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Cordel conta fato histórico ocorrido em Cajazeiras.
O atentado a
bomba em um cineteatro de Cajazeiras, a 468 quilômetros da Capital, durante a
ditadura militar, está sendo contado através da literatura de cordel. Esse fato
da história paraibana ocorreu há 40 anos é pouco conhecido das gerações que
sucederam a tragédia. Duas pessoas morreram.
A ideia é do professor e
cordelista Janduhi Dantas que resgatou o fato histórico numa linguagem
acessível e poética, ao mesmo tempo que conscientizadora. Intitulada ‘O
misterioso atentado ao bispo de Cajazeiras’, a obra é importante porque conta
um episódio que não está nos livros de História e que não é contado nas
escolas.
"Ditadura nunca mais! / Afirmo ao fim desta história/ Na
esperança de que os jovens/ Tenham o caso na memória/ Assuntem que ditadura/ Sempre
é vil, nefasta, inglória"
O fato histórico que completou 40 anos em julho
deste ano ainda é um mistério e faz parte das investigações da Comissão
Estadual da Verdade. O atentado aconteceu no dia 2 de julho de 1975, em plena
ditadura do governo do general Ernesto Geisel.
Uma bomba explodiu no cineteatro
Apolo XI logo após a exibição de um filme e o alvo do atentado seria o então
bispo de Cajazeiras Dom Zacarias Rolim de Moura.
Ele não foi vítima da explosão
que matou duas pessoas porque viajara para Recife naquele dia. A bomba estaria
em uma mala que foi achada embaixo da cadeira cativa do bispo, que era
cinéfilo.
Na opinião de Janduhi Dantas, o resgate da história e a maneira como
isso é feito são muito importantes porque mostram às novas gerações como a
ditadura militar foi nociva a todos que viveram aquela época, mas com uma linguagem
popular e poética.
"Foi um momento muito triste e que precisa ser contado
de forma mais fiel e crítica possível para que os jovens aprendam com a
História e jamais repitam os erros cometidos no passado".
Ao mesmo tempo
em que ocorre a viagem a um fato nefasto e triste, o trabalho de Janduhi
consegue mostrá-lo com uma leveza e uma riqueza que são típicas da linguagem do
cordel. Cajazeiras, a cidade onde ocorreu a tragédia, também é reverenciada nos
versos. O autor mostra a vocação cultural ante à tragédia.
"Cidade que dá
valor/ ao artístico, ao cultural/ onde Educação é sua/ base patrimonial/ cidade
que sempre teve/ um charme intelectual"
ENSINO:
Para a
professora Irene Marinheiro, membro da Comissão Estadual da Verdade que
coordena os trabalhos de investigação sobre o crime, a iniciativa de Janduhi
Dantas é louvável e o cordel deve ser utilizado nas instituições de ensino.
“Quero
parabenizá-lo pelo trabalho e dizer que ele é muito importante para levar ao
conhecimento dos jovens o que foi a ditadura militar vivida nesse país e
principalmente mostrar os prejuízos que o regime trouxe não só para as gerações
que a viveram, mas para as que ainda vivem as consequências dela”, enfatizou.
“A ditadura foi um fato lastimável que trouxe prejuízos e marcas irreversíveis
e esse trabalho veio para fazer uma retrospectiva dessa história”.
Irene
Marinheiro disse que as novas gerações precisam conhecer os acontecimentos e
analisá-los com senso crítico para não cometer o equívoco de estar pedindo a
volta do regime.
Na opinião dela, o trabalho de Janduhi deve ser levado às
escolas e às universidades porque as pessoas precisam saber que ainda existem
famílias chorando pela vontade de ter os restos mortais de parentes que
desapareceram naquele período e ainda hoje não se consegue informações que
revelem o que aconteceu.
ABRANGÊNCIA:
Para a
professora aposentada da UFPB, Inês Caminha Lopes, que fez a apresentação da
obra literária, o cordel de Janduhi Dantas parte de um fato aparentemente
isolado ocorrido numa remota cidade do sertão nordestino, e aborda um
intrincado universo de grande abrangência.
"Rico em informações, o texto
apresenta um valioso panorama do contexto em que o fato ocorreu. Aborda
elementos conjunturais e estruturais. Insinua um complexo de fatores
históricos, culturais, religiosos e ideológicos mesclado à indissociável e
onipresente questão do poder", analisa.
Inês Caminha acredita que o cordel
‘O misterioso atentado ao bispo de Cajazeiras’ pode motivar os professores,
principalmente os de História, a trabalhar com os seus alunos temas que levem a
amplas reflexões.
O viés educativo do trabalho de Janduhi Dantas também é
destacado pelo sociólogo da UFCG, Rozenval Estrela. Para ele, trata-se de um
registro raro que "revela-se como uma valiosa contribuição para a pesquisa
de professores e estudantes sobre os anos de chumbo na Paraíba".
Janduhi Dantas-Autor do Cordel
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