sexta-feira, 30 de abril de 2021

DRUMMONDICE

por: João Batista de Brito



Há um filme de Woody Allen em que o protagonista se põe a imaginar que paradeiro teriam tido na vida os seus coleguinhas de escola elementar. E aí Allen faz a maldade de mostrar, na sala de aula, esses coleguinhas, um de cada vez, se levantando da sua carteira escolar, e pomposamente anunciando o que "é" no futuro. Há empresários, bombeiros, cafetões, mendigos, marginais...e a cena é tristemente patética.

No meu caso, os amigos do primário, perdi a maior parte de vista, porém, os do curso secundário, no Liceu, lembro mais.

Éramos uma turma unida que gostava de se divertir juntos. Entre nós houve paqueras, namoros, paixões secretas, mas nunca pela pessoa certa. Nesse aspecto amoroso não tivemos sorte. Quando X estava a fim de Y, este queria Z... E assim por diante. De forma que, embora fôssemos rapazes e moças, nunca, de dentro do grupo, saiu um casal.

Pois com a ajuda da internet, consegui rastrear alguns desses amigos e amigas, justamente os mais ligados a mim, lá pelos anos sessenta, a saber: João, Teresa, Raimundo, Maria, Joaquim, e Liliane, que a gente chamava de Lili.

Quem me ajudou nessa pesquisa sentimental e saudosista foi o amigo Carlos, de quem nunca perdi contato, e com quem ainda hoje me correspondo.

Contou-me ele que João ainda jovem fugiu para a América, no encalço de um tio que tinha negócios escusos em Miami. Foi trabalhar numa locadora de carros, casou com uma coroa americana só pra ter o green card, separou, e hoje mora em Atlanta, ninguém sabe se bem ou mal adaptado ao modo de vida dos gringos.

Uma surpresa foi saber que Teresa, a garota mais extrovertida da turma, sempre sorridente e pra cima, optou pela vida religiosa e, dizem, vive reclusa num convento de freiras em Minas Gerais, sem ver ninguém, nem ser vista. Nem a família sabe dela. Quem lembra o seu sorriso franco e sua alegria não acredita.

Um pouco mais triste teria sido o fim de Raimundo, que, ainda nos primeiros anos de faculdade, sofreu um acidente de automóvel numa viagem noturna para Cajazeiras, e veio a falecer. Dizem que vivia bêbado e que bêbado estava no momento: seu carro foi esmagado por uma jamanta e nada sobrou. Lembro bem que a notícia saiu nos jornais e os pais, idosos, nunca se recuperaram do choque.

Difícil foi achar o paradeiro de Maria, que segundo o meu amigo Carlos nem vestibular fez, nem curso algum, ela que parecia ser a mais inteligente de nós todos. Com esforço, conseguimos localizá-la em Paraú, interior do Rio Grande do Norte, sua terra de origem, onde, solteirona e idosa, vive de dar aulas pra crianças carentes da região. Uma vidinha miúda, pra ela que, além de inteligente, tinha uma beleza singela que nem sua timidez escondia.

Mas o caso mais estranho e misterioso é, com certeza, o de Joaquim, o nosso colega mais "bon vivant" e mais divertido. Simpático, bonitão, descontraído, filho de pais ricos, tinha, mais que qualquer um de nós, um futuro brilhante pela frente. Se, aos 23 anos de idade, não tivesse se matado com um tiro certeiro no peito. O boato é que teria sido decepção amorosa. Aliás, boato que também foi dito da fuga de João pro exterior, do isolamento religioso de Teresa, do alcoolismo fatal de Raimundo, e da solidão de Maria...

Se alguém se deu bem na vida foi Lili, aquela lourinha cabeça de vento que namorava todo mundo no colégio inteiro, sem levar ninguém a sério. Nem bonita era, mas era dona de um certo charme sedutor, e um papo que enganava até os professores mais sisudos. Mais tarde, esse charme foi usado na conquista de um certo J. Pinto Fernandes, poderoso empresário cearense, com quem casou e hoje vive posando de madame, orgulhosa de ser a consorte de um dos construtores da muralha de arranha-céus que enfeia a orla de Fortaleza.

Enfim, depois de redigir estas linhas, em dúvida, perguntei a meu amigo Carlos, bem mais sábio que eu, se devia publicar esta crônica meio triste. Sua resposta: assim é a vida.



