domingo, 22 de dezembro de 2024

CONVERSAS DE CINE ÉDEN: No Natal sempre um grande filme

porCleudimar Ferreira

A única e principal imagem do Cine Éden com letreiro do Cajazeiras Ideal Clube acima.
foto (provavelmente) de autoria de Bosco Pinto


Como conciliar o encantamento do cinema com a mágica noite de Natal. Bom, com relação ao cinema, aparentemente essa união não parece um tanto quanto distante, se não fosse as inúmeras produções sobre a cultura natalina, realizadas pela sétima arte, desde a sua invenção, até os dias atuais com o advento da era digital. Em função disso, é de se pensar que de fato há uma certa convergência entre ambos. Portanto, não resta dúvida que o tema Natal, sempre cativou a imaginação de diretores e produtores, mesmo não sendo uma totalidade. Além do mais, o cinema como um meio de entreternimento, pode ser para uns, uma opção de lazer nessa noite especial.  

No passado, em Cajazeiras, essa aproximação pareceu ser possível e, veio se tornar bastante regular, a partir da iniciativa do proprietário do Cine Teatro Éden, o senhor Carlos Paulino, em manter a tradição de sempre exibir com exclusividade na noite natalina de 24 de dezembro, um grande filme na sua extensiva tela de exibição. "Um grande filme". Intencional ou não, era assim que Paulino se referia a película desse dia e, era dessa forma que o cinema anunciava o filme da noite de Natal. A atitude do dono do Cine Éden, era atrair a maior quantidade de gente; aumentar o fluxo na bilheteria e, evidentemente, promover uma busca lucrativa com essas exibições. Para público, a expectativa em torno dessas exibições, se transformava em uma grande festa no Natal. 

Nesse dia, véspera do nascimento do menino Jesus, a noite na Rua Padre José Tomaz, destacadamente o trecho que corresponde a Praça Coração de Jesus, (antigamente Praça dos Carros) era o point dos transeuntes, cuja maioria, eram pais de famílias com seus filhos pequenos, que circulavam por toda extensão da praça, por entre as inúmeras barracas que no local eram instaladas, estocadas de brinquedos diversificados e atrativos natalinos, que encantava os olhos de todos. Principalmente das crianças ansiosas, agarradas nas pernas das calças dos pais ou puxando a saia das mães; atraídas pelas ofertas de brinquedos, temerosas em se perder dos pais entre esses pontos comerciais e ambulantes persuadidos a vender. 

A iluminação dessa parte da Rua Padre José Tomaz, fora a já existente dos postes, era acrescida também por gambiarras com lâmpadas comuns e coloridas, tornando o espaço mais iluminado e alegre. Dando uma sensação de prazer e cores para todos que passeava pelo trecho. Era assim o único local de divertimento da meninada na noite de Natal em Cajazeiras. Não havia outro lugar na cidade que pudéssemos hermanar nossas felicidades no dia da chegada do menino Jesus, pois no passado, a cultura do tal chester com a ceia em família, nem sonhava existia ainda no Natal das décadas de 60 e 70. 

Para os mais crescidinhos, já desapegados dos pais, o percurso da Praça Coração de Jesus era só uma passagem. Um corredor apertado de gente que empurrava todos e levava acidentalmente até a porta do cinema - o Cine Teatro Éden. A intenção; o interesse dessa pubescência na festa natalina, não era as luzes coloridas, a barulheira dos apitos e cornetas das crianças, nem as músicas natalinas nas difusoras de José Adegildes penduradas nos postes da Praça. Por certo, as cores e as músicas que tocava e ajudava a atraia milhares de pessoas no local, também não era a principal dimensão desses adolescentes. O desejo era ver o grande filme que ia passar no Éden. Costumeiramente, o filme era programado uma semana antes, porém com o merchan disponível pelo cinema de Carlos Paulino, somente às dezessete horas desse dia 24. 

Fora isso, para esse público, o que complementava a tradicional noite de Natal na cidade, era o vai-e-vem das pernas dos mocinhos e das mocinhas, que circulavam ansiosamente da Karlos Center até a esquina da Rua Cel. Matos, esperado o momento para ver o filme do Éden e, depois, a hora de entrar, ou na Boate Chapéu de Couro ou no Cajazeiras Ideal Clube do edifício Ok. Para os menos avançadinho, o filme do Éden já era o bastante. Muitos garotos apaixonados por cinema, sonhava o ano todo com esse dia e com esse momento. Não tenho vergonha de dizer, que eu era um desses. 

As películas exibidas na noite de 24, especial de Natal, quase por unanimidade e aclamação popular, era os filmes do gênero faroeste. Nos natais dos anos sessenta, os grandes filmes exibidos nesses dias, na sua maioria, eram os protagonizados pelos lendários atores John Wayne, Audie Murphy, James Garner e Gary Cooper. Já nos anos setenta, as estrelas dessa categoria de filme, variavam entre Clint Eastwood, Franco Nero, George Hilton, Terence Hill e o ítalo brasileiro Anthony Steffen. Não havia espaço para outra espécie de filme na programação do Éden nesse momento do ano. Era esse o gosto popular que satisfazia a vontade da maioria. 

Esse enredo natalino só era mudado, quando vez por outra, um acordo do Cine Éden com um exibidor independente, provocava um aparecimento de uma veraneio pelas ruas de Cajazeiras, abarrotada de difusoras no seu teto, cartazes e fotografias nas laterais, anunciando no finalzinho da tarde desse dia, um filme surpresa que provavelmente seria melhor do que o programado pela direção do principal cinema da cidade. Mas isso era uma raridade acontecer. Fora isso, era mantido o tradicional presente de Natal do Cine Éden para o público frequentadores da sua sala de exibição.

Certamente, com as circunstâncias do tempo na estrutura urbana da cidade, assim também, na vida social de sua população, vieram as modificações que não permitiram hoje a existência de momentos assim no Natal da cidade. As ações do tempo; as mudanças que ocorreram, não deram espaços para o romantismo dos natais de antigamente. Ou seja, tudo foi passando, ficando para trás, não emergiu mais e hoje não faz parte do brilho natalino de Cajazeiras. Quanto ao Cine Teatro Éden, as icônicas sessões de cinema dessas noites de Natal, ficaram nas lembranças dos seus fiéis frequentadores ou daqueles que aguardavam o ano todo, só para ver aquele, que na cabeça do exibidor Carlos Paulino, era considerado um grande filme.

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