quinta-feira, 25 de abril de 2024

A VOLTA DO CINE AÇUDE GRANDE


Design gráfico (em primeiro plano por) Getúlio


Os festivais de cinema realizados pelo país afora, tem feito coisa, mesmo, de cinema. É uma febre de prazer no bom sentido da palavra. Uns são mais importantes – levando em consideração, sua história, maior tempo de existência e volume orçamentário empregado na sua produção. Outros ainda novo, menus destacados, com pouco dinheiro ou buscando uma melhor equalização, se comparado com os já consolidados.

Não sei se o Cine Açude Grande, pode ser comparado com uma dessas duas versões, eu, pelo menos não sei, pois não vivo em Cajazeiras. Por conta disso, não conheço a sua logistica. O que eu sei é que a sua história, traz na sua trajetória, cinco ou seis realizações, cada uma das versões com crescimento de público e sucesso absoluto. Mesmo não sendo constante, já que tivemos alguns anos sem a sua realização, o Cine Açude Grande, segue numa crescente, que o tornará em breve num grande festival do gênero no alto sertão nordestino. É isso que se espera desse festival. 

Agora em 2024, o Cine Açude Grande, volta com força total. Portanto, você cinéfilo, amante do cinema, videomaker, documentarista e realizador, tem mais de um motivo para inscrever o seu filme. “Tire o seu filme do armário e corra para se escrever, pois o nosso portal mágico está aberto!” Assim se expressou a representação do festival.

Segundo a organização do festival, este ano o evento se multiplicará. No mês de agosto, por exemplo, uma novidade, será a realização da edição itinerante do festival, como preparação para o grande pool; para o seu grande acontecimento no mês de setembro. “Estamos ansiosos para encher as noites de setembro à beira do Açude Grande com filmes, oficinas, debates, pipoca, música no bar de Fonfom e, é claro, muitos abraços.” Afirmou mais uma vez a representação do evento.

Então, não perca tempo, vá até a página de inscrição do Cine Açude Grande e compartilhe e inscreva o seu filme. O filme que você está ansioso para mostrar nas nossas noites sertanejas. Vamos lá!

O V Cine Açude Grande é realizado através do edital Lei Paulo Gustavo da Paraíba e do Edital de Concessão de Fomento às Mostras e Festivais de Audiovisual, realização da Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba, Governo da Paraíba, Ministério da Cultura e do Governo Federal.

por Cleudimar Ferreira

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quarta-feira, 10 de abril de 2024

QUEM ESTUPROU ESMERALDA?

CRÔNICA ESCRITA POR DAMIÃO FERNANDES PARA O DIÁRIO DO SERTÃO EM 25.06.2016




Esmeralda Bernardo Gomes, é mais um nome desconhecido pela sua existência de quem é  ignorada pela sua dignidade de pessoa. Esmeralda Bernardo é uma mulher silenciada como tantas outras mulheres dessa cidade que sofrem violências domésticas ou estupros físicos e culturais. Esmeralda, pedra preciosa que é, ainda não tem pela “terra da cultura” o seu reconhecimento de uma cidadã de direitos. Essa Jovem é ainda tratada tal qual filha bastarda sem direito à herança. Tais pessoas semelhantes à Esmeralda, conseguem no máximo serem tratadas com atração circense ou elevadas ao título de “figuras folclóricas” quando a pretensão for apenas “fazer rir”. Cajazeiras é uma máquina de transformar seus sujeitos culturais em personagens de folclore; de transformar pessoas em vultos históricos.

Por isso, à Esmeralda é oferecida uma cidadaniazinha de segunda ou de quinta categoria. Tais cidadãozinhos, somente se tornam pauta de curiosidade coletiva quando são vítimas de violência física ou simbólica ou ainda quando sofrem a negação de seus direitos. Portanto, a visibilidade é sempre a partir de um pressuposto negativo. Pra ficar mais claro: Se a jovem Esmeralda não tivesse sido estuprada da forma que foi, ela iria continuar no silenciamento cultural que lhe era peculiar.

Como tantos outros, a importância de Esmeralda, na sociedade de Cajazeiras é mais como “figura folclórica” do que como cidadã legítima, visto que é mais fácil diminuir a pessoa e elevar a arte quando os interesses sobre a rótulo se sobrepõe ao da pessoa. Cajazeiras, julgando-se “a terra da cultura”, acaba por tornar as pessoas diferentes por seus talentos em folclóricas, como se fossem produtos de um tipo de indústria local.

Esmeralda Bernardo Gomes, foi violentamente estuprada, tendo por consequências do ato, um prolapso retal, ou seja, teve um extravasamento de parte do intestino para fora do organismo, pelo ânus. Penetraram o ânus da jovem Esmeralda com objetos diversos e rudes. Esmeralda Bernardo encontra-se, no momento em que você está lendo esse texto, numa enfermaria sofrendo as suas dores.

Quem estuprou Esmeralda? Que mulher ou homem de espírito público veio à mostra e emitiu uma nota de pesar à sociedade ou à família dela (se ainda ela tem) pelo ocorrido? A figura folclórica violentada não serve para o entretenimento ou para alimentar a ideia de que ela é nossa produção cultural, do nosso folclore. Quem estuprou Esmeralda não foi um ou não foram dois, fomos todos nós. Pois uma sociedade que não cuida daqueles que mais precisam de cuidado é também responsável por aquilo que lhe acontece. E a depender do tamanho da omissão, torna-se réu do mal que lhe sobrevém. Cotidianamente, Esmeralda é estuprada pela nossa indiferença política, social e exclusão cristã.

A sociedade de Cajazeiras, comete estrupo em Esmeralda e em tantas outras “esmeraldas” dessa cidade, quando insiste em tratá-las apenas como nossos produtos culturais circenses ou nossas “figuras folclóricas” de diversão. Será essa mesma sociedade patriarcal e machista que reinventará as condições para o estupro ao promover um tipo cultura como um modo de ser sustentado na violência quando muitas vezes são culpabiliza das pela dor sofrida. Tal sociedade só pode ser o resultado de uma cultura que só pode produzir subjetividades aberrantes.

[Esmeralda Bernardo Gomes, 47 anos - Conhecida folcloricamente como BABALÚ]

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