quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

AS MODERNAS SALAS DE CINEMA EM CAJAZEIRAS

Cleudimar Ferreira



Como diz as melhores e originais línguas do nosso povo. "Repare essas duas imagens ai acima." Elas dizem um pouco da história das salas de cinema de rua, que outrora, existiram em Cajazeiras. Mas antes que qualquer comentário ou falatório seja dito sobre esse assunto e, especialmente, sobre as imagens em anexo, vale uma rápida volta ao passado para rever como foi à chegada do cinema na cidade.

Conforme escreveu o historiador e critico de cinema Wills Leal (in memoriam) no seu livro Cinema na Paraíba/Cinema da Paraíba, Cajazeiras teve a sua primeira avant-première de cinema, graça a chegada do sírio-libanês João Bichara que instalou o primeiro cinema num imóvel que pertencia a seu cunhado Epifânio Sobreira (1864-1937).

Na medida que a novidade ia atraindo a atenção da população, não só seu Bichara, mas outros empreendedores foram despertando seus interesses pelo cinema e, novas salas com mais estrutura, melhor adaptada para atividade, iam sendo criada na cidade. Depois do “Cinema de seu Bichara”, (grife Deusdedit Leitão), veio anos depois as instalações do Cine Alvorada, em 1922 e do Cine Moderno, em 1923, bem mais confortável e aconchegante para os padrões da época.

Com base na oralidade, no depoimento de Marilda Sobreira (1914-2009), filha de Epifânio Sobreira, o Cine Moderno funcionou em uma das primeiras construções de dois andares da cidade. A sua instalação contava com cabine de projeção, palco, ventiladores e um motor-gerador caso faltasse energia. Contava ainda com novo mobiliário e duas frisas que acompanhava o comprimento do prédio.

Provavelmente, o prédio com dois pavimentos referido por Marilda a Wills Leal, seria o Edifício Ok, construído por José Lira em 1936, espaço que viria abrigar em agosto desse mesmo ano, a estrutura do Cine Moderno, dessa feita bem mais remodelado com a efetivação do cinema falado na cidade. Local também, que depois passou a abrigar as instalações do Cine Teatro Éden até o final dos anos 80, quando esse cinema foi desativado, fechando definitivamente sua sala de exibição.

O Cine Moderno, até a chegada e instalação do Cine Teatro Éden na segunda metade dos anos 30-1936, era a principal sala de exibição que havia em Cajazeiras. Por conta disso, sua administração prestava por um atendimento básico que acolhesse bem seus frequentadores. Com essa visão, Investimentos eram feitos pelo seu proprietário, com propósito de atrair novos visitantes e cativar ainda mais os que já eram assíduos as suas seções noturnas e matinais.

Um registro dessa forma de gerência está no recorte nº 2 que ilustra essa postagem. Diz a nota publicada no Jornal “O Rio do Peixe”, edição do dia 20 de maio de 1926. “Tendo feito melhoramentos consideráveis na sua casa de diversão, resolve estabelecer as seguintes condições para seu perfeito funcionamento, o que espera consultar os seus distintos habitués.”

E segue o texto publicado pelos donos do Cine Moderno especificando as regras de uso do auditório do cinema pelos seus frequentadores durante as exibições: 1- É proibido fumar nas filas de bancos do centro, não só porque este hábito incomoda as Exmas. famílias que sempre preferem estes bancos como porque prejudica a projeção. 2- o cinema não funcionará com uma casa inferior a 20 pessoas.  3- Não haverá orquestra quando a casa for inferior a 50 pessoas. E finaliza o texto divulgado no então jornal “O Rio do Peixe:” Pede todo respeito, em consideração às Exmas. famílias e a boa moral. Pede ainda que ninguém cuspa no chão, em nome da higiene e da boa educação.

O impresso no seu contexto geral mostra que havia uma ligeira preocupação do cinema em acomodar bem os visitantes ilustres da cidade, ou seja, as consideradas excelentíssimas famílias, que até cadeiras mais bem posicionadas que favorecia uma visão melhor das imagens na tela, eram reservadas. Outra parte do texto impresso no jornal que merece destaque é que expõe as regras básicas para que as projeções dos filmes acontecessem.

