sábado, 5 de julho de 2008

JOÃO BOSCO BRAGA BARRETO



O advogado praticante e político cajazeirense João Bosco Braga Barreto (Bosco Barreto), in memoriam, foi uma voz isolada a gritar por melhores condições de vida para população sertaneja, que nos idos anos 70, enfrentaram sucessivas secas e o abandono, quase por completo, pelas autoridades públicas.

Bosco foi também, uma referência na luta contra a ditadura militar no interior paraibano. Isso tudo lhe rendeu uma derrota (que ficou caracterizada como fraude eleitoral) a prefeito de cajazeiras, para seu opositor Antonio Quirino de Moura; uma eleição em 74 para Deputado Estadual, com 9.326 votos; uma Suplência de Senador em 86, com 40.723 votos obtidos em todo Estado e, uma prisão por agentes da Polícia Federal, no centro comercial de Cajazeiras, acusado de ser um comunista, subversivo e agitador.

Inteligente, bom orador, conhecedor dos problemas sociais da Região Nordeste e da sua terra, o seu mandato na Assembleia Legislativa da Paraíba, foi marcado pela dobradinha feito com o então Deputado Rui Gouveia, onde fortes discursos dos dois foram feitos contra o sistema político vigente na época e os sucessivos governos militares, que se revezava na administração pública da união, a partir de 64.

Imagem de Bosco Barreto, provavelmente no peiodo da prisão

A Prisão de Bosco Barreto
porRui Leitão

Bosco Barreto, advogado e político cajazeirense, destacou-se nas décadas de 70 e 80 pela atuação destemida e firme em defesa de melhores condições de vida para a população sertaneja. Foi uma voz aguerrida na Assembleia Legislativa da Paraíba ao tempo em que exerceu o mandato de deputado estadual (1975/78), credenciando-o a disputar a eleição para senador pela sublegenda do MDB. Havendo sido o segundo mais votado do seu partido, passou a ser suplente do senador eleito, Humberto Lucena.

Em 1981, quando da visita do Ministro Mário Andreazza à Paraíba, em missão oficial do governo para observar a crise social provocada pela seca, Bosco fez um forte pronunciamento crítico à atuação daquela autoridade e do governador Tarcísio Burity, no trato das questões relacionadas ao flagelo da seca em nosso Estado.

Foi o suficiente para que se visse indiciado em inquérito baseado na Lei de Segurança Nacional, por ofensa à dignidade do Ministro e do Governador e incitamento implícito ao saque de bancos oficiais. Convocado várias vezes para depor, Bosco Barreto não compareceu às audiências. Em razão disso, teve sua prisão decretada, o que aconteceu na manhã de 23 de julho, em Cajazeiras, de onde foi conduzido para o Departamento da Polícia Federal, em João Pessoa.

A notícia agitou os meios políticos paraibanos. Ao chegar à sede da Polícia Federal, após cumprir os procedimentos de exame de corpo de delito no IML, disse que não iria prestar nenhum depoimento porque considerava sua prisão ilegal. Manteve-se assim durante o tempo em que esteve preso, recusando-se a responder às perguntas que lhe foram feitas no interrogatório, reafirmando seu propósito de só falar na Justiça Militar, em Recife.  Não aceitou as refeições oferecidas, ensaiando a deflagração de uma greve de fome.

No entanto, logo que tomou conhecimento da prisão, o senador Humberto Lucena enviou telegrama ao Ministro da Justiça, Abi-Ackel, lamentando a ocorrência “pelo simples fato de não haver atendido às intimações para depor em processo que o enquadrava na LSN, face à sua firme e decidida atuação em defesa de justas e legitimas reivindicações da população sertaneja, atingida pela seca no terceiro ano consecutivo”.

Foi grande a movimentação na Polícia Federal, recebendo a visita de lideranças como Pedro Gondim, Antônio Mariz, Carneiro Arnaud, Ruy Gouveia, entre outros. A forte ação política permitiu que sua prisão fosse relaxada na manhã seguinte, logo após seu interrogatório, ainda que tivesse se mantido calado.

Em sua cidade natal, Cajazeiras, a população promovia um ato público em protesto à sua prisão. Ao ser informada da sua soltura, decidiu esperar o seu retorno, oportunidade em que foi recebido efusivamente por seus conterrâneos.

