quarta-feira, 30 de março de 2022

O Choro das Terras do Benvirá de Vandré




















por Humberto de Almeida

Parece até que foi ontem. Pensei. Lembrei então do Vandré no programa de César Alencar, representando a Parahyba e usando o nome artístico de Carlos Dias.

Naqueles tempos, como em tempos atrás também aconteceu com o nosso Chico César que sonhava ser e cantar como o Caetano Veloso - triste fado! -, Vandré imitava o Orlando Silva. E quando esquecia o Orlando, lembrava do Francisco Alves.

Queria porque queria ser cantor de rádio. E tanto insistiu nesse querer que terminou ganhando da mãe um disquinho de vinil -  um compacto -  e saiu pelas emissoras sem pagar jabá, pois jabá não tinha, pedindo para que tocassem o “seu pequeno” objeto do desejo dele. Mas é o LP Das Terras do Benvirá o que interessa nesse momento em que o escuto na minha ilha cercada de livro, filmes e discos por todos os lados.

As lembranças chegam mais fortes com o disco na vitrola. O nome cai bem: vitrola, pois, afinal, é um LP. O mais triste é que chegam também com os gritos. E não segurando a barra, vem com o choro incontido do artista.

Um sofrimento. Vandré abre as comportas do peito e deixa jorrar quase de uma só vez toda a angústia que há muito trazia - e ainda traz, comprovei na última vez que o vi - guardado lá dentro. Um disco apenas e tanto sofrimento, tanta dor, tantos gritos desesperados!

Vou à capa do LP e constato: um disco de apenas 8 faixas. O tempo que se gasta - ou seria “se ganha?” - para ouvir o dito cujo é de apenas 42 minutos. E para não dizer que esqueci de lembrar que este é um texto de lembranças, lembro que o disco foi gravado e lançado em primeira mão no ano de 1970, em Paris. Todos que acompanham a “saga vandreniana” devem saber ou deveriam. Mas, por aqui, como todos sabem, somente chegou anos depois. Esse é mais que um disco. É um grito desesperado do artista.

As músicas não são cantadas - atentem, são gritadas, arrastadas como pesadas correntes nos sótãos da ditadura. Vandré parece mesmo é querer chamar a nossa atenção para aquele exílio forçado, suas andanças por terras estranhas e o quanto ainda guarda da angústia que levou naquela distante e triste partida. Cada grito é um desespero, uma vontade louca de voltar, mesmo estando impedido naquele ano, pelo medo de ser obrigado a partir da mesma maneira.

A atmosfera do disco é quase irrespirável. Pesada. Os poucos acordes de suas músicas, uma de suas marcas, parecem guardar um espaço maior que o necessário entre um e outro. Grita-se o primeiro verso e os ouvidos ficam a esperar o som do violão. Outra característica marcante é a expectativa que impregnava todo o ambiente no final de cada faixa.

E os aplausos? Unem-se a pergunta da expectativa. O disco traz o clima dos discos gravados ao vivo (em festivais). O estúdio, imagino, é somente tensão. De quando em vez a voz de Vandré parece se perder nos confins do mundo. É um aboio; um soluço contido na marra; um grito parado no ar.

Em quase todas as faixas estão presentes a desconfiança, o medo e - ela continua, sim - a expectativa. O que estaria ocorrendo, estaria desagradando alguém? Quais as consequências daquele canto? Está dizendo o que pretende dizer? Está sendo entendido?

Chove lá fora. Vandré continua chorando. Isso mesmo: chorando para ser entendido nos seus lamentos. Entendo-os. Mas não seria tarde? Fecho-me na minha ilha.

Do  meu livro “O que me restou do silêncio“


fonte: http://humbertodealmeida.com.br/o-choro-das-terras-do-benvira-de-vandre/#comment-10386

sexta-feira, 25 de março de 2022

MEU RECORTE VI

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EM DESTAQUE:

O TAC presente ao Centenário de Sousa

Mais uma vez recomemos as páginas do semanário Flash, órgão noticioso do Atlético Cajazeirense de Desportes, em circulação na década de 50, para fazer uma leitura do que foi destaque no ano de 1954, mas precisamente entre os meses de maio e junho desse ano.

