sábado, 16 de outubro de 2021

Bom texto escrito por Fernando Carvalho sobre a relação do Cartunista Luzardo Alves (in memoriam) com Assis Chateaubriand

foto: http://www.memorialhqpb.org/autores/luzardoalves/luzardoalves.html


O PONTO DOS CEM RÉIS NUNCA MAIS SERÁ O MESMO SEM A PRESENÇA DE LUZARDO ALVES.

por Fernando Carvalho. (Texto publicado no Facebook do autor em dezembro/2016)


Eis que o grande chargista e amigo LUZARDO ALVES, sai de cena, deixando um grande vazio no Humor Gráfico Paraibano.

LUZARDO, não apenas era um grande Chargista, mas também era fiel depositário da arte de fazer amigos. Bem que poderia ter sido ele o autor do livro: COMO FAZER AMIGOS E INFLUENCIAR PESSOA, o clássico de Dale Carnegie.

Nascido no bairro de Jaguaribe, João Pessoa em 1932, começou a demonstrar seu dom, aos oitos anos de idade, desenhando com pedaços de tijolos e carvão nas calçadas das casas do referido bairro, cenas que via em filmes.

O que poucos sabem, é que era também apaixonado por cinema. Por falar nisso, fiquei devendo-lhe o filme: SALUTE TO THE MARINES, com o ator Wallace Beery. Mas confesso que fiz um esforço sobre-humano para conseguir uma cópia desse clássico do cinema americano, produzido em 1943, para presenteá-lo, sem lograr êxito. Luzardo gostara tanto deste filme, que ainda guardava em sua mente, mais de quarenta anos depois, cenas do mesmo, em quase toda plenitude.

Aos doze anos de idade foi convidado a trabalhar no Jornal A UNIÃO, onde permaneceu por um período significativo de tempo.

Em 1960, o rei da imprensa brasileira, o criador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, inaugura a TV Tupi do Recife, canal 6, onde foi desenvolvido um dos períodos mais produtivos da TV brasileira com programas jornalísticos, humorísticos, programas de auditórios e infantis.

Foi num desses programas de auditório que o jovem chargista, com 28 anos de idade, começou a fazer sucesso. O quadro consistia no seguinte: Uma pessoa da plateia era convidada a fazer qualquer rabisco, em um quadro negro, e a partir deste rabisco Luzardo realizava um belíssimo desenho.

Numa dessas performances, o todo poderoso, Assis Chateaubriand, encontrava-se na plateia e encantou-se com o traço e a criatividade de Luzardo, procurando-o logo após o término do programa, que era ao vivo. Assis Chateaubriand apresentou para Luzardo um desenho do inesquecível personagem AMIGO DA ONÇA, criado pelo fabuloso cartunista pernambucano, Péricles, e perguntou se ele era capaz de reproduzi-lo, coisa que Luzardo realizou, em questões de segundos.

Na realidade, Assis Chateaubriand, estrategista que era já estava prevendo a morte de Péricles, devido ao alto grau de alcoolismo de que o mesmo era detentor, e queria um chargista para continuar com o mesmo personagem (amigo da onça ), devido ao grande sucesso que ele fazia, na revista O CRUZEIRO e contratou o conterrâneo Luzardo, de imediato.

Já contratado, pelo visionário, Assis Chateaubriand, Luzardo deixa a Paraíba para radicar-se no Rio de Janeiro, onde foi trabalhar na revista O Cruzeiro, na época a mais importante do país.

A aventura no Rio de Janeiro era o que faltava para a lapidação do artista, pois trabalhara com a nata do humor gráfico à época, a exemplo de Henfil, Millôr Fernandes, Péricles, Carlos Estevão, Juarez Machado, Nilson, Redi, Ciça, Daniel Azulay, Ziraldo, Zélio, Jaguar, Fortuna, enfim, o sumo do humor gráfico brasileiro. Além de publicar em O Cruzeiro, participou da Revista do Rádio e dos jornais Correio da Manhã e O Dia. Também confeccionou arte para capas de revistas em quadrinhos destinadas ao público infantil, como Bolinha, Luluzinha, entre outras.

Em 1970 Luzardo retorna a João Pessoa, onde em parceria com alguns jornalistas cria o Jornal Edição Extra, seguindo a linha irreverente e escrachada do PASQUIM.

Neste Jornal, ao lado de Anco Márcio, criou uma das mais irreverentes personagens dos quadrinhos paraibanos: Bat-Madame, que fazia uma sátira pervertida de Batman e dos costumes da região.

Durante, praticamente toda a década de 70, publica Charges e Cartuns em quase todos os jornais paraibanos, além de editar a Charge da Semana, um folheto patrocinado pelo comércio local e com distribuição gratuita, onde o personagem Pataconho ironizava a política e a banalidade de nossa vida quotidiana.

Em parceria com o escritor, jornalista, pesquisador, biógrafo, historiador, tradutor, editor técnico e literário, contista e poeta bissexto, Evandro da Nóbrega, publicou "A vida de Assis Chateaubriand em quadrinhos", publicada serializadamente pela Fundação Assis Chateaubriand, com sede em Brasília (DF), nos jornais dos Diários Associados, durante praticamente todo o ano de 2001, sob a batuta do Jornalista Marcondes Brito, à época , Diretor-Geral das então sete empresas dos Diários Associados.

Sobre este trabalho, Luzardo Alves, falava com muito orgulho, sempre elogiando o colaborador, Evandro da Nóbrega. Falava que este trabalho era uma espécie de gratidão à Assis Chateuabriand, por tudo que tinha feito por ele.

Detentor de uma das características dos grandes homens, a humildade, sempre marcava presença no “Ponto dos Cem Réis”, coração de João Pessoa, a observar os seres arquetipados que por lá transitam, ou residem, na busca frenética do viver. Dizia que lá era a sua fonte de inspiração.

O cronista do traço e precursor do Cartunismo na Paraíba trabalhou, com amor e afinco, até o último dia de sua existência, fato ocorrido em 18 de dezembro de 2016, aos 84 anos de idade, de infarto fulminante, deixando o humor gráfico paraibano mais pobre e, sobretudo uma atmosfera triste e melancólica no “Ponto dos Cem Réis”.

Quem sabe a colocação, de uma estátua sua, ao lado da já existente do seu irmão Livardo Alves, mesmo sendo de bronze, material inânime, desprovido de vivacidade e animação, possa suavizar um pouco o estado mórbido de tristeza que de lá se apoderou.



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