IV Festival de Música da PB homenageia Genival Macedo


O homenageado da IV edição do Festival Música da Paraíba é o cantor e compositor paraibano Genival Macedo Lins. Ele é o autor do ‘Hino Popular da Cidade de João Pessoa’, ‘Meu Sublime Torrão’ e este é o ano do centenário de seu nascimento. O festival é um evento cultural que tem resgatado a obra e história de artistas paraibanos como Zabé da Loca, Jackson do Pandeiro, Sivuca e, agora, Genival Macedo.

O músico paraibano Adeildo Vieira, que apresenta o programa Tabajara em Revista de segunda a sexta-feira na 105.5 FM, disse que nenhum artista é autor de uma obra só e contou um pouco da trajetória do homenageado. "Genival Macedo viveu 87 anos e ao longo de toda sua vida construiu muitas canções, dentre elas algumas revolucionárias, como por exemplo, ‘Micróbio do Frevo’, que no início dos anos 1970 mudou a história frevo, cantada por Jackson do Pandeiro. Depois ele compôs muitas músicas regionais que abasteceram o repertório de grandes cantores nacionais", pontuou.

Adeildo destacou também um fato curioso sobre Genival, que remete ao início do formato carnavalesco puxado por trios elétricos no país. “Para quem não sabe, em 1941 Genival Macedo montou um caminhão com sistema de alto-falantes e rodou aqui João Pessoa em período carnavalesco, criando aí o primeiro trio elétrico brasileiro, que viria a ser depois aqueles trios elétricos de Dôdo e Osmar, baianos conhecidos por todo o país”, disse.

De acordo com Adeildo, o homenageado desta edição do Festival de Música da Paraíba, tem grande importância na cena brasileira. “Todo artista e público deve conhecer e honrar a trajetória desses grandes nomes que marcaram a história da música brasileira, que deixaram legados geradores de grandes avanços para os artistas”, completou.

E sobre o Festival, Adeildo incentivou a participação dos artistas, destacando as oportunidades que o evento abre para as obras autorais dos músicos paraibanos. “Que todos aproveitem bem esse momento, essa grande vitrine que se abre pra cena paraibana. Coloque o melhor de sua obra, se esmere pra fazer sua canção, sinta que você vai participar de um momento maravilhoso, não só no palco, como também nos bastidores”, disse.

Para Adeildo essa é uma oportunidade do artistas se relacionar com o público que vai acompanhar o festival, mas também de conhecer outras pessoas e de se inteirar mais, mergulhar mais na cena paraibana. “O Festival promove maior visibilidade ao trabalho dos artistas que se apresentam, e isso é um momento riquíssimo. Então, entre de coração aberto e sabia, a música é o melhor que você tem, é aquilo que você escolheu pra se expressar e esse evento gera isso”, apontou.

A inscrição é gratuita e totalmente online. O festival acontecerá nos dias 03, 04 e 10 de setembro, e é uma realização do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Comunicação - Secom PB, da Empresa Paraibana de Comunicação - EPC e Fundação Espaço Cultural da Paraíba - Funesc.



fonte: Rádio Tabajara

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Pão de Saora é patrimônio cultural e imaterial da Paraíba

... é de Cajazeiras!


Nada como um pão fresco à mesa do café da manhã para começar bem o dia. Melhor ainda se for o tradicional e delicioso ‘Pão de Saora’, que os habitantes de Cajazeiras e região apreciam desde meados do século passado e que, desde o ano passado também está disponível para o mercado de João Pessoa. 


Mas, a novidade é saber que esse saboroso alimento é, a partir de agora, considerado patrimônio cultural e imaterial da Paraíba. Lei neste sentido foi publicada na edição desta quarta-feira (28) do Diário Oficial do Estado. A Lei 11.916/2021 é fruto de uma propositura do deputado estadual Jeová Campos, através do PL 2.590/2021. 


O parlamentar lembra que o ‘Pão de Saora’ foi idealizado pelo Sr. Severino Cabral dos Santos, conhecido como “Seu Saora”, em meados do Século XX, na cidade de Cajazeiras. “Essa iguaria é conhecida e saboreada por consumidores fiéis de Cajazeiras e outras cidades do Alto Sertão Paraibano e até outros estados e mesmo após o falecimento do criador do pão, seus familiares continuaram a tradição do fabrico dos pães”, destaca o deputado. 