Os filmes no Cinema Moderno, só aconteciam se o número de presentes na sala fosse superior a 20 pessoas. E como em 1926, as películas produzidas ainda eram sem som, mudo, os filmes no Cinema Moderno de Cajazeiras só era rodado com uma orquestra fazendo a parte sonora, se a sala estivesse com uma lotação acima de 50 pessoas. Era a regra dos seus exibidores. Aqui cabe um registro, as primeiras exibições de filmes sonoros no Brasil, foram realizadas a partir de 1929.

O outro recorte extraído do Jornal “O Estado Novo”, edição do dia 01 de Janeiro de 1941, nos remede aos anos 40. Nessa época a hegemonia operacional do cinema na cidade já não era mais do Cine Moderno. A população de Cajazeiras experimentava uma nova sala com exibição, com projeções de filmes sonoros. Nascia então na principal praça da cidade - a João Pessoa, em 1936, o Cine Teatro Éden, que veria ser no futuro o principal cinema dos cajazeirenses.

Nesse outro recorte, o mesmo mostra um texto produzido pelo editor do jornal, que em nome das constantes reclamações feitas por frequentadores do Cine Éden, faz um apelo a gerência do principal cinema da cidade, para melhorar a higienização das dependências do Éden. Na íntegra diz o texto do na época jornal “O Estado Novo”:

Com o empresário do Cine - Teatro Éden: Numerosas têm sido ultimamente, as queixas que nos fazem os habitués do Cine Éden. Solicitam-nos a defesa de seus interesses. Reclamam asseio e higiene no salão da plateia, cujas cadeiras são tão imundas que as pessoas que se sentam com roupas brancas, saem com as mesmas inutilizadas, tal a sujeira que encontra ali.

E segue: Com franqueza, somos constrangidos a dizer isto de público; mas o interesse do bem coletivo e o bom nome de nossa civilização, falam mais alto do que o comodismo inconfessável dos responsáveis pelo asseio e higiene de uma casa de diversões públicas. E finaliza: Confiamos no zelo e no critério do digno empresário do Cinema único de nossa cidade, certo de que ele tomará as providencias que o caso exige.

Concluindo, se formos percorrer do principio até aqui, a história vai revelar que as salas de exibições em Cajazeiras sempre foram com exceção de uma ou duas, espaços improvisados, adaptados, sem pouca adequação para exibição de filmes. Com decorrer do tempo, os melhoramentos das salas foram ocorrendo de acordo com crescimento do número de simpatizantes com cadeira cativa nos dias de exibição e, obviamente, com faturamento do cinema. Antes disso, eram salões alugados; muitos desses salões serviam antes como depósitos e oficinas afins.

Dos primórdios com o libanês João Bichara até a construção do Edifício OK, que incluiu no seu complexo a instalação também de uma sala de exibição, a pisada do bumbo era essa. Essa realidade começou a mudar com a construção pela diocese do Cine Teatro Apolo XI. Uma sala moderna com amplo auditório; cadeiras padronizadas bem melhores; pavimento térreo e um superior com camarotes, além de uma cabine instalada com equipamentos de projeção modernos, de ultima geração para os padrões da época.

Bilheteria do Cine Éden - Provavelmente na década de 70



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terça-feira, 27 de dezembro de 2022

REMA concede título de Mestres das Artes para Dona Lourdinha



O Registro de Mestres e Mestras das Artes da Paraíba (Rema) ganhou seis novos nomes. Nessas indicações aprovadas pela Comissão Executiva do programa e ratificadas pelo Conselho de Política Cultural do Estado (Consecult), está o nome da artesã Maria de Lourdes Souza Mariano - Dona Lourdinha, tradicional louceira de Cajazeiras. Dona Lourdinha é uma remanescente das vinte e uma louceiras de barro, que produzia e vendia suas peças (ou ainda vende) todos os sábados, no meio da rua, na feira livre de Cajazeiras, mantendo uma tradição de muitas décadas na cidade.  