Como o jornal era publicado por uma agremiação esportiva, evidente era ver no seu conteúdo, mais matérias ligadas ao mundo dos esportes. Porém com Flash, suas prioridades eram outras e não somente o esporte. Por ser assim, o jornal divulgava tudo que era destaque na sociedade cajazeirense, como está bem confirmado nessa página do jornal de 1954, há quase exatos 68 anos passados.

Sendo Cajazeiras uma cidade onde a paixão esportiva de sua população era, e sempre será o futebol, essa atração do seu povo era acrescida por outras atividades, como a cultura, por exemplo, especificamente o teatro.

Nessa página, essa segunda paixão do cajazeirense se revela, com o registro da ação do TAC - Teatro de Amadores de Cajazeiras, na cidade e na região. E o Flash não deixou passar, quando publicou uma nota que anunciava a ação do TAC, na vizinha cidade de Sousa. Diz a pequena matéria: O TAC presente ao centenário de Sousa. E segue o seu conteúdo: “Em dias dessa semana, foram, afinal, concluídos os últimos entendimentos para a exibição em Sousa, no próximo dia 11 de julho, o conceituado Teatro de Amadores de Cajazeiras, que encerara, ali, uma das peças de eu escolhido repertorio”.

Pelo que diz a notinha, o TAC era um grupo atuante, respeitado e que carregava na sua mochila, um programo vasto com várias peças montadas a oferecer para qualquer tipo de público. Isso demonstra que o teatro em Cajazeiras tem sido o sague azul a correr pelas veias de sua população. Esse pensamento, historicamente se confirma, com a ação dos Liras - Nanego, Soia, Buda Lira e, na gangorra do tempo, pelos seus patriarcas, aqui sito nomes como Íracles Pires, que fora diretora do TAC; Ubiratan di Assis e Eliezer Rolim. O estrelato isolado de nomes como Marcélia Cartaxo, Ana d’Lira, Savio Rolim, Raquel Rolim, Suzy Lopes e agora, Thardelly Lima, integrante do cast da novela das sete, na Tv Globo. 

Cleudimar Ferreira



 Imagem: Acervo de Francisco Frassales Cartaxo

quarta-feira, 23 de março de 2022

FEST ARUANDA 2022 ANUNCIA NOVA DATA E HOMENAGEM PARA ELIÉZER ROLIM.



O 17º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro será realizado de 1 a 7 de Dezembro/22 na rede Cinépolis (Manaíra Shopping) e prestará homenagem póstuma ao ator, encenador, dramaturgo, professor e cineasta Eliézer Rolim, morto prematuramente no mês de fevereiro último, em João Pessoa.

A mudança da data, inicialmente anunciada para o período de 8 a 15 de dezembro, se deveu à necessidade de evitar o choque com os jogos da Copa do Mundo, em sua fase final, o que poderia desmobilizar o público, na percepção da organização do festival.

Além da homenagem póstuma já anunciada ao jornalista, poeta, crítico e cineasta Jurandir Moura, o nome de Eliézer Rolim vem se somar pela multiplicidade de papeis exercidos em vida pelo diretor do longa-metragem ‘Beiço de Estrada’, premiado na edição 2018 do evento.

“Da infância à idade adulta, Eliézer Rolim foi um homem dos palcos, seja em cena como ator ou na direção, terreno no qual se especializou; nesta condição esteve à frente de três produções cinematográficas (um média e dois longas-metragens), brilhando com amplo reconhecimento no último filme (‘Beiço de Estrada’), o que nos faz especular sobre o que ainda brotaria de sua incessante capacidade de criar e dar vida a personagens absolutamente singulares que povoavam seu imaginário”, disse Lúcio Vilar, produtor executivo do festival, para quem essa homenagem será um dos grandes momentos da edição 2022.

Quem foi Eliézer Rolim:

Eliézer graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB, 1986), com mestrado e doutorado em artes cênicas pela Universidade Federal da Bahia e pela École Nationale de Architeture de Grenoble, na França.

Rolim recebeu diversos prêmios nacionais com produções teatrais, entre elas, ‘Seca’, ‘Beiço de Estrada’, ‘O Barraco’, ‘Até Amanhã’, ‘Drops do Halley’, ‘Homens de Lua’, ‘Trinca Mas Não Quebra’, ‘Anjos de Augusto’, ‘Sinhá Flor’, ‘Como Nasce um Cabra da Peste’, ‘Adeus Mamanita’, ‘Estrelas ao Relento’ e ‘Efemérico’.