Paraibano nascido em Teixeira, em 19 de outubro de 1918 e falecido em 2004, aos 86 anos, em Cajazeiras, Seu Saora, diante das dificuldades enfrentadas ao longo da vida, teve a feliz ideia de fabricar pães caseiros de forma artesanal com a ajuda da família. “Em sua fórmula simples e sem segredos, os pães de Saora, como ficaram conhecidos e adquiriram fama, eram e ainda são produzidos sem qualquer produto químico o que os diferencia pelo sabor e qualidade”, reitera Jeová, destacando que esse pão é a garantia de um alimento saudável e nutritivo como, aliás, deve ser aquele que é considerado o primeiro e mais sagrado alimento do nosso dia a dia. 


Também em João Pessoa


O pão que há décadas é feito em Cajazeiras pode ser encontrado também em João Pessoa nas versões salgado e doce, graças à iniciativa de uma das netas de Seu Saora, a enfermeira Jana Samara, satisfazendo os inúmeros cajazeirenses residentes na capital que há muito desejavam adquirir o produto e os pessoesnses que passaram a ter disponível essa iguaria com mais facilidades. 


Texto da assessoria do deputado Jeová Campos



 

CURSOS, OPORTUNUIDADES NESSA PANDEMIA


O Grupo Multicultural “Pisada do Sertão” com apoio da Fundação Banco do Brasil, está realizando nesse primeiro momento quatros cursos na modalidade virtual, duas vezes por semana à noite. Os cursos oferecidos fazem parte das ações do projeto “Território Criativo Rota do Sol: Cultura e Inclusão Sócio Produtiva”. O público alvo são mulheres e homens com idade a partir dos 18 anos a 29 anos, que querem se capacitar nas áreas da cadeia produtiva da cultura. As inscrições já se encontram abertas para mulheres e jovens residentes nas seguintes cidades: Poço de José de Moura, Triunfo, Santa Helena, Uiraúna, Joca Claudino, Bernardino Batista, São João do Rio do Peixe, Cajazeiras, São José de Piranhas e Monte Horebe. As inscrições vão até o dia 30 deste mês de abril e podem ser feitas acessando os links abaixo.

Os cursos ofertados são:
*1 . Empreendedorismo Sociocultural:
*2. Curso de Fotografia:
*3. Produção Cultural:

*4. Produção de vídeos (vídeomaker):

Não percam essa oportunidade.



domingo, 18 de abril de 2021

Começaram as inscrições para o Festival de Música da Paraíba



Começaram nesta sexta-feira (16) as inscrições para o IV Festival de Música da Paraíba, que acontecerá de forma virtual nos dias 3, 4 e 10 de setembro deste ano, no Teatro Paulo Pontes, do Espaço Cultural, em João Pessoa. As premiações somam um total de R$ 28 mil em dinheiro. O edital do festival foi divulgado no Diário Oficial do Estado (DOE) desta quinta-feira (15). 


As inscrições estarão abertas até o dia 31 de maio, por meio de um formulário eletrônico disponível no site do evento: https://festivaldemusica.pb.gov.br/ . Os documentos necessários para inscrição, detalhes da premiação, protocolos de segurança e destaques de outras edições também podem ser conferidos no portal oficial do Festival. 


Poderão participar artistas paraibanos com residência comprovada no território estadual ou artistas de outros estados, desde que igualmente comprovem ser residentes na Paraíba há dois anos. Além disso, é preciso ter idade acima de 18 anos e se inscrever com música autoral inédita, uma vez que a natureza do festival é de revelação e valorização do artista autoral. 


O evento cultural abre espaço para que os artistas possam apresentar ao público as suas criações inéditas. Quem venceu a edição do ano anterior não pode participar. A divulgação da seleção dos participantes, após a curadoria, está prevista para o dia 5 de julho, com o sorteio da ordem nas eliminatórias programado para ocorrer no dia 9 de julho. 


A novidade do festival neste ano está no maior número de premiações, ampliada para cinco. Além dos três primeiros colocados, o evento vai premiar a melhor performance e ainda o mais votado pelo público na internet. 


Como o festival será de forma virtual, apenas os músicos, concorrentes, equipes de produção e convidados em número limitado poderão estar presentes, seguindo todos os protocolos de segurança da Covid-19. 


O evento é realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Comunicação Institucional (Secom PB), Empresa Paraibana de Comunicação - EPC e Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc). 


