domingo, 20 de janeiro de 2019

O QUE É UMA ACADEMIA DE LETRAS?

Carlos Gildemar Pontes (Diretor de Cultura da ACAL)



Essa pergunta é muito fácil de responder num país civilizado, com uma Educação massificada e um grau de cidadania avançado. Sim, mas a Academia de Letras é uma entidade que congrega escritores, intelectuais das humanidades, das letras e das artes, podendo congregar cientistas e notórios saberes em diversas áreas do pensamento.

A primeira Academia de Letras do Brasil foi a Academia Cearense de Letras, fundada três anos antes da Academia Brasileira de Letras, em 1894. Nos moldes da Academia Francesa e, tendo como base a Padaria Espiritual (movimento literário lançado em Fortaleza em 1892), a Cearense foi pioneira na congregação de intelectuais de linhagem francesa no Brasil. Depois da fundação da Academia Brasileira de Letras, a necessidade de promover o alinhamento intelectual com a “corte” foi um grito de libertação dos provincianos com relação ao pensamento da metrópole, que já era incipiente se comparado ao pensamento europeu. Esses detalhes históricos são apenas um preâmbulo para analisar a fundação da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL, neste último dia 17 de janeiro de 2019.

Durante as comemorações de festejos do bicentenário do Padre Rolim, patrono número um da ACAL, pelos idos do ano 2000, criou-se uma Academia no papel, mas, de fato, talvez fosse apenas motivo para enaltecer a data e quem sabe angariar fundos para o foco principal do evento, o aniversário do padre. E como era de papel e não de fato, a Academia de 2000 ficou na gaveta dos envolvidos no festejo e nunca foi sequer comunicada aos escritores da cidade.

Alguns anos depois, tive a pretensão de arregimentar escritores para a criação de uma Academia. Inocente e desconhecedor da existência de outra academia, mesmo que fictícia, levei o projeto à frente e elaborei estatuto regimento interno e, juntamente com alguns amigos, elencamos possíveis nomes de patronos. Foi um trabalho de pesquisa árduo e que me levou ao conhecimento da história de Cajazeiras e dos seus filhos ilustres. Mas, na medida em que ia avançando os contatos e a intenção, aparecia também uma resistência ao propósito, para mim ainda hoje incompreendida. Como vi que a Academia que eu pensara iria se transformar numa acomodação de nomes de figuras da política, do comércio e da sociedade local, suspendi o projeto para propô-lo em outro momento. Não que os “socialites” não pudessem figurar numa Academia de Letras, alguns até tinham proximidade com o mundo das artes e da intelectualidade, é que alguns dos tais dos sobrenomes que exerciam uma espécie de mandonismo local não gostariam de ficar de fora.

Em 2001, fundamos a Associação dos Artistas de Cajazeiras – AARC@, primeira versão de fato e de direito de uma agremiação artística nas pretensões de uma Academia, em que tive a honra de ser o primeiro presidente. E quem estava lá? Escritores, artesãos, atores, pintores, escultores, músicos. Enfim, tínhamos plantado uma semente para um movimento forte de revelação dos novos talentos e valores artísticos de Cajazeiras.

Passados esses quase 18 anos, eis que surgem duas vontades de se criar uma Academia de Letras: a que eu encabeçara anteriormente e a de um grupo liderado pelo professor Francelino Soares, o escritor Frassales Francisco Cartaxo e o ator (e secretário de cultura) Ubiratan de Assis. Sem saber da existência do projeto do trio, segui o mesmo percurso de antes, procurando parceiros e apoiadores. Em dado momento, convidei os poetas Linaldo Guedes e Lenilson Oliveira, parceiros do Poesia no coreto, para se juntarem ao grupo, e aí fiquei sabendo da existência de uma iniciativa semelhante encabeçada pelo trio de intelectuais mencionados. Tentamos unir as duas frentes de criação da Academia em Cajazeiras e eis que agora, enfim, a ACAL está criada e com previsão de posse dos acadêmicos para semana de comemorações do aniversário de emancipação política de Cajazeiras, no mês de agosto.

De parabéns e com o aplauso da cidade estão todos: Patronos, representantes da história e representados por suas famílias; Membros, que irão ocupar as cadeiras, como acadêmicos; e a sociedade, que com certo atraso de duas décadas, mesmo assim, o que são 20 anos, diante da imortalidade do pensamento e da cultura dos povos que ficarão indelevelmente marcadas nos livros, nas obras de arte e nos registros da história e de quem sempre luta pela vitória da inteligência contra a politicagem dos aproveitadores e embusteiros de ocasião?

Salvemos a nossa humanidade da barbárie com as honrarias de conduzir uma instituição tão importante para a cidade. Uma Academia de Letras é um monumento à “intelligentsia” do povo.
Vivas a ACAL!




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