quarta-feira, 24 de setembro de 2025

VI Cine Açude Grande - Filmes Selecionados

O VI Cine Açude Grande anuncia os selecionados para as mostras competitivas!
Este ano a nossa curadoria teve muito trabalho, a quantidade de filmes mais que dobrou em comparação aos anos anteriores, demonstrando que a produção de filmes no nosso país anda num excelente momento. Agora, após cuidadosa análise, podemos compartilhar os filmes que farão parte da nossa programação neste ano de 2025.
Este ano temos várias novidades com mostras diversificadas que vão espalhar o que tem sido produzido no audiovisual em vários pontos da cidade.
As novidades não param por aqui. Continue nos acompanhando para saber tudo que vai rolar esse ano.
Marquem na agenda: o evento acontecerá nos dias 30 e 31 de outubro e 01 de novembro de 2025. Não percam a oportunidade de celebrar o cinema paraibano e nacional

Projeto aprovado pelo edital Valdimir Carvalho de Fomento a Mostras e Festivais da Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba. Uma realização da Estrela Miúda Filmes e Incartaz, com apoio do CCBNB, UFCG, Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Cajazeiras. CLIQUE NAS IMAGENS PARA AMPLIÁ-LAS. 

      


 

sábado, 20 de setembro de 2025

AULAS PARTICULARES

João Batista de Brito


Estudante do Liceu Paraibano nos anos cinquenta, ele era um bom aluno, mas estava em maus lençóis em uma das disciplinas: Francês. Sua vocação para línguas estrangeiras era nula e o professor, um chato de galochas, era exigente.

Sem ver outra saída, pediu aos pais o luxo de uma professora particular. E conseguiu. Duas vezes na semana ia à casa dessa senhora de meia idade, que lecionava na Aliança Francesa, mas, eventualmente, dava aulas privadas, em sua residência, para alunos em dificuldade escolar.

Se estava fazendo progresso não sabia, mas que estava deslumbrado, estava. Não com as aulas, mas com a professora, a mulher mais bela em que já pusera seus olhos adolescentes.
Nas aulas, naturalmente sentavam juntos, bem pertinho, os dois a sós numa das salas da casa, lendo o mesmo livro, a mesma página; ele, sentindo o perfume de seu corpo, absorvendo o seu hálito quente, os braços, ou os joelhos, acidentalmente se tocando.

Era tanta emoção que dificultava o aprendizado. Quando, para demonstrar a difícil pronúncia das vogais francesas, a professora o fitava de frente, bem de perto, e fazia aquele biquinho típico dos francófonos, seus lábios se fechando num círculo, como se fosse beijá-lo, ele delirava de excitação. Ela, com seu biquinho sensual, exemplificando a pronúncia com formas verbais como “je veux, tu veux”, e ele colocando, nessas formas verbais, objetos diretos imaginários.

Que estava aprendendo um pouco da língua de Balzac, estava, porém, o esforço era grande para não perder o juízo por uma mulher mais velha. Na escola, na rua, em casa, a imagem da professora particular não lhe saía da cabeça, dia e noite, noite e dia. E essa imagem – como não? - passou a intrometer-se nos seus prazeres solitários. Antes, esses prazeres eram habitados pelas fêmeas das telas, Sofia Loren, Brigitte Bardot, Anita Ekbert... Agora, era a professora que reinava.

Um dia, conheceu o marido da professora, que voltou do trabalho mais cedo, e os dois foram apresentados. E ficou espantado com o contraste: como é que uma mulher perfeita como aquela, podia ter casado com homem tão feio? Calvo, sobrancelhas grossas, narinas arregaçadas, barrigudo, quase sem pescoço... E, claro, a feiura do marido acentuava a beleza da esposa.

Estava nessas cogitações quando ficou sabendo que o casal tinha uma filha, que, por sinal, também estudava no Liceu, pela manhã. Animou-se com a notícia e decidiu que procuraria a moça, que devia ser, com certeza, tão formosa quanto a mãe, ou mais. Era sua chance de desviar o seu desejo, da mãe para a filha.