O compositor Genival Macedo Lins, autor do “Hino Popular da Cidade de João Pessoa”, “Meu Sublime Torrão”, será o homenageado desta IV edição do Festival de Música da Paraíba, neste ano de 2021, quando se celebra o centenário de seu nascimento. A premiação oferecida aos finalistas, no dia 10 de setembro, será assim distribuída:


P  r  e  m  i  a  ç  ã  o

1º Lugar

R$ 10.000,00 (dez mil reais)

2º Lugar

R$ 7.000,00 (sete mil reais)

3º Lugar

R$ 5.000,00 (cinco mil reais)

Melhor intérprete: R$ 3.000,00 (três mil reais)

Melhor canção pelo voto popular: crédito no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) para aquisição de equipamentos ou instrumentos musicais.

CONCURSO DE FOTOGRAFIA AÇUDE GRANDE VIVE. Saiba como participar



Estão abertas as inscrições para o Concurso de Fotografia 105 Anos do Açude Grande. O concurso integra a extensa programação que já vem sendo realizada desde o dia 12 do mês de abril em curso e culmina no dia 16 desse mesmo mês, com o lançamento deste concurso. A proposta do Fórum é de prosseguir realizando atividades até o final do ano, lembrando a história de existência do patrimônio ambiental, histórico e cultural Açude Grande. As inscrições serão feitas exclusivamente pelo e-mail forumacudegrande@gmail.com


P r e m i a ç ã o

1º Lugar

R$ 300,00 (trezentos reais)

2º Lugar

R$ 200,00 (duzentos reais)

3º Lugar

R$ 100,00 (cem reais)


Acesse o edital aqui: https://drive.google.com/file/d/1-1wfIjnT4dy-G4jTvJPOxYVyRJlXp-zq/view



quarta-feira, 14 de abril de 2021

Uma homenagem aos 105 anos do Açude Grande de Cajazeiras

NÃO DEIXE QUE O AÇUDE GRANDE SE

TRANSFORME EM LÁGRIMAS!

Música: Espelho D'água (Homenagem aos 105 anos do Açude Grande de Cajazeiras)

Composição e voz: Italo Castelar.

Piano e voz de apoio: Alcio Barroso.

Colagem: Linda Dias.

Filmagem com drone: Acervo de Cristiano Andrade.

Edição de vídeo: Maria Loren e Cauê Castelar.







domingo, 11 de abril de 2021

O CÉU É O TEMPLO ABERTO DA FÉ

por Eduardo Pereira


Por volta das dezoito horas, Hora do Ângelus, Padim, meu avô materno, se recolhia ao seu quarto para rezar. Quem passasse pela sala de janta, como era dito o ambiente de refeições da casa, ligada ao quarto dele, ouvia sua voz meio rouca, como se estivesse sussurrando no ouvido de Deus, devotando temor e rogando bem-estar na vida eterna.

Ajoelhado diante de seu pequeno oratório de madeira - meu olhar curioso de criança via pela porta entreaberta sem segredos - portinhola de vidro, com imagens de santos e, santas de gesso representando a presença física de sua fé, sempre uma vela acesa clareando a pureza de sua alma, circunspecto, ele falava com Deus, e Deus falava com ele. Era a certeza inabalável dele.

Pelos dedos calejados de roça, mãos enrugadas, o terço rodava a cada Pai Nosso e Ave-Maria. E mais Salve Rainha Mãe de Deus e outras orações do repertório católico. Nesse instante, criança, eu tinha consciência de que não se deveria fazer algazarra naquele momento sério de reflexão de meu avô com Deus, que eu sabia ser um Ser supremo, mesmo inconsciente. E se, por acaso, estivesse passando nesse momento fazendo zoada por lá, tendo esquecido aquele momento misterioso, de imediato um pedido rígido onomatopaico de silêncio, shiiiiiittt, soava no ar. Era minha tia. E ai, ai, ai de não respeitar.

Esse cenário descrito acima estava no Sítio Rita, de meu avô, onde eu passava longas férias de fim de ano na meninice. A igreja mais próxima de lá ficava em Monte Horebe, cerca de uma légua. Era uma distância enorme para época. Hoje, asfaltado, com bicicleta, moto, carro, difíceis então, é um estalar de dedos. Ah, as missas em Horebe eram apenas aos domingos, e às vezes só de quinze em quinze dias, com padre Linhares, de Bonito de Santa Fé, cidade maior e próxima.

