segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Coronel Justino Bezerra


O Barão das Cajazeiras
Por Francisco Cartaxo


Coronel Justino Bezerra é nome da rua, que começa na padre Manuel Mariano e finda na avenida engenheiro Carlos Pires de Sá, perto do Cemitério Coração de Maria. Justino Bezerra era um homem rico, comerciante, proprietário rural, político atuante no final do século 19 e início do século 20. Exerceu com desenvoltura a chefia política em Cajazeiras, tendo sido prefeito muitos anos, quando a Paraíba vivia sob o domínio da oligarquia chefiada por Álvaro Machado. Fazia contraponto à hegemonia dos Rolim, Cartaxo e Coelho. Por coincidência, coronel Justino faleceu em 1913, pouco mais de um ano após a morte de seu grande chefe.

O padre Raimundo Honório Rolim conta que o coronel Justino Bezerra tentou conseguir o título de barão. Teria sido o Barão das Cajazeiras? É provável que tenha desembolsado razoável quantia para comprá-lo. Pelo menos, se dispunha a fazê-lo.

Mas a República amanheceu na casa do imperador Pedro II e, de madrugada, deportou a família real. Lá se foi assim a distribuição de honrarias em troca de dinheiro, e apoio material e político à Monarquia. Depois que dom João VI se instalou no Brasil, fugindo do exército de Napoleão, teve início a concessão de títulos de “nobreza” a ricos fazendeiros, produtores de café e açúcar, banqueiros, comerciantes, donos e traficantes de escravos. Era uma troca de favores entre o poder e homens ricos, militares, chalaças e mulheres.

Duque era o título mais importante. Na seqüência vinham os de marquês, conde, visconde e, por último, o de barão, o mais insignificante nesse mercado de vaidades e interesses, muitas vezes, escusos. Mesmo assim, quem desejava ser barão haveria de desembolsar uma pequena fortuna, equivalente, na época, a 4 ou 5 anos de trabalho de um soldado, um alfaiate ou um carpinteiro, segundo estimativa de Laurentino Gomes no seu mais recente livro, “1889”. O título de duque valia três vezes mais do que o de barão. Em tempo de crise, as concessões nobiliárquicas aumentavam muito, como sucedeu nos estertores da Monarquia. Muitos militares foram então agraciados, numa tentativa do Império granjear a simpatia das armas. Tantos que até virou piada. Dizia-se: “Sai daí, cachorro, senão eu ti faço barão”...

Nem por isso, o coronel Justino Bezerra conseguiu seu galardão. O velho monarca Pedro II já havia sido deposto, quando, mesmo assim, o visconde Nogueira da Gama lhe trouxe, burocraticamente, uma pasta com um monte de papeis, inclusive títulos de barão, prontinhos para assinatura, no último suspiro do poder... Quem sabe, o ato do coronel Justino lá estaria encalhado no meio daqueles quase documentos.

Não era só dinheiro, porém, o fermento da “nobreza” brasileira. Havia outras motivações para o reconhecimento do imperador. O título de duque era o topo da honraria. Durante décadas, até 1889, só duas pessoas tiveram a glória de exibir tamanho privilégio: Luís Alves de Lima e Silva, o famoso Duque de Caxias; e Isabel Maria de Alcântara, a duquesa de Goiás, filha de Domitila de Castro, a amante preferida, entre as muitas do imperador Pedro I, que, aliás, a fez marquesa de Santos. Caxias conquistou seu título, lutando na Guerra do Paraguai. E Domitila? Na cama. Mas isso é outra história...



fonte (colunistas) Diário do Sertão

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