segunda-feira, 5 de maio de 2025

Os Bares das Cajazeiras Alucinantes

 porCleudimar Ferreira

leitura das imagens: 1ª. Bar Playboy Drinks, 2ª Bar dos Penetras, 3ª Karlos Center Bar e Drinks


Corria lentamente os idos anos 80. Nas duras vias das cajazeiras desse tempo, o suco magnético e aromático dos seus frutos, rompia o fundo dos copos flutuantes, nos bares das ruas centrais da cidade que não dormia nunca. Começava aí, a escalada raivosa em busca do novo, visivelmente talhada nas atitudes chocantes dos ideais de vanguarda. Nada de mal nisso! tudo muito bom, tudo muito bem para os que mesmo vivendo num período de turbulência social no país, com as primeiras manifestações públicas pela redemocratização, não enxergava nada por nada desse momento. 

Mas se via alguma coisa, fingia não ver, levantando o copo, acenando festivamente das calçadas desses bares, para aqueles que passeavam em ebriedade no outro lado da rua. O que importava era viver e, só. O objetivo orientava para altivez das coisas não aceitáveis, com intuído de causar admiração nos corações sensíveis ou nos conservadores fechados para as emoções. Bee Gees, pautava nos programas de maior audiência dos Dail local, sua melhor expressão. Por essa via, ‘More Than a Woman’ era a febre que juntava ao calor do agreste sertanejo e a puberdade de uma juventude sonhadora, no brilho final em preto e branco da TV Tupi.

Flutuando nesse momento, o que se esperava de curtição, era encontrado, mesmo limitado, na soberba interiorana dos finais de semana na Praça João Pessoa, que sempre oferecia o universo imaginário dos drinks coloridos; conversas e bate-papos do cotidiano, tudo em clima de birinights, guiados em plena luz negra de faros semiapagadas ou pelos globos giratórios das discotecas desse trecho. Como foi sublime esse momento, como foi eterno enquanto durou.

Se havia alguma dúvida da extinção desses locais, um passeio pela saudosa avenida, in loco, se consome essas lembranças como forma de reviver as nostálgicas conversas de bares em bares, cumprindo o percurso das horas, ao som dos ‘tintins’ dos copos de cristais e das batidas surdas nas mesas acidentais, que acolhia uma prole de praticantes de arremessos de taças embebecidas do consumido Pilsen Malt 90.

Se você não viveu o brilho cultural da Karlos Center; o populado petisco do Bar dos Penetras ou a testosterona do Bar dos Playboy, sinta-se à vontade em querer matar sua curiosidade ou assume que não conheceu esse tempo. Pois em sintonia com a embriaguez da vida, muitos que circularam por esses bares, descobriu em um copo de cerveja, que o mundo não gira, pois o mundo não tem forma. E que a terra não é o centro do universo. Mesma assim, era estonteante a saída desses bares, depois de um fim de noite.

A Karlos Center era um espaço quase temático. Isso porque havia serviços de bar; área de convivência com boate. Se destacou em meados dos anos 80, depois, motivado pela baixa frequência, o espaço de convivência foi desativado, ficando apenas os serviços de bar, drinks e petiscos. Em sintonia com a atitude jovem de sua época, o Playboy Drinks reunia o melhor do conceito em termo de espaço para juventude de sua época. Música, bebidas, petiscos, conversas. O Playboy Drinks Bar como queira falar, no auge da sua popularidade, instigou a moçada a paquera e construções de boas amizades.

Mas tudo isso é passado e, os bares do convívio de uma gente jovem alucinante, teve a sua alma embriagada, castrada e desmontada na escora de um balcão. E as suas decorações mal definidas, consternada na contramão que a boa estética, permitida para noites da cidade vespertina. Ficando nas poucas fachadas que restaram, as lembranças desbotadas das paredes, desenhadas com poster de astros da jovem guarda. Alvenarias de sonhos, encobertas por placas publicitários ou eletrônicas, das famosas Billboard incandescentes, que perduram na atualidade das cajazeiras permitidas.

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domingo, 4 de maio de 2025

A Urgência de uma Rede de Apoio Governamental

porHélio Costa

Porta luz sobre pote. Fotografia: (autor) Cleudimar Ferreira

Nos dias atuais, a arte enfrenta um cenário desafiador que vai além das questões criativas e estéticas. Para muitos artistas, a luta pela sobrevivência financeira é tão intensa quanto a busca pela expressão de suas ideias. Em um mundo onde a visibilidade e a valorização do trabalho artístico são frequentemente negligenciadas, torna-se imperativo que os governos desenvolvam políticas de amparo que garantam um suporte sólido para aqueles que vivem da arte.

A realidade é que muitos artistas dependem exclusivamente de suas obras para sustentar suas vidas. No entanto, a escassez de espaços para exposição, somada à falta de incentivos financeiros, transforma o exercício artístico em uma atividade repleta de incertezas. A ideia de que a arte deve ser uma vocação pura, desvinculada de questões financeiras, é uma noção romântica que não se sustenta diante das necessidades práticas dos criadores.

Uma política governamental eficaz poderia estabelecer uma rede de apoio que não apenas ofereça espaços para exposição, mas também promova a visibilidade das obras, garantindo que os artistas recebam uma contrapartida financeira justa por seu trabalho. Isso poderia incluir desde a criação de editais de fomento e aquisição de obras até a organização de feiras e festivais que valorizem a cultura local, atraindo a atenção do público e, consequentemente, de compradores.

Além disso, o suporte pode se estender à formação e capacitação dos artistas, proporcionando-lhes ferramentas para navegar no mercado e desenvolver habilidades empreendedoras. A articulação entre artistas e instituições culturais deve ser incentivada, criando um ecossistema que favoreça a troca e a colaboração. Em vez de ver a arte como um produto isolado, é fundamental reconhecê-la como parte de uma cadeia produtiva que gera emprego, educação e desenvolvimento social.

A pandemia de COVID-19 evidenciou ainda mais as fragilidades do setor cultural. Muitos artistas se viram sem alternativas de renda e sem a possibilidade de expor suas obras. Em resposta, iniciativas comunitárias e coletivos emergiram, mostrando que a solidariedade é uma força poderosa. Contudo, essa rede informal não substitui a necessidade de uma estrutura governamental que ofereça segurança e estabilidade.

É hora de os gestores públicos e a sociedade em geral reconhecerem o valor da arte como um bem vital para a cultura e a identidade de um país. Investir em políticas de apoio ao artista é investir no futuro da nossa expressão cultural. A arte não deve ser apenas um passatempo, mas sim um pilar da economia criativa, capaz de gerar transformação social e econômica.

Que este seja o momento de reflexão e ação. A construção de um ambiente onde os artistas se sintam seguros para criar e prosperar é uma responsabilidade coletiva. A arte precisa de espaço, e esse espaço deve ser garantido por políticas públicas que reconheçam e valorizem o potencial transformador da criatividade humana.

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