Apelando para a moça não já ter namorado, foi ao Colégio no turno da manhã, hora de recreio, e procurou-a nos corredores. Indaga daqui, indaga dali, finalmente a viu e...

Um segundo susto: ao invés da beleza da mãe, a moça tinhas as mesmas sobrancelhas grossas do pai, as mesmas narinas arregaçadas, a mesma feiura. De todo jeito, apresentou-se como aluno particular da mãe, e, sem convicção, iniciaram uma conversa casual. A moça – tudo indicava – gostou daquele aluno particular da mãe, rapaz vistoso, mas ele, nem pensar.
Por fim, um mês e meio passado, chegou-se ao término das aulas particulares. Da professora despediu-se com um “au revoir” engasgado.

No Colégio, foi aprovado em francês com uma nota razoável, que compensou as despesas dos pais. Mas aí, fez à família imediatamente outro pedido: queria prosseguir com os estudos do francês, e gostaria de matricular-se na Aliança Francesa, ali na Lagoa.

Quando, na secretaria da Aliança, ficou sabendo que a sua professora só lecionava nas turmas de nível elevado, desistiu da matrícula. Desistiu, mas aos pais não devolveu o dinheiro, e, fingindo que ia às aulas, passava um pedaço das tardes, na calçada da Lagoa, sentado num banco, melancólico, vigiando a saída dos professores da Aliança. Vê-la de longe já compensaria.

Um dia, foi notado por uma garota que ia passando e que o conhecia do Liceu, onde também estudava. A garota era simpática e tinha um sorriso agradável. Conversaram e ficaram sabendo que moravam no mesmo bairro. Ao invés de tomar ônibus, decidiram ir pra casa caminhando. Marcaram pra se ver outro dia. E se viram. Um outro dia foram ao cinema, e, por sorte, não era um filme francês.

Durante a sessão, ele segurou a mão da garota e, para sua surpresa, experimentou um certo arrepio. Não deu outra: no seu próximo prazer solitário, a professora de francês cedeu lugar à garota da Lagoa.

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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

CONVERSAS DE CINE ÉDEN. Em cartaz no Cine Moderno: A fita que Chico Pereira não viu

Cleudimar Ferreira

Três Versões fotográficas de Chico Pereira. Imagens da internet

Houve um tempo, na história nordestina, que o cinema passou como um filme na vida de alguns fora-da-lei. Por esse sereno fotograma de ilusões, a única certeza que se tem, é que um certo Virgulino se deixou filmar por Benjamin Abrahão e, pretensiosamente fascinado pela lente imaginária da câmera do libanês, sonhou em conhecer uma sala de exibição, mas isso não aconteceu. 

Somente na ficção de Lírio Ferreira, certo lampião aceso permitiu que um suposto capitão, que andava como visagem - fazendo assombro pelas banda do Velho Chico, aproveitando-se de um perfumado aroma vindo das caatingas sertanejas, aparecesse atraído por uma breve parafernália de equipamentos eletrônicos no ateliê do adido libanês.

Virando essa página, revela-se adiantada na luneta do tempo, a cidade de Capela, no Estado de Sergipe. Lá, há um assustado modo de viver o passado, onde o povo dorme e acorda construindo um culto imaginário, que tem Virgulino Ferreira como protagonista, por ter ele participado de uma avant-première, cujo filme da sessão exibida no remoto cinema local, teria sido ‘O Anjo das Ruas’, de Frank Borzage, sem muita credencial ou rubrica dos estudiosos do cangaço.

É provável que tenham ocorridos casos de vontades e tentativas de alguns desses bandoleiros de conhecer essa magia, como foi o caso do fugitivo Chico Pereira, em 1928, no Cine Moderno, em Cajazeiras. Um controverso encontro cheio de versões e permissões abstratas, pois, segundo falácias românticas, Chico já era quase uma eminência parda; figurinha carimbada dos cajazeirenses; um queridinho de parte da população.

