sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

COMO VOCÊS SE CONHECERAM?

por: João Batista de Brito


Fiz um dia, por acaso, a pergunta acima a um casal amigo e ouvi uma história curiosa, que não resisto em contar.

Arnóbio foi mais resumido no relato, mas Marianne, na sua versão, caprichou nos detalhes.

Viúva havia três anos, ela já estava lá pelos seus cinquenta e dois quando a coisa aconteceu. O filho já casado, ela morava sozinha em casa confortável de uma rua tranquila no bairro de Miramar. O falecido lhe deixara uma gorda pensão, e assim, dava pra ir levando uma vida com conforto, paz e privacidade. Fazia academia, caminhava, via tv, lia um pouco, ouvia música, sempre saía com as amigas pra um café, ou pra um jantar, e assim os dias fluíam tranquilos.

Porém, não podia negar. Às vezes a solidão batia e seu coração ansiava por algo novo, do tipo, uma companhia masculina.

Foram as amigas que a aconselharam a tentar a internet, onde, segundo garantiam, muitos novos relacionamentos aconteciam... E eventualmente, vingavam.

Sem prática nas coisas virtuais, e também sem muita convicção, Marianne fez seu cadastro num site e criou o hábito de consultar suas páginas. Com o passar dos contatos, a já pequena convicção diminuiu, e quase desapareceu, pois os acessos que lhe apareciam eram quase todos desastrosos. Até insinuações obscenas pintaram.

Uma decepção após a outra, já estava pra desistir quando um senhor solicitou sua amizade e ela aceitou. Aceitou por aceitar, e já havia esquecido esse desconhecido amigo virtual quando, um dia, recebeu a mensagem de um “bom dia”. Mecanicamente, retribuiu, e ficou por isso.

Ficou nada. Ele continuou com seus “bons dias” e daí a pouco já estavam em um bom papo diário. Das coisas banais passaram a assuntos mais sérios e, com o tempo, já estavam a trocar confidências. Podia não dar em nada, pensava ela, mas era ao menos um amigo que ganhava, alguém com quem conversar. E a conversa dele lhe parecia interessante. Era, com certeza, um homem sério e com bom nível de instrução. Falava coisas sábias e seu português era correto. Arnóbio era o seu nome.

Não podia negar que se animou no dia em que soube que Arnóbio era viúvo. Segundo disse, vivia só, já que as duas filhas tinham ido embora, morar nos States. Pra resumir a história, a amizade, ainda que sempre virtual, foi tomando contornos de namoro e não deu outra: chegaram a um ponto em que cada um, emocionado, confessou, nas teclas, o seu grau de envolvimento amoroso. Que, a essa altura, não era pequeno.

A partir desse ponto, claro, foram dando e tomando informações, um sobre o outro. E, animadoras, mas também nervosas, algumas coincidências começaram a aparecer.

Com grande alegria, ela ficou sabendo que ele residia na sua cidade. Bom sinal: já pensou se ele fosse, digamos, de Cascavel, Paraná? Agora, no mesmo bairro não podia ser - seria coincidência demais - mas era: Miramar, sim senhor.

Por um tempo fizeram segredo da rua. Um dia, no meio da conversa, ele se referiu casualmente a uma padaria onde comprava seu pão diário, e ela, sem nada dizer, assustou-se um pouco: a tal padaria ficava na sua rua. Será que moravam tão perto assim? De outra feita, a referência foi a um posto de gasolina, o qual também ficava na sua rua. Como era possível?

Quando o nível de confiança lhe permitiu, ela botou a curiosidade pra fora e indagou se podia saber o nome da rua onde ele residia. Pois é, ficou pasma em ouvir que seu namorado virtual morava na sua rua.

Foi então que ele perguntou pelo número da casa dela. Com receio, ela hesitou, mas juntou coragem e digitou o número. Houve um pouco de silêncio e... ele digitou o número dele.

Estupefata, Marianne quase não acreditou. O seu namorado era o vizinho do lado direito, o novato que pra lá se mudara um ano e meio atrás - sim, aquele senhor que às vezes ela via sair de manhã cedo, pra caminhar no quarteirão, de boné, óculos escuros e bermuda. E bem que Arnóbio era charmoso!

Próxima cena: arrebatados pela emoção, os dois deixaram os seus computadores pra um lado e correram pra calçada.

Quem passava naquela rua, naquela tarde ensolarada e quente, ficou admirado de ver aquele casal maduro, em abraço apertado, lábios colados, num beijo escandaloso que não prometia ter fim...

Moral da história: se você procura algo de seu interesse, antes de ir à internet, dê uma espiadinha na vizinhança.


fonte: facebook do autor. https://www.facebook.com/photo/?fbid=10217575751065432&set=a.4826176152100

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