domingo, 19 de outubro de 2025

Aos mestres, com luta


Cajazeiras, dita por todos de: 'terra do saber'; conhecida como 'a terra que ensinou a Paraíba ler'; no mês em que se comemora dia da única folga do professor - durante o ano, o 15 de outubro, nada melhor do quer ler essa bela opinião, escrita por uma professora universitária, Mariana Moreira, que também é escritora e experiente jornalista.

porMariana Moreira

A lição do mestre Paulo Freire foi minha mais frequente reflexão neste dia 15 de outubro, quando se celebra o Dia do Professor. Ele nos ensina que: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.

E como esta lição, embora singular e singela, tem um aprendizado difícil e, muitas vezes, obscurecido pelos interesses políticos e mercadológicos. Interesses que, mascarando a profissão docente como “missão”, lhes atribui adjetivos e qualificações “naturalizadas”. Ou seja, o professor é aquele que, renunciando às necessidades básicas de sobrevivência, se dedica ao ministério “sagrado”, onde: “Ensinar é semear com amor e colher com sabedoria”. “Educar é um ato de amor que muda vidas todos os dias”.

Assim, o Dia do Professor é apenas e tão somente uma pequena celebração na escola, onde caixas de chocolate, pequenos presentes e frases de efeito lacrimosas são pronunciadas sem quaisquer contextualizações de sentido e significado.

Não interpretem esta minha posição como antipatia ao professor e às celebrações que o dia 15 de outubro enseja. Sou docente desde 1993 e, sinceramente, me envaidece e estimula os afagos e reconhecimentos que recebo de ex-alunos e de pessoas outras que identificam nosso trabalho como importante para a transformação da sociedade e das mentalidades.

O que me inquieta é a transformação de uma profissão em função natural, ou biológica, do ser humano. Portanto, devendo ser exercida em quaisquer condições.

E, trazendo para o cenário do mestre Paulo Freire, essa inquietação é traduzida na “distância entre o que se diz e o que se faz”. Uma distância que poderia ser visibilizada, por exemplo, quando professores, em luta por melhoria de condições de trabalho, de valorização profissional, de remuneração decente, realizam greves e outras manifestações políticas. São sempre categorizados como inconsequentes, irresponsáveis, que estão impossibilitando os alunos de terem acesso à educação e ao conhecimento. Uma postura que não enxerga, ou que, intencionalmente, busca esconder: os baixos salários, a sobrecarga de trabalho, o acúmulo de funções para assegurar os ganhos mínimos à sobrevivência, o adoecimento docente provocado pelo estresse e pela sobrecarga, sobretudo para as docentes que, historicamente, ainda carregam a herança da dupla jornada.

Ora, mas nada disso importa, pois “ser professor é tocar o futuro com as próprias mãos”! Mesmo que estas mãos estejam calejadas de trabalho exaustivo, cobrança inúmeras, dupla jornada, depressão e outras modalidades de adoecimento causadas pelo exercício da atividade docente.

Afinal, “quem ensina com o coração nunca é esquecido”.

Essa lembrança não me interessa. 

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