O (Rema) Registro de Mestres e Mestras das Artes da Paraíba é um projeto do Governo do Estado, coordenado pela Secult/PB, criado com Lei de nº 7.694 - A chamada Lei Canhoto da Paraíba. O objetivo é proteger e valorizar os conhecimentos, fazeres e expressões das culturas tradicionais paraibana. Através do Registro no Livro, pessoas que contribuam há mais de 20 anos com atividades culturais no Estado, mais especificamente nas áreas de dança, brincadeiras, músicas, folguedos, artes visuais e outras atividades que por tradição oral, recebem e repassam para as novas gerações, são agraciadas com o título de “Mestres e Mestras” ao terem suas artes reconhecidas pelo Conselho de Política Cultural do Estado.

Particularmente, esse espaço, em nome dos setores produtivos da cultura cajazeirense, parabeniza a artesã Maria de Lourdes Souza Mariano - Dona Lourdinha, nossa principal referência, hoje, na produção desse tipo de cerâmica na cidade e na região, por tão importante conquista. Portanto, uma vez Mestre das Artes na Paraíba, agora seria a vez do município, através da sua Câmara Municipal, outorgar a Dona Lourdinha, comendas locais, como forma de referendar esse título. Ou seja, da mesma forma como foi feito para os nossos talentosos artistas das artes cênicas. 

Cleudimar Ferreira.




quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

ASCENSÃO E QUEDA: Saiba mais sobre a morte dos Cinemas de Rua da Paraíba

por: Fabricia Oliveira 


Entretenimento, acesso à cultura e lazer são elementos essenciais para o engrandecimento da forma de levar a vida e a associação deste item está diretamente ligada ao bem estar social inerente ao ser humano. Os antigos cinemas de bairro, espaços cheios de vida, existiam com esse propósito, mas foram engolidos substituídos pela TV, VHS, internet e shopping centers nas metrópoles. Conheça um pouco sobre como estas ricas e vastas opções de lazer foram desaparecendo com o passar dos anos na Paraíba.

Cajazeiras

O Cine Éden teve a presença marcante do gênero pornochanchada na exibição de filmes nacionais. Com o passar dos anos várias mudanças ocorreram na estrutura física e mesmo com as medidas que foram implementadas e estratégias utilizadas para se conseguir manter o cinema em funcionamento veio o declínio e processo de fechamento.

O Cine Teatro Apolo XI era parte do complexo de comunicação, instalado pela diocese de Cajazeiras. O complexo era formado por uma emissora de rádio – a Radio Alto Piranhas, ainda em atividade; um cinema teatro – o Cine Teatro Apolo XI. O espaço destinado ao cinema era moderno para os padrões da época, formado pelo hall, pequenas rampas que davam acesso ao auditório térreo e uma escada que dava acesso ao pavimento superior, onde ficavam os camarotes e a cabine de projeção.

Patos

No ano de 1934, o Cine Eldorado foi incorporado ao cotidiano de Patos. Funcionou de 1934 a 1946 no prédio que se localizava na rua Grande. Com o Eldorado, o imaginário do mundo moderno, foi cada vez mais penetrando no cenário tradicional da cidade. O Cine Eldorado foi ponto de encontro da juventude patoense, onde foram exibidos filmes como O ébrio, E o vento levou, Casablanca, entre outros clássicos. Os jovens sempre arranjavam um jeitinho de ir ao cinema e lá assistiam os romances cinematográficos, mas também viviam os seus.

João Pessoa

Fundados em sua maioria nos anos 1930, tendo seu apogeu entre as décadas de 1950 e 1960 e entrando num período de decadência a partir dos anos 1980, os cinemas do bairro de João Pessoa eram pequenos espaços com lotação que variava entre 250 e 300 lugares.

O primeiro cinema de rua funcionou no Ponto de Cem Réis e chamava-se Pathe. À época, João Pessoa era uma cidade com apenas 30 mil habitantes, concentrada praticamente na parte baixa do Centro.

Em 1911 os italianos Rattacazzo e Cozza instalaram o Cine Rio Branco, no Ponto de Cem Réis. O Cine Jaguaribe pertenceu a Svendsen e depois a Cia Exibidora de Filmes SA, de Luciano Wanderley, foi a primeira sala de cinema de bairro da cidade, fundada em 16 de dezembro de 1932. O Cine Felipéia, inaugurado em 1935, funcionou na Rua da República. Pertencia à Cia exibidora de Filmes SA. Fechou na década de 1960.