Pegue esse contexto descrito acima e teremos o normal antes e hoje nos rincões Brasil afora. Como é sobejamente sabido, para falar com Deus não se tinha, e não se tem a obrigatoriedade de estar presente em um templo. É dito que, quem quer falar com Deus, basta ter fé. Inescapável não citar a canção de Gilberto Gil: “se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós”.

Mas cada um tem a interpretação e o jeito de ser. Falei tudo isso por causa da polêmica que um ministro, não de Deus, mas do Supremo, não Deus, mas STF, que liberou a abertura de igrejas no Brasil em decorrência de restrições impostas por prefeitos/governadores por causa do arrasador número de mortes da covid-19, e outro ministro mandou restringir. A pendenga religiosa foi o cento das atenções jurídicas no Brasil. Pareceu até um Fla x Flu místico. No fundo no fundo, muita gente desconfia que a questão gira em torno de arrecadação de grana, não de fé.

Se eu falasse para meu avô, caso fosse vivo, que o Supremo, instância jurídica, é que dava ordens para as igrejas abrirem ou fecharem nessa pandemia, ele responderia, pitando seu cigarro de fumo de rolo enrolado em palha de milho: “Meu fie, pergunte pra padre Linhares se não é Deus que é Supremo”. A fé reinante era que as almas boas iriam para o céu. 

Logo após ele recitaria sua poesia que fala o seguinte, e escrevo aqui de cor o que restou em minha memória: “A morte é sem piedade. Mata padre, mata doutor, mata juiz, mata jovem, mata velho...” E dava o fecho com voz empostada, olhando nos meus olhos azuis, como os dele: “A morte é sem piedade. Matou até Jesus Cristo!”. O nome dele era João Martins de Oliveira.



sexta-feira, 9 de abril de 2021

HISTÓRIA DE UM PIONEIRO DO NORDESTE

por Claudio de Medeiros


foto: Claudio de Medeiros

Houve um tempo em que a profissão de caminhoneiro esteve associada à liberdade e à aventura de levar as riquezas de um país que se desenvolvia e ingressava numa era de progresso. Boas recordações para abrandar o desânimo de nossos dias.


Há cerca de trinta anos, quando o país vivia o desafio do crescimento industrial a figura do caminhoneiro não era tão comum como em nossos tempos. Nos pontos mais afastados do sertão, quando um caminhão estacionava para conduzir alguma carga, provocava grande agitação nos pequenos povoados.

Antônio Martins Primo”, paraibano de Cajazeiras do Rio do Peixe, é um dos personagens que vivenciou a chegada desses primeiros veículos; e, como boa parte dos jovens daquelas regiões, entusiasmou-se com a possibilidade de, um dia, possuir o seu próprio caminhão e trafegar pelas esburacadas estradas do Brasil dos anos 50. Não demorou para que ele oferecesse seu trabalho a um caminhoneiro. Em troca da “boia”, ele começou a trabalhar como “calunga”, ou ajudante, em 1948.

Um ano depois, Antônio começou a trabalhar como motorista em um Chevrolet 41, importado, fazendo o carregamento de algodão, numa linha que fazia o percurso Pedra Branca - Senador Pompeu - Crateús - Fortaleza, além de idas a Salvador, Recife, e, muito raramente, São Paulo. As viagens eram geralmente muito longas, e o jeito era escrever cartas para abrandar a saudade.

A maioria dos problemas mecânicos tinha que ser resolvidos pelos próprios motoristas, à alimentação era providenciada com algumas frutas ou alguma caça, e, à noite, eles tinham que pousar em motéis, pois as cabines eram apertadas e não havia como dormir. Para o caso de problemas com os pneus. Antônio lembra que quase não havia borracharias e que o sistema era muito artesanal: Havia uma mesa em cuja extremidade se cravava um ferro de brasa de cabeça para baixo, que recebia calor de uma lamparina. Sobre a base do ferro se colocava a parte do pneu onde estava o furo, que depois era prensada por um cepo de madeira, fechando assim o buraco.

Daquela época já distante Antônio guarda boas lembranças, mas o fato que mais o impressionou foi o de um caminhoneiro que, para dar carona a um viajante, tirou da carroceria um saco de algodão, que equivalia ao peso do homem, para então poder acomodá-lo. Uma forte demonstração de responsabilidade com relação ao limite de peso do veículo que ficou gravada na sua consciência.