sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Cajazeiras viu a banda passar. Não era a sua, mas era a deles, de Serra Grande.

por Cleudimar Ferreira


Porque não temos a nossa 
cabaçal tocando?


No dia 11 deste mês de janeiro, Cajazeiras foi a praça não para ver a banda passar cantando coisas de amor, mas para ver a banda tocar cultura popular viva, autêntica, que só o Nordeste tem. Só que a banda da vez não era a Banda de Música Santa Cecilia; Também não era camarata da cidade; ou mais remota ainda; também não era a sua Banda Cabaçal. Era a genial Banda Cabaçal da Cidade de Serra Grande/PB, uma cidadezinha simpática do Vale do Piancó, que fica situada sobre um elevado, na microrregião de Itaporanga.

Pois bem, se comparada com Cajazeiras, é como se Serra Grande fosse uma gota d’água no Açude Grande, já que a mesma, acho, deve ter hoje pouco mais de quatro mil habitantes. Entretanto, como em terra de gigante, todo pequinês é grande, o que difere Serra Grande de Cajazeiras, é a força incomum dos seus agentes culturais de preservar suas tradições e a cultura popular de seu povo. Um diferencial que em nossa querida Cajazeiras, nossos abnegados agentes da cultura, parece ter perdido as referências nesse sentido, ou não souberam, ou não aprenderam a fórmula ideal para não ficar “atoa na vida” e assim, arregaçar as mangas da inoperância, que dê pelos menos ânimo para cobrar do poder público, aquilo que é assegurado por direito, que é o de preservar as raízes culturais de um povo que cresceu debaixo de um chavão, que alto proclamou  chamar de “Terra da Cultura”.

  Antiga Banda Cabaçal de Cajazeiras, em 1938.

Por que não temos a nossa cabaçal tocando? Digo isso porque em tempos de NEC; de leis de incentivos à produção cultural; de FIC Estadual, FUMINC e tantos outros vieses que se expõem, aos olhos de quem produzem arte nesse Estado, o nosso Grupo de Reisado, a nossa antiga Banda Cabaçal, continuam no seu adormecimento profundo, no mais absoluto silêncio de quem parece que não acordará jamais. Talvez, seja o fato que a cultura de Cajazeiras vive hoje em outro patamar de inferioridade, ou obsoleta para os novos ritos culturais da contemporaneidade, e, portanto, é mais interessante investir em risos e abraços de incentivos a cultuara popular na Comunidade pifeira do Sítio Antas em São José de Piranhas, ou mesmo, na já consolidada Banda Cabaçal de Serra Grande.

Banda Cabaçal de Cajazeiras, nos anos 80

Será que, apesar dos mixuruquíssimos valores do FUMINC para a cultura local, não sobraria alguns trocados para revitalização do Grupo de Reisado e para a nossa amarelada Banda Cabaçal, que só existe em preto e branco na imaginação dos cajazeirenses. Será que, na falta de uma inteligência na cidade, com capacidade de elaborar e executar um projeto, com poder de convencimento na Comissão Técnica de Análises de Projetos do FIC, não seria o caso da Gestão Municipal, emprestar um de seus agentes culturais para a tarefa!? Ou seria uma outra solução, copiar a fórmula que Serra Grande adotou para barganhar valores do FIC e assim, tirar do ostracismo a nossa lendária Banda Cabaçal?

Desse modo, nem tudo está perdido na terra da cultura. E se Serra Grande que não tinha (salve-se a minúscula Secretaria Municipal de Cultura) praticamente nada, mas criou a sua Banda; como consolo, o nosso socorro viria do que nós temos; já que temos a Secult; temos NEC; temos a 9ª Região de Cultura; o Coletivo Cultucar; e temos ainda, a Casa da Cultura Independente e por assim segue outras instituições. Porisso e por muito mais, ir a Praça Nego Zé ver os senhores do pífano de Serra Grande tocar, não houve programa melhor. E não haveria coisa melhor, se a apresentação fosse de uma manifestação popular originária na própria cidade de Cajazeiras.

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