domingo, 27 de julho de 2025

Lembrando Ivan Bichara (II)

Ramalho Leite

Ivan Bichara. Imagem melhorada através da IA

Com mais tempo para dedicar-se à literatura, ao deixar a vida pública, Ivan Bichara produziu os romances “Carcará”,(1984) Tempo de Servidão (1988) e “Joana dos Santos” (1995). Ninguém melhor do que ele, narrou as peripécias de uma polícia desaparelhada, desassistida pelos escalões superiores e armada apenas com a cara e a coragem, para enfrentar os cangaceiros, que, aos bandos, intimidavam o sertão.

Há alguns anos a Paraíba reverenciou a memória de Ivan Bichara, quando da passagem do centenário do seu nascimento. Em um dos eventos em suas homenagens, fui chamado à tribuna e aproveitei para preencher a lacuna que observei em todos os discursos. A referência ao fino humor que Ivan Bichara cultivava, quer na convivência com seus pares, quer nas páginas dos seus romances.

Na ocasião, repeti alguns fatos que comprovam o mencionado acima. Vou registrá-los mais uma vez nesse trabalho que se recomenda curto.

O líder do seu governo, (eu era vice-líder e iniciante na AL) deputado Evaldo Gonçalves, cansou de ouvir as queixas dos seus liderados sobre fatos do governo Bichara que levaram a bancada de sustentação ao descontentamento. Resolveu tratar do assunto com o chefe do executivo

Foi marcada uma reunião em Palácio. O governador, sentado em amplo sofá sob o quadro da prisão de Peregrino, tinha ao seu redor cerca de vinte deputados. Cada um apresentou seu queixume e o paciente Bichara apenas ouvia. “Ele sabia ouvir como ninguém” disse Germano Toscano, seu chefe de gabinete. Terminada a cantilena parlamentar, foi a vez do governador falar:

– Vocês não estão satisfeitos com o meu governo? Pois vou lhes confessar uma coisa: eu também não estou!

Os espíritos foram desarmados e as armas ensarilhadas…

Em uma de suas visitas ao Poder Legislativo, ficamos a lhe fazer sala no gabinete da presidência, enquanto não se iniciava o evento. Eu, Waldir dos Santos Lima, Edvaldo Motta, Sócrates Pedro e Orlando Almeida aproveitávamos para encaminhar alguns assuntos do nosso interesse. O deputado Sócrates Pedro, como se sabe, era cunhado do empresário Walter Brito proprietário da empresa de ônibus Real e intermediário dos seus assuntos junto ao governo. No meio do papo, o deputado Orlando Almeida começa a narrar um fato que se passara em Campina Grande. Meio prolixo, Orlando demorava muito a concluir, buscando detalhes desnecessários. Impacientei-me e adverti o querido colega:

– Orlando, o governador é muito ocupado. Apressa essa conversa: para chegar em Campina você está arrodeando por Princesa Isabel…

O governador riu da minha pilhéria e fez a dele:

-Fala baixo, Ramalho, se não o Sócrates vai querer registar essa linha de ônibus…

Na campanha municipal de 1976, uma vereadora da capital, já sexagenária e sem muita disposição para a luta, procurou-o para pedir ajuda. Na conversa, lembrou ao governador que sua principal concorrente era uma linda jovem, quase dois metros e como muita disposição para pedir votos e, acrescentou:

-É uma luta desigual, Dr. Ivan!

-Realmente é muito desigual, respondeu Ivan.

Sua incursão pela literatura como vimos antes, deixou vários romances e ensaios. Em um deles, o romance Carcará, um personagem conta a história de um trabalhador, casado com moça nova e recentemente saída do parto. A mulher procurou o médico levando a criança raquítica, mas parecendo um produto daqueles países africanos onde a fome é quem dá as ordens. O médico admirou-se da fragilidade da criança e destacou:

– A senhora com tanto leite e deixa seu filho nesse estado?

A resposta da aflita mãe, retrata o humor de Bichara, também presente na sua obra.

– Não sobra nada para a criança, doutor: meu marido bebe todo o leite!

