Em Cajazeiras. Edilson Dias (o do meio). Foto: Cristiano Moura.
Quem viveu naquela Cajazeiras cultural
da segunda metade da década de 70 e início dos anos 80, vai identificar
facilmente a personagem central da imagem acima. Ele, Edilson Dias
Fernandes. Ator performático, mambembe e no êxtase de seu desempenho nos
palcos por onde pisou; às vezes até anárquico-contraventor teatral. Defensor assumido de uma
dramaturgia alternativa de vanguarda, beirando a José Celso Martinez
Correia, numa época em que o teatro amador - sem muito recursos ou aprofundamente
técnico e teórico, era o espelho da juventude paraibana, principalmente a
do interior do Estado de onde veio Edilson.
Natural de Catolé do
Rocha, mas do mundo e cajazeirense por afinidade, Edilson tinha (hoje nem tanto) o poder do convencimento, adjetivo que facilitava o seu envolvimento com o
público e com seguimentos do teatro paraibano. E isso o tornava um ator
popular. Liderou em sua terra natal a trupe de atores do grupo “Chão Pó
Poeira”. Influenciou muita gente boa em “Catolé”, a exemplo
daquele que viria ser mais tarde o cantor e compositor Chico César.
A sua aparição em Cajazeiras,
se deu quando ele aterrissou nas ruas da cidade juntamente como outros atores
de Catolé do Rocha para participar do primeiro curso de teatro
para atores principiantes, organizado pela teatróloga Íracles Brocos
Pires na Biblioteca Pública Municipal. O curso que teve
como mediadores o ator e diretor Fernando Teixeira e os
professores Laísa Derme, Fernando e Elvira
Cavalcante; contou com a participação maciça de grupos das principais
cidades do sertão. A partir daí, o seu contato com a classe teatral de Cajazeiras o
fez mais cajazeirense do que cajazeirado; do que catoleense ou pessoense.
Em João Pessoa, Edilson foi
morar em Jaguaribe, bairro que ficou conhecido pelo grande projeto
cultural denominado “Jaguaribe Carne”. Passou a conviver com
figuras expressivas da cultura pessoense da época, como: Pedro Osmar, Paulo
Ró, Unhandeijara Lisboa e Chico César. Bebendo
e se fortalecendo do turbilhão artístico popular que era o "Jaguaribe
Carne", montou em 1978 o monólogo “Quem é palhaço aqui?” texto de Pedro
Osmar, um sucesso de público e ao gosto da minúscula crítica que espelhava
os principais jornas em circulação no Estado.
Os jornais da época deram
tanto destaque ao trabalho de Edilson em "Quem é
palhaço aqui?" que o ator se popularizou, fazendo apresentações
em vários lugares, até em comício de campanha política, como o que aconteceu no
bairro Castelo Branco em João Pessoa, onde o Edilson ficou
completamente nu, em cima do palanque do PT, durante a sua apresentação. O
público presente, principalmente os mais conservadores se sentido ultrajado,
não entendeu a atitude do ator, o fez se retirar as presas do local.
Fato como esse viria a se repetir mais uma vez durante a realização de uma das
versões do Festival de Artes de Natal/RN. No evento Edilson também
tirou a roupa, só que para uma plateia específica de teatro. Mas a atitude de
ficar nu no palco não pode ser considerada exclusividade do ator Edilson Dias; Zélia
Amador, diretora de teatro em Natal/RN, durante a
realização do Festival Brasileiro de Teatro Amador, no Recife em
1984, colocou no palco do Teatro Santa Isabel, uma média de 8
atores completamente pelados no elenco da peça Theatrai Theatron. A
peça era uma pantomima, onde atores e atrizes se pegavam, acariciavam e
circulavam entre o público como se tudo aquilo fosse natural.
Em 1977, o ator Edilson Dias,
passou a integrar o elenco de “Um Grupo”. Grupo de teatro criado
por Luiz Carlos Vasconcelos, Roberto Cartaxo e Buda
Lira, que se tornaria no futuro a raiz da hoje Escola de Teatro
Piollin. Na década de 80, montou um texto de sua autoria “Viagem a
São Saruê”, baseado no cordel do poeta guarabirense Manoel Camilo
dos Santos. O projeto era levar a literatura popular de Manoel
Camilo para todas as escolas dos municípios do Estado. Uma ideia
bastante interessante, porém, arrojada que quase ficou difícil de ser realizada
- se não fosse a sua forte perseverança em buscar recursos. Mas por falta de
apoio da maioria das prefeituras, poucos alunos ouviram e viram o ator em ação,
contando a história do cordel do poeta Manoel Camilo.
Ainda na década de 80, o ator dividiu o gosto pelo teatro com a atividade
jornalismo tendo sido contratado pelo então jornal "O Norte" para
fazer matérias do cotidiana da cidade, divulgada geralmente no segundo
caderno do jornal. Uma ironia, já que o ator, por ser vinculada a área
cultural, caberia muito bem, (dado a sua experiência e habilidade com a
leitura) escrevendo as matérias ligadas a cultura e a arte.
No final dos anos 80, Edilson foi aprovado no vestibular de
comunicação da UFPB. Seu desempenho no curso de jornalismo não
foi muito bom. O ator faltava muito às aulas; desprezava a "blocagem”;
ignorava as principais cadeiras do curriculum; discordava de tudo e todos no
ambiente universitário se tornando indesejável entre a maioria dos colegas de
sala de aula. Resultado se tronou no primeiro e único aluno a
ser "jubilado" - uma espécie de processo
punitivo com expulsão, criado por aquela instituição de ensino
superior para impugnar os maus alunos.
Edilson Dias tem
sido um ator além do tempo no elenco de atores do teatro paraibano. Criou,
renovou, ousou, influenciou e realizou na sua época algo novo. Por tudo que fez
- se faz ainda eu não sei, deve fazer parte (e com destaque) da seleta galeria
dos grandes nomes da história do nosso teatro.
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