Em 1962, a cidade contou com a maior quantidade de cinemas em funcionamento: 14. Havia, então, dois tipos de cinemas: os chamados lançadores, na parte central da cidade, e os dos bairros. O bairro que teve a maior concentração de cinemas foi Jaguaribe, com quatro, e a Rua da República, com três.

Ainda existiram os cinemas Glória, Astória, Brasil, Metrópole, Rex, Santa Catarina, Santo Antonio, São José, Plaza, São Pedro e São Luiz. Os filmes que mais atraíram público nas décadas de 1960/70 foram O Exorcista, Candelabro Italiano, Tubarão, Lagoa Azul, Os Dez Mandamentos e Bem-Hur, todos exibidos em cinemas do centro, como o REX, Municipal e Plaza.

Os cinemas Plaza, Rex e Municipal foram referências no que diz respeito ao cinema de rua em João Pessoa. O Plaza foi o cinema que durou mais tempo na cidade. Foram quase 70 anos de história e exibições. Por sua vez, o Rex e o Municipal são os que conseguiram manter a arquitetura praticamente intacta. Para o escritor Wills Leal o fechamento das casas de exibição foi decorrente da chegada da televisão, reforçado pelo surgimento da internet e shopping centers.

Campina Grande

O cinema em Campina Grande surgiu com a inauguração do Cine Brazil, em 1909 no bairro das Boninas. Em sequência, surge em 1910 o Cine Popular, e por aí foram surgindo mais salas como o Cine Apollo e o Cine Fox, em 1912 e 1918, respectivamente. E mais a frente surgem o Cine São José, o Capitólio e o Cine Babilônia, fazendo a cidade ser parte das principais rotas de exibição de grandes filmes nacionais e internacionais.

Em 1934 o Cine-Theatro Capitólio abriu como portas para espectadores da elite de Campina Grande encerrando com os experimentos dos cines Apollo e Fox. Pouco depois, viria o concorrente Cine Babilônia, inaugurado em 1939 e o Cine São José, em 1949, que ganharia fama por seus preços mais baratos.

O Cine São José encerrou suas atividades no final da década de 1970. O pomposo Cine-Theatro Capitólio sucumbiu em 1999, igualmente exibindo pornô em seus últimos anos.

A falência do Babilônia veio logo depois, em 2000, transformado anos depois em shopping center. Dentre os prédios, apenas o Cine São José mantém a fachada original, apesar de abandonado durante mais de três décadas.


Guarabira

A sétima arte chegou ao município no final da década de 20, a partir da instalação do “Cinema Independência” por Sindô Trigueiro. Naquela época eram exibidas sessões de cinema mudo, pois o progresso ainda não havia chegado à região.

Somente na década de 30 é que o cinema em Guarabira ganha maior intensidade. Na mesma época, o diretor do cinema decidiu mudar o nome da casa para “Cinema João Pessoa”, em homenagem ao mártir da ‘Revolução de 30’. Posteriormente, em 1933, houve a compra de todo maquinário que até então era alugado pela viúva de Sindô Trigueiro, precursor do cinema em Guarabira.

Novamente, o proprietário do cinema resolve mudar o nome do local para “Cinema Guarany”, onde ocorreu a primeira exibição de um filme nacional, ainda em 1933. Como ainda não havia rádio no município, a propaganda dos filmes era feita por meio de cartazes e anúncios públicos.

Já bastante prestigiado em Guarabira, em 16 de agosto de 1935 o cinema teve uma ascensão ainda maior com a chegada do cinema falado. O primeiro filme falado exibido foi “Sombra da Noite”.

Ainda nos tempos passados, a cidade de Guarabira teve mais alguns cinemas, três deles fez muito sucesso. O Cine São Luiz foi inaugurado na década de 50. Atualmente o prédio ainda existe. Depois dele, foi a vez do Cine São José, inaugurado por volta dos anos 60. Hoje o prédio continua bastante preservado. Por fim, o último cinema a ser inaugurado na cidade foi o Cine Moderno, por volta dos anos 70. O prédio continua de pé.