Talvez, Chico Pereira já tivesse entrado outras vezes no interior do Cine Moderno e visto Gary Cooper, James Stewart ou George O'Brien incorporando Tom Mix - a estrela dos faroestes estadunidense, durante as projeções de seu João Bichara. Portanto, quem sabe não tenha vindo do cinema a sua adesão ao figurino dos cowboys americanos e não pela sertaneja indumentária, grife do cangaço.  

Se já conhecia o Cine Moderno, ainda não há fontes consistentes que afirme que sim. O certo é que dessa vez Chico Pereira não entrou, mas quase entrava. Como diz no popular: ficou com uma perna dentro e a outra fora, o suficiente para ser pego e preso pelo tenente Manoel Arruda com apoio dos soldados que o acompanhava. Nesse dia, quatro anos depois da invasão a Sousa, Chico Pereira, em fuga pelas cidades do sertão da Paraíba, veio à Cajazeiras para participar das festividades alusiva a padroeira da cidade, mas o seu propósito era se esquivar da ação da polícia paraibana.

O próprio Manoel Arruda, narrou como foi o prematuro aborto cênico que Chico sofreu na entrada do Cine Moderno em Cajazeiras. Conta o tenente Arruda, que estava passeando pelas ruas de Cajazeiras, quando resolveu parar no bar de Manoel Nóbrega que ficava colado com o cinema de João Bichara. Momentos depois, chegou o delegado Antônio Salgado e avisou que Chico estava na cidade, na igreja.

Em seguida, com a saída do delegado, resolveu se levantar da cadeira, quando de repente viu o foragido de braço dado com uma bela jovem de 15 anos, uma mocinha desavisada. Segundo Manoel Arruda, Chico ia com a moça, subindo a calçada para entrar no Cine Moderno. Eu me encaminhei, dei a mão a ele e disse: - Como vai Chico Pereira? Ele respondeu - Como vai o senhor? 

Conforme afirmou o tenente Manoel Arruda, ele ficou pegado na mão de Chico e disse em seguida: - Você agora tá preso, por ordem do Chefe de Polícia. Ele perguntou: Quem é o senhor? Replicou o policial: - tenente Arruda. No seu depoimento, Manoel Arruda, afirmou que foi logo em seguida puxando o revólver e, adiantou que nesse momento, a mocinha que estava com Chico, vendo aquela situação, correu desesperada sem direção, tomando um rumo incerto, desaparecendo em minutos pela Rua Nova, conhecida hoje como Avenida Presidente João Pessoa.

Provavelmente, nesse distante dia do ano de 1928, o filme que estava em cartaz no Cine Moderno e, que Chico Pereira e a sua mocinha desavisada viria no cinema de João Bechara, se era uma produção nacional, talvez fosse ‘Amor que Redime’ de Eugênio Kerrigan, com Rina Lara e Ivo Morgova ou ‘Brasa Dormida’ dirigido por Humberto Mouro. 

Se era uma produção estrangeira, pode ser que tenha sido: um desses filmes: ‘O Circo’ de Charles Chaplin; ‘Paixão de Joana D’Arc’, de Carl Dreyer; ou ‘Alta Traição’ de Ernst Lubitsch, indicado na categoria de melhor filme no Oscar de 1930. Essas películas sugeridas, fitas que Chico Pereira não viu, eram naquele momento de 1928, as principais lideranças em exibições nas melhores e nas rudimentares salas de exibições espalhadas pelas cidades mais distantes do país. 

Nesse contexto, o cinema se firmava em Cajazeiras, impulsionado pelos melhoramentos das atividades na cidade, destacados principalmente pela troca dos improvisados espaços de exibições que, segundo a oralidade, chegaram a ser instalados em tendas nos dias de feira livre. O Cine Moderno se tornou dos anos 20, até o advento do Cine Éden em 1936, a principal sala de exibição de Cajazeiras, sendo, no tempo em que existiu, tão popular quanto foi o Cine Éden, passando a ser o principal cinema dos cajazeirenses. 