O episódio mais uma vez marcou a personalidade corajosa e combativa dessa liderança política que fez história no sertão paraibano.


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8 comentários:

Anônimo disse...

Pena que a safra de grande politicos e pessoas do bem seja tão pequena.
Me orgulho em ser sobrinha desse grande homem sempre preocupado com o bem social.

Anônimo disse...

Obrigadão pela homenagem

Anônimo disse...

Grande senhor do bem este personagem.
Espero que mais Bosco Barreto existam.
Espelho para a nossa geração.

Unknown disse...

Conheci e votei em Bosco Barreto.
Foi o maior e mais combatente político de Cajazeiras-Paraíba, e, jamais surgirá alguém com as qualidades daquele preclaro e brioro orador. Como advogado sempre esteve do lado das classes menos favorecida.
Ele dizia: MEUS IRMÃOS, MINHAS IRMAZINHAS TAMBÉM.
Outra frase: Cajazeiras de Amor.
Saudosa lembranças dos "comícios nos anos de 1972 e 1972 - na praça Camilo de Holanda e Praça João Pessoa.
DR. EDUVIRGE MARIANO - Advogado Cajazeirense - Militante em Porto Velho-Rondônia desde maio de 1984.

Unknown disse...

Conheci, admirava e votei naquele erudito político sertanejo.
Foi o maior e mais combatente político de Cajazeiras-Paraíba, e, jamais surgirá alguém com as qualidades infidáveis daquele saudoso, preclaro, brioso e rutilante orador.
Como advogado sempre esteve do lado das classes menos favorecida, do homem sertanejo, e das mães de família - como ele mesmo dia.
Suas afirmativas célebres: MEUS IRMÃOS, MINHAS IRMÃZINHAS TAMBÉM.
Outras saudações notáveis proferida por ELE foram: 1) -Cajazeiras de Amor. 2 - Sem ódio e sem medo.
E as músicas: "eu não voto na arena pra não morrer de antipatia, porque este "povo da arena tá com a gota serena e é uma briga todo dia".
Saudosa lembranças dos "comícios nos anos de 1972 e 1974 - que eram realizados nos seguintes locais: praça Camilo de Holanda, Praça João Pessoa, Próximo a Cadeia Pública, Praça Padre Cícero, Bairros Capoeiras, Bairro dos Remédios e Rua Dr. Coelho".
Foi um importante político da ALA AUTÊNTICA DO MDB, e destacou-se como os saudosos deputados federais Lysâneas Maciel (Eleito pelo então estado da Guanabara), e Amauri Muller (deputado pelo Rio Grande do Sul).

DR. EDUVIRGE MARIANO - Advogado Cajazeirense - Militante em Porto Velho-Rondônia desde maio de 1984.

Anônimo disse...

Bosco Barreto foi marcante naquela geração cajazeirense de 70. Cheguei a essa cidade do alto sertão no auge da campanha política para prefeito: Bosco x Quirino. Conheci Bosco no dia-a-dia da disputa política. Inteligente e de bom coração. Falava ao sentimento do povo. A derrota foi uma fatalidade política que nos decepcionou.
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chicary@uol.com

Anônimo disse...

Sinto muita falta de meu pai.

Ainda hoje guardo a obra de Neruda que "Bosquito" me deu: Confesso que vivi

Ninguém pode imaginar o que a dor de sua perda ocasionou na minha vida.

Lembro-me até hoje de frases como
- Manzuá! - Operação chuva!
Além é claro de - meus irmão e minhas irmanzinhas

Quem tiver registros sobre a vida dele e quiser me enviar ficarei muito grato

e-mail: pipocodotrovao@pop.com.br

Obrigado

Jesus Pablo dos Guimarães

Papai Zé Filho disse...

José Trajano - Auditor TCEPB.

Quando tinha dez anos e estudava no Grupo Escolar Milanez, lembro-me de algumas manifestações encabeçadas por Bosco Barreto. O tempo está passando e grande parte do seu legado está sendo esquecido. Encontro poucas referências sobre essa grande figura. Se eu não estiver enganado, acho que a eleição que tomaram de Bosco Barreto para Prefeito foi contra Antônio Quirino de Moura.