Atuando no cinema como produtor, roteirista e diretor, recebeu diversos prêmios. Dirigiu os filmes ‘Eu Sou o Servo’, ‘O Sonho de Inacim’ e ‘Beiço de Estrada’. Em 2018, o filme ‘Beiço de Estrada’ venceu o Fest Aruanda e foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema Brasileiro, que acontece em Milão, na Itália.


fonte: https://festaruanda.com.br/

quarta-feira, 16 de março de 2022

MEU RECORTE - V

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EM DESTAQUE:

Fundação do Atlético; Eleição do Diretor Esportivo do Tênis Clube; Escola de Arbitragem: 

Através dessa página do Jornal Flash - Órgão oficial noticioso do Atlético Cajazeirense de Desportos, publicada em Junho de 1954 - ano 1, 2º edição, podemos ficar sabendo o que esteve acontecendo, na área social na cidade de Cajazeiras, nesse mês de 1954. Entre os assuntos publicados nessa página, você vai ficar sabendo que a data de fundação do Atlético, (que segundo está registrado) foi no dia 27 de julho de 1947, mas a consolidação e a oficialização do clube, como uma equipe de futebol sólida e organizada, praticante do Football Association propriamente dita, só veio a correr ano depois, em 27 de julho de 1948. 

Haveremos de também saber, que o senhor Ivan Gomes, foi escolhido através de uma eleição para ser o novo diretor esportivo do principal sodalício da cidade, o “Cajazeiras Tênis Clube”. Podemos ainda encontrar em destaque nessa página, a notícia que o Desportista Antenor Araújo, sugeriu ao Diretor Esportivo do “Tênis Clube”, que fosse instalada pelo departamento esportivo do clube social em destaque, uma Escola de Arbitragem, já que havia uma certa carência ou deficiência de profissionais nessa atividade na cidade.  

Segurança Pública; Justiça; Prefeito de Cajazeiras: 

De acordo com a página do Flash, nesse mês e ano, ouve mudanças na condução da justiça e da segurança pública no município de Cajazeiras, com substituição do juiz de Direito Onildo Farias - removida do cargo para a comarca de Areia, assumindo no seu lugar, o Juiz Nelson Deodato Fernandes de Negreiros. Na área da segurança, o jornal destaca nesse recorte à posse do Tenente Aderbal Rocha para o cargo de Comissário de Policia, pasta hoje conhecida como a de Delegado Titular. 

Finalizando, está publicado nessa página também, que o prefeito da cidade Dr. Otacílio Jurema, até então ausente da sua comuna, reassumiu o cargo, depois de ter passado alguns dias na capital federal do país - na época a cidade de Rio de Janeiro.  

Cleudimar Ferreira



Imagem: Acervo de Francisco Frassales Cartaxo

sexta-feira, 4 de março de 2022

EM CAJAZEIRAS: Uma relíquia que precisa ser investigada


provavelmente, um dsos primeiros projetores de cinema de Cajazeiras 
fonte: Acervo Jornal a União


Atenção cinéfilos cajazeirenses amantes da história da sétima arte na cidade. Em artigo de uma página inteira, publicada no jornal “A União”- Edição de domingo do dia 21 de outubro de 1984, pág. 2, que tem o título: “Cinema em Cajazeiras. A Crise Ameaça uma tradição”, produzida pela então jornalista Mariana Moreira; que nesse ano militava na imprensa local; essa imagem, especificamente entre outras que ilustra a matéria, aparece como sendo a do primeiro projetor, guardado por teias de aranhas, a operar na cidade. 

As fotografias no artigo de Mariana publicadas no jornal, provavelmente, foram feitas por Bosco Pinto, na época fotógrafo da sucursal de “A União”. Resta saber se essa fotografia em destaque, foi feita em Cajazeiras pelo fotografo ou tem outra autoria ou se o objeto (o projetor), faz parte de um acervo particular de alguém ligado a história dos cinemas de rua na cidade. 