No seu espaço exibidor, recebia todo tipo de frequentador, de pessoas importantes a outras menos importantes. Acolhia nas suas sessões visitantes que chegavam à cidade. Alguns já conhecidos, vinham a negócios. Também, atraídos pelas suas imagens, forasteiros e desconhecidos em conflito com a lei, como foi o caso do místico de cowboys com cangaceiro, chamado Chico Pereira.

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Referencias: 

domingo, 7 de setembro de 2025

Simplesmente, Marcélia Cartaxo!

Linaldo Guedes

foto: Henrique-Mello SP / Escola de Teatro

Uma cidade se faz com sua história, é verdade. Mas sem a arte e a cultura, fica faltando alguma coisa naquela história. Uma vez o mestre Gonzaga Rodrigues escreveu uma crônica onde pontuava que a vocação da Paraíba não era a agricultura, não era a indústria ou o comércio, e sim a cultura e o talento de sua gente. Se tal assertiva não se aplicar a Paraíba como um todo, dadas as peculiaridades de cada município, em Cajazeiras é um fato que deve ser sempre valorizado. Nossos artistas, poetas e escritores têm feito mais pela cidade que muitos políticos. Poderia citar vários exemplos para corroborar essa tese, mas por hora fico com o nome de Marcélia Cartaxo.

Natural de Cajazeiras, Marcélia surgiu para o estrelato com o filme “A hora da estrela”, de Susana Amaral, que ganhou o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Cinema de Berlim em 1986. O filme é baseado na obra de Clarice Lispector e Marcélia interpreta uma Macabéa única: uma alagoana pobre de 19 anos que possui um corpo franzino e só come cachorro-quente.

Marcélia é muito grata a Susana Amaral. Afinal, a atriz paraibana começou em teatro muito cedo, com 12 anos de idade. Teve, então, a oportunidade de estar com uma peça em São Paulo e encontrou a cineasta Susana Amaral realizando o seu primeiro longa. “Fui para o teste e tive a honra de viver a Macabéa, que me levou para vivenciar o audiovisual brasileiro”, costuma falar.

Lembro que depois do sucesso internacional de “A hora da estrela”, em 1985, Marcélia Cartaxo atuou em novelas na televisão brasileira, mas em papeis insignificantes diante da grandeza da atriz.

Dúvida? Confere só alguns dos prêmios dela no cinema: melhor atriz no festival de cinema de Brasília em 1985, melhor atriz coadjuvante no festival de cinema de Brasília em 1987, melhor atriz coadjuvante no festival de cinema de Brasília em 1995, melhor atriz no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2003, mesmo ano que ganharia o prêmio de melhor atriz no Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro, no Cine PE e no festival de Curitiba. Tem mais! Melhor atriz ou atriz coadjuvante em 2014, 2015, 2019, 2021, 2022 e 2025 em diversos festivais espalhados pelo Brasil e pelo mundo.

Recentemente, recebeu o troféu Oscarito no Festival de Gramado (RS), honraria entregue a grandes intérpretes do cinema brasileiro. Mas, antes, a atriz cajazeirense eternizou suas mãos e assinatura na calçada da fama. “Essa profissão me preenche”, disse em entrevista pouco antes da homenagem. E preenche todos nós, espectadores e admiradores do talento de Marcélia Cartaxo, seja no Cinema ou no Teatro. Evoé!

Em tempo: No próximo dia 12, o Cine Açude Grande apresenta a Mostra Marcélia Cartaxo, no cinema do Centro Cultural Zé do Norte, em Cajazeiras. Serão exibidos filmes de cineastas como Veruza Guedes, Laércio Ferreira, Marlon Meireles e da própria Marcélia Cartaxo, em parceria com Gisela Bezerra. Além de “Pacarrete”, de Alalan Deberton, com Marcélia Cartaxo, filme que ganhou diversas premiações. A Mostra começa às 14h e é simplesmente imperdível!

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