O Professor e Historiador José Antônio de Albuquerque em um artigo para
o site "Diário do Sertão" publicado em 27/jul./2014, detalha com
retalhos de saudosismo, a sua relação com Ariano Suassuna e a primeira visita do escritor paraibano a Cajazeiras em
1969. Nessa mesma década, o Grupo de Teatro Amador de Cajazeiras (TAC), sob a
direção de Íracles Pires (Ica), montava a Peça “O Auto da Compadecida”.
Ariano Suassuna e Cajazeiras
José Antônio de Albuquerque
Tive o privilégio de conhecer o escritor e poeta paraibano Ariano
Suassuna, em 1968, em Recife, quando fui seu aluno num curso de extensão
cultural, realizado pelo Curso de História da Universidade Católica de
Pernambuco. Foi paixão à primeira vista e desde então fiquei com a liberdade de
frequentar o seu escritório de trabalho e o vi escrevendo o romance a Pedra do
Reino e também fui por algumas vezes à sua residência para conversar sobre
cultura e como a comida da pensão não era lá muito boa, sempre aproveitava a
mesa farta de dona Zélia.
Acompanhei suas ações em favor da cultura brasileira, principalmente o
Movimento Armorial, lançado no Recife, quando assisti, em 18 de outubro de
1970, o concerto “Três Séculos de Música Nordestina - do Barroco ao Armorial”,
com uma exposição de gravura, pintura e escultura e o que mais me empolgava era
o setor musical. Quando tinha conhecimento que ia dar uma palestra/conferência,
lá estava eu sentado na primeira fila.
Consegui trazer Ariano Suassuna a Cajazeiras, no ano de 1969, para
proferir uma palestra num evento cultural realizado pela Associação dos
Universitários de Cajazeiras (AUC) e o auditório do fórum, que era no primeiro
andar da prefeitura, ficou completamente lotado e como sempre deu um verdadeiro
show, explicando como se inspirou para criar os personagens do seu livro “O
Auto da Compadecida”.
Em Cajazeiras, passamos quase todo o dia percorrendo as ruas da cidade e
me lembro de que ao passar em frente onde funcionou a prefeitura de Cajazeiras,
até o ano de 1954, na Rua Padre Rolim, se encantou com a arquitetura do prédio
e sinalizou: “aqui deveria ser instalado o Museu do Couro”. Vale lembrar que no
frontispício do prédio tinha o símbolo da República, construído em alto relevo,
que teria levado meses para ser concluído, que o tornava mais bonito ainda.
Este monumento histórico de nossa arquitetura foi destruído para dar lugar a
uma empresa telefônica que se instalou em nossa cidade e é hoje onde funciona o
IPEP. Outra casa que o deixou impressionado foi onde hoje funciona a casa de
peças de Assis, em frente a rodoviária velha, que tinha o estilo de um casarão
de fazenda, hoje também completamente reformada.
Ariano, por onde andava, procurava indicar caminhos para a divulgação e
preservação das nossas tradições e não o foi diferente com relação a nossa
cidade, quando nos sugeriu a criação de um “Museu do Couro” e quem sabe num
futuro não tão distante esta sugestão venha a se tornar uma realidade?
No dia seguinte da palestra levei-o, como ele havia nos pedido, à
Fazenda Acauã, relicário de suas memórias e que havia pertencido a sua família
e que sua mãe foi obrigada a vendê-la depois da morte de seu pai no Rio de
Janeiro. E me lembro de que fomos numa camioneta de meu pai e na hora de
embarcarmos nos deparamos com Ariano subindo na carroceria para viajar. Foi
muito engraçado e até difícil para convencê-lo de ir na “boleia”.
Em 1981, retornando ao Recife, fui seu aluno no Mestrado de História, da
Universidade Federal de Pernambuco, onde lecionava a disciplina Cultura
Brasileira, uma vez por semana, durante toda uma tarde. Nenhum aluno perdia
suas aulas. Encantavam-me a sua sabedoria, senso de humor, simplicidade e
humildade.
Foi através de Ariano que aprendi o quanto tem de riqueza a cultura
brasileira e o admirava pela defesa que ele fazia de todas as nossas tradições
e desenvolveu em mim o orgulho de ser nordestino.
Tenho anotado em meus alfarrábios muitas frases famosas ditas por ele em
suas conferencias e destaco algumas delas: “em redor do buraco tudo é beira”;
“a tarefa de viver é dura, mas fascinante”; “que eu não perca a vontade de ter
grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo
embora de nossas vidas”; arte pra mim é missão, vocação e festa”; “eu digo
sempre que das três virtudes teologais, sou fraco na fé e fraco na qualidade,
só me resta a esperança”.
Ariano, que foi para
nós um exemplo de cidadania, temos o dever, como paraibanos, de reverenciar o
brilhantismo de sua existência e a grandeza de sua obra. E a morte, como ele
mesmo narrava ser “acidente de percurso”, não arrasta consigo a sua
imortalidade, porque ele nasceu para ser eterno.Viva e muitas palmas à eternidade de nosso Ariano, que já deve estar se
apresentando para ser julgado, num cenário igual ao do julgamento de João
Grilo, o mais imortal dos personagens do Auto da Compadecida e com certeza
ganhará a eternidade dos céus. (Ariano Suassuna *1927 +2014)
Ariano Suassuna ao lado do Professor José Antônio de Albuquerque
COMO FOI ENCENAÇÃO DE "O AUTO DA COMPADECIDA"
EM CAJAZEIRAS, ANOS 60.
Curiosidades sobre a encenação da peça "O Auto da Compadecida" em Cajazeiras, anos 60. A montagem foi uma iniciativa primária vinda de um grupo de funcionário do Branco do Brasil. Segundo um dos ex-funcionário da instituição, Ica Pires ao saber do proposito dos integrantes do banco, se engajou ao grupo e impulsionou a concretização da montagem, passando a ser a diretora. Na época o grupo TAC que respondia pela montagem, fez praticamente em um mês, umas sete apresentações pela cidade, em locais como: Ação Católica, Cajazeiras Tênis Clube, colégios da cidade e ao ar livre - na Praça João Pessoa.
O elenco contou com a participação de Constantino Cartaxo-Tatino (Major Antônio Moraes e Demônio); Otaviano (Jesus-o filha da Compadecida); Maria José (Nossa Senhora-a Compadecida); Pedro Gomes (João Grilo); Mailson da Nóbrega, o ex-ministro (Chicó); Pedro Pio Chaves (Palhaço que faz a abertura da peça); Judivan (O Padeiro); Jarismar Gomes (Cangaceiro ); Lacy Nogueira (Mulher do Padeiro); Zenildo Alcântara (Sacristão). O elenco ainda contou com a participação de: Marcelo Holanda, Marcos Bandeira (O Padre) e Nilton Alcantra.
Íracles Blocos Pires-Ica Pires (a diretora da peça)
Zenildo Alcântara (Padre ou Sacristão), Pedro Gomes (João Grilo), Mailson da Nóbrega
(Chicó), Lacy Nogueira (Mulher do Padeiro) e Judivan (Padeiro)
Jarismar Gomes (Cangaceiro) e Marcos Bandeira (Padre)
Constantino Cartaxo-Tatino (Major Antônio Moraes) e Pedro Gomes (João Grilo)
Maílson da Nóbrega (Chicó) Judivan Ricarte, Pedro Gomes (João Grilo),
Lacy Nogueira (Mulher do Padeiro)