um momento de profundo significado. Hoje completo 64 anos, mas considero o dia 22 de janeiro tão significativo quanto: a data em que recebi um transplante de fígado, substituindo um órgão tomado por um tumor. Foi ali que ganhei uma nova oportunidade, um novo signo para minha existência. Não que eu tenha mudado meu olhar de maneira absoluta, mas ele passou a brilhar um pouco mais, estimulado pela gratidão de continuar.

Esse brilho não vem de otimismo ou pessimismo; é algo mais complexo. Como o niilismo ativo de Nietzsche, não vejo a vida como desprovida de sentido, mas como um espaço aberto para construí-lo. Nesse espaço, há temperança, resiliência e a consciência de que dar sentido é uma tarefa contínua. Se não damos sentido, como fica a vida? O mundo, afinal, está cheio de significados ocultos, desde as pedras que sentem e constroem suas histórias até as formigas, que me fazem refletir sobre como repousam em meio a uma vida organizada e frenética.

Deus, para mim, é a soma de todas essas possibilidades. Está no humano, na natureza, na capacidade de criar e recriar significados. Não espero um retorno de Cristo porque, para mim, Ele nunca partiu. Sua presença está em cada ato de enfrentamento, em cada oportunidade de viver e dar sentido.

No fundo, viver é um movimento. Não há um destino fixo, mas um processo. Como as pedras que resistem ao tempo, como as formigas que constroem juntas, como nós, que buscamos encontrar pausas e equilíbrio na nossa incessante busca por sentido.

E talvez o sentido maior esteja na consciência da nossa própria transitoriedade. Comemorar o transplante, para mim, é celebrar a vida que insiste em acontecer, mesmo diante da adversidade. É lembrar que viver é estar aqui, agora, partilhando, perguntando, construindo histórias, deixando marcas.

Estar aqui é, em última instância, um ato de coragem. É a disposição de olhar para o horizonte sem respostas definitivas, mas com esperança. É aceitar que o sentido não nos é dado; é algo que criamos, juntos, no ato de existir.




domingo, 1 de dezembro de 2024

Os Perigos de Nyoka

porFrutuoso Chaves

A atriz Frances Grifford, em 'Jungle Gril' (Garota da Selva). Seriado de 1941


O menino que eu fui aguardava com certa ansiedade as noites do sábado, no Pilar da minha infância. Às 20 horas, em ponto, Seu Zé Ribeiro mandava o ajudante Jiló apagar umas poucas lâmpadas do Mercado Público, onde, momentos antes, as famílias locais haviam arrumado cadeiras domésticas para mais uma sessão de cinema.

O Cine Ideal, que ele faria tijolo por tijolo, cadeira por cadeira, ainda não havia sido construído. Na área do Mercado reservada ao comércio de cereais e farinha (o que ajudava na brancura da tela pregada a uma das paredes) quem não levava cadeira de casa arranjava-se com as bancas da feira mesmo.

Ambiente escuro, a sessão iniciava-se com a projeção de alguns desenhos animados, com trailers de atrações futuras e com o futebol do Canal 100, hora de gritos e aplausos em todas os cinemas do País e, assim também, no espaço acanhado de Pilar. Isso, apesar do enorme atraso na exibição dos jogos.

Antes da projeção do filme principal, a sessão era interrompida e Jiló tratava de reacender as lâmpadas enquanto Seu Zé fazia a primeira troca de rolos na velha máquina de 35 milímetros. Havia quem não gostasse da interrupção. Uma ou outra vaia, porém, podia ser punida com a expulsão do recinto e a devolução do dinheiro empenhado no ingresso. Mais do que o olho de lince do saudoso cinemeiro, capaz de identificar as molecagens de Sapé e Paulo Barbosa onde quer que sentassem, era o medo de perder o seriado aquilo que fazia os mais impacientes aguentarem as três seguidas trocas de rolos do filme do dia.

Depois disso, estava armado o palco para a atração que levava a meninada do meu tempo ao cinema improvisado de Seu Zé: “Os Perigos de Nyoka”, o seriado que iríamos comentar até o capítulo novo do sábado seguinte.

Ah, quantas noites de sono a bela Nyoka não nos fez perder. E, para piorar, naquela fase de crescimento em que a visão de um belo par de pernas não costumava trazer bons pensamentos. O da moça, visto de determinados ângulos, superava a sua bravura.

