por Lenilson
Oliveira
Hoje, fui caminhar às margens do Açude Grande de Cajazeiras. Sim. Temos o privilégio de ter um açude centenário no centro da cidade. Sim, ele continua lá, esquecido, maltratado, assoreado e toda sorte de adjetivos que denotem o abandono a que está relegado.
O
nosso velho Açude Grande – oficialmente Senador Epitácio Pessoa – que neste mês
de abril completa seus 102 anos de inauguração, teve o seu centenário alardeado
e festejado em 2016, com declarações em prosa, verso e bolero – com direito a
Jurandir do Sax deixar e seu jacaré e coroar Ravel pelas plagas sertanejas,
sessões especiais, promessas, projetos mirabolantes e toda a pompa para as selfies
e fotografias oficias. Tudo como manda o figurino. Tudo como vem se repetindo
há mais de décadas sem nada de concreto, a não ser a construção do Complexo Turístico
Antônio Simão de Oliveira – o famoso “Leblon”. E só.
Estive
hoje lá e não pude evitar uma quase “regressão” à minha infância e adolescência,
não tão distante assim (risos), quando nossa turma saía da Praça Padre Cicero e
imediações e aí se esbaldar naquelas éguas, sobretudo em tempos de sangria,
normalmente até o final da quadra invernosa, entre março e abril, como agora.
Doces
lembranças de um tempo em que a molecada e mesmo muitos adultos ainda tinham o
Açude Grande como opção de lazer numa cidade que pouco ou nada tinha a
oferecer. Era sempre uma festa, mesmo que, infelizmente, tivéssemos notícias de
uma ou outra morte de alguém mais afoito levado arrastado pela força da água.
Coisa rara, mas acontecia.
Não me
lembro em que momento eu fui me afastando do meu Açude. Talvez tenha sido pelo
processo natural como acabamos nos afastando de tantas coisas e pessoas ao
longo da vida. Talvez tenha sido da mesma forma como me vi me afastando da
turma da Padre Cicero – hoje limitando-nos a meros cumprimentos entre os que
ainda se esbarram aqui e ali.
Sim,
fiz uma selfie da ponte da minha infância – para a qual também já fiz poema e
estava no varal poético do Centenário em 2016 – e o sangradouro vazio atrás de
mim foi preenchido pelas cenas de antigamente, com a gente se segurando nas
pilastras para não ser levado pelas águas, por muitos pais protegendo seus
filhos, pelo mais corajosos se deixando levar pela correnteza...
O relógio
me traz agora de volta à realidade da quase há de ir trabalhar. Assim, me
despeço e me prepara para mais um mergulho no meu Açude. Sintam-se convidados.
transcrito:
Gazeta do Alto Piranhas. 13 a 19.abril.2018