Corria lentamente os idos anos 80. Nas duras vias das cajazeiras desse tempo, o suco magnético e aromático dos seus frutos, rompia o fundo dos copos flutuantes, nos bares das ruas centrais da cidade que não dormia nunca. Começava aí, a escalada raivosa em busca do novo, visivelmente talhada nas atitudes chocantes dos ideais de vanguarda. Nada de mal nisso! tudo muito bom, tudo muito bem para os que mesmo vivendo num período de turbulência social no país, com as primeiras manifestações públicas pela redemocratização, não enxergava nada por nada desse momento.
Mas se via alguma coisa, fingia não ver, levantando o copo, acenando festivamente das calçadas desses bares, para aqueles que passeavam em ebriedade no outro lado da rua. O que importava era viver e, só. O objetivo orientava para altivez das coisas não aceitáveis, com intuído de causar admiração nos corações sensíveis ou nos conservadores fechados para as emoções. Bee Gees, pautava nos programas de maior audiência dos Dail local, sua melhor expressão. Por essa via, ‘More Than a Woman’ era a febre que juntava ao calor do agreste sertanejo e a puberdade de uma juventude sonhadora, no brilho final em preto e branco da TV Tupi.
Flutuando nesse momento, o que se
esperava de curtição, era encontrado, mesmo limitado, na soberba interiorana
dos finais de semana na Praça João Pessoa, que sempre oferecia o universo
imaginário dos drinks coloridos; conversas e bate-papos do cotidiano, tudo em
clima de birinights, guiados em plena luz negra de faros semiapagadas ou pelos
globos giratórios das discotecas desse trecho. Como foi sublime esse momento,
como foi eterno enquanto durou.
Se havia alguma dúvida da extinção desses locais, um passeio pela saudosa avenida, in loco, se consome essas lembranças como forma de reviver as nostálgicas conversas de bares em bares, cumprindo o percurso das horas, ao som dos ‘tintins’ dos copos de cristais e das batidas surdas nas mesas acidentais, que acolhia uma prole de praticantes de arremessos de taças embebecidas do consumido Pilsen Malt 90.
Se você não viveu o brilho cultural
da Karlos Center; o populado petisco do Bar dos Penetras ou a testosterona do
Bar dos Playboy, sinta-se à vontade em querer matar sua curiosidade ou assume
que não conheceu esse tempo. Pois em sintonia com a embriaguez da vida, muitos
que circularam por esses bares, descobriu em um copo de cerveja, que o mundo
não gira, pois o mundo não tem forma. E que a terra não é o centro do universo.
Mesma assim, era estonteante a saída desses bares, depois de um fim de noite.
A Karlos Center era um espaço quase temático. Isso porque havia serviços de bar; área de convivência com boate. Se destacou em meados
dos anos 80, depois, motivado pela baixa frequência, o espaço de convivência
foi desativado, ficando apenas os serviços de bar, drinks e petiscos. Em sintonia
com a atitude jovem de sua época, o Playboy Drinks reunia o melhor do conceito
em termo de espaço para juventude de sua época. Música, bebidas, petiscos,
conversas. O Playboy Drinks Bar como queira falar, no auge da sua popularidade, instigou a moçada a paquera e construções de boas amizades.
Mas tudo isso é passado e, os bares
do convívio de uma gente jovem alucinante, teve a sua alma embriagada, castrada
e desmontada na escora de um balcão. E as suas decorações mal definidas,
consternada na contramão que a boa estética, permitida para noites da
cidade vespertina. Ficando nas poucas fachadas que restaram, as lembranças
desbotadas das paredes, desenhadas com poster de astros da jovem guarda.
Alvenarias de sonhos, encobertas por placas publicitários ou eletrônicas, das
famosas Billboard incandescentes, que perduram na atualidade das cajazeiras
permitidas.