Informações dão conta de que a falta de incentivos por parte do poder público fez com que esses equipamentos culturais fossem fechados. Atualmente para ter acesso à sétima arte, os guarabirenses viajam para a capital do Estado, onde é possível assistir às grandes produções cinematográficas.

A Queda

A decadência começou na década de 70, por diversos motivos: a chegada da televisão, do VHS e, principalmente, o crescimento das cidades.

A especulação imobiliária começou a ocupar os espaços dos cinemas, muitos privilegiados por serem de grande porte e localizados em grandes centros, além de já serem pontos conhecidos pela população. Na mesma época houve o crescimento das igrejas evangélicas, que começaram a ver nas grandes salas espaços ideais. A maioria dos cinemas de rua se transformou em igrejas, mas alguns se tornaram sacolões, estacionamentos e outros tipos de estabelecimentos. 

A falta de intervenção do poder público também é um dos principais fatores com a virada da década de 70 para a de 80 em que os cinemas começaram a migrar para os shoppings centers e ofereciam a segurança e conforto que os cinemas de rua já não estavam mais sendo capazes de oferecer. Os shoppings se tornaram um grande centro de convívio e de consumo.



fonte: polêmicaparaíba. postagem publicada em 23.05.21

sábado, 3 de dezembro de 2022

Professora Carmelita Gonçalves

















   Crônica   
por: Francisco Cartaxo

Carmelita Gonçalves (1924-2022) nos deixou, em outubro, com a avançada idade de 98 anos. Viveu quase tanto quanto o padre Inácio de Sousa Rolim (1800-1899), nosso insuperável mestre, que atravessou por inteiro o século XIX. Ela presenciou odientas turbulências de um mundo louco. Dedicação e amor ao ensino unem os dois. A lembrança de um completa-se com a imagem da outra. Meu pai, atendendo minha curiosidade de criança, mais de uma vez, descreveu a figura magrinha de seu tio bisavô, que ele via andar, em seu passo miúdo, nas ruas de Cajazeiras do final daquele século. Essas lembranças de narrativas de meu pai, só fazem aproximar em mim os dois baluartes de nossa história educacional.

Quando comecei a frequentar, menino de calça curta, a escolinha de Carmelita funcionava em sua própria casa, em frente à estação ferroviária. Ela já era minha conhecida de tanto vê-la me abraçar e me pegar em seus braços. Como assim? Carmelita era muito amiga de minhas irmãs Ilina e Nanza. Esta quase da mesma idade. Eu a via como uma pessoa de casa. Além disso, Nanza foi sua colega de turma no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, como agora confiro no livro de João Rolim da Cunha. Entre as 22 normalistas que colaram grau, em 1943, constam os nomes de Ana Sales Cartaxo e Carmelita Gonçalves da Silva. Nanza era apelido herdado de nossa avó paterna, Mãe Nanzinha – Ana Antônia do Couto Cartaxo.

Carmelita Gonçalves concluiu o curso de professora, cem anos depois que o padre Rolim teve, em 1843, seu colégio considerado instalado. Mera coincidência, eu bem sei, mas de qualquer sorte é uma curiosidade na história das duas vidas dedicadas à missão de transmitir com amor saber aos outros, cada uma a seu modo, em seu tempo. Sem fazer comparações subalternas, padre Rolim e Carmelita são inigualáveis tendo em vista a enorme contribuição dada ao processo educacional da juventude do sertão.

Guardo nítidas recordações da escola de Carmelita, em sua primeira fase. Da paciência, do afeto com que, na década de 1940, tratava os meninos, mal saídos da alfabetização. Lembro também do caminho que eu percorria, todos os dias, de minha casa perto do balde do Açude Grande até a Praça da Estação, onde me encantavam a visão da máquina gigantesca e cantante - café-com-pão bolacha-não, café-com-pão bolacha-não-e o apito do trem. Que saudade!

P S - Nanza ainda tem vista para ler, mas talvez lhe falte lucidez para sentir esta crônica.


fonte e imagem: Diário do Sertão