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fonte wscom..com

quinta-feira, 17 de julho de 2025

ACORRENTADA

MINICONTO
por João Vitor da Silva Teles 

Ilustração produzida por IA

Fiquei parado sem saber o que fazer. O barulho estava cada vez mais forte, como se algo estivesse batendo na porta por dentro. Meu coração começou a bater mais rápido. Peguei a chave que sempre carrego comigo e pensei em abrir..., mas pensei: e se for perigoso? Fiquei ali por alguns minutos, tentando criar coragem. Então decidi. Coloquei a chave na fechadura da porta e girei bem devagar. A porta fez um barulho alto quando começou a abrir. Lá dentro estava tudo escuro, só dava para ouvir uma respiração bem estranha, pesada. Dei um passo para frente com minha tocha e vi dois olhos brilhando ao fundo. Quase deixei minha tocha cair, assustado. Uma voz baixa falou: - até que enfim... você veio me tirar daqui. Meu corpo congelou, mas algo me faz continuar. Dei mais alguns passos e viu uma criatura acorrentada, com aparência cansada. Ela disse que foi trancada ali injustamente há muitos anos. Sem saber se era verdade, decidi ajudá-la. Quando tirei as correntes, ela sorriu... e desapareceu no ar.

JOÃO VITOR DA SILVA TELES
É aluno do 1º ano DS(B) da Escola Estadual Cidadã Integral Técnica 
Severino Dias de Oliveira - Mestre Sivuca, João Pessoa/Paraiba.

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quinta-feira, 3 de julho de 2025

A Resistência Cultural: Um Ato de Cidadania

Rui Leitão

Imagem criada por IA

Não há como discutir a questão da cidadania sem reconhecer a cultura como um direito básico. Daí a importância de estimular o desenvolvimento da vida cultural para que se consiga preservar a democracia. Uma sociedade mais justa não pode prescindir do aprimoramento individual dos seus cidadãos através da participação no processo cultural que promova o aprendizado na convivência com as diferenças e adversidades.

A cultura é, indiscutivelmente, uma ferramenta de inclusão social. Através dela se adquire identidade, voz e esperança. Em nosso país, a cultura se manifesta de maneira plural, refletindo nossas tradições e atuando como um poder questionador e promotor de reflexões. É o que podemos chamar de resistência cultural. Um movimento pelo qual parcelas da população, ainda que sob pressão, procuram manter viva a sua cultura, com manifestações que se colocam em oposição a poderes estabelecidos que adotam políticas repressivas.

Foi assim durante os anos de chumbo da ditadura militar. Artistas, escritores, músicos, cineastas e movimentos populares foram à linha de frente do enfrentamento simbólico ao autoritarismo. O teatro de resistência, a música de protesto, os festivais universitários, a poesia engajada - tudo isso foi combustível para manter acesa a chama da liberdade em tempos de censura e repressão. A cultura virou trincheira. O palco virou palanque. A canção virou manifesto.

Em meio à brutalidade do regime, o campo cultural se tornou um dos principais focos de rearticulação das forças democráticas. A arte engajada assumiu papel decisivo na conscientização da sociedade, muitas vezes em aliança com o movimento estudantil, que também desafiava o regime nas ruas e nas universidades.

Era o povo aprendendo a resistir, mesmo sob ameaça. Como seres sociais, somos produtores e guardiões da cultura. E, por isso, não podemos abrir mão do nosso protagonismo na luta por uma sociedade mais consciente, inclusiva e plural. Mais do que nunca, é preciso reafirmar: 

Resistir é preciso. Sempre.

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terça-feira, 1 de julho de 2025

Rádio Alto Piranhas de Cajazeiras, quase sessentona

 Cleudimar Ferreira



A Rádio Alto Piranhas de Cajazeiras (RAP), faz aniversário neste dia 01 de julho. São 59 anos de prestação de serviços a população sertaneja, desde a sua fundação. As ondas sonoras da RAP foram ao ar pela primeira vez em 01 de julho de 1966, sob a direção da Cúria Diocesana de Cajazeiras, comandada na época pelo então Bispo Dom Zacarias Rolim de Moura.

No percurso do sucesso de sua história até aqui, a emissora tem pautado junto da sua programação, um compromisso com a qualidade do conteúdo editorial de seus programas, alguns com quase a idade da emissora, como são os casos dos programas: ‘Encontro com Nelson’ e ‘Eu, o Rei e a Notícia’, campeões de audiência até hoje. Sempre priorizando um público mais popular, levando a comunicação, principalmente, as comunidades humildes do sertão paraibano.