Se foi produzida In Loco, ou seja: teria Bosco Pinto feito a fotografia do objeto na residência de alguma pessoa ou parente dos nossos primeiros exibidores!.. Em se tratando de exibidores, partindo do mais ilustre, o bispo Dom Zacarias Rolim de Moura até o mais humilde, Zé Sozinho, podemos lembrar os nomes de João Bichara, Zé Lyra, Carlos Paulino, Seu Eutrópio e o mais recente de todos, o empresário Eduardo Jorge César Guedes.

Aí eu arriscaria uma visita nas coisas deixadas por Dom Zacarias, Carlos Paulino, seu Eutrópio e pelo senhor Zé Lyra - que juntamente com seu Eutrópio foi um dos primeiros precursores a operar nos antigos cinemas de Cajazeiras. 

O certo nisso, é que se esse projetor ainda existir e, se estiver guardado como peça antiga na casa de alguém ou em alguma residência de algum parente desses eminentes exibidores citados, precisa ser resgatado e bem cuidado para servir como atrativo do futuro museu da imagem e do som de Cajazeiras. Ou não?!

por: Cleudimar Ferreira

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Ataque a Sousa: a conspiração de Lampião, Cel. Zé Pereira, Marcolino Diniz e Chico Pereira.


Casa de Marcolino Diniz, em Patos de Irerê, coito de Virgulino Ferreira Lampião.

por João Costa

O ataque do bando de Lampião a cidade de Sousa na Paraíba, em 27 de julho de 1924, já foi abordado por vários ângulos, entretanto, é um assunto que teima em não se exaurir, ser devidamente explicado o que de fato aconteceu naquela cidadela, embora os motivos para a razia sejam explorados e explicados à exaustão. O escritor Bismarck Martins, em seu livro História do Cangaço, é fonte segura de compreensão.

Eis que Virgulino Ferreira da Silva Lampião se encontrava militarmente incapacitado, convalescendo de um perigoso ferimento à bala no pé, e ainda assim organizou e perpetrou o ataque, após mobilizar 89 cangaceiros e despachá-los de onde estava o sítio Saco dos Caçulas, nos domínios do coronel José Pereira, em Princesa Isabel.

Na Arte da Guerra um pelotão de soldados se forma com 20 a 50 homens, no ataque a Sousa, Virgulino organizou “cinco pelotões”, digamos assim, distribuídos sob os comandos de: Antônio Ferreira, Livino Ferreira, Sabino das Abóboras, Meia-Noite e Chico Pereira, cangaceiro nativo de Sousa, chefe de bando próprio e sócio na empreitada com Lampião e o coronel Zé Pereira que tinha no sobrinho Marcolino Diniz, seu preposto.

No mês de julho do ano da graça de 1924, o cangaceiro Chico Pereira e sua família, radicados na zona rural de Nazarezinho, distrito de Sousa, enfrentavam violenta disputa política que envolvia, além dos poderosos do lugar, o juiz da comarca, Arquimedes Souto Maior.

Um “laranja” e cabra de confiança da família de Chico Pereira, de nome Chico Lopes, fora surrado em Sousa e ao retornar à Fazenda Jacu, de propriedade dos Pereira, informou que “uma outra” surra estaria reservada para Chico Pereira, para isto acontecer, bastava aparecer em Sousa.

A oportunidade esperada por Chico Pereira para ir a Sousa apareceu no mês de julho de 1924, quando se espalhou a informação que Virgulino Ferreira estava acoitado em uma das fazendas do Coronel Marçal Diniz, em Patos de Irerê (PB) na divisa entre os municípios de Princesa Isabel e Triunfo (PE).

Chico Pereira esboça seu plano inicial contra seus inimigos em Sousa.

Partiu sozinho disfarçado de tropeiro para o coito onde estava Lampião, viajando à noite e dormindo na caatinga. Ao chegar ao seu destino apresentou argumentos convincentes para uma ação de razia a Sousa. A cidade já tinha quase 4 mil habitantes, mal protegida pela polícia e um comércio pujante.

Foto de Marcolino Diniz, no museu 
de Princesa Isabel

No famoso coito de Patos de Irerê, sentado à mesa com Marcolino Diniz e Virgulino Ferreira, num suculento almoço onde foi servida carne de bode assada, queijo e muita cachaça, Chico Pereira apresentou sua demanda e ali mesmo o plano de ataque a Sousa foi esboçado.