Ficar em episódio passou a definir qualquer situação de risco vivida pelos da minha geração: a perspectiva da nota ruim na escola, a da arenga dos pais, ou a do temido fora da menina a quem se pretendesse namorar. Ao contrário de Nyoka, que escapava de qualquer perigo, nem sempre conseguíamos vencer uma ou outra encrenca em que nos metêssemos.

Mas, sem maiores problemas, a vida fluía de sábado em sábado. Às quartas-feiras, Seu Zé apanhava, manhã cedo, o trem da Great Western para o Recife de onde voltava à noite com as fitas alugadas da Metro ou de outras companhias distribuidoras. Ele escondia a sete chaves os títulos da semana (um para o sábado e outro para o domingo), até a exibição dos cartazes em postes e pés de fícus da cidade.

Dona Sílvia, a professora, torcia pelos filmes românticos que os mais novos detestavam. Queríamos mesmo eram os sopapos de Durango Kid, Roy Rogers, ou do Zorro. Não aquele de capa e espada, mas o de dois revólveres com seu cavalo e seu companheiro, o índio Tonto.

De uma coisa todos tínhamos certeza: Nyoka, em mais um de seus capítulos, seria a cereja do bolo. Depois dela, tudo terminava.

A série foi um sucesso mundial lançado em 1942 pela Republic Pictures, de William Witney, anos antes de que eu viesse ao mundo. Kay Aldridge encarnava a personagem inspirada no romance “Jungle Girl”, de Edgard Rice Burroughs. Era, portanto, uma Tarzan de saia. E que saia...

O seriado que eu vi desenrolou-se em 15 capítulos semanais com duração total próxima dos 300 minutos. Sua realização ocorreu de junho de 1942 até abril de 1952. Que saudade.


DEIXE O SEU COMENTÁRIO




sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Foi divulgada a programação oficial dos 40 anos do Teatro Ica.

 


Foi divulgada hoje (29/11) pela comissão organizado do Ica 40 anos, a programação oficial com datas e horários das apresentações culturais que ocorrerão no palco do Teatro Ica. Outras informações importantes sobre o evento também foram divulgadas. Como por exemplo, a entrada será franca para os dias 19, 20, 21, 22, 23 e 26. Ficando os ingressos a disposição do público em geral, que poderão adquiri-los diretamente na bilheteria do teatro, na semana do evento.

As atrações que ocorrerão nos dias 24 e 25; as entradas serão pagas, podendo os interessados, comprar os ingressos a partir do dia 10 de dezembro na bilheteria do Teatro Ica, nos valores de: Promocional, R$ 30 (100und); Inteira, R$ 40 (88und) e Meia, R$ 20 (90und). Para maiores informações, entre em contato com o WhatsApp 83 99105-2988.

Será oferecida uma Oficina de Teatro, com capacidade máxima de 278 lugares, exclusiva para artistas de todos os segmentos. Para ter acesso a oficina, basta os interessados retirar ingressos durante os dias da realização do evento, que acontecerá na penúltima semana do mês de janeiro 2025, ou seja, entre os dias 19 e 26.  

VEJA ABAIXO A PROGRAMAÇÃO COMPLETA


DEIXE O SEU COMENTÁRIO





quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Vem aí os 40 anos do Teatro Ica.



O Governo do Estado da Paraíba, preparou para janeiro do próximo ano, uma programação especial que vai marcar a data de aniversário de 40 anos do Teatro Ica - Teatro Iracles Brocos Pires. O evento cultural, comemorativo, trará a Cajazeiras, grandes shows musicais e poéticos, com figuras expressivas da música, da poesia e da cultura paraibana, nordestina e nacional.

Na rentrée de 2025, se apresentarão no palco do Ica, nomes como: Flávio Leandro, Jessier Quirino, Jackson Antunes e Seu Pereira. Ainda não se sabe as datas exatas com dias e horas desses shows, nem em que dia inicial do mês de janeiro, que começará as atrações que estão sendo divulgadas na internet, pelos órgãos de cultura do governo do estado. Vamos aguardar.

O Teatro Ica, foi fruto de uma reivindicação antiga, incansável, para sua construção, abraçada a décadas pela classe artística de Cajazeiras, que só veio se concretizar no ano de 1985, 26 de janeiro, no governo de Wilson Leite Braga. O Ica foi o primeiro teatro construído no sertão e continua sendo até hoje, o principal espaço de divulgação da arte e da cultura sertaneja do interior paraibano, principalmente a das artes cênicas.

porCleudimar Ferreira 



DEIXE O SEU COMENTÁRIO