Durante esses anos, a RAP passou por transformações históricas, tanto na parte gerencial, quanto no seu elenco de comunicadores, mas sempre mantendo a boa qualidade de som e de programas variados destinados a todas as classes sociais. Uma das mudanças de destaque, foi quando em 1983 a rádio passou a ser gerenciada pelo grupo do empresário Francisco Arcanjo de Albuquerque (in memoriam). Obteve autonomia e alcançou mais liberdade de criação e conteúdo. Atualmente é administrada pelo seu filho, o professor e historiador josé Antônio de Albuquerque, que tem prestado em manter a linha informativa de qualidade, sempre pensando suprir as necessidades dos seus inúmeros ouvintes.

Por esse leque de mudanças da Rádio Alto Piranhas, está a passagem, em breve, da frequência AM para a FM - prefixo 105.5 MHz, bem como nas suas instalações que passará a se localizar na Zona Sul da cidade, mais precisamente no Bairro da Esperança. Nessas modificações, tanto no prefixo quanto nas instalações, trará mais modernismo aos seus equipamentos e mais qualidade sonora - digital dos seus produtos alçados ao ar. 

A história da RAP, começou a ser contada em 21 de dezembro de 1961, a partir da concessão adquirida por Dom Zacarias Rolim de Moura, ladeado por um grupo de religiosos da diocese de Cajazeiras, entre eles o Monsenhor Abdon Pereira e Monsenhor Vicente Freitas, sendo o primeiro, seu primeiro diretor administrativo. A gestão de Monsenhor Abdon, foi fundamental na consolidação e afirmação do sucesso da Rádio Alto Piranhas nos seus primeiros anos de vida na radiofonia paraibana.

Nesses anos todos, a RAP construir um legado histórico merecedor de aplausos, já que apesar de toda mudança do tempo, ela continua viva e atuante como sempre foi, desde o dia que suas primeiras palavras, foram lançadas ao ar pelas suas antenas possantes, há 59 anos. Portanto, é plausível dizer, que a sua colaboração para comunicação e serviços no alto sertão de Cajazeiras, foi e é até aqui, inquestionável, destacada como um exemplo de poder que o rádio tem, que pode ser aplicado para fazer a diferença e o bem no dia a dia dos seus ouvintes. Portanto, Viva a RAP. Parabéns, Radio Alto Piranhas de Cajazeiras, quase sessentona.

ÁlbumFotográficodaRAP

        

Legenda das fotografias : 
1ª. Momento da inauguração da Rádio Alto Piranhas. Em destaque o Monsenhor Abdon Pereira (primeiro diretor administrativo) ao lado do Deputado Soares Madruga. Abdon, corta a fita. Logo atrás, o radialista Zenildo Alcântara com microfone faz a transmissão da solenidade.
2ª. Nessa foto, o sousense Dr. Ananias (Nias) Gadelha, depois Zeilto Trajano e Júlio Bandeira, nos estúdios da Radio Alto Piranhas.
3ª. O radialista J. Gomes (com microfone), numa transmissão de uma partida de futebol. Ao seu lado (com um rádio) o fotógrafo J. G. Vilante. Foto: do arquivo de J. G. Vilante.
4ª. Reportagem e transmissõa externa, o radialista Zeilto Trajano, apoia o microfônio para Prof. Antônio de Souza. No lado esquerdo, o político e Padre Levi Rodrigues.
5ª. Aqui em uma transmissão extrena, o radialista Zeilto Trajano com microfone, depois o Empresario Raimundo Ferreira e em destaque de camisa branca, Otacilio Trajano, irmão de Zeilto e funcionario da Rádio Alto Piranhas.
Os radialistas Bosco Amaro e Expedito Sobrinho, no início dos anos 80, nos estúdios da Rádio Alto Piranhas. 
7ª. Documentos da Junta Comercial, com assinaturas de Dom Zacarias, Mosenhor Abdon e Cónego Vicente Freitas, atesta a criação da emisora em 21 de dezembro de 1961.

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