Como diz as melhores e originais
línguas do nosso povo. "Repare essas duas imagens ai acima." Elas dizem um pouco da
história das salas de cinema de rua, que outrora, existiram em Cajazeiras. Mas
antes que qualquer comentário ou falatório seja dito sobre esse assunto e, especialmente,
sobre as imagens em anexo, vale uma rápida volta ao passado para rever como
foi à chegada do cinema na cidade.
Conforme escreveu o historiador e
critico de cinema Wills Leal (in memoriam) no seu livro Cinema na
Paraíba/Cinema da Paraíba, Cajazeiras teve a sua primeira avant-première de
cinema, graça a chegada do sírio-libanês João Bichara que instalou o primeiro
cinema num imóvel que pertencia a seu cunhado Epifânio Sobreira (1864-1937).
Na medida que a novidade ia atraindo a
atenção da população, não só seu Bichara, mas outros empreendedores foram
despertando seus interesses pelo cinema e, novas salas com mais estrutura,
melhor adaptada para atividade, iam sendo criada na cidade. Depois do “Cinema
de seu Bichara”, (grife Deusdedit Leitão), veio anos depois as instalações do
Cine Alvorada, em 1922 e do Cine Moderno, em 1923, bem mais confortável e aconchegante
para os padrões da época.
Com base na oralidade, no depoimento de
Marilda Sobreira (1914-2009), filha de Epifânio Sobreira, o Cine Moderno
funcionou em uma das primeiras construções de dois andares da cidade. A sua
instalação contava com cabine de projeção, palco, ventiladores e um
motor-gerador caso faltasse energia. Contava ainda com novo mobiliário e duas
frisas que acompanhava o comprimento do prédio.
Provavelmente, o prédio com dois
pavimentos referido por Marilda a Wills Leal, seria o Edifício Ok, construído
por José Lira em 1936, espaço que viria abrigar em agosto desse mesmo ano, a
estrutura do Cine Moderno, dessa feita bem mais remodelado com a efetivação do
cinema falado na cidade. Local também, que depois passou a abrigar as
instalações do Cine Teatro Éden até o final dos anos 80, quando esse cinema foi
desativado, fechando definitivamente sua sala de exibição.
O Cine Moderno, até a chegada e
instalação do Cine Teatro Éden na segunda metade dos anos 30-1936, era a
principal sala de exibição que havia em Cajazeiras. Por conta disso, sua
administração prestava por um atendimento básico que acolhesse bem seus
frequentadores. Com essa visão, Investimentos eram feitos pelo seu proprietário,
com propósito de atrair novos visitantes e cativar ainda mais os que já
eram assíduos as suas seções noturnas e matinais.
Um registro dessa forma de gerência
está no recorte nº 2 que ilustra essa postagem. Diz a nota publicada no Jornal
“O Rio do Peixe”, edição do dia 20 de maio de 1926. “Tendo feito melhoramentos
consideráveis na sua casa de diversão, resolve estabelecer as seguintes
condições para seu perfeito funcionamento, o que espera consultar os seus
distintos habitués.”
E segue o texto publicado pelos donos
do Cine Moderno especificando as regras de uso do auditório do cinema pelos
seus frequentadores durante as exibições: 1- É proibido fumar nas filas de bancos do
centro, não só porque este hábito incomoda as Exmas. famílias que sempre
preferem estes bancos como porque prejudica a projeção. 2- o cinema não
funcionará com uma casa inferior a 20 pessoas. 3- Não haverá orquestra quando a casa for
inferior a 50 pessoas. E
finaliza o texto divulgado no então jornal “O Rio do Peixe:” Pede
todo respeito, em consideração às Exmas. famílias e a boa moral. Pede ainda que
ninguém cuspa no chão, em nome da higiene e da boa educação.
O impresso no seu contexto geral
mostra que havia uma ligeira preocupação do cinema em acomodar bem os
visitantes ilustres da cidade, ou seja, as consideradas excelentíssimas famílias,
que até cadeiras mais bem posicionadas que favorecia uma visão melhor das
imagens na tela, eram reservadas. Outra parte do texto impresso no jornal que merece destaque é
que expõe as regras básicas para que as projeções dos filmes acontecessem.
Os filmes no Cinema Moderno, só
aconteciam se o número de presentes na sala fosse superior a 20 pessoas. E como
em 1926, as películas produzidas ainda eram sem som, mudo, os filmes no Cinema
Moderno de Cajazeiras só era rodado com uma orquestra fazendo a parte sonora,
se a sala estivesse com uma lotação acima de 50 pessoas. Era a regra dos seus exibidores. Aqui
cabe um registro, as primeiras exibições de filmes sonoros no Brasil, foram
realizadas a partir de 1929.
O outro recorte extraído do Jornal “O
Estado Novo”, edição do dia 01 de Janeiro de 1941, nos remede aos anos 40. Nessa
época a hegemonia operacional do cinema na cidade já não era mais do Cine
Moderno. A população de Cajazeiras experimentava uma nova sala com exibição,
com projeções de filmes sonoros. Nascia então na principal praça da cidade - a
João Pessoa, em 1936, o Cine Teatro Éden, que veria ser no futuro o principal
cinema dos cajazeirenses.
Nesse outro recorte, o mesmo mostra um
texto produzido pelo editor do jornal, que em nome das constantes reclamações
feitas por frequentadores do Cine Éden, faz um apelo a gerência do principal
cinema da cidade, para melhorar a higienização das dependências do Éden. Na
íntegra diz o texto do na época jornal “O Estado Novo”:
Com o empresário do Cine - Teatro
Éden: Numerosas têm sido ultimamente, as queixas que nos fazem os habitués do
Cine Éden. Solicitam-nos a defesa de seus interesses. Reclamam asseio e higiene
no salão da plateia, cujas cadeiras são tão imundas que as pessoas que se sentam
com roupas brancas, saem com as mesmas inutilizadas, tal a sujeira que encontra
ali.
E segue: Com franqueza, somos constrangidos a dizer isto de público; mas o interesse do bem coletivo e o bom nome de nossa civilização, falam mais alto do que o comodismo inconfessável dos responsáveis pelo asseio e higiene de uma casa de diversões públicas. E finaliza: Confiamos no zelo e no critério do digno empresário do Cinema único de nossa cidade, certo de que ele tomará as providencias que o caso exige.
Concluindo, se formos percorrer do principio até aqui, a história vai revelar que as salas de exibições em
Cajazeiras sempre foram com exceção de uma ou duas, espaços improvisados, adaptados,
sem pouca adequação para exibição de filmes. Com decorrer do tempo, os
melhoramentos das salas foram ocorrendo de acordo com crescimento do número de simpatizantes com cadeira cativa nos dias de exibição e, obviamente, com faturamento do cinema. Antes disso, eram salões alugados; muitos desses
salões serviam antes como depósitos e oficinas afins.
Dos primórdios com o libanês João
Bichara até a construção do Edifício OK, que incluiu no seu complexo a instalação também de uma sala de exibição, a pisada do bumbo era essa. Essa
realidade começou a mudar com a construção pela diocese do Cine Teatro Apolo
XI. Uma sala moderna com amplo auditório; cadeiras padronizadas bem melhores; pavimento térreo
e um superior com camarotes, além de uma cabine instalada com equipamentos de projeção modernos, de
ultima geração para os padrões da época.
DEIXE O SEU COMENTÁRIO. É IMPORTANTE!