Importante opinião de "Frassales" sobre os conteúdos dos cursos de pós graduação, aplicados pelos grandes centros universitários hoje e necessidade de uma universidade mais voltada para o estudo da realidade regional.
Diocese
de Cajazeiras e a UFCG
Por Francisco Frassales Cartaxo
Seria bom que este ano alunos e professores do campus da
UFCG coloquem seus conhecimentos a serviço da história da centenária diocese de
Cajazeiras. Ali, ao lado das Casas Populares, há um centro de saber acadêmico,
formado às expensas de recursos públicos, com professores capazes de mergulhar
no passado e enxergar facetas difíceis de serem captadas por simples curiosos.
Não se trata apenas de questão de conhecimento, do domínio de teorias ou de
técnicas de investigação. Isto é pré-requisito. Impõe-se algo mais, por
exemplo, a vontade de utilizar os fundamentos científicos, as ferramentas de
pesquisas inerentes às ciências sociais, em particular à história, para
apreender as peculiaridades locais, situando-as em contexto amplo, regional e
nacional. Obras fundamentais para entender o Brasil estão cheias de citações de
estudos específicos de caráter sub-regional e local, sem os quais a
interpretação do mundo real se resumiria ao acúmulo de conhecimentos, muitas
vezes, produzidos lá fora, sem o devido cuidado em operar a necessária redução
sociológica. Espero que o campus tenha adquirido ultimamente mais abertura para
as questões locais.
Em 2006, quando recorri ao saber acadêmico de nossa
Universidade em busca de luzes para clarear a história política de Cajazeiras,
constatei existir certa má vontade com as coisas do sertão. É claro que
encontrei boa vontade e apoio para troca de ideias com professores amigos. O
foco do meu estudo era história política, do qual resultou modesta contribuição
divulgada no livro “Do bico de pena à urna eletrônica”. Mesmo sem calibre
teórico, eu tentava incursão no patrimonialismo, desejoso de fornecer exemplos
concretos de sua prática em Cajazeiras. Em contato com respeitado professor,
situado no topo da carreira docente, doutor que é, fui surpreendido com sua
concepção do papel da academia em lugares como Cajazeiras. Disse-me mais ou
menos isto:
1º Bispo de Cajazeiras, de 1915-1932 |
“Dessas coisas de política local eu não cuido. Minha função
é outra, é transmitir aos alunos conceitos básicos, teóricos, princípios etc. E
isso você pode ler nos meus textos preparados para os estudantes. Os textos
estão disponíveis, ali.”
Disse enquanto apontava o dedo para a barraca da Xerox.
Adquiri-os. Mais tarde mergulhei na leitura da sua apostilha. Na segunda
página, não pude segurar o bocejo, tantas eram a citações entre aspas. Uma
atrás da outra. Dezenas de conceitos de autores de todas as partes do mundo.
Nada contra. Mas aquilo não me seduzia. Talvez comova o coitado do aluno,
obrigado a fazer prova... Eu procurava algo mais simples, menos distante, um
link entre o saber acadêmico e a realidade histórica local.
Ao recordar esse fato, penso que fui exigente, desfocado da
rotina da academia. Enfim, devo ser um cara chato... O episódio, de sete anos
atrás, provocou em mim a estranha sensação de que importa mais empurrar nos
alunos, goela abaixo, o produto da assimilação de conhecimentos obtidos nos
cursos de mestrado, doutorado, pós-doutorado, ministrados em grandes centros do
saber acadêmico. E só. Aplicá-los à vida local seria tarefa subalterna? Confundida,
talvez, no caso específico dos estudos de história política de Cajazeiras, com
algo desprezível ou passível de contaminar a pureza do saber acadêmico. Espero
estar enganado e que o centenário da diocese seja iluminado com as luzes do
campus da UFCG.
do blog: sete candeeiros cajá