Ao coronel Zé Pereira coube o financiamento e a logística. “Nada se movia debaixo do Sol em Princesa Isabel sem a concordância de Zé Pereira, que tinha ao alcance das mãos e na folha de pagamento um exército de jagunços e cangaceiros que lhe deviam favores e lealdade canina”, relatavam seus adversários.

Mas o que fazia Lampião numa propriedade do deputado Zé Pereira, homem mais poderoso do sertão paraibano?

Reza a lenda que Lampião barbarizava em Pernambuco e descansava na Paraíba, exatamente em Patos de Irerê, espécie de spa do cangaceiro. Desta feita Lampião aí se encontrava convalescendo de ferimento no pé, após tremendo combate nas imediações da Pedra do Reino na Serra do Catolé, em São José do Belmonte (PE) com a volante cujo cabecilha era o major Theóphanes Ferraz.

Incapacitado de caminhar, Lampião foi removido das cercanias na Serra do Catolé para Patos de Irerê  onde recebeu tratamento do médico Severiano Diniz, primo de Marcolino.

Cangaceiro Chico Pereira, portando arma privativa do 
Exército, planejou o ataque a Sousa.


À cabeça da mesa na famosa casa que servia de coito em Patos de Irerê, Lampião foi didático.
- Todos os grupos estarão sob o comando de Antônio Ferreira, inclusive o seu Chico Pereira e o do meu compadre Sabino das Abóboras, irmão de criação e homem de confiança de Marcolino.
- Capitão! Tenho um reparo a fazer, teria ponderado Chico Pereira.
- Fale agora para não haver lamúria depois, respondeu Virgulino.
- Em Sousa, tenho muitos amigos comerciantes e correligionários políticos; seria de bom alvitre poupar seus estabelecimentos e ainda assim vai sobrar muita bodega pra saquear, o comércio é grande, capitão.

Dito isto, Chico Pereira passou a nomear os comerciantes e os estabelecimentos que deveriam ser saqueados e os que seriam poupados.
- Oxente! Tenha paciência. Se assim é e desse jeito for, não vai sobrar comércio nenhum pra ser saqueado, atalhou Antônio Pereira. Os convivas riram com a piada, mas se estabeleceu um pacto para preservar algumas famílias.

Assim uma horda de oitenta e nove cangaceiros bem armados e municiados partiu de Patos de Irerê com destino à fazenda Jacu, em Nazarezinho, onde os grupos se reagruparam, comeram e beberam, para logo em seguida partir para Sousa.

Entretanto, pelo caminho, o bando promoveu roubos e espancamentos nos arredores do povoado de São José da Lagoa Tapada. O pavor se espalhou e a notícia também, a ponto de vários telegramas relatando os fatos e pedindo providências chegaram à mesa do governador da Paraíba, Sólon de Lucena, todos datados de 20 de julho.

Sólon convocou ao Palácio da Redenção, o Dr. Demócrito de Almeida, chefe da segurança pública, que recebeu ordens para que os destacamentos de Cajazeiras e Pombal desdobrassem reforços para Sousa. Mobilização inútil.

Virgulino Ferreira da Silva - Lampião em 
Juazeiro do Norte/CE, 1926


Na noite de 26 de julho a sociedade sousense é tomada de pavor por conta dos boatos. Os chefes políticos se reúnem, esboçam uma organização, mas a reunião acaba com acusações de lado a lado, mas com o prefeito de Sousa, Cel. José Gomes de Sá, amigo e correligionário de Chico Pereira assegurando que nada aconteceria na cidade, e que “botava a mão no fogo por Chico Pereira e que se responsabilizaria por qualquer invasão que viesse ocorrer”. 

O domingo 27 de julho de 1927 amanheceu com Sousa tomada por 89 cangaceiros sob o comando de Antônio e Levino Ferreira, Meia-Noite, Sabino das Abóboras e Chico Pereira, domingo este que se tornaria sombrio na História de Sousa, por conta dos saques e dezenas de estupros praticados pela horda de bandoleiros.




Fonte de consulta: 
História do Cangaço - O saque de Sousa, de Bismarck Martins.
Relatos orais
Imagens de domínio público

Artigo publicado no Blog de João Costa

fonte do vídeo: Fernando Antônio / Tv. Diário do Sertão. https://www.youtube.com/watch?v=zYsZt534NsY&t=1856s