Um teatro para Cajazeiras. Por Hildebrando
Assis
Cajazeiras merecia o teatro que o governador Wilson Braga
lhe deu. Pela constante e dinâmica atividade teatral que ali se desenvolve,
pelo apoio e estímulo que o seu povo sempre proporcionou aos conjuntos
amadorísticos da terra. Tomou-se uma das raras – raríssimas – cidades do
interior do Estado com uma intensa tradição teatral.
Somente em Cajazeiras poderia florescer um “Grupo Terra”,
cuja estória desperta admiração e encantamento. Um conjunto de meninos de um
bairro, de uma rua, começa a brincar de fazer teatro, com inocência e
ingenuidade, mas, com tanto ardor e devotamento que terminou levando a
brincadeira a sério. Resultado, o “Terra” impôs-se à consideração e respeito
não só dos cajazeirense, mas dos d’além fronteiras, quer municipais ou
estaduais. Foi escolhido no primeiro semestre deste ano, para integrar o
movimento chamado de “Mambembão”, instituído pelo Instituto Nacional de Artes
Cênicas, antigo Serviço Nacional de Teatro, como um dos raros representantes do
Nordeste. Nessa condição, se apresentou no Rio de Janeiro, São Paulo e
Brasília, levando a peça Beiço de Estrada, de Eliézer Filho, o competente e
talentoso diretor do grupo. Li críticas bastante lisonjeiras, em jornais do sul
do país, a respeito da apresentação dos cajazeirenses, o que constitui honra
sem par para nossa cidade.
Já que falamos no “Terra”, queremos assinalar que o teatro
dos tempos modernos de Cajazeiras, se conta a partir de 1953, com o
aparecimento do TAC, Teatro de Amadores de Cajazeiras que, em sua primeira
fase, esteve sob a nossa direção. Foi um movimento que se destinava a
permanecer. A sociedade civil mantenedora do mesmo constituiu-se legalmente,
tendo os respectivos estatutos sido registrados no cartório competente. Encenou
várias peça
s e excursionou por cidades vizinhas.
Em sua segunda fase, o TAC foi dirigido por Íracles Pires,
um talento admirável, uma grande vocação para a arte cênica. Infelizmente, a
morte no-la arrebatou muito cedo. Houve um período em que Íracles estudava
teatro no Rio de Janeiro e aplicava os seus conhecimentos em Cajazeiras, o que
para nós era um privilégio digno de nota. Muito justa e merecida, portanto, a
doação do seu nome para a nossa casa de espetáculo.
Em seguida, vem o tempo do conjunto denominado “Grutac”, sob
o comando de Ubiratan di Assis. Estávamos diante de outro movimento que elevou
bem alto o nome do teatro cajazeirense, sobretudo devido ao valor e ao
idealismo de seu dinâmico dirigente, o Ubiratan, esse mesmo Ubiratan que, em
boa hora e por uma feliz inspiração, foi nomeado Diretor do
“Íracles Pires”. Com essa felicíssima nomeação, o governador
Wilson Braga dá uma demonstração de como está bem intencionado para com o nosso
teatro.
Ao construí-lo, é certo que o governador atendeu a essa
tradição teatral a que aludimos acima. É mais certo, porém, que ele foi
impulsionado pelo grande amor que devota a Cajazeiras. Os cajazeirenses devem,
pois, apreciar bem a grandeza desse gesto que se pode denominar de único no
Brasil.
Texto publicado no programa de inauguração do Teatro Íracles Pires
Correio das Artes - ano I, XIV - nº 7 - set./2013