segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

EDÍLSON DIAS, O ATOR.

por: Cleudimar Ferreira

Edilson Dias - o do meio. Foto: Cristiano Moura.



Quem viveu naquela Cajazeiras cultural da segunda metade da década de 70 e inicio dos anos 80, vai identificar facilmente a personagem central da imagem acima. Ele, Edílson Dias Fernandes. Ator performático, mambembe e no êxtase de seu desempenho nos palcos por onde pisou; às vezes até anárquico. Defensor assumido de uma dramaturgia alternativa de vanguarda, beirando a José Celso Martinez Correia, numa época onde o teatro amador - sem muito profundamento técnico e teórico era o espelho da juventude paraibana, principalmente a do interior do Estado de onde veio Edílson

Natural de Catolé do Rocha, mas do mundo e cajazeirense por afinidade, Edílson tinha o poder do convencimento, adjetivo que facilitava o seu envolvimento com o público e com seguimentos do teatro paraibano. E isso o tornava um ator popular. Liderou em sua terra natal a trupe de atores do grupo “Chão Pó Poeira”. Influenciou muita gente boa em Catolé, a exemplo daquele que viria ser mais tarde o cantor e compositor Chico César

A sua aparição em Cajazeiras, se deu quando o mesmo aterrissou nas ruas da cidade juntamente como outros atores de Catolé do Rocha para participar do primeiro curso de teatro para atores principiantes, organizado pela teatróloga Íracles Brocos Pires na Biblioteca Pública Municipal. O curso que teve como mediadores o ator e diretor Fernando Teixeira e os professores Laísa Derme, Fernando e Elvira Cavalcante; contou com a participação maciça de grupos das principais cidades do sertão. A partir daí, o seu contato com a classe teatral de Cajazeiras o fez mais cajazeirense do que catoleense ou pessoense.

Em João Pessoa, Edílson foi morar em Jaguaribe, bairro que ficou conhecido pelo grande projeto cultural denominado “Jaguaribe Carne”. Passou a conviver com figuras expressivas da cultura pessoense da época, como: Pedro Osmar, Paulo Ró, Unhandeijara Lisboa e Chico César. Bebendo e se fortalecendo do turbilhão artístico popular que era o "Jaguaribe Carne", montou em 1978 o monólogo “Quem é palhaço aqui?” de Pedro Osmar, um sucesso de público e também ao gosto da minúscula crítica que espelhava os principais jornas em circulação no Estado. 

Os jornais da época deram tanto destaque ao trabalho de Edílson em "Quem é palhaço aqui?" que o ator se popularizou, fazendo apresentações em vários lugares, até em comício de campanha política, como o que aconteceu no bairro Castelo Branco em João Pessoa, onde o Edílson ficou completamente nu em cima do palanque do PT, durante a sua apresentação. O público presente, principalmente os mais conservadores se sentido ultrajado, não entendeu a atitude do ator o fez se retirar as presas do local. 

Fato como esse viria a se repetir mais uma vez durante a realização de uma das versões do Festival de Artes de Natal/RN. No evento Edílson também tirou a roupa, só que para uma platéia específica de teatro. Mas a atitude de ficar nu no palco não pode ser considerada exclusividade do ator Edílson Dias; Zélia Amador, diretora de teatro em Natal/RN, durante a realização do Festival Brasileiro de Teatro Amador, no Recife em 1984, colocou no palco do Teatro Santa Isabel, uma média de 8 atores completamente pelados no elenco da peça Theatrai Theatron. A peça era uma Pantomima, onde atores e atrizes se pegavam, acariciavam e circulavam entre a platéia como se tudo aquilo fosse natural.

Em 1977, o ator Edílson Dias, passou a integrar o elenco de “Um Grupo”. Grupo de teatro criado por Luiz Carlos Vasconcelos, Roberto Cartaxo e Buda Lira, que se tornaria no futuro a raiz da hoje Escola de Teatro Piollin. Na década de 80, montou um texto de sua autoria “Viagem a São Saruê”, baseado no cordel do poeta guarabirense Manoel Camilo dos Santos. O projeto era levar a literatura popular de Manoel Camilo para todas as escolas dos municípios do Estado. Uma ideia bastante interessante, porém arrojada que quase ficou difícil de ser realizada - se não fosse a sua forte perseverança em buscar recursos. Mas por falta de apoio da maioria das prefeituras, poucos alunos ouviram e viram o ator em ação, contando a historia do cordel do poeta Manoel Camilo

Ainda na década de 80, o ator dividiu o gosto pelo teatro com a atividade jornalismo tendo sido contratado pelo então jornal "O Norte" para fazer matérias do cotidiana da cidade, divulgada geralmente no segundo caderno do jornal. Uma ironia, já que o ator, por ser vinculada a área cultural, caberia muito bem, (dado a sua experiência e habilidade com a leitura) escrevendo as matérias ligadas a cultura e a arte. 

No final dos anos 80, Edilson foi aprovado no vestibular de comunicação da UFPB. Seu desempenho no curso de jornalismo não foi muito boa. O ator faltava muito às aulas; desprezava a "blocagem" ; ignorava as principais cadeiras do curriculum; discordava de tudo e todos no ambiente universitário se tornando indesejável entre a maioria dos colegas de sala de aula. Resultado se tronou no primeiro e único aluno a ser "jubilado" - uma espécie de processo punitivo com expulsão, criado por aquela instituição de ensino superior para impugnar os maus alunos.

Edílson Dias tem sido um ator além do tempo no elenco de atores do teatro paraibano. Criou, renovou, ousou, influenciou e realizou na sua época algo novo. Por tudo que fez - se faz ainda eu não sei, deve fazer parte (e com destaque) da seleta galeria dos grandes nomes da história do nosso teatro.

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