quarta-feira, 21 de julho de 2021

O que esconde o ataque de Sabino Gomes à cidade de Cajazeiras.

por: Cleudimar Ferreira


A direita, Sabino Gomes. E a esquerda,
Virgulino Ferreira da Silva 
(Lampião)

Afirmam alguns dos historiadores que fazem pesquisas sobre a atuação do cangaço nordestino, que em umas das andanças de Virgulino Ferreira da Silva - Lampião, pelas cercanias do Cariri cearense, especificamente a cidade de Juazeiro, que num encontro com Padre Cícero, o Padre em conversa com chefe do cangaço, havia pedido ao mesmo que evitasse atacar a cidade de Cajazeiras, na Paraíba, pois segundo ele, a mesma era uma terra abençoada, a qual existia um padre quase santo que era seu amigo e que tinha carinho e apreso ao mesmo. O religioso “quase santo” que o Padre Cícero se referiu na suposta conversa com Lampião, era o Padre Inácio de Sousa Rolim - o Padre Rolim.

Asseguram também esses mesmos estudiosos do assunto, que por volta de 1926, Padre Cícero - que naquela época além de ser anticomunista já misturava e confundia política com religião, teria aproveitado a lealdade que o rei do cangaço tinha a sua pessoa; e havia proposto a Lampião atacar a Coluna Prestes quando essa cruzasse o Nordeste. Em troca, o cangaceiro receberia uma patente de Capitão das Forças Patrióticas. Patente que muitos historiadores dizem que só tinha validade no Estado do Ceará, sendo esse um dos motivos que deixou Lampião contrariado, fazendo ele desistir da investida contra a Coluna Prestes.

De fato, não há nada de suposição nos dois parágrafos anteriores e a história prova que houve o encontro de Lampião e o padre de Juazeiro e, confirma também, que o acordo existiu e foi feito. Para que o rechaço a Coluna Preste acontecesse, Padre Cícero juntamente com amigos donos de terras da Região do Cariri, equipou Lampião e seu bando com fardamentos, armas e munições.

Relatam os amantes da investigação do cangaço, que Lampião recebeu as armas, as munições e a patente de Capitão - dada por Pedro Uchôa, funcionário público federal do Ministério da Agricultura a pedido de Padre Cícero, porém nunca atacou Luís Carlos Prestes e nem os seguidores de Prestes. Essa falta de cumprimento de Lampião do acordo feito com o pároco de Juazeiro, configurou-se na primeira e única traição do rei do cangaço ao Padre Cícero. Mas, seria talvez essa a primeira e única ludibriada do famoso justiceiro do sertão ao Sacerdote de Juazeiro?

O frustrado ataque a cidade de Cajazeiras, feito pelo cangaceiro Sabino Gomes, lugar tenente de Lampião - como próprio Lampião afirmou no dia 6 de março de 1926, em entrevista ao médico do Crato/CE, Octacílio Macêdo, não teria sido a segunda traição de Lampião a Padre Cícero, já que esse fato ocorreu em 28 de setembro de 1926, oito meses após o encontro de Lampião com Padre Cícero e, de ter sido entrevistado por Octacílio Macêdo?

Será que os motivos alegados por Sabino Gomes; os de que ia atacar a cidade para vigar uma emboscada que havia sofrido por policiais comandados pelo oficial Lourenço Dunga; o de se vingar também do ex - cangaceiro Raimundo Anastácio, que naquele momento tinha se aliado as autoridades de Cajazeiras e o de prender o Prefeito Sabino Gonçalves Rolim e o Engenheiro das Secas para pedir resgate, não seria um pretexto para justificar ou encobrir o que havia por traz do ataque?

Portanto, se os fatos registrados pela história forem reais, há alguns pontos neste episódio que merecem também uma reflexão pelos estudiosos do cangaço. Será que Sabino Gomes quando atacou a cidade de Cajazeiras, não estavam com ele na empreitada, cangaceiros pertencentes ao bando de Lampião? E para fazer frente à defesa montada pela população cajazeirense, Sabino e os comparsas não estavam também reforçados com as armas cedidas por juazeiro a Lampião para combater a Coluna Prestes?

Para finalizar, uma pergunta que veio a minha mente, não me deixa calado: Se Lampião tinha tanto apreso ao Padre de Juazeiro, porque permitiu que o seu “braço direito” Sabino Gomes, invadisse Cajazeiras? Será que Lampião não sabia da invasão do cangaceiro a cidade? Ou sabia! E assim, para não ficar caracterizado a sua segunda pérfida ao seu Santo Padim Ciço, Lampião ao invés de atacar Cajazeiras, preferiu de forma poltrão, permitir ou mandar o seu principal homem de confiança? Com a palavra os simpatizantes do assunto.


Suposta imagem de como ocorreu o encontro de
Lampião com Padre Cícero em Juazeiro/CE

Octacílio Macêdo, o médico
que entrevistou Lampião

Pedro Uchôa, deu a patente
a Lampião
 



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