porCleudimar Ferreira
O
sentido de preservação pode estar condicionado a uma série de fatores. No meio desses,
um, me parece sobrepor-se aos demais: é o que está ligado à formação do nosso
caráter, percurso que se faz, onde os valores que adquirimos, vão sendo
moldados conforme a influência cultural social que somos submetidos.
Só se
preserva quem entende o valor sentimental, histórico, dos símbolos deixados
pelos nossos antepassados. Muitos deles, representados pelos monumentos e
fachadas que, envelhecidos, estacionados no tempo, são registros sólidos, ainda
vivos, da nossa história e da vivência das sociedades em um determinado lugar.
A
cidade de Cajazeiras, com mais de 162 anos, fincada no coração do sertão paraibano,
não pode se dar ao luxo de ignorar o valor dos seus edifícios antigos, pois o pressuposto
de preservação de seus habitantes está intrinsecamente conectado ao seu traço
distintivo e à sua capacidade de reconhecer a própria história.
Fachadas remotamente imponentes
e estruturas hoje silenciosas, como as do centro comercial e o entorno da Praça
Nossa Senhora de Fátima, não são meros amontoados de tijolos envelhecidos; são
as evidências sólidas e vivas de onde a cidade começou, de como as famílias
sertanejas se estabeleceram e, do florescimento nas terras das cajazeiras, dos
primeiros lampejos de sua cultura, sua arte e sua educação.
Preservar esses prédios
significa manter de pé os registros emocionais e arquitetônicos de uma
sociedade que valoriza a luta e a conquista de seus antepassados. Se a atual
geração demonstra desinteresse ou permite a demolição desses ícones, visando
fagulhas econômicas e financeira, ela, na verdade, sinaliza uma falha no
entendimento do seu próprio valor histórico, fragmentando a memória coletiva e
rompendo o elo com as bases do seu desenvolvimento educacional e cultural.
A conservação desses
monumentos se torna, portanto, um ato de caráter, uma afirmação pública de que
a identidade cajazeirense é forte, respeita seu passado e garante que a
história não se apague para as futuras gerações. É o que se espera, no mínimo,
da sua população, sobre esta questão, principalmente dos que detém a posso
desses equipamentos.
Porém, ao longo dos anos não
só Cajazeiras, mas muitas cidades do interior paraibano, tem colocado em
discussão o tema preservação como uma das prioridades das suas demandas, algumas
com sucesso nas suas políticas preservacionistas, com avanços significativos,
outras menos e, algumas com quase nada há demostrar.
Cajazeiras tem patinado por
essa última frase. Ou seja, tem feito um chá-café nesse quesito, de difícil
identificação no que foi preservado, já que alguns dos seus prédios antigos
mantidos ainda em pé, passaram por modificação grotescas nas suas fachadas,
fazendo o contrário de cidades como Pombal, que tem mantido suas velhas
edificações em pé, a exemplo do antigo prédio da cadeia pública, originalmente
preservado, tal como foi construído entre os anos de 1847 e 1848.
Em Pombal a longeva cadeia rompeu
o tempo, tendo suas instalações totalmente mantidas sem a interferências de
ajustes, adequações ou reformas que agredisse sua arquitetura primitiva, sendo
transformada pelo poder público em um museu temático, com objetos que conta a
história do seu povo. Uma confirmação que quando no poder público tem pessoas
de caráter comprometida com a história dos que construíram a cidade, a memória
do município estará sendo garantida para as futuraras gerações.
Cajazeiras nesse contexto, tem
percorrido o caminho inverso, um tanto sinuoso ou não muito claro. A nossa
antiga cadeia pública estrategicamente plantada no centro convergente da
cidade, que se estivesse sido preservada, estaria hoje com mais de cem anos,
foi demolida para dar lugar a agência da Caixa Econômica Federal.
O poder público, virtual dono
do antigo imóvel, devia ter doado ao banco outros espaços públicos que havia no
centro da cidade, mas preferiu sacrificar um prédio que, se não representava a
beleza das energias positivas, também não trazia os aspectos negativos para
Cajazeiras, pois no seu interior, fatos importantes da história sertaneja,
acorreram e, por conta disso, a remota cadeia deveria ter sido contemplada com
o referendo da preservação e não da demolição.
Para atiçar a indiferença na memória
do atraso cajazeirense, basta lembrar que na antiga prisão demolida, algumas
figuras ilustres no mundo fora da lei, que estiveram em conflito do a justiça,
foram hóspede em alguns quartos da velha cadeia. O famoso Moreno, cabra de
lampião, remanescente da chacina de Angico que de cabe a vida de Virgulino
Ferreira da Silva, esteve preso por um mês em uma das suas celas.
Essa
afirmação não é ficção, o próprio cangaceiro Moreno, afirmou em depoimento a Tv
e Jornal Diário do Nordeste, antes de morrer. Tem tudo gravado em áudio e vídeo
e, em matéria inteira, completa, nas páginas desse importante diário cearense.
Outro fato, não tão registrado
quanto o caso Moreno, mas que merece destaque pelas circunstâncias de como foi
ocorrido, que colocou a velha prisão cajazeirense no foco da história de uma
época de terror nos sertões paraibano, trata-se da prisão do cowboy-cangaceiro
Chico Pereira.
A história de fato e documental, conta que Chico foi preso pelo
tenente Manoel Arruda na entrada do Cine Moderno em Cajazeiras. Horas depois, Chico
Pereira foi recambiado para a cadeia pública de Pombal. Provavelmente, Chico,
como medida de proteção, antes de ser levado para Pombal, deve ter ficado
algumas horas detido em algumas das celas da velha prisão de Cajazeiras.
Esses fatos, fora outros que
ocorreram que não convém mencionar nesse texto, já somaria e, era o suficiente
para o poder público de nossa cidade, na época da decisão pela demolição da
velha cadeia, ter repensado e preservado esse importante equipamento, símbolo
de um passado da história do município de Cajazeiras.
A manutenção do prédio em pé,
poderia servir como sede de um equipamento cultural, com a transformação de
suas estruturas em lojinhas e oficinas de artesanato. O seu pátio podia ter
sido convertido em um anfiteatro dotado de arquibancadas, palco e área de convívio
social.
Mas não foi isso que aconteceu
e prédio da velha cadeia, foi sumariamente demolido sem dó e piedade, para dar
lugar a agência da Caixa Econômica Federal, que hoje, estuda meios de construir
um novo prédio, por acha que o atual, que um dia a velha cadeia, não suporta a demanda
de serviços prestados pelo banco.
Ou seja, a falta de senso e de
planejamento adequado do poder público ao longo do tempo, para com os prédios,
conjuntos de fachadas, ruas e artérias em Cajazeiras, que compõe o chamado sítio
histórico da cidade, tem produzidos casos como esse da antiga cadeia, onde o
prédio teve que ser demolido, para dar lugar um banco e agora, anos depois, o
banco estuda meios de deixar o local onde foi o presídio, por achar que esse local
não mais oferece condições de acomodar o volume de serviços do banco.
Nesse caso, a história que no passado tinha ficado no prejuizo, continuará no prejuizo. E o pior feriram do Código de Postura, via Plano Diretor e os sentimentos de uma parte da popolação da cidade, que defendo a preservação de sua história. Coisas que só existe em Cajazeiras.
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