João Batista de Brito
Estudante do Liceu Paraibano
nos anos cinquenta, ele era um bom aluno, mas estava em maus lençóis em uma das
disciplinas: Francês. Sua vocação para línguas estrangeiras era nula e o
professor, um chato de galochas, era exigente.
Sem ver outra saída, pediu aos
pais o luxo de uma professora particular. E conseguiu. Duas vezes na semana ia
à casa dessa senhora de meia idade, que lecionava na Aliança Francesa, mas,
eventualmente, dava aulas privadas, em sua residência, para alunos em
dificuldade escolar.
Se estava fazendo progresso
não sabia, mas que estava deslumbrado, estava. Não com as aulas, mas com a
professora, a mulher mais bela em que já pusera seus olhos adolescentes.
Nas aulas, naturalmente sentavam juntos, bem pertinho, os dois a sós numa das salas da casa, lendo o mesmo livro, a mesma página; ele, sentindo o perfume de seu corpo, absorvendo o seu hálito quente, os braços, ou os joelhos, acidentalmente se tocando.
Nas aulas, naturalmente sentavam juntos, bem pertinho, os dois a sós numa das salas da casa, lendo o mesmo livro, a mesma página; ele, sentindo o perfume de seu corpo, absorvendo o seu hálito quente, os braços, ou os joelhos, acidentalmente se tocando.
Era tanta emoção que
dificultava o aprendizado. Quando, para demonstrar a difícil pronúncia das
vogais francesas, a professora o fitava de frente, bem de perto, e fazia aquele
biquinho típico dos francófonos, seus lábios se fechando num círculo, como se fosse
beijá-lo, ele delirava de excitação. Ela, com seu biquinho sensual,
exemplificando a pronúncia com formas verbais como “je veux, tu veux”, e ele
colocando, nessas formas verbais, objetos diretos imaginários.
Que estava aprendendo um pouco
da língua de Balzac, estava, porém, o esforço era grande para não perder o
juízo por uma mulher mais velha. Na escola, na rua, em casa, a imagem da
professora particular não lhe saía da cabeça, dia e noite, noite e dia. E essa
imagem – como não? - passou a intrometer-se nos seus prazeres solitários.
Antes, esses prazeres eram habitados pelas fêmeas das telas, Sofia Loren,
Brigitte Bardot, Anita Ekbert... Agora, era a professora que reinava.
Um dia, conheceu o marido da
professora, que voltou do trabalho mais cedo, e os dois foram apresentados. E
ficou espantado com o contraste: como é que uma mulher perfeita como aquela,
podia ter casado com homem tão feio? Calvo, sobrancelhas grossas, narinas
arregaçadas, barrigudo, quase sem pescoço... E, claro, a feiura do marido
acentuava a beleza da esposa.
Estava nessas cogitações
quando ficou sabendo que o casal tinha uma filha, que, por sinal, também
estudava no Liceu, pela manhã. Animou-se com a notícia e decidiu que procuraria
a moça, que devia ser, com certeza, tão formosa quanto a mãe, ou mais. Era sua
chance de desviar o seu desejo, da mãe para a filha.
Apelando para a moça não já
ter namorado, foi ao Colégio no turno da manhã, hora de recreio, e procurou-a
nos corredores. Indaga daqui, indaga dali, finalmente a viu e...
Um segundo susto: ao invés da
beleza da mãe, a moça tinhas as mesmas sobrancelhas grossas do pai, as mesmas
narinas arregaçadas, a mesma feiura. De todo jeito, apresentou-se como aluno
particular da mãe, e, sem convicção, iniciaram uma conversa casual. A moça –
tudo indicava – gostou daquele aluno particular da mãe, rapaz vistoso, mas ele,
nem pensar.
Por fim, um mês e meio passado, chegou-se ao término das aulas particulares. Da professora despediu-se com um “au revoir” engasgado.
Por fim, um mês e meio passado, chegou-se ao término das aulas particulares. Da professora despediu-se com um “au revoir” engasgado.
No Colégio, foi aprovado em
francês com uma nota razoável, que compensou as despesas dos pais. Mas aí, fez
à família imediatamente outro pedido: queria prosseguir com os estudos do
francês, e gostaria de matricular-se na Aliança Francesa, ali na Lagoa.
Quando, na secretaria da
Aliança, ficou sabendo que a sua professora só lecionava nas turmas de nível
elevado, desistiu da matrícula. Desistiu, mas aos pais não devolveu o dinheiro,
e, fingindo que ia às aulas, passava um pedaço das tardes, na calçada da Lagoa,
sentado num banco, melancólico, vigiando a saída dos professores da Aliança.
Vê-la de longe já compensaria.
Um dia, foi notado por uma
garota que ia passando e que o conhecia do Liceu, onde também estudava. A
garota era simpática e tinha um sorriso agradável. Conversaram e ficaram
sabendo que moravam no mesmo bairro. Ao invés de tomar ônibus, decidiram ir pra
casa caminhando. Marcaram pra se ver outro dia. E se viram. Um outro dia foram
ao cinema, e, por sorte, não era um filme francês.
Durante a sessão, ele segurou
a mão da garota e, para sua surpresa, experimentou um certo arrepio. Não deu
outra: no seu próximo prazer solitário, a professora de francês cedeu lugar à
garota